terça-feira, 16 de março de 2010

A Visão Espírita dos sonhos


A Visão Espírita dos sonhos

Luiz Carlos D. Formiga

O Sonho é uma interrogação para muitas pessoas. No livro de Carlos Bernardo Loureiro - “A Visão Espírita do Sono e dos Sonhos”, Casa Editora O Clarim. Matão, SP. 144 páginas, vamos encontrar muitas respostas.

É possível determinar relações precisas entre essas percepções e os aspectos da realidade ordinária? Como analisar esse psiquismo noturno?

Erick Fromm afirma que“o inconsciente só o é em relação ao estado normal de atividade”, “ são simplesmente estados mentais diversos, que se referem às modalidades existenciais diferentes.” Assim, podemos admitir que a mente consciente constitui apenas parte do psiquismo total. Existe uma vida psíquica chamada de “inconsciência”. Esta atividade psíquica é o principal protagonista quando o sono retira a outra de cena. Na realidade o inconsciente acha-se representado naquela fração do sonho que se registra na memória consciente.

O que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?

“Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de buena-dicha, pois fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra.

São verdadeiros no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, freqüentemente, nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal. São também um pressentimento do futuro, permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro lugar a que a alma se transporta. Não se contam por muitos os casos de pessoas que em sonho aparecem a seus parentes e amigos, a fim de avisá-los do que a elas está acontecendo? Que são essas aparições senão as almas ou Espíritos de tais pessoas a se comunicarem com entes caros? Quando tendes certeza de que o que vistes realmente se deu, não fica provado que a imaginação nenhuma parte tomou na ocorrência, sobretudo se o que observastes não vos passava pela mente quando em vigília?”Livro dos Espíritos, questão 404.

A alma é um ser pensante que permanece ativo durante o sono? Existem provas materiais da atividade da alma durante o sono?

Durante o sono, a alma repousa como o corpo? “Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos.” Livro dos Espíritos questão 401.

A enciclopédica de Diderot (Denis, 1713-1784), no verbete “Sonambulismo”, relata a história de um jovem sacerdote que se levantava à noite, dirigia-se ao seu escritório e escrevia longos sermões e retornava ao leito. Existem relatos da resolução de problemas matemáticos que não eram resolvidos quando os indivíduos estavam acordados.

Existe uma memória latente? Os sonhos trazem à tona lembranças julgadas esquecidas para sempre?

Seis meses depois o indivíduo sonha com o local em que perdera o canivete. Ao despertar procura e acha o objeto (F.H. Myers, La Concience Subliminale, Annales Phychiques). Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?

“Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do outro...” Livro dos Espíritos, questão 402.

Richet (Prêmio Nobel de Medicina) descreve a memória fotográfica de sonambulos. A eclosão desses registros mnêmonicos subconscientes não deve ser confundida como a intervenção de seres espirituais. Trata-se de fragmentos da vida que são exumados naturalmente ou por estímulos especiais, das profundezas do ser (Pierre Janet).

Pode-se provocar sonhos por hipnose e induzir uma pessoa a sonhar com outra?

Sim, responde o Dr. Sherenk-Notzing (Munique-Alemanha) após experiência hipnótica com a sensitiva (clarividente) Lina. Seus resultados são muito importantes para a discussão do homem como um ser de natureza bio-psico-socio-espiritual. O pesquisador deu a sensitiva a ordem pós-hipnótica de sonhar, na noite seguinte, com uma determinada pessoa, não esquecer o sonho e contá-lo no dia imediato. Pela manhã, ao acordar, e em presença dos pesquisadores, contou o que aconteceu durante a noite. A hipótese de uma transmissão, através do pensamento de um dos pesquisadores auxiliares, era inviável por vários motivos, até porque uma visita casual de uma amiga do Sr. F.L., foi relatada pela clarividente e identificada, posteriormente, com base na descrição da sensitiva.

Pode o homem, pela sua vontade, provocar as visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero esta noite encontrar-me em Espírito com Fulano, quero falar-lhe para dizer isto?

