sexta-feira, 31 de dezembro de 2010



ANO NOVO - DE NOVO

É difícil estarmos atentos a todas as oportunidades que se sucedem em nossa passagem terrena.

Talvez por isto exista uma data marcada para que tudo seja novo.

Parece mais um símbolo ou um ritual para que nos apercebamos da passagem do tempo, que tem se dado aparentemente cada vez mais rápida - diga-se de passagem.

A sucessão dos dias e noites parece-nos um movimento contínuo ao qual já não damos atenção - no que estamos errados.

Então, nos preparamos com rigor para a entrada do ANO NOVO, alguns literalmente a rigor, outros na sua singeleza usam roupa nova, ambiente novo, presença de amigos... e todos se felicitam e esperam que o ano vindouro seja muito melhor do que o anterior - até porque parece que cada ano tem exigido mais de nós.

Acaba a noite de festa, surge o dia primeiro, que ainda é festa...

E, no dia 2, percebemos que a nossa vida é a mesma e se nos descuidarmos voltamos a não perceber a rapidez do tempo, cometemos os mesmos erros e vamos esperar pelo milagre de um NOVO ANO - DE NOVO.

Não existe uma data milagrosa que reverta ou modifique o processo de nossa existência.

No entanto, existe uma data em nossa vida que pode significar uma NOVA VIDA e conseqüentemente uma sucessão de novos dias e anos-novos.

É a data em que nos armamos de coragem, olhamos dentro de nós, nos encontramos e percebemos a presença de uma vida palpitante e dinâmica em nosso íntimo, precisando apenas de esforço e perseverança para que possa se manifestar em plenitude.

Todavia, precisamos de um companheiro seguro nessa viagem em busca do "EU", e o melhor é Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida, porque o caminho seguro em direção a nós é o que se bifurca também em direção ao próximo e para trilhá-lo é preciso conhecer a Verdade e amar a Vida.

E então, sem nos determos no passado que é imutável e não vale lamentá-lo ou torná-lo uma carga pesada, começarmos a viver o hoje, olharmos para o futuro, sem nos fixarmos nele também, pois que, aquilo que surgirá amanhã não vai surgir antes.

Hoje é o nosso dia de ANO NOVO - DE NOVO.

HOJE é dia de amar, de ser sereno, de ser solidário, de conter e disciplinar as emoções, de se transferir em direção ao outro, de silenciar, de falar, de pensar, de refletir, de ler bons livros, de estudar O Livro dos Espíritos, de recorrer ao Evangelho Segundo o Espiritismo, de sorrir, de ter esperança, de orar e de seguir em frente - amando a vida, vivendo a verdade e trilhando caminhos seguros que convergirão sempre em direção a um só destino - DEUS.

Porque HOJE é dia de ANO NOVO - DE NOVO

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Policiais na comunidade do Alemão

Está passando o momento da euforia para os brasileiros que vivem na favela do Alemão e para todos os demais brasileiros que assistiram às operações conjuntas das polícias do Estado do Rio e forças armadas – marinha e exército. A pergunta que se faz, agora, é: pode o Rio cantar vitória ou lamentar uma derrota?

A pergunta é pertinente. Dos 600 meliantes estimados na favela da Vila Cruzeiro apenas 29 foram feitos prisioneiros. O restante fugiu espetacularmente, utilizando rotas de fuga que poderiam ter sido estudadas com mais cuidado pela operação militar e controladas antes mesmo da invasão das duas comunidades – a do Cruzeiro e a do Alemão. Agora, a história vai-se estender por meses e meses na busca exaustiva e cansativa pelos fujões. Claro que não vale a alegação feita pelo Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Segundo ele, “bandido sem casa, sem dinheiro e sem território é menos bandido”. Não é não. Bandido é bandido. Está vivo e está acuado, logo, desesperado. Já se viu que os cariocas – e os brasileiros em geral – andam tão assustados que os assaltos podem ser e são realizados, com muita freqüência, com armas de brinquedos. Armas feitas até de modo rústico, pintadas de preto. A vítima fica totalmente desorientada quando surge, de repente, um assaltante apontando-lhe algo e lhe gritando ordens que devem ser obedecidas depressa. Então, com esta experiência de anos, os fugitivos logo estarão novamente dispondo tanto de dinheiro quanto de outro território e a luta vai retornar com mais prejuízo para o Estado. De meu ponto de vista, a operação foi um fiasco e não dou nem cinco meses para que a onda de violência retorne ao Rio. Talvez, agora, mais sofisticada, mas nem por isto menos violenta. E é verdade o que disse o sociólogo Michel Misse a respeito da função do militar das forças armadas: eles são treinados para matar, não para fazer prisioneiros. A função policial é totalmente desconhecida no treinamento militar das forças armadas. Suas técnicas são de guerra e não de patrulhamento preventivo. Se aos fuzileiros da Marinha e aos soldados do Exército tivesse sido dada a ordem de entrar para tomar os pontos estratégicos em mãos dos meliantes como se fosse uma operação de guerra, talvez apenas 29 deles estivessem vivos e dando graças a Deus por isto. Também concordo com Jorge Zaverucha, coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas da UFP, quando defende a idéia de que as forças armadas correm o perigo de ter seus efetivos corrompidos pelos traficantes. Não vale a alegação de que os militares do Exército e da Marinha que foram designados para as duas comunidades recém-libertadas dos meliantes terem estado em operações pacificadoras por conta da ONU. Onde estiveram era teatro de operações de guerra, terreno de pleno domínio deles. Onde estão, agora, é teatro de crime urbano e ainda que envolvendo armamento pesado, os opositores não são nem mesmo guerrilheiros. São indivíduos integrantes da sociedade civil que devem ser presos por causa de comportamentos socialmente desajustados e criminosos. Os militares das Forças Armadas não podem atirar para matar. Devem, ao contrário, proceder como apoio à retaguarda da polícia, coisa para a qual não foram preparados. Muitos deles ali estão sem compreender bem o que devem fazer. Se forem alvos de disparos, como proceder? Encolher-se e não revidar? Ver um companheiro cair ferido e, ainda assim, não revidar? O treinamento militar é totalmente ao contrário disto. Revidar, avançar, defender o companheiro ferido, atacar, matar, tomar as posições rapidamente. Agora, o Estado do Rio de Janeiro está com um baita problemão. Chamou a atenção do Brasil e do Mundo para si e não deu conta eficientemente do recado. Deixou livres mais de 500 bandidos dispostos a tudo e desesperados. Um homem desesperado arrisca tudo, até a vida. E agora, Governador? O senhor não pode apoiar-se nas Forças Armadas o tempo todo. Tem de aumentar o efetivo policial e colocar todo ele na caça implacável aos bandidos, sabendo sempre que a insegurança da população persiste e pode, a qualquer momento, tornar-se dolorosamente real.

O bom da história é que São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais já colocaram as barbas de molho. E logo terão de realizar operações iguais às do Rio, só que, esperemos nós, com um planejamento realmente de operação de guerra, onde todas as possibilidades prováveis e possíveis dos inimigos da sociedade serão cuidadosamente levantadas, estudadas e prevenidas, de modo a evitar o fiasco carioca. E os Estados do Centro-Oeste que se cuidem. Brasília, Campo Grande, Goiânia devem começar, desde agora, a proceder ao levantamento de todas as rotas de fuga dos seus bandidos, quando se virem obrigados a enfrentá-los num confronto de perde ou ganha.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Mansidão e Piedade


Mansidão e Piedade


Se caminhas sob chuvas de impropérios e maldições, cultiva a mansidão e
exercita a piedade.

Se atravessas provas rudes, assoalhadas por aflições contínuas, guarda-te na

mansidão e desenvolve a piedade.

Se sofres agressões prolongadas, que se não justificam, permanece com mansidão

e desenvolve a piedade.

Se tombas nas ciladas bem urdidas, propostas por adversários encarnados ou

não, mantém-te em mansidão e esparze a piedade.

Se te açodam circunstâncias rudes e tudo parece conspirar contra tuas lutas de

redenção, não te descures da mansidão nem da piedade.

Aclamado pelo entusiasmo passageiro de amigos ou admiradores, sustenta a mansidão

e insiste na piedade.

Guindado a posições de relevo transitório e requestado pelo momento de ilusão, não

te afaste da mansidão da piedade.

