terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Policiais na comunidade do Alemão

Está passando o momento da euforia para os brasileiros que vivem na favela do Alemão e para todos os demais brasileiros que assistiram às operações conjuntas das polícias do Estado do Rio e forças armadas – marinha e exército. A pergunta que se faz, agora, é: pode o Rio cantar vitória ou lamentar uma derrota?

A pergunta é pertinente. Dos 600 meliantes estimados na favela da Vila Cruzeiro apenas 29 foram feitos prisioneiros. O restante fugiu espetacularmente, utilizando rotas de fuga que poderiam ter sido estudadas com mais cuidado pela operação militar e controladas antes mesmo da invasão das duas comunidades – a do Cruzeiro e a do Alemão. Agora, a história vai-se estender por meses e meses na busca exaustiva e cansativa pelos fujões. Claro que não vale a alegação feita pelo Secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Segundo ele, “bandido sem casa, sem dinheiro e sem território é menos bandido”. Não é não. Bandido é bandido. Está vivo e está acuado, logo, desesperado. Já se viu que os cariocas – e os brasileiros em geral – andam tão assustados que os assaltos podem ser e são realizados, com muita freqüência, com armas de brinquedos. Armas feitas até de modo rústico, pintadas de preto. A vítima fica totalmente desorientada quando surge, de repente, um assaltante apontando-lhe algo e lhe gritando ordens que devem ser obedecidas depressa. Então, com esta experiência de anos, os fugitivos logo estarão novamente dispondo tanto de dinheiro quanto de outro território e a luta vai retornar com mais prejuízo para o Estado. De meu ponto de vista, a operação foi um fiasco e não dou nem cinco meses para que a onda de violência retorne ao Rio. Talvez, agora, mais sofisticada, mas nem por isto menos violenta. E é verdade o que disse o sociólogo Michel Misse a respeito da função do militar das forças armadas: eles são treinados para matar, não para fazer prisioneiros. A função policial é totalmente desconhecida no treinamento militar das forças armadas. Suas técnicas são de guerra e não de patrulhamento preventivo. Se aos fuzileiros da Marinha e aos soldados do Exército tivesse sido dada a ordem de entrar para tomar os pontos estratégicos em mãos dos meliantes como se fosse uma operação de guerra, talvez apenas 29 deles estivessem vivos e dando graças a Deus por isto. Também concordo com Jorge Zaverucha, coordenador do Núcleo de Estudos de Instituições Coercitivas da UFP, quando defende a idéia de que as forças armadas correm o perigo de ter seus efetivos corrompidos pelos traficantes. Não vale a alegação de que os militares do Exército e da Marinha que foram designados para as duas comunidades recém-libertadas dos meliantes terem estado em operações pacificadoras por conta da ONU. Onde estiveram era teatro de operações de guerra, terreno de pleno domínio deles. Onde estão, agora, é teatro de crime urbano e ainda que envolvendo armamento pesado, os opositores não são nem mesmo guerrilheiros. São indivíduos integrantes da sociedade civil que devem ser presos por causa de comportamentos socialmente desajustados e criminosos. Os militares das Forças Armadas não podem atirar para matar. Devem, ao contrário, proceder como apoio à retaguarda da polícia, coisa para a qual não foram preparados. Muitos deles ali estão sem compreender bem o que devem fazer. Se forem alvos de disparos, como proceder? Encolher-se e não revidar? Ver um companheiro cair ferido e, ainda assim, não revidar? O treinamento militar é totalmente ao contrário disto. Revidar, avançar, defender o companheiro ferido, atacar, matar, tomar as posições rapidamente. Agora, o Estado do Rio de Janeiro está com um baita problemão. Chamou a atenção do Brasil e do Mundo para si e não deu conta eficientemente do recado. Deixou livres mais de 500 bandidos dispostos a tudo e desesperados. Um homem desesperado arrisca tudo, até a vida. E agora, Governador? O senhor não pode apoiar-se nas Forças Armadas o tempo todo. Tem de aumentar o efetivo policial e colocar todo ele na caça implacável aos bandidos, sabendo sempre que a insegurança da população persiste e pode, a qualquer momento, tornar-se dolorosamente real.

O bom da história é que São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais já colocaram as barbas de molho. E logo terão de realizar operações iguais às do Rio, só que, esperemos nós, com um planejamento realmente de operação de guerra, onde todas as possibilidades prováveis e possíveis dos inimigos da sociedade serão cuidadosamente levantadas, estudadas e prevenidas, de modo a evitar o fiasco carioca. E os Estados do Centro-Oeste que se cuidem. Brasília, Campo Grande, Goiânia devem começar, desde agora, a proceder ao levantamento de todas as rotas de fuga dos seus bandidos, quando se virem obrigados a enfrentá-los num confronto de perde ou ganha.

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