“O que se dá é o seguinte: Adormecendo o homem, seu Espírito desperta e, muitas vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o homem resolvera, porque a vida deste pouco interessa ao seu Espírito, uma vez desprendido da matéria. Isto com relação a homens já bastante elevados espiritualmente. Os outros passam de modo muito diverso a fase espiritual de sua existência terrena. Entregam-se às paixões que os escravizaram, ou se mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a isso o induzem, que o Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se. Mas, não constitui razão, para que semelhante coisa se verifique, o simples fato de ele o querer quando desperto.”Livro dos Espíritos, questão 416.

Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se durante o sono?

“Certo e muitos que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e falar-se. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. É tão habitual o fato de irdes encontrar-vos, durante o sono, com amigos e parentes, com os que conheceis e que vos podem ser úteis, que quase todas as noites fazeis essas visitas.” Livro dos Espíritos, questão 414.

O hanseniano Jésus Gonçalves, descrente, era um materialista e dizia não acreditar em nada disso. É autor de “ Falta “, onde diz assim: Onde andará um “não sei quê”, um Bem, em cuja busca sou judeu errante? Por onde eu passo, já passou também... E quando chego já partiu há instante... Não sei se está na vida, ou mais adiante, dentro da morte, nas mansões do Além... Se está no amor... se está na fé, perante os dois altares que esta vida tem. Mas, se esta vida é um sonho, a morte o nada; o amor um pesadelo; a fé receio; por que manter-se em luta desvairada? No entanto, eu sigo... acovardado, triste... a procurar em tudo em que não creio, a coisa que me falta e não existe!

Sob o ponto de vista biomédico podemos perceber que uma pessoa está sonhando por estranhos movimentos oculares produzidos em certa etapa do sonho. O período REM (rapid eye movements) é “paradoxal” porque no ápice do relaxamento vamos encontrar uma atividade intensa de numerosas estruturas cerebrais, com variação da freqüência das ondas cerebrais e traçado próximo ao do estado de vigília. Há nessa fase anulação do olfato e paladar, mas as células nervosas enviam estímulos ao ouvido, aos olhos e ao sentido do equilíbrio. Quando acordadas neste período as pessoas eram capazes de contar um sonho.

Como interpretar o sonho que tivemos com um ente querido já desencarnado? A tarefa não é muito fácil porque estamos mergulhados numa matéria muito densa. No entanto, o espírito André Luiz (médico desencarnado) nos oferece um exemplo muito bom e que é encontrado no “Os Mensageiros” (FEB) capítulo 38, quando ela sonha com a avó desencarnada e faz a interpretação da mensagem recebida.

Outro médico (psiquiatra ainda encarnado) mostra a importância dos sonhos para o diagnóstico da melancolia involutiva, destacando-a como uma síndrome com características próprias dentre as doenças conceituadas como depressão maior. Sua conclusão, nos Arquivos Brasileiros de Medicina, 71(3): 111-114, 1997, se baseia na análise de 118 casos.

Uma pessoa que dorme pode ter consciência de que está sonhando?

Sim, responde o psiquiatra holandês Dr.Frederick Willem van Eeden, que teve a confirmação feita peloDr Stephan Laberge, na Universidade de Stanford(EUA). A mesma resposta era dada por Santo Agostinho e São Tomás de Aquino (sonhos lúcidos).

Podemos estender o conceito de sonho a todos os estados alterados de consciência dos quais o psiquismo profundo tende a subir em primeiro plano, até subjugar o EU da superfície?

Podemos participar de mensagens oníricas diurnas? Podemos sonhar acordados?

Esta dimensão diurna do sonho é um convite à pesquisa .

Dr. M. Kleitmam da Universidade de Chicago (“Sleep and Wakefulness”) demonstrou que, também de dia, a atenção consciente se afrouxa em períodos, de acordo com o ritmo que corresponde perfeitamente ao alternar noturno do sono profundo ao leve.

O estado de plena “vigilância consciente” não dura mais do que um minuto ou dois por hora, o que é uma condição indispensável para uma certa eficiência criadora do intelecto, conforme F. Myers, P. Bunton e ainda John Pfeiffer (The Human Brain).