Carregado de êxitos terrenos e laureado por enganosas situações, envolve-te na

mansidão e não te distancies da piedade.

Recomendado pelas pessoas proeminentes ou procurado pelos triunfos humanos,

persevera com mansidão e trabalha com piedade.

Mansidão e piedade em qualquer circunstância, sempre.


A mansidão coloca-te interiormente indene à agressividade dos que se comprazem no mal

e a piedade envolve-os em vibrações de amor.

A mansidão faz-te compreender que necessitas de crescimento espiritual e, por

enquanto, a dor ainda se torna instrumento educativo. A piedade evita que mágoas ou
seqüelas de aborrecimento tisnem os teus ideais de enobrecimento.

A mansidão acalma; a piedade socorre.


Com mansidão seguirás a trilha da humildade e com a piedade prosseguirás retribuindo

com o bem a todo e qualquer mal.

A mansidão identifica o cristão e a piedade fala das suas conquistas interiores.


- "Bem-aventurados os mansos e pacificadores - ensinou Jesus - porque eles

herdarão a Terra"... feliz do continente da alma imortal.



[Joanna de Ângelis]
[Divaldo Franco]
[Otimismo]

sábado, 11 de dezembro de 2010

ANO NOVO... VELHOS DESAFIOS



ANO NOVO... VELHOS DESAFIOS

Começamos um novo ciclo de atividades ou apenas continuamos?

O Ano Novo chegou trazendo velhas dificuldades do Ano Velho que se foi. Ano vai, ano vem e o tempo continua sua marcha inexorável.

Essas reflexões nos despertam para a necessidade de continuarmos nossa luta no caminho da evolução.

Não houve uma pausa, um hiato na obra da criação. São apenas experiências vividas que nos remetem a um balanço das realizações.

Vitórias... fracassos...

Sonhos realizados... sonhos desfeitos...

Planejamentos cumpridos... planejamentos deixados a meio do caminho...

Amizades reafirmadas... companheiros que se tornaram adversários...

Encantos... desencantos...

Familiares que se fizeram presentes em todas as horas... familiares que se distanciaram...

Bom ânimo no trabalho, doando-nos por inteiro para que a obra continuasse... desânimo provocado pela incompreensão de alguns...

Encontros... desencontros...

Novas aquisições no campo do conhecimento... mais conhecimento de que muito pouco sabemos...

Mais um ano vivido... menos um ano para viver...

São meditações no campo de nossa participação individual nos círculos em que diretamente operamos, mas existem outras, de amplitude maior, direcionadas ao Mundo, nosso Mundo, o Planeta que habitamos, em cujo contexto enfrentamos os desafios que têm por objetivo nos impulsionar na caminhada evolutiva.

O nosso Mundo foi palco de grandes testemunhos no ano que passou:

Império econômico, que parecia inexpugnável, se viu abalado em sua grandeza, surpreendido pelo terrorismo; criaturas que se fizeram terroristas pelos muitos anos de opressão e anonimato, tornaram-se "notícia"; religiosos empunhando a bandeira do Cristo, matando em seu nome, quando Ele nos ensinou a amar-nos uns aos outros.

Época de grandes desafios!

Desafios na família - como conduzi-la?

Desafios no mercado de trabalho - como garantir o emprego?

Desafios na saúde - como combater o Câncer, a AIDS, as drogas?

Desafios na segurança pessoal - como vencer a violência (no lar, na rua, no trabalho, no lazer)?

Desafios na sexualidade - como usá-la com o devido respeito aos sentimentos próprios e alheios?

Desafios, múltiplos desafios...

Parece que nunca esteve tão claro para nós - vivemos, realmente, o fim dos tempos de um Mundo de expiações e provas. É a fase de transição, onde se patenteia a Lei de Destruição (L.E. 3ª parte - cap. VI) para que a Terra possa ser refeita em outras bases mais sólidas, não com alicerces de pedras, mas com alicerces morais. E para que chegue à Regeneração, isso não se dará sem grandes e dolorosos transtornos, tanto na área política, quanto na social, econômica e moral.

Como nos posicionarmos nesse momento da necessária transformação?

Será que a solução virá através dos estudiosos e tratadistas em direito, política, sociologia, ética, religião, ou virá através da renovação interior do próprio homem?

Somente o homem poderá promover a tão sonhada Regeneração da humanidade e isto só ocorrerá quando se dispuser a fazer bom uso de sua consciência, suas emoções, seus sentimentos, diante dos inúmeros desafios que estará a enfrentar.

Já se iniciou o processo que levará a Terra à condição de mundo de regeneração, com os expurgos que já vêm acontecendo.

Um companheiro espiritual e amigo de nossa Liga Espírita de Campos deixou para nós em 19/11/01, por intermédio da psicografia, o seguinte recado, convidando-nos a refletir:


Se te baterem na face direita, apresenta a outra.
Amar os inimigos.
Não matar.
Ter a fé do tamanho de grão de mostarda e mover montanhas.
Ser chamado e escolhido.
Perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
Ser bem-aventurado.
Atitudes de mansuetude, de brandura, de calma.
Amar a Deus, ao próximos e a si mesmo.
Não vos preocupar com o dia de amanhã, mas fazer vossa parte hoje.
Desafios e desafios para o homem de hoje que usa a modernidade que se estende através das máquinas, da tecnologia...
Mas, que é o homem?
Que faz ele na Terra de Provas e Expiações?
Para que foi criado?
"Agora, façamos o homem a minha imagem e semelhança para que ele possa reinar na água, na terra e no céu."
Que é que temos feito, meus amigos, com tantas oportunidades?
Como temos aproveitado os desafios que têm o propósito de nos ensinar a sermos fortes, destemidos, seguros e confiantes?
Desafios que nos têm levado aos momentos de aprendizado do que somos, o que estamos a fazer aqui e para onde vamos após.
"Buscais e achareis". O esforço da busca, meus amigos, nos propiciará o reencontro com nós mesmos e com a plenitude de nossos espíritos.
O mundo se renova, se transforma.
O mundo se modifica e precisamos estar a acompanhá-lo, no esforço, no sentimento e na razão daqueles que querem realmente passar pela porta estreita e encontrar o caminho do dever cumprido para com Deus e com eles mesmos.
Os desafios aí estão e Jesus nos convida a crescer.
Que busquemos a auto-iluminação na prática do bem, do amor e da fraternidade.

De um amigo espiritual
Médium: Rosiléia Belo Pessanha


Por que teimamos em abandonar as suas diretrizes em busca de filosofias outras, mais sofisticadas, tentando distorcer a simplicidade das lições do Mestre?

Renunciar, perdoar, praticar a caridade, livrar-se do orgulho, perseverar no trabalho do bem são os grandes desafios aos quais Jesus nos submete.

Seria bem mais fácil se seguíssemos o nosso modelo - JESUS.

Jesus sendo sábio foi humilde;

Humilhado, perdoou;

Solicitado, curou os enfermos do corpo e da alma;

Perseguido, não fugiu; enfrentou a multidão;

Crucificado, compreendeu a falência moral dos seus acusadores - "Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem".

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Força Interior



Força Interior

Força Interior



Não menosprezes a força interior que Deus te conferiu como dom natural.
Essas energias superiores estão em ti, basta somente que as liberte e um fluxo energético te guiará melhor ante tua própria existência.
O acontecimento não é o que ocorreu, mas sim o que fazes com aquilo que ocorreu. Podes tornar pior ou suavizar tuas tribulações pelo jeito com que reages a elas.
Tua dor será sanada.
Teu conflito, extirpado.
Tua ansiedade, apaziguada.
Tuas buscas sempre encontrarão porto feliz.
Usa abundantemente tua luz interior e terás maior lucidez e discernimento em tua casa mental.
As soluções fluirão mais fáceis, se te integrares nesta força íntima que habitam em ti, pois és herdeiro de Deus.
Ele habita em teu âmago; busca-O, e essas potencialidades divinas estarão mais disponíveis em ti mesmo.
Assim, a harmonia e a serenidade estarão contigo, reforçando o elo que te ligara Divina Providência.

Não te Impacientes

Não te Impacientes A Paternidade Divina é amor e justiça para todas as criaturas.
Quando os problemas do mundo te afogueiam a alma, não abras o coração à impaciência, que ela é capaz de arruinar-te a confiança.
Quantos perderam as melhores oportunidades da reencarnação, unicamente por se haverem abraçado com o desespero!
A impaciência é comparável à força negativa que, muitas vezes, inclina o enfermo para a morte, justamente no dia em que o organismo entra em recuperação para a cura.
Se queres o fruto, não despetales a flor.
Nas situações embaraçosas, medita caridosa-mente nos empeços que lhe deram origem! Se um irmão faltou ao dever, reflete nas dificuldades que se interpuseram entre ele e os compromissos assumidos. Se alguém te nega um favor, não te acolhas a desânimo ou frustração, de vez que, enquanto não chegarmos ao plano da Luz Divina, nem sempre nos será possível conhecer, de antemão, tudo o de bom ou de mal que poderá sobrevir daquilo que nós pedimos. Não te irrites diante de qualquer obstáculo, porquanto reclamações ou censuras servirão apenas para torná-los maiores.
Quase sempre, a longa expectativa em torno de certas concessões que disputamos, não é senão o amadurecimento do assunto para que não falhem minudências importantes.
Não queremos dizer que será mais justo te acomodes à inércia. Desejamos asseverar que impaciência é precipitação e precipitação redunda em violência.
Para muitos, a serenidade é a preguiça vestida de belas palavras. Os que vivem, porém, acordados para as responsabilidades que lhes são próprias sabem que paciência é esperança operosa: recebem obstáculos por ocasiões de trabalho e provações por ensinamentos.
Aguarda o melhor da vida, oferecendo à vida o melhor que puderes.
O lavrador fiel ao serviço espera a colheita, zelando a plantação.
A casa nasce dos alicerces, mas, para completar-se pede atividades e esforços de acabamento.
Não te irrites.
Quem trabalha pode contar com o tempo. Se a crise sobrevêm na obra a que te consagras, pede a Deus não apenas te abençoe a realização em andamento, mas também a força precisa para que saibas compreender e servir, suportar e esperar.

Administrando o medo


Administrando o medo

Recente pesquisa revelou que muitos brasileiros vivem dominados pelo medo.

Medo que vai desde o de ser assaltado, perder um filho, descobrir que tem uma doença grave, não conseguir pagar as contas, a sofrer um acidente, ter um ataque cardíaco ou perder o parceiro.

Alguns dos entrevistados revelaram que nem saem de casa ou que, em casa, vivem em sobressalto, ao menor ruído estranho.

Naturalmente, vivemos num mundo onde há muita violência, maldade e dificuldades.

Mas é importante se pense um pouco, a fim de não se engrossar o rol dos que vivem sob a injunção do medo, perdendo anos preciosos das próprias vidas.

Assim, não sofra por antecipação. Algumas pessoas, sugestionáveis, assistem imagens violentas na TV e acham que fatos como aqueles poderão acontecer com alguém da sua família.

Tomar precauções é recomendável. A ninguém se pede que seja incauto, imprevidente.

Mas daí a ficar pensando, a toda hora, que algo terrível vai acontecer, será o mesmo que desistir da vida desde agora.

Pessoas que assim agem podem não se tornar vítimas de acidentes, de assaltos ou de doenças, mas do próprio medo.

Medo que as manterá infelizes, isoladas.

Por isso, nunca deixe que o medo o paralise. Faça o que tiver que fazer: ir à escola, às compras, ao templo religioso.

Se enfrentar medos e preocupações sozinho lhe parecer difícil, procure ajuda. Pode ser de um psicólogo, de grupos de pessoas que sofrem problemas semelhantes ou de um bom amigo.

E, em vez de se torturar com uma infinidade de contas a pagar, pense mais antes de adquirir o novo eletrodoméstico, de realizar a viagem dos seus sonhos, comprar a roupa da moda.

Aprenda a viver de acordo com os recursos que dispõe. Dê um passo de cada vez. Planeje férias com antecedência. Programe-se.

Não gaste tudo que ganha. E, muito menos, não gaste o que ainda não ganhou.

Não fique pensando em ganhar na loteria, na sena, na loto, no programa televisivo. Trabalhe e sinta orgulho de poder, com seu próprio esforço, ir adquirindo o de que necessita.

Em vez de ficar pensando na possibilidade de se manifestar essa ou aquela doença terrível, opte por fazer check-up anual.

Não espere para ir ao médico somente quando a dor o atormente, um problema de saúde se manifeste.

Procure o médico para saber se está tudo bem com você. Faça exames. Pratique exercícios sob supervisão.

Ande até a panificadora, em vez de ir sempre de carro. Pratique jardinagem, lave o carro.

Pense, sobretudo, positivamente: Deus protege a minha vida. Sou abençoado por Deus. Sou filho de Deus.

Trabalhe com alegria, ganhando as horas. Não transforme o seu ambiente profissional em um cárcere de torturas diárias.

Sorria mais. Faça amigos. Converse com os amigos. Estabeleçam, entre vocês, um cuidado mútuo.

Isso no que se refere a você, aos seus filhos, ao seu patrimônio.

Unidos seremos fortes.

Enfim, não tenha medo do medo. Ele é um legado saudável e protetor. Mas se torna um problema quando fica exagerado ou irracional.

* * *

Mantenha sua confiança em Deus, que governa o mundo e zela por sua vida.

De todos os medos o que mais o deve preocupar é o de perder a presente reencarnação, por comodismos e invigilância.

E para este, a melhor solução é realizar, a cada dia, o melhor de si, entregando-se a Deus.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

IRMÃO MAIOR


IRMÃO MAIOR

Obrigado, Pai, por nos ter dado Jesus e ter permitido que nosso Irmão Maior até nós chegasse e junto a nós tivesse deixado, através do amor, o exemplo do trabalho verdadeiro de ajuda aos pobres e sofredores.

Obrigado, Senhor, e permita que Jesus esteja sempre presente onde existam a dor e o desespero, alertando-nos para o trabalho, ajudando-nos ao esquecimento de nós próprios, para que possamos estar junto ao Mestre, hoje, amanhã e sempre.

Assim seja!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Falsos Irmãos e Amigos Inábeis




Falsos Irmãos e Amigos Inábeis


Como demonstramos em nosso artigo precedente, nada poderia prevalecer contra o destino providencial do Espiritismo. Do mesmo modo que ninguém pode impedir a queda daquilo que, pelos decretos divinos – homens, povos ou coisas – deve cair, ninguém pode deter a marcha daquilo que tem de avançar. Em relação ao Espiritismo, esta verdade ressalta dos fatos realizados e, muito mais ainda, de outro ponto capital. Se o Espiritismo fosse uma simples teoria, um sistema, poderia ser combatido por outro sistema; mas repousa sobre uma lei da Natureza, tão bem quanto o movimento da Terra. A existência dos Espíritos é inerente à espécie humana; não se pode impedir que existam, como não se lhe pode impedir a manifestação, do mesmo modo que não se impede o homem de marchar. Para isso não necessitam de nenhuma permissão e se riem de toda a proibição, pois não se deve perder de vista que, além das manifestações naturais e espontâneas, que se produziram em todos os tempos e que se produzem diariamente num grande número de pessoas que jamais ouviu falar de Espíritos. Quem, pois, poderia opor-se ao desenvolvimento de uma lei da Natureza? Sendo obra de Deus, insurgir-se contra ela é revoltar-se contra Deus. Estas considerações explicam a inutilidade dos ataques dirigidos contra o Espiritismo. O que os espíritas têm a fazer em presença dessas agressões é continuar pacificamente seus trabalhos, sem fanfarrice, com a calma e a confiança dadas pela certeza de chegar ao fim.