Uma mulher, diante de uma mensagem onírica diurna, interrompe seus afazeres domésticos, chama um táxi e vai encontrar o filho caído quase morto ao lado da moto. “O paranormal é o normal que ainda não compreendemos!

Podem os Espíritos comunicar-se, estando completamente despertos os corpos?

“O Espírito não se acha encerrado no corpo como numa caixa; irradia por todos os lados. Segue-se que pode comunicar-se com outros Espíritos, mesmo em estado de vigília, se bem que mais dificilmente.” Livro dos Espíritos, questão 420.

O fenômeno a que se dá a designação de dupla vista tem alguma relação com o sonho e o sonambulismo?

“Tudo isso é uma só coisa. O que se chama dupla vista é ainda resultado da libertação do Espírito, sem que o corpo seja adormecido. A dupla vista ou segunda vista é a vista da alma.” Livro dos Espíritos, questão 447.

Qual a visão espírita desses fenômenos?

Sonhos fisiológicos - por influência orgânica vive-se situações alucinatórias. Sonhos pantomnésicos - recordações do passado. Sonhos premonitórios - apreensão do futuro,sonho profético.Sonhos espirituais - vivência no plano espiritual.

Freud não poderia explicar o sonho profético como realização de um desejo recalcado no inconsciente.

Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?

“Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. (Livro dos Espíritos, questão 402).

“A árvore trará novas sementes, das quais germinarão novas árvores. Todas estavam escondidas na primeira semente,”Discurso de Metafísica, Leibniz (1686)

Lincoln viu, em sonho, cenas de seu próprio velório, uma semana antes de ser assassinado, relatando-o ao amigo Ward Lamon, que escreveu o episódio em seu diário.

É um monumental determinismo o conhecimento antecipado do futuro! É possível modificar o “Carma”? Existem as coisas futuras ou elas se encontram no NADA, e ainda não existem? O sonho profético é contrário ao livre arbítrio?

É possível prever acontecimentos derivados do presente. No entanto, como prever os que não guardam nenhuma relação com esse estado presente? Como explicar os que são atribuidos ao acaso?

Nostradamus previu a decapitação do Duque e deu o nome do carrasco, que foi escolhido “ao acaso”, na hora. Isto 66 anos após a morte do médico francês (1503-1566). O cálculo matemático da probabilidade desta predição estaria na proporção de um para cinco milhões contra o acaso.

Estando desprendido da matéria e atuando como Espírito, sabe o Espírito encarnado qual será a época de sua morte?

“Acontece pressenti-la. Também sucede ter plena consciência dessa época, o que dá lugar a que, em estado de vigília, tenha a intuição do fato. Por isso é que algumas pessoas prevêem com grande exatidão a data em que virão a morrer.” Livro dos Espíritos, questão 411.

Mas, como entender este sonho que fala do futuro. Como explica-lo? Allan Kardec, no Livro “A Gênese” discute o assunto na “Teoria da Presciência”.





Nome completo da entrevistada, um pequeno histórico de carreira e como chegou a ABRAPE.

Jussara Bispo Dantas do Nascimento, psicóloga com especialização na Psicologia Analítica Junguiana, atuando agora na área clínica. Trabalhei na área organizacional, em diferentes áreas, em três empresas: em recursos humanos, na Zogbi; em treinamento, na Boehringer Ingelheim; e no serviço de informação ao consumidor, na Parmalat. Associei-me a ABRAPE no início do ano 2000, quando havia saído da Parmalat e decidido atuar na área clínica. Soube da associação através de uma colega do centro espírita, não psicóloga, que na época trabalhava num grupo de pesquisa da USP que estava tendo contato com a ABRAPE. Procurei a associação e desde então participo de alguns projetos, como, por exemplo, o que chamamos de Terapia em Ação, onde realizamos atendimento com valor mais acessível em uma de nossas sedes, o Terapia Social, que se trata de um atendimento gratuito em um dos postos parceiros da ABRAPE. Participo também do Indicador profissional da ABRAPE, onde há atendimento no consultório com desconto para os nossos associados. Como espírita, possuo curso doutrinário e mediúnico pelo Centro Espírita Laços Eternos e pelo Centro Espírita Nosso Lar Casas André Luiz. Trabalho no primeiro como expositora nas reuniões públicas, como responsável por uma das turmas do curso mediúnico e também de um dos grupos de desobssessão da casa.