Todavia, se nada pode deter a marcha geral, há circunstâncias que podem provocar entraves parciais, como uma pequena barragem pode retardar o curso de um rio, sem o impedir de correr. Deste número são as atitudes irrefletidas de certos adeptos, mais zelosos que prudentes, que não calculam bem o alcance de seus atos ou de suas palavras, produzindo, por isso mesmo, uma impressão desfavorável sobre as pessoas ainda não iniciadas na doutrina, mais próprias a afastá-las que as diatribes dos adversários. Sem dúvida o Espiritismo está muito espalhado; contudo, estaria ainda mais se todos os adeptos tivessem seguido os conselhos da prudência e guardado uma prudente reserva. Sem dúvida é preciso levar-lhes em conta a intenção, mas é certo que mais de um tem justificado o provérbio: Mais vale um inimigo confesso que um amigo inconveniente. O pior disto é fornecer armas aos adversários, que sabem explorar habilmente uma inconveniência. Nunca seria demais recomendar aos espíritas que refletissem maduramente antes de agir. Não tendo em vista senão o bem da causa, o verdadeiro espírita sabe fazer abnegação do amor próprio. Crer em sua própria infalibilidade, recusar o conselho da maioria e persistir num caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é atitude de um verdadeiro espírita. Seria dar prova de orgulho, se não de obsessão.

Entre as inabilidades é preciso colocar em primeira linha as publicações intempestivas ou excêntricas, por serem os fatos de maior repercussão. Nenhum espírita ignora que os Espíritos estão longe de possuir a soberana ciência; muitos dentre eles sabem menos que certos homens e, como certos homens também, têm a pretensão de tudo saber. Sobre todas as coisas têm sua opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa. Ora, ainda como os homens, em geral os que têm idéias mais falsas são os mais obstinados. Esses pseudo-sábios falam de tudo, constroem sistemas, criam utopias ou ditam as coisas mais excêntricas, sentindo-se felizes quando encontram intérpretes complacentes e crédulos que lhes aceitam as elocubrações de olhos fechados. Esse tipo de publicação tem grave inconveniente, pois o médium, iludido e muitas vezes seduzido por um nome apócrifo, tem-na como coisa séria, de que se apodera a crítica prontamente para denegrir o Espiritismo, ao passo que, com menos presunção, bastaria que se tivesse aconselhado com os colegas para ser esclarecido. É muito raro, neste caso, que o médium não ceda às injunções de um Espírito que, ainda como certos homens, quer ser publicado a qualquer preço. Com mais experiência ele saberia que os Espíritos verdadeiramente superiores aconselham, mas não impõem nem adulam jamais, e que toda prescrição imperiosa é um sinal suspeito.

Quando o Espiritismo estiver completamente implantado e conhecido, as publicações desta natureza não terão mais inconvenientes que os maus tratados de ciência em nossos dias. Mas, repetimos, no começo elas incomodam muito. Em matéria de publicidade, portanto, toda circunspeção é pouca e não se calcularia com bastante cuidado o efeito que talvez produzisse sobre o leitor. Em resumo, é um grave erro crer-se obrigado a publicar tudo quanto ditam os Espíritos, porque, se há os bons e esclarecidos, também os há maus e ignorantes. Importa fazer uma escolha muito rigorosa de suas comunicações e suprimir tudo quanto for inútil, insignificante, falso ou susceptível de produzir má impressão. É preciso semear, sem dúvida, mas semear a boa semente e em tempo oportuno.

Passemos a um assunto ainda mais grave: os falsos irmãos. Os adversários do Espiritismo – alguns pelo menos, já que os pode haver de boa fé – não são, como se sabe, tão escrupulosos quanto à escolha dos meios. Para eles toda luta é válida; e quando não podem tomar uma fortaleza de assalto, minam-na. Em falta de boas razões, que são armas leais, vemo-los todos os dias vomitar mentiras e calúnias sobre o Espiritismo. A calúnia é odiosa, bem o sabem, e a mentira pode ser desmentida; assim, procuram fatos para justificar-se. Mas como encontrar fatos comprometedores entre pessoas sérias, senão os produzindo mesmo ou pelos filiados? Como vimos, o perigo não está no ataque aberto, nem nas perseguições, nem mesmo na calúnia. Está nas intrigas ocultas empregadas para desacreditar e arruinar o Espiritismo por si mesmo. Serão bem sucedidos? É o que vamos examinar agora.

Já chamamos a atenção para essa manobra no relatório de nossa viagem de 1862, porque, em nosso caminho, recebemos três beijos de Judas, com os quais não nos enganamos, embora não nos tivéssemos manifestado. Aliás, tínhamos sido prevenidos antes de nossa partida das armadilhas que nos seriam estendidas. Mas ficamos de olho, certo de que um dia seriam desmascarados, porque é tão difícil a um falso espírita, quanto a um mau Espírito, simular um Espírito superior. Nem um nem outro podem sustentar por muito tempo o seu papel.

De várias localidades nos indicam criaturas, homens e mulheres de antecedentes e ligações suspeitas, cujo aparente zelo pelo Espiritismo apenas inspira uma medíocre confiança e não nos surpreendemos de aí encontrar os três judas de que falamos: Da parte deles é muitas vezes mais que zelo; é entusiasmo, uma admiração fanática. Em sua opinião, seu devotamento vai até o sacrifício de seus interesses e, apesar disto, não atraem simpatias: um fluido malsão parece envolvê-los e sua presença nas reuniões lança um manto de gelo. Acrescente-se que existem alguns, cujos meios de subsistência se tornam um problema, sobretudo na província, onde todo o mundo se conhece.

O que caracteriza principalmente esses pretensos adeptos é a tendência a fazer o Espiritismo sair dos caminhos da prudência e da moderação por seu ardente desejo do triunfo da verdade; a estimular as publicações excêntricas; a extasiar-se de admiração ante as comunicações apócrifas mais ridículas, e que têm o cuidado de espalhar; a provocar nas reuniões assuntos comprometedores sobre política e religião, sempre pelo triunfo da verdade, que não pode ficar debaixo do alqueire; seus elogios aos homens e às coisas são bajulações de arrepiar: são os fanfarrões do Espiritismo. Outros são mais afetados e hipócritas; com olhar oblíquo e palavras melífluas sopram a discórdia enquanto pregam a união. Suscitam com habilidade a discussão de questões irritantes ou ferinas, capazes de provocar dissidências. Excitam uma inveja de predominância entre os vários grupos e ficariam contentíssimos se os vissem a se apedrejarem e, em favor de algumas divergências de opinião sobre certas questões de forma ou de fundo, geralmente provocadas, erguem bandeira contra bandeira.

Alguns, ao que dizem, contraem enorme despesa com livros espíritas, de que os livreiros não se dão conta, e uma excessiva propaganda. Mas, por obra do acaso, a escolha de seus adeptos é infeliz; uma fatalidade os leva a se dirigirem de preferência a pessoas exaltadas, de idéias obtusas ou que já deram sinais de aberração; depois de um insucesso que deploram gritando em toda parte, constata-se que essa gente se ocupava do Espiritismo, do qual, a maior parte do tempo, não entendia patavina. Aos livros espíritas que esses zelosos apóstolos distribuem generosamente, muitas vezes adicionam, não críticas, pois seria falta de habilidade, mas livros de magia e feitiçaria ou escritos políticos pouco ortodoxos, ou ignóbeis diatribes contra a religião, a fim de que, surgindo um malogro qualquer, fortuito ou não, se possa confundir tudo numa verificação posterior.

Como é mais cômodo ter as coisas à mão, para ter comparsas dóceis, o que não se encontra em toda parte, alguns organizam ou fazem organizar reuniões onde se ocupam de preferência daquilo que o Espiritismo recomenda não se ocuparem, e onde se tem o cuidado de atrair estranhos, que nem sempre são amigos. Aí o sagrado e o profano estão indignamente confundidos; os mais venerados nomes são associados às mais ridículas práticas da magia negra, acompanhadas de sinais e palavras cabalísticas, talismãs, tripés sibilinos e outros acessórios. Alguns acrescentam, como complemento, e por vezes, visando ao lucro, a cartomancia, a quiromancia, a borra de café, o sonambulismo pago, etc. Espíritos complacentes, que aí encontram intérpretes não menos complacentes, predizem o futuro, lêem a buena-dicha, descobrem tesouros ocultos e tios na América e, caso necessário, indicam a cotação da Bolsa e os números premiados da loteria. Depois, um belo dia, a justiça intervém ou a gente lê num jornal a descrição de uma sessão de Espiritismo à qual o autor assistiu e conta o que viu com os próprios olhos.

Tentareis trazer toda essa gente a idéias mais sãs? Seria trabalho perdido, e compreende-se por que: a razão e o lado sério da doutrina não lhes interessa; é o que mais os contraria; dizer-lhes que prejudicam a causa, que fornecem armas aos inimigos é lisonjeá-los; seu objetivo é desacreditá-la, tendo o ar de a defender. Instrumentos, não temem comprometer os outros, fazendo que sofram os rigores da lei, nem a si mesmos, pois sabem encontrar uma compensação.