2) Tem alguma experiência como psicóloga no assunto sobre sonhos e premonições, segundo a visão espírita?

A experiência que possuo neste sentido vem de minha atuação na área clínica. No meu trabalho como analista utilizo a interpretação de sonhos como uma das formas de acesso às áreas inconscientes, seja para solução de conflitos, desenvolvimento psicológico e/ou como uma forma de autoconhecimento para os clientes.

Na interpretação de sonhos não basta o conhecimento técnico e acadêmico. Necessitamos também da sensibilidade e intuição, já que seu campo pertence à esfera intuitiva e emocional, onde os insights facilitam nossa compreensão de seu sentido. Neste trabalho nos comunicamos com nosso próprio self, captando os sinais do nosso inconsciente, para entender o outro.

Não podemos também deixar de lado a humildade, independente do conhecido técnico possuído. Jamais esgotaremos as possibilidades de entendimento de um sonho, por melhor que seja nosso trabalho de análise.

Atendi alguns clientes que tiveram sonhos premonitórios, mas estes não se deram como um fato mediúnico e nem eram constantes. Em praticamente todos os casos que pude observar tratou-se de uma espécie de alerta pelo que estavam vivenciando num dado momento de suas vidas. Parece ter sido mais um aviso para que se preparassem para o que teriam que enfrentar.

O mesmo pude observar nas pessoas que atendi em entrevistas de auxílio realizadas em um dos meus trabalhos no centro espírita.

3) Qual é a visão da psicologia aplicada dentro da doutrina espírita em relação aos sonhos e premonição?

O mundo dos sonhos nos mostra uma outra faceta da realidade, além do que é apreendido pelos sentidos e considerado concreto. Jung dizia que o sonho não é o resultado de uma continuidade da experiência, mas o resíduo de uma atividade que se exerce durante o sono.

Na visão neurofisiológica do sono com sonhos, estes representam simplesmente uma manifestação elétrica do cérebro, usando o material do passado recente ou remoto para construir histórias bizarras e sem nexo e que desempenham múltiplas funções: memória, plasticidade neuronal, ou seja, reconstrução das ligações entre os neurônios, e desenvolvimento cerebral. Porém na psicologia são muito importantes.

Atualmente os sonhos se tornaram alvo de estudo não só dos psicólogos, mas também de cientistas e do público em geral. Sempre se mostraram um fascínio para as pessoas, e sua única testemunha é o próprio sonhador. Na primeira metade da vida costumam se referir ao mundo exterior e ao processo de adaptação e fortalecimento do ego.

Na segunda metade se referem à vida interior e necessidade de entender seu significado. Prestar atenção a eles poderá dar sentido à vida das pessoas e se compreender melhor os processos de autoconhecimento e autodescobrimento, a fim de alcançar nossa evolução. Os sonhos refletem o passado, o presente e o futuro, e também situações atemporais. Não seguem a seqüência da nossa consciência. São um recado do self para o ego, tendo assim um papel orientador e regulador da relação do Inconsciente e do Consciente.

Quando não são bem entendidos, se repetirão até que o processo de crescimento tenha atingido seu real objetivo. Entretanto temos dificuldade de compreendê-los por analisá-los com uma mente diferente (consciente) da que os elaborou (inconsciente). Para o espiritismo, os sonhos se originam no espírito que, fora do corpo durante o sono, atua no mundo espiritual e, ao acordar, imprime suas imagens e sensações no córtex cerebral, dando margem à lembrança em forma de sonho. O sonhador estando desencarnado ou encarnado sonhará, pois o sonhar é um ato psíquico que transcende o funcionamento cerebral.

No desencarnado as impressões serão gravadas em sua estrutura perispiritual após despertar. O senhor do sonho é a individualidade, ou espírito, cuja única destinação é a ascensão espiritual. Não temos a preocupação em provar que os sonhos são de origem espiritual ou que alguns deles apresentam aspectos inerentes àquela concepção. Allan Kardec divide os sonhos em três categorias: Sonhos provocados pelo organismo e que se demoram para ser esquecidos; Sonhos mistos, causados pelo organismo e por uma ação espiritual, que são logo esquecidos; Sonhos etéreos ou espirituais, que não são lembrados. Allan Kardec, assim como Jung, acreditava que os sonhos prenunciavam e denunciavam doenças.

Jung alerta para não desprezarmos os avisos provenientes deles, pois se o fizermos podem ocorrer acidentes reais. Vemos assim a visão do sonho, por Jung, com caráter premonitório e preventivo. Sendo nem sempre uma forma de previsão, mas pode tratar-se de um desejo secreto do sonhador que o fato se realize. Para a psique não há tempo ou espaço, as coisas ocorrem num mesmo instante.

éticos, que parecem mostrar algo que vai ocorrer algum tempo depois ou aconteceu. O sonho premonitório se caracteriza pelo conhecimento prévio de fatos, que depois de vistos ou vivenciados, durante o sono, se confirmam, num período, mais ou menos longo, durante a vigília.

4) Realmente é possível se prever fatos através dos sonhos?

Os sonhos realmente premonitórios são raros e como espírita acredito que só ocorrem com a permissão de Deus. A Bíblia é um repositório de experiências dessa natureza. Um exemplo são os sonhos do faraó, interpretados por José, filho de Jacó, sobre anos de fartura e de escassez que se aproximavam. Temos conhecimento de sonhos que ocorrem antes da morte que parecem realmente preparar a pessoa para o fenômeno, mas são exceções. Psicologicamente os sonhos com a morte são indicadores de transformação das personas e imagem do ego.

A morte de alguém conhecido ou do próprio sonhador nos sonhos não estão necessariamente se referindo à vida real. Costumam envolver situações difíceis, doenças, problemas e até a morte. Há extensa literatura psíquica com exemplos dessa natureza, como o do presidente Lincoln que sonhou que acordava em plena noite e, dirigindo-se para o salão principal da Casa Branca, notou que havia um velório. Perguntou a um soldado, que lhe respondeu que era do presidente, que fora assassinado. Naquele mesmo dia, comparecendo a um teatro, Lincoln foi morto num atentado.

Devem ser tratados como probabilidades, não como certezas. Jung os estudou, falando na sincronicidade, descrevendo ocorrências simultâneas de dois eventos distintos que pareciam ter o mesmo significado ou alguma correlação. Estes eventos ocorrem abundantemente em nosso dia a dia, basta observá-los.

órios não vemos símbolos, o acontecimento futuro aparece claro, preciso e límpido.

5) A premonição através dos sonhos seria considerada um tipo de mediunidade?

Há sim a mediunidade, faculdade que permite ao ser humano perceber a interexistencialidade da vida, e que permite também as pessoas que a possuem sonhar freqüentemente com pessoas mortas e delas recebem orientações diversas. Alguns médiuns apresentam a faculdade premonitória, que lhes permite ver durante o sono situações e acontecimentos futuros. Pode-se receber as informações de diversas formas, como por exemplo, por um amigo, parente ou protetor, em linguagem encenada ou figurada.

De outras vezes o próprio sonhador, fora do corpo temporariamente, se recorda dos fatos importantes que deverão ocorrer.

ções através da leitura de seus pensamentos. Uma outra forma de observarmos as premonições é quando um desencarnado segue a corrente espiritual das ações de uma pessoa encarnada e por dedução toma conhecimento de um acontecimento que mais tarde ocorrerá com precisão.

6) Existe algum estudo nesse sentido pelos psicólogos da ABRAPE?