Nem sempre seu papel é idêntico; varia conforme a posição social, as aptidões, a natureza de suas relações e o elemento que os faz agir, embora o fim seja sempre o mesmo. Nem todos empregam meios tão grosseiros, mas não menos pérfidos. Lede certas publicações que são simpáticas à idéia, mesmo as que aparentam defendê-la; examinai todos os pensamentos e vede se, às vezes, ao lado de uma aprovação posta à guisa de cobertura e de etiqueta, não descobris, como que lançado ao acaso, um pensamento insidioso, uma insinuação de duplo sentido, um fato relatado de modo ambíguo e que pode ser interpretado num sentido desfavorável. Entre estes, uns são menos velados e, sob o manto do Espiritismo, visam suscitar divisões entre os adeptos.

Certamente perguntarão se todas as torpezas de que acabamos de falar se devem, invariavelmente, a manobras ocultas ou a uma comédia com fins interesseiros, ou se, também, não podem resultar e um movimento espontâneo; numa palavra, se todos os espíritas são homens de bom-senso e incapazes de se enganar?

Pretender que todos os espíritas sejam infalíveis seria tão absurdo quanto a pretensão dos nossos adversários de deterem o privilégio exclusivo da razão. Mas se alguns se enganam, é que se equivocam quanto ao sentido e ao fim da doutrina. Neste caso sua opinião não pode fazer lei, e é ilógico e desleal, conforme a intenção, tomar a idéia individual pela idéia geral, e explorar uma exceção. Seria o mesmo que tomar as aberrações de alguns sábios como regras da ciência. A esses diremos: se quiserdes saber de que lado está a presunção da verdade, estudai os princípios admitidos pela imensa maioria, se não, pela unanimidade absoluta dos espíritas do mundo inteiro.

Podem, pois, os crentes de boa-fé enganar-se e não os incriminamos por não pensarem como nós. Se, entre as torpezas relatadas acima, algumas não passassem de opinião pessoal, nelas não veríamos senão desvios isolados, lamentáveis; seria, porém, injusto responsabilizar a doutrina, que as repudia abertamente. Mas se dizemos que pode ser o resultado de manobras interesseiras, é que nosso quadro é feito sobre modelos. Ora, como é a única coisa que o Espiritismo tem realmente a temer no momento, convidamos todos os adeptos sinceros a se porem em guarda, evitando as armadilhas que lhes poderiam estender. Para tanto, jamais seriam bastante circunspetos quanto à escolha dos elementos a introduzir nas reuniões, nem repeliriam com excessivo cuidado as sugestões que tendessem a desnaturar o caráter essencialmente moral. Mantendo nisto a ordem, a dignidade e a gravidade que convém a homens sérios, que se ocupam com coisas sérias, fecharão o acesso aos mal-intencionados, que se retirarão quando reconhecerem que aí nada têm a fazer. Pelos mesmos motivos, devem declinar de toda solidariedade com as reuniões formadas fora das condições prescritas pela sã razão e os verdadeiros princípios da doutrina, se não os puderem conduzir ao bom caminho.

Como se vê, há certamente uma grande diferença entre os falsos irmãos e os amigos inábeis, mas, sem o querer, o resultado pode ser o mesmo: desacreditar a doutrina. A nuança que os separa freqüentemente está apenas na intenção, o que, por vezes, poderia confundi-los, e, vendo-os servir os interesses do partido contrário, supor que por este foram conquistados. A circunspeção, pois, sobretudo neste momento, é mais necessária que nunca, porquanto não devemos esquecer que palavras, ações ou escritos inconsiderados são explorados, e que os adversários estão satisfeitíssimos por poderem dizer que isto vem dos espíritas.

Neste estado de coisas, compreende-se que armas a especulação, tendo em vista os abusos que pode suscitar, haverá de oferecer aos detratores para apoiar a acusação de charlatanice. Em certos casos, portanto, isto pode ser uma armadilha, da qual se deve desconfiar. Ora, como não há charlatanice filantrópica, a abnegação e o desinteresse absolutos dos médiuns tiram aos detratores um de seus mais poderosos meios de denegrir, cortando pela raiz toda discussão a respeito.

Levar a desconfiança ao excesso seria um grave erro, sem dúvida, mas, em tempos de luta e quando se conhece a tática do inimigo, a prudência torna-se uma necessidade que, aliás, não exclui a moderação nem a observação das conveniências, das quais não devemos jamais nos separar. Por outro lado não nos poderíamos equivocar quanto ao caráter do verdadeiro espírita; há nele uma franqueza de atitudes que desafia toda suspeição, sobretudo quando corroborada pela prática dos princípios da doutrina. Que se levante bandeira contra bandeira, como procuram fazer nossos antagonistas: o futuro de cada um está subordinado à soma de consolações e satisfações morais que elas trazem. Um sistema não pode prevalecer sobre outro senão sob a condição de ser mais lógico, e só a opinião pública pode julgar com soberania. Em todo o caso, a violência, as injúrias e a acrimônia são maus antecedentes e uma recomendação ainda pior.

Resta examinar as conseqüências desse estado de coisas. Tais intrigas podem, incontestavelmente, levar a algumas perturbações parciais, momentâneas, razão por que é preciso abortá-las tanto quanto possível. Contudo, não poderiam prejudicar o futuro: primeiramente, porque não terão tempo, desde que são manobras da oposição, que cairá pela força das coisas; em segundo lugar porque, digam o que disserem, jamais tirarão à doutrina seu caráter distintivo, sua filosofia racional e sua moral consoladora. Por mais que a torturem e deturpem, por mais que façam falar os Espíritos à sua vontade ou reúnam comunicações apócrifas para lançar contradições de permeio, não farão prevalecer um ensino isolado, ainda que verdadeiro ou imaginário, contra o que é dado por toda parte. O Espiritismo se distingue de todas as outras filosofias pelo fato de não ser o produto da concepção de um só homem, mas de um ensino que cada um pode receber em todos os pontos do globo, e tal é a consagração que recebeu O Livro dos Espíritos. Escrito sem equívocos possíveis e ao alcance de todas as inteligências, esse livro será sempre a expressão clara e exata da doutrina e a transmitirá intacta aos que vierem depois de nós. As cóleras que excita são indícios do papel que ele é chamado a representar, e da dificuldade de lhe opor algo de mais sério. O que fez rápido sucesso da doutrina espírita são as consolações e as esperanças que dá. Todo sistema que, pela negação dos princípios fundamentais, tendesse a destruir a própria fonte dessas consolações, não poderia ser acolhido com simpatia.

Não se deve perder de vista que estamos, como já o dissemos, em momento de transição, e que nenhuma transição se opera sem conflito. Não se admirem, pois, de ver agitarem-se as paixões em jogo, as ambições comprometedoras, as pretensões malogradas, e cada um tentar recuperar o que vê escapar, agarrando-se ao passado. Mas, pouco a pouco tudo isto se extingue, a febre se acalma, os homens passam e as idéias ficam. Espíritas, elevai-vos pelo pensamento, olhai vinte anos para a frente e o presente não vos inquietará.

AMIZADE: UM TESOURO A SER CONQUISTADO

AMIZADE:
UM TESOURO A SER CONQUISTADO

Redação do Momento Espírita
http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=51&let=A&stat=0

Pesquisadores da universidade de Yale, nos Estados Unidos da América, realizaram um estudo com dez mil executivos Seniors para medir o poder da amizade na qualidade de vida dos americanos.

O resultado foi impressionante: ter amigos reduzia em nada menos que 50% o risco de morte, sobretudo por doenças, num período de cinco anos. Estas informações foram publicadas por um jornal carioca, recentemente, nos convidam a pensar a respeito das amizades que cultivamos.

Muitos de nós temos facilidades para fazer novos amigos. Mas, nem sempre temos habilidade suficiente para manter essas amizades. É que, pelo grau de intimidade que os amigos vão adquirindo em nossas vidas, nos esquecemos de os respeitar.