Possuímos reuniões de estudo e discussão de casos em que analisamos, entre muitos outros temos, sonhos sob a ótica da psicologia e do espiritismo.

7) É freqüente pacientes que apresentam esse tipo de caso (premonições através de sonhos)?

No geral o que percebo nos clientes, principalmente os espíritas que falam mais a respeito, não são sonhos premonitórios, mas sim intuições sobre pequenos fatos do dia a dia que lhes são antecipados. Poderíamos chamar de pequenas premonições, como, por exemplo, saber que alguma pessoa esta chegando ou que telefonará e o que ela vai dizer, que algum conhecido está sendo acidentado ou o será, etc.

Porém esses clientes nem sempre lidavam bem com essas pequenas premonições ou intuições, pois geralmente eram sobre fatos ruins e com pessoas queridas. Assustavam-se e não queriam tê-las, mas não tinham qualquer controle sobre como evitar ou interromper o pensamento que lhes surgia. Além disso, quase sempre não sabiam como proceder com o que lhes ocorria se contavam para os envolvidos ou calavam-se e aguardavam os acontecimentos.

Em meus trabalhos no centro espírita também tive contato com pessoas que tiveram sonhos premonitórios, mas estes também não costumavam ser uma constante, tratando-se de fatos isolados em um determinado momento de suas vidas. Na maioria das vezes eles tinham intuições sobre alguns acontecimentos e não sonhos.

ós uma orientação e tratamento retomavam suas vidas sem problemas.

8) Existem pacientes que apresentam algum tipo de problema psicológico ou físico nesses casos? Quais são?

Nos casos que acompanhei não observei nenhum problema físico ou psicológico por esse motivo. O que acontecia era do cliente ficar muito ansioso e preocupado com a possibilidade dos fatos sonhados realmente acontecerem.

údo do sonho a pessoa preocupava-se de tal forma que depois tinha dificuldade para dormir, para parar de pensar no assunto e conseqüentemente ficava muito cansada.

9) Como a psicologia de modo geral encara este tipo de caso? Há algum estudo nesse sentido específico dentro da psicologia unida ao espiritismo?

Todos esses sonhos podem ser compreendidos e analisados ao nível do objeto e do sujeito sem prejuízo da visão espírita e da psicologia. Mesmo compreendendo os sonhos como uma ocorrência no momento do sono, a maioria traz conteúdos simbólicos que devem ser analisados do ponto de vista subjetivo, psicológico. Existem os sonhos com conteúdos decorrentes de encontros espirituais cuja análise pode ser feita de forma psicológica sem prejuízo de sua interpretação espírita.

Não precisam existir fronteiras rigorosamente definidas. A visão psicológica pode compreender a visão espiritual, permitindo uma análise objetiva, subjetiva e espiritual. Vemos assim não conflitos, mas acréscimos de visão de ambos os lados. Ambas podem ser utilizadas na prática clínica sem prejuízo ao cliente e sem necessidade de convertê-lo a nossa crença. Observo em meu trabalho clínico que os sonhos trazem as duas possibilidades de trabalho e entendimento. A interpretação espírita não deverá, no entanto, ser imposta ao cliente, pois qualquer que ela seja, deve implicar num consenso entre analista e cliente.

Na ABRAPE temos encontros com objetivo de pesquisar e discutir casos e temas com o uso da psicologia e do espiritismo, produzindo trabalhos diversos a partir dessas reuniões. Sabemos existirem sonhos perfeitamente distinguíveis quanto à natureza psicológica ou espiritual, mas há outros de difícil definição.

ória bem nítida com o conhecimento espírita, entretanto seus objetos de estudo se assemelham em muitos pontos. Um não contradiz o outro, mas se completam.

10) É comum em consultório pacientes que desencadeiam medos ou fobias em decorrência de sonhos premonitórias?

Não fobias, mas o medo estava presente na maioria dos clientes que tiveram algum sonho premonitório. A sensação de que o sonho iria realmente acontecer lhes era muito forte, e por se tratarem em sua maioria de acontecimentos trágicos temiam. Porém no decorrer do trabalho a angústia e o medo eram aliviados.