Assim, num dia difícil, acreditamos que temos o direito de gritar com o amigo. Afinal, com alguém devemos desabafar a raiva que nos domina. Porque estamos juntos muitas horas, justamente por sermos amigos, nos permitimos usar para com eles de olhares agressivos, de palavras rudes.

Ou então, usamos os nossos amigos para a lamentação constante. Todos os dias, em todos os momentos em que nos encontramos, seja para um lanche, um passeio, uma ida ao teatro ou ao cinema, lá estamos nós, usando os ouvidos dos nossos amigos como lixeira.

É isso mesmo. Despejando neles toda a lama da nossa amargura, das nossas queixas, das nossas reclamações. Quase sempre, produto da nossa forma pessimista de ver a vida. Sim, nossos amigos devem saber das dificuldades que nos alcançam para nos poderem ajudar. O que não quer dizer que devamos estragar todos os momentos de encontro, de troca de afetos, com os nossos pedidos, a nossa tristeza.

Os amigos também têm suas dificuldades e para nos alegrar, procuram esquecê-las e vêm, com sua presença, colocar flores na nossa estrada árida. Outras vezes, nos permitimos usar nossos amigos para brincadeiras tolas, até de mau gosto. Acreditando que eles, por serem nossos amigos, devem suportar tudo. E quase sempre nos tornamos inconvenientes e os machucamos.

Por isso, a melhor fórmula para fazer e manter amigos é usar a gentileza, a simpatia, a doçura no trato com as pessoas.

Lembremos que a amizade, como o amor, necessita ser alimentada como as plantas do nosso jardim. Por isso a amizade necessita, para se manter da terra fofa da bondade, do sol do afeto, da chuva da generosidade, da brisa leve dos pequenos gestos de todos os dias.

* * *

Usa a cortesia nos teus movimentos e ações, gerando simpatia e amizade.

Podes começar no teu ambiente de trabalho. Os que trabalham contigo merecem a tua consideração e o teu respeito.

Torna-os teus amigos. Por isso, no trato com eles, usa as expressões: por favor, muito obrigado.

Lembra-te de dizer bom dia, com um sorriso, desejando de verdade que eles todos tenham um bom dia.

Observa e ajuda quanto puderes, gerando clima de simpatia.

Sê amigo de todos e espalha o perfume da amizade por onde vás e onde estejas.

Amai os vossos inimigos


Amai os vossos inimigos
Retribuir o mal com o bem

1. Aprendestes que foi dito: "Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos." Eu, porém, vos digo: "Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. - Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?" (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)

- "Digo-vos que, se a vossa justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no reino dos céus."(S. MATEUS, cap. V, v. 20.)

2. "Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que os amam? - Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? - Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. - Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus." (S. LUCAS, cap. VI, vv. 32 a 36.)

3. Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.

Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas idéias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.

A diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes, resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se deva estabelecer diferença alguma entre eles e os amigos. Se este preceito parece de difícil prática, impossível mesmo, é apenas por entender-se falsamente que ele manda se dê no coração, assim ao amigo, como ao inimigo, o mesmo lugar. Uma vez que a pobreza da linguagem humana obriga a que nos sirvamos do mesmo termo para exprimir matizes diversos de um sentimento, à razão cabe estabelecer as diferenças, conforme aos casos.

Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao contacto de um amigo. Amar os Inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos.

4. Amar os inimigos é, para o incrédulo, um contra-senso. Aquele para quem a vida presente é tudo, vê no seu inimigo um ser nocivo, que lhe perturba o repouso e do qual unicamente a morte. pensa ele, o pode livrar. Daí, o desejo de vingar-se. Nenhum interesse tem em perdoar, senão para satisfazer o seu orgulho perante o mundo. Em certos casos, perdoar-lhe parece mesmo uma fraqueza indigna de si. Se não se vingar, nem por isso deixará de conservar rancor e secreto desejo de mal para o outro.

Para o crente e, sobretudo, para o espírita, muito diversa é a maneira de ver, porque suas vistas se lançam sobre o passado e sobre o futuro, entre os quais a vida atual não passa de um simples ponto. Sabe ele que, pela mesma destinação da Terra, deve esperar topar aí com homens maus e perversos; que as maldades com que se defronta fazem parte das provas que lhe cumpre suportar e o elevado ponto de vista em que se coloca lhe torna menos amargas as vicissitudes, quer advenham dos homens, quer das coisas. Se não se queixa das provas, tampouco deve queixar-se dos que lhe servem de instrumento. Se, em vez de se queixar, agradece a Deus o experimentá-lo, deve também agradecer a mão que lhe dá ensejo de demonstrar a sua paciência e a sua resignação. Esta idéia o dispõe naturalmente ao perdão. Sente, além disso, que quanto mais generoso for. tanto mais se engrandece aos seus próprios olhos e se põe fora do alcance dos dardos do seu inimigo.

O homem que no mundo ocupa elevada posição não se julga ofendido com os insultos daquele a quem considera seu inferior. O mesmo se dá com o que, no mundo moral, se eleva acima da humanidade material. Este compreende que o ódio e o rancor o aviltariam e rebaixariam. Ora, para ser superior ao seu adversário, preciso é que tenha a alma maior, mais nobre, mais generosa do que a desse último.

Os inimigos desencarnados

5. Ainda outros motivos tem o espírita para ser indulgente com os seus inimigos. Sabe ele, primeiramente, que a maldade não é um estado permanente dos homens; que ela decorre de uma imperfeição temporária e que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom,

Sabe também que a morte apenas o livra da presença material do seu inimigo, pois que este o pode perseguir com o seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra; que, assim, a vingança, que tome, falha ao seu objetivo, visto que, ao contrário, tem por efeito produzir maior irritação, capaz de passar de uma existência a outra. Cabia ao Espiritismo demonstrar, por meio da experiência e da lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, que a expressão: extinguir o ódio com o sangue é radicalmente falsa, que a verdade é que o sangue alimenta o ódio, mesmo no além-túmulo. Cabia-lhe, portanto, apresentar uma razão de ser positiva e uma utilidade prática ao perdão e ao preceito do Cristo: Amai os vossos inimigos. Não há coração tão perverso que, mesmo a seu mau grado, não se mostre sensível ao bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo menos, todo pretexto às represálias, podendo-se até fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua morte. Com um mau proceder, o homem irrita o seu inimigo, que então se constitui instrumento de que a justiça de Deus se serve para punir aquele que não perdoou.

6. Pode-se, portanto, contar inimigos assim entre os encarnados, como entre os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência pelas obsessões e subjugações com que tanta gente se vê a braços e que representam um gênero de provações, as quais, como as outras, concorrem para o adiantamento do ser, que, por isso; as deve receber com resignação e como conseqüência da natureza inferior do globo terrestre. Se não houvesse homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao seu derredor. Se, conseguintemente, se deve usar de benevolência com os inimigos encarnados, do mesmo modo se deve proceder com relação aos que se acham desencarnados.

Outrora, sacrificavam-se vítimas sangrentas para aplacar os deuses infernais, que não eram senão os maus Espíritos. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo demonstra que esses demônios mais não são do que as almas dos homens perversos, que ainda se não despojaram dos instintos materiais; que ninguém logra aplacá-los, senão mediante o sacrifício do ódio existente, isto é, pela caridade; que esta não tem por efeito, unicamente, impedi-los de praticar o mal e, sim, também o de os reconduzir ao caminho do bem e de contribuir para a salvação deles. E assim que o mandamento: Amai os vossos inimigos não se circunscreve ao âmbito acanhado da Terra e da vida presente; antes, faz parte da grande lei da solidariedade e da fraternidade universais.

Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra
7. Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. - Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; - e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o manto; - e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. - Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. (S. MATEUS, cap. V, vv. 38 a 42.)

8. Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar "ponto de honra" produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei moisaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribui o mal com o bem. E disse ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra." Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.

Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas conseqüências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio as agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. E, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

A vingança

9. A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. E, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto, meus amigos, nunca esse sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição do Cristo: "Perdoai aos vossos inimigos", que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno, Quando seu ódio não chega a tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos, se vão avolumando pelo caminho. Em conseqüência, quando o perseguido se apresenta nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar com semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a apertar as suas. Enfim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais caros amigos e parentes se afastam e o evitam, Ah! o covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face.