11) Relate alguns casos de pacientes seus que apresentaram sonhos de premonição de fatos, não precisa citar nomes, somente o caso.

Uma cliente, espírita, levou para análise um sonho em que um parente seu estava precisando de auxílio para fugir de pessoas que o perseguiam. Não conseguia auxiliá-lo. Ela acordou angustiada e ligou para saber como ele estava e soube que estava tudo bem. Porém, algum tempo depois ele foi preso por um delito praticado.

A mesma cliente teve outro sonho onde o filho de uma colega morria num acidente. Via a colega sofrendo muito e a consolava. Verificou que o rapaz estava bem e sem problemas e não falou nada para a colega. Pouco tempo depois ele realmente morreu num acidente e a mãe a procurou sofrendo muito pela perda do filho.

Uma outra cliente sonhou que o marido de uma vizinha morreria devido uma doença. Tratava-se de um casal idoso. Soube que a esposa dele faria uma viagem para longe, era a viagem dos seus sonhos. Com jeito, conversou com ela para que não o deixasse só. Sofria com a possibilidade de seu sonho se realizar, pois nele o que mais causava dor a sua vizinha era não estar com o marido no momento de sua morte e ele estar só.

A vizinha não lhe ouviu e ainda ficou com raiva por achar que ela estava ´agourando´ seu passeio por inveja. Durante a viagem ele realmente veio a falecer e ela teve que voltar as pressas. A senhora sofreu muito, não só por não ter estado com ele, mas também por não ter ouvido o alerta que recebeu.

Ela desculpou-se com minha cliente, mas não conseguiu mais manter a amizade da mesma forma por sempre se lembrar de não ter seguido seu conselho e sentir-se muito culpada.

12) Que mensagem ou conselho como psicóloga daria para as pessoas que tiveram ou possuem com freqüência sonhos premonitórias e acabam ficando preocupadas?

É importante que essas pessoas não deixem de considerar esses sonhos como probabilidades e não como certezas, pois podem simbolizar algo muito diferente ou até mesmo oposto. Os sonhos têm muitas causas e podem ser entendidos de muitas formas. Eles não precisam ser encarados como negativos, mas devem ser acolhidos.

O medo e a confusão quanto ao que fazer é natural. O melhor seria procurar um analista ou um grupo psicoterápico de sonhos para compreender sua mensagem e não sofrer antecipadamente. Os sonhos são sempre importantes, por isso sejam mensagens do nosso inconsciente ou lembranças de experiências fora do corpo precisam ser considerados.

A pessoa poderá criar um caderno de sonhos, para anotá-los e posteriormente trabalhá-los. Pode-se deixá-lo à cabeceira, com uma caneta ou um lápis, e usá-lo como uma espécie de diário. Grafa-se o relato puro do sonho e depois outras lembranças que nos despertou e como estávamos ao acordar. Podemos dar ao sonho um título e mencionar fatos que acreditemos ter correlação com ele.

Ao fazermos isso com um sonho, ou vários, o inconsciente pode provocar um ou mais sonhos confirmando ou negando a hipótese que levantamos para o sonho. Por isso uma série deles sempre nos dirá mais. Porém insisto que será válido levar o caderno para um aprofundamento em um trabalho de análise, individual ou em grupo.

édifícil fazermos a análise e associações necessárias para sua melhor compreensão.

13) Há alguns tipos de sonhos identificados pelos psicólogos e psiquiatras e também fases do sono. O sonho premonitório se encaixaria em algum desses?