Fora, pois, com esses costumes selvagens! Fora com esses processos de outros tempos! Todo espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade não há salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um membro da grande família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao impulso da vingança, senão para perdoar. - Júlio Olivier. (Paris, 1862.)

O ódio

10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento, Missionário do amor, ele amou até dar o sangue e a vida por amor, Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante a minha última existência terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele. - Fénelon, (Bordéus, 1861.)

O duelo

11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida uma viagem que o há de conduzir a determinado ponto, pouco caso faz das asperezas da jornada e não deixa que seus passos se desviem do caminho reto. Com o olhar constantemente dirigido para o termo a alcançar, nada lhe importa que as urzes e os espinhos ameacem produzir-lhe arranhaduras; umas e outros lhe roçam a epiderme, sem o ferirem, nem impedirem de prosseguir na caminhada. Expor seus dias para se vingar de uma injúria é recuar diante das provações da vida, é sempre um crime aos olhos de Deus; e, se não fôsseis, como sois, iludidos pelos vossos prejuízos, tal coisa seria ridícula e uma suprema loucura aos olhos dos homens.

Há crime no homicídio em duelo; a vossa própria legislação o reconhece. Ninguém tem o direito, em caso algum, de atentar contra a vida de seu semelhante: é um crime aos olhos de Deus, que vos traçou a linha de conduta que tendes de seguir. Nisso, mais do que em qualquer outra circunstância, sois juizes em causa própria. Lembrai-vos de que somente vos será perdoado, conforme perdoardes; pelo perdão vos acercais da Divindade, pois a clemência e irmã do poder. Enquanto na Terra correr uma gota de sangue humano, vertida pela mão dos homens, o verdadeiro reino de Deus ainda se não terá implantado aí, reino de paz e de amor, que há de banir para sempre do vosso planeta a animosidade, a discórdia, a guerra. Então, a palavra duelo somente existirá na vossa linguagem como longínqua e vaga recordação de um passado que se foi. Nenhum outro antagonismo existirá entre os homens, afora a nobre rivalidade do bem. - Adolfo, bispo de Argel. (Marmande, 1861.)

12. Em certos casos, sem dúvida, pode o duelo constituir uma prova de coragem física, de desprezo pela vida, mas também é, incontestavelmente, uma prova de covardia moral, como o suicídio. O suicida não tem coragem de enfrentar as vicissitudes da vida; o duelista não tem a de suportar as ofensas, Não vos disse o Cristo que há mais honra e valor em apresentar a face esquerda aquele que bateu na direita, do que em vingar uma injúria? Não disse ele a Pedro, no jardim das Oliveiras: "Mete a tua espada na bainha, porquanto aquele que matar com a espada perecerá pela espada?" Assim falando, não condenou, para sempre, o duelo? Efetivamente, meus filhos, que é essa coragem oriunda de um gênio violento, de um temperamento sangüíneo e colérico, que ruge à primeira ofensa? Onde a grandeza dalma daquele que, à menor injúria, entende que só com sangue a poderá lavar? Ah! que ele trema! No fundo da sua consciência, uma voz lhe bradará sempre: Caim! Caim! que fizeste de teu irmão? Foi-me necessário derramar sangue para salvar a minha honra, responderá ele a essa voz, Ela, porem, retrucará: Procuraste salvá-la perante os homens, por alguns instantes que te restavam de vida na Terra, e não pensaste em salvá-la perante Deus! Pobre louco! Quanto sangue exigiria de vós o Cristo, por todos os ultrajes que recebeu! Não só o feristes com os espinhos e a lança, não só o pregastes num madeiro infamante, como também o fizestes ouvir, em meio de sua agonia atroz, as zombarias que lhe prodigalizastes, Que reparação a tantos insultos vos pediu ele? O último brado do cordeiro foi unia súplica em favor dos seus algozes! Oh! como ele, perdoai e oral pelos que vos ofendem.

Amigos, lembrai-vos deste preceito: "Amai-vos uns aos outros" e, então, a um golpe desferido pelo ódio respondereis com um Sorriso, e ao ultraje com o perdão. O mundo, sem dúvida, se levantará furioso e vos tratará de covardes; erguei bem alto a fronte e mostrai que também ela se não temeria de cingir-se de espinhos, a exemplo do Cristo, mas, que a vossa mão não quer ser cúmplice de um assassínio autorizado por falsos ares de honra, que, entretanto, não passa de orgulho e amor-próprio. Dar-se-á que, ao criar-vos, Deus vos outorgou o direito de vida e de morte, uns sobre os outros? Não, só à Natureza conferiu ele esse direito, para se reformar e reconstruir; quanto a vós, não permite, sequer, que disponhais de vós mesmos. Como o suicida, o duelista se achará marcado com sangue, quando comparecer perante Deus, e a um e outro o Soberano Juiz reserva rudes e longos castigos. Se ele ameaçou com a sua justiça aquele que disser raca a seu irmão, quão mais severa não será a pena que comine ao que chegar à sua presença com as mãos tintas do sangue de seu irmão! -Santo Agostinho. (Paris, 1862.)

13. O duelo, como o que outrora se denominava o juízo de Deus, é uma das instituições bárbaras que ainda regem a sociedade. Que diríeis, no entanto, se vísseis dois adversários mergulhados em água fervente ou submetidos ao contacto de um ferro em brasa, para ser dirimida a contenda entre eles, reconhecendo-se estar a razão com aquele que melhor sofresse a prova? Qualificaríeis de insensatos esses costumes, não é exato? Pois o duelo é coisa pior do que tudo isso. Para o duelista destro, é um assassínio praticado a sangue frio, com toda a premeditação que possa haver, uma vez que ele está certo da eficácia do golpe que desfechará. Para o adversário, quase certo de sucumbir em virtude de sua fraqueza e inabilidade, é um suicídio cometido com a mais fria reflexão, Sei que muitas vezes se procura evitar essa alternativa igualmente criminosa, confiando ao acaso a questão: - mas, não é isso voltar, sob outra forma, ao juízo de Deus, da Idade Média? E nessa época infinitamente menor era a culpa. A própria denominação de juízo de Deus indica a fé, ingênua, é verdade, porém, afinal, fé na justiça de Deus, que não podia consentir sucumbisse um inocente, ao passo que, no duelo, tudo se confia à força bruta, de tal sorte que não raro é o ofendido que sucumbe.

Ó estúpido amor-próprio, tola vaidade e louco orgulho, quando sereis substituídos pela caridade cristã, pelo amor do próximo e pela humildade que o Cristo exemplificou e preceituou? Só quando isso se der desaparecerão esses preceitos monstruosos que ainda governam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir, porque não basta interditar o mal e prescrever o bem; é preciso que o princípio do bem e o horror ao mal morem no coração do homem. - Um Espírito protetor. (Bordéus, 1861.)

14. Que juízo farão de mim, costumais dizer, se eu recusar a reparação que se me exige, ou se não a reclamar de quem me ofendeu? Os loucos, como vós, os homens atrasados vos censurarão; mas, os que se acham esclarecidos pelo facho do progresso intelectual e moral dirão que procedeis de acordo com a verdadeira sabedoria. Refleti um pouco. Por motivo de uma palavra dita às vezes impensadamente, ou inofensiva, vinda de um dos vossos irmãos, o vosso orgulho se sente ferido, respondeis de modo acre e daí uma provocação. Antes que chegue o momento decisivo, inquiris de vós mesmos se procedeis como cristãos? Que contas ficareis devendo à sociedade, por a privardes de um de seus membros? Pensastes no remorso que vos assaltará, por haverdes roubado a uma mulher o marido, a uma mãe o filho, ao filho o pai que lhes servia de amparo? Certamente, o autor da ofensa deve uma reparação; porém, não lhe será mais honroso dá-la espontaneamente, reconhecendo suas faltas, do que expor a vida daquele que tem o direito de se queixar? Quanto ao ofendido, convenho em que, algumas vezes, por ele achar-se gravemente ferido, ou em sua' pessoa, ou nas dos que lhe são mais caros, não está em jogo somente o amor-próprio: o coração se acha magoado, sofre. Mas, além de ser estúpido arriscar a vida, lançando-se contra um miserável capaz de praticar infâmias, dar-se-á que, morto este, a afronta, qualquer que seja, deixa de existir? Não é exato que o sangue derramado imprime retumbância maior a um fato que, se falso, cairia por si mesmo, e que, se verdadeiro, deve ficar sepultado no silêncio? Nada mais restará, pois, senão a satisfação da sede de vingança. Ah! triste satisfação que quase sempre dá lugar, já nesta vida, a causticantes remorsos. Se é o ofendido que sucumbe, onde a reparação?