Com relação as fases do sono, pesquisas nos mostram cinco fases distintas:

fase 1 - É a fase de transição entre a vigília e o sono. Nela o sono é leve, e ela toma mais ou menos 5% do tempo total de cada ciclo. O corpo está mais relaxado, podem ocorrer sensações de estar flutuando, as imagens e os pensamentos são vagos, porém o indivíduo pode facilmente recuperar a sua atenção.

fase 2 - O metabolismo está mais lento que na anterior, mas o sono é leve ainda. Esta fase é a de maior duração e ocupa cerca de 50% do nosso tempo de sono.

fase 3 e 4 - Nessas fases toda a musculatura se relaxa, o coração bate muito mais devagar e a temperatura do corpo cai. O indivíduo está insensível aos estímulos exteriores, pois nela o sono é profundo e o cérebro produz emoções e imagens, mas não se constitui ainda um sonho com roteiro definido. Pode ser atingida em média após uma hora da pessoa adormecer.

fase 5 ou R.E.M. - Fase com movimentos rápidos oculares (R.E.M. - Rapid Eyes Moviment). É nesta fase que os sonhos costumam ocorrer. Dura mais ou menos de cinco minutos a uma hora e fecha um ciclo de sono.

O primeiro sono R.E.M. pode ocorrer, em média, após uma hora e meia de sono. Aqui o corpo descansa e o cérebro está a mil, com respiração e coração mais ativos. Quando termina o sono REM o sono volta à se aprofundar, fase 2, fase 3, fase 4, para então retornar em ordem decrescente ao sono REM. Ou seja, o sono se organiza sob a forma de ciclos. À medida que os ciclos de sono se sucedem gastamos menos tempo nas fases mais profundas e mais no sono REM.

Uma noite de sono possui em média de 04 a 05 destes ciclos de sono, a não ser que estejam sob medicação ou tenham alguma doença orgânica. Os antidepressivos podem inibir o sono REM no início do tratamento, mas aos poucos ele vai sendo recuperado.

Quanto aos tipos de sonhos, é difícil fecharmos uma divisão, pois há uma mudança conforme a ótica que os observamos, mas de uma forma geral temos: os sonhos que demonstram ser realização de desejos do sonhador (sejam estes desejos conscientes ou não), os compensadores (tentam compensar algo na vida da pessoa - como, por exemplo, o tímido sonhando com momentos de extroversão), os sonambúlicos, os formados apenas de resíduos do dia a dia (que também têm função terapêutica), os lúcidos (onde a pessoa que sonha tem consciência que está dormindo), os recorrentes ou repetitivos (que com poucas variações se repetem em diversos momentos da vida do sonhador), os pesadelos ou terror noturno (com forte carga emocional e aterradores), os simbólicos ou arquetípicos (aparentemente sem sentido e desconexos, repleto de símbolos - que ocorrem em momentos de transformação na vida da pessoa), somáticos (indicam ou advertem as pessoas sobre possíveis enfermidades), encontros com pessoas mortas e os proféticos ou premonitórios (que Jung preferiu chamar de prospectivos).

Existem diversas pesquisas sobre os tipos de sonhos, realizadas por diferentes grupos. Com relação aos premonitórios não existem muitas delas realizadas em laboratório devido esses sonhos serem espontâneos e involuntários.

14) Algo a acrescentar?

Quanto à origem das imagens, os sonhos podem ser superficiais (quando provêm das camadas superficiais da vida psíquica) ou profundos (provenientes das camadas profundas da psique). Com relação à sua estrutura, para melhor compreensão, podemos dividi-lo assim:

- Exposição: uma espécie de introdução ao tema ou narração, e temos o cenário.
- Desenvolvimento: o desenrolar da história, ação.
- Clímax: uma situação de tensão ou mudança, evento decisivo.
- Solução: catástrofe ou solução final (nem sempre presente).

Nos sonhos, freqüentemente, surgem tudo o que criticamos nos outros como parte de nos mesmos. Sonhamos com aspectos negados ou desconhecidos de nossa personalidade, revelando assim aspectos a serem desenvolvidos, o que na psicologia junguiana chamamos de sombra. Nem sempre apresentada como aspectos negativos, às vezes podem até ser positivos, mas que são desconhecidos. Os sonhos nos convidam a sua percepção e à necessidade de buscar uma nova forma de educação para a vida social.

Um comentário:

  1. Parabens Flavio pelo trabalho, continue assim e tudo de bom pra vc e todo o mundo.
    que Deus abençoe todo!

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