Quando a caridade regular a conduta dos homens, eles conformarão seus atos e palavras a esta máxima: "Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam." Em se verificando isso, desaparecerão todas as causas de dissensões e, com elas, as dos duelos e das guerras, que são os duelos de povo a povo. - Francisco Xavier, (Bordéus, 1861.)

15. O homem do mundo, o homem venturoso, que por uma palavra chocante, uma coisa ligeira, joga a vida que lhe veio de Deus, joga a vida do seu semelhante, que só a Deus pertence, esse é cem vezes mais culpado do que o miserável que, impelido pela cupidez, algumas vezes pela necessidade, se introduz numa habitação para roubar e matar os que se lhe opõem aos desígnios. Trata-se quase sempre de uma criatura sem educação, com imperfeitas noções do bem e do mal, ao passo que o duelista pertence, em regra, à classe mais culta. Um mata brutalmente, enquanto que o outro o faz com método e polidez, pelo que a sociedade o desculpa. Acrescentarei mesmo que o duelista é infinitamente mais culpado do que o desgraçado que, cedendo a um sentimento de vingança, mata num momento de exasperação. O duelista não tem por escusa o arrebatamento da paixão, pois que, entre o insulto e a reparação, dispõe ele sempre de tempo para refletir. Age, portanto, friamente e com premeditado desígnio; estuda e calcula tu do, para com mais segurança matar o seu adversário. E certo que também expõe a vida e é isso o que reabilita o duelo aos olhos do mundo, que nele então só vê um ato de coragem e pouco caso da vida. Mas, haverá coragem da parte daquele que está seguro de si? O duelo, remanescente dos tempos de barbárie, em os quais o direito do mais forte constituía a lei, desaparecerá por efeito de uma melhor apreciação do verdadeiro ponto de honra e à medida que o homem for depositando fé mais viva na vida futura. -Agostinho. (Bordéus, 1861.)

16. NOTA. Os duelos se vão tornando cada vez mais raros e, se de tempos a tempos alguns de tão dolorosos exemplos se dão, o número deles não se pode comparar com o dos que ocorriam outrora. Antigamente, um homem não saía de casa sem prever um encontro, pelo que tomava sempre as necessárias precauções. Um sinal característico dos costumes do tempo e dos povos se nos depara no porte habitual, ostensivo ou oculto, de armas ofensivas ou defensivas. A abolição de semelhante uso demonstra o abrandamento dos costumes e é curioso acompanhar-lhes a gradação, desde a época em que os cavaleiros só cavalgavam bardados de ferro e armados de lança, até a em que uma simples espada à cinta constituía mais um adorno e um acessório do brasão, do que uma arma de agressão. Outro indício da modificação dos costumes está em que, outrora, os combates singulares se empenhavam em plena rua, diante da turba, que se afastava para deixar livre o campo aos combatentes, ao passo que estes hoje se ocultam. Presentemente, a morte de um homem é acontecimento que causa emoção, enquanto que, noutros tempos, ninguém dava atenção a isso.

O Espiritismo apagará esses últimos vestígios da barbárie, incutindo nos homens o espírito de caridade e de fraternidade.

CAPÍTULO XIII

Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita
Fazer o bem sem ostentação

1. Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. -Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)

2. Tendo Jesus descido do monte, grande multidão o seguiu. - Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. - Jesus, estendendo a mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no mesmo instante desapareceu a lepra. - Disse-lhe então Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés, a fim de que lhes sirva de prova. (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.)

3. Em fazer o bem sem ostentação há grande mérito; ainda mais meritório é ocultar a mão que dá; constitui marca incontestável de grande superioridade moral, porquanto, para encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo, mister se torna abstrair da vida presente e identificar-se com a vida futura; numa palavra, colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à satisfação que advém do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que prefere ao de Deus o sufrágio dos homens prova que mais fé deposita nestes do que na Divindade e que mais valor dá à vida presente do que à futura. Se diz o contrário, procede como se não cresse no que diz.

Quantos há que só dão na esperança de que o que recebe irá bradar por toda a parte o benefício recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus declarou: "Os que fazem o bem ostentosamente já receberam sua recompensa." Com efeito, aquele que procura a sua própria glorificação na Terra, pelo bem que pratica, já se pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; só lhe resta receber a punição do seu orgulho.

Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa modéstia, o simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá, tendo, porém, o cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para verificar se alguém não o terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são depreciados entre os homens, que não será perante Deus? Também esses já receberam na Terra sua recompensa. Foram vistos; estão satisfeitos por terem sido vistos. E tudo o que terão.

E qual poderá ser a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que os recebe, que lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se vota para beneficiá-lo? Oh! para esse, nem mesmo a recompensa terrestre existe, porquanto ele se vê privado da grata satisfação de ouvir bendizer-lhe do nome e é esse o primeiro castigo do seu orgulho. As lágrimas que seca por vaidade, em vez de subirem ao Céu, recaíram sobre o coração do aflito e o ulceraram. Do bem que praticou nenhum proveito lhe resulta, pois que ele o deplora, e todo benefício deplorado é moeda falsa e sem valor.

A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade, quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras: "Não saiba a mão esquerda o que dá a direita."

Os infortúnios ocultos

4. Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres. Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.

Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida? Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente. Aonde vai ela? Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. E que ela vai acalmar ali todas as dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar. O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família. Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família. No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita. Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação. A noite, um concerto de benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.

Por que tão singelo traje? Para não insultar a miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha? Para que aprenda como se deve praticar a beneficência. A mocinha também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz: "Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu? Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu mérito? Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso? Não é justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa. Não te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti." É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou. E espírita ela? Que importa!

Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos. Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora. "Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a ninguém." Falava assim Jesus.

O óbolo da viúva

5. Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. - Nisso, veio também uma pobre que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. - Chamando então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio; - por isso que todos os outros deram do que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu sustento. (SÃO MARCOS, cap. XII, vv. 41 a 44. - S. LUCAS, cap. XXI. vv. 1 a 4.)

6. Multa gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. E sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto? Esta segunda intenção, que esses tais porventura dissimulam aos seus próprios olhos, mas que se lhes depararia no fundo dos seus corações, se eles os perscrutassem, anula o mérito do intento, visto que, com a verdadeira caridade, o homem pensa nos outros antes de pensar em si O ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para realizar seus generosos propósitos. Haveria nisso o sacrifício que mais agrada ao Senhor. Infelizmente, a maioria vive a sonhar com os meios de mais facilmente se enriquecer de súbito e sem esforço, correndo atrás de quimeras, quais a descoberta de tesouros, de uma favorável ensancha aleatória, do recebimento de inesperadas heranças, etc. Que dizer dos que esperam encontrar nos Espíritos auxiliares que os secundem na consecução de tais objetivos? Certamente não conhecem, nem compreendem a sagrada finalidade do Espiritismo e, ainda menos, a missão dos Espíritos a quem Deus permite se comuniquem com os homens. Daí vem o serem punidos pelas decepções. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, nº 294 e nº 295.)

Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.

Convidar os pobres e os estropiados. Dar sem esperar retribuição
7. Disse também àquele que o convidara: Quando derdes um jantar ou uma ceia, não convideis nem os vossos amigos, nem os vossos irmãos, nem os vossos parentes, nem os vossos vizinhos que forem ricos, para que em seguida não vos convidem a seu turno e assim retribuam o que de vós receberam. - Quando derdes um festim, convidai para ele os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos. - E sereis ditosos por não terem eles meios de vo-lo retribuir, pois isso será retribuído na ressurreição dos justos.

Um dos que se achavam à mesa, ouvindo essas palavras, disse-lhe: Feliz do que comer do pão no reino de Deus! (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 12 a 15.)

8. "Quando derdes um festim, disse Jesus, não convideis para ele os vossos amigos, mas os pobres e os estropiados." Estas palavras, absurdas, se tomadas ao pé da letra, são sublimes, se lhes buscarmos o espírito. Não é possível que Jesus haja pretendido que, em vez de seus amigo