segunda-feira, 19 de março de 2012

Repórter trabalha infiltrado em repartição pública e flagra escândalo de corrupção

 Durante dois meses um repórter do Fantástico trabalhou em uma repartição pública. O que ele viu - e gravou - é um escândalo.
Licitações com cartas marcadas, negociatas, combinações indecorosas de suborno, propinas, truques para escapar da fiscalização. Certamente, você já ouviu falar muito de corrupção. Mas hoje você vai conhecer a cara dela. E do jeito mais deslavado.

Durante dois meses um repórter do Fantástico trabalhou em uma repartição pública. O que ele viu - e gravou - é um escândalo. Um retrato de como algumas empresas agem em órgãos do governo para ganhar dinheiro. Muito dinheiro. O nosso dinheiro.

Entre quatro paredes, o que a gente paga em impostos e que deveria ser destinado à saúde, à educação e outros serviços vai parar no bolso de empresários inescrupulosos e funcionários públicos corruptos. Uma vergonha.

A reportagem é de Eduardo Faustini e André Luiz Azevedo.

Empresários abrem o jogo. Licitações fraudadas são mais comuns do que a gente imagina. O desvio de dinheiro público é tratado por eles como coisa normal. E eles confessam que pagam propina. Os valores são milionários.

Você vai se assustar com o truque que eles usam para esconder o suborno.

O Fantástico mostra agora o mundo da propina, da fraude, da corrupção. De um jeito como você nunca viu. E vale a pena você ver: É o seu dinheiro que eles estão roubando.

Nosso objetivo foi descobrir como isso é feito. O Fantástico pediu ajuda à direção de um hospital de excelência, hospital de pediatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, um grande hospital público infantil. Queríamos assumir o lugar do gestor de compras da instituição, acompanhar livremente todas as negociações, contratações, compras de serviços. Saber se existe oferta de propina, pagamento de suborno de um dinheiro que deveria ser sagrado: o da saúde.

Conseguimos. Durante dois meses, nosso repórter Eduardo Faustini frequentou o hospital. Na verdade, foi bem mais do que isso. Ele teve um gabinete aqui dentro. Foi o novo gestor de compras da instituição. Essa informação só era de conhecimento de duas pessoas no hospital, o diretor e o vice-diretor. Para todos os outros funcionários, o nosso repórter era mesmo o novo responsável pelo setor de compras.

“Todo comprador de hospital, a princípio, é visto como desonesto. Acaba que essa associação do fornecedor desonesto com o comprador desonesto acaba lesando os cofres públicos. E a gente quer mostrar que isso não é assim, em alguns hospitais não é assim que funciona”, disse Edmilson Migowski, diretor do Instituto de Pediatria/UFRJ.

As negociações foram todas filmadas de três ângulos diferentes e levadas até o último momento antes da liberação do pagamento. Evidentemente, nenhum negócio foi concretizado, nenhum centavo do dinheiro do contribuinte foi gasto. Só mesmo o tempo dos corruptos é que foi perdido. E eles agora vão ser desmascarados.

Com autorização da direção do hospital, o repórter Eduardo Faustini convocou licitações em regime emergencial. Elas são feitas por convite, são fechadas ao público. O gestor convida quem ele quiser.

Sem nenhuma interferência do hospital, o repórter escolheu quatro empresas, que estão entre os maiores fornecedores do Governo Federal.

Três dessas empresas são investigadas pelo Ministério Público, por diferentes irregularidades. E, mesmo assim, receberam juntas meio bilhão de reais só em contratos feitos com verbas públicas.

Em frente ao repórter gestor de compras, nessas cadeiras, se sentaram diretores, donos de empresas que deram uma triste aula de como se é desviado o dinheiro dos serviços públicos.

Cassiano Lima é gerente da Toesa Service, uma locadora de veículos. Foi convidado para a licitação de aluguel de quatro ambulâncias. Ele começa tomando cuidados.

“Queria saber quem me recomendou”, questiona Cassiano Lima. Mas o desejo de fechar negócio é maior. E ele abre o jogo. “Cinco por cento. Quanto você quer?”, pergunta ele.

Falando em um código em que a palavra "camisas" se refere à porcentagem desviada, Cassiano aumenta a propina.

“Dez camisas, então? Dez camisas?”, sugere.
“Pode melhorar isso, não?”, pergunta o repórter.
“Quinze”, aumenta.

Renata Cavas é gerente da Rufolo Serviços Técnicos e Construções. A empresa tem vários contratos com hospitais.

“Vocês estão trabalhando para o Into?”, pergunta o repórter.
“Into, Cardoso, Ipanema, Lagoa e Andaraí”, responde Renata Cavas.

Ela foi chamada para a licitação de contratação de mão de obra para jardinagem, limpeza, vigilância e outros serviços.

Ela também vai direto ao ponto.

“Eu quero o serviço. Você escolhe o que você quer. Vou fazer. Faço meu preço, boto. Qual é o percentual? Dez?”, questiona Renata.

O repórter quer saber exatamente qual é o valor que a gerente está oferecendo.

“Se eu ganho um milhão e trezentos, eu dou 130. É o normal”, diz. “Dez por cento. É o praxe, mercado é 10%. Se a sua pretensão é 15, ótimo. Você tem que me informar, porque eu vou formatar em cima da sua pretensão”, completa.

O repórter quer saber se a gerente é capaz de aumentar ainda mais a propina.

“Eu pensei em 20%”, diz ele.
“Tranquilo, você manda. Eu quero o serviço”, afirma Renata.

Carlos Alberto Silva é diretor e Carlos Sarres, gerente da Locanty Soluções e Qualidade.

“A gente tem muitos contratos. Tem mais de 2 mil contratos”, informa Sarres.

“Nós temos hoje, aproximadamente, 3 mil clientes nessa área de coleta”, diz Silva.

Foram convidados para a licitação de coleta de lixo hospitalar.

“A gente vai precisar é de preço. É um dos itens mais importantes para gente montar lá”, diz Silva.

“O que você tem para oferecer?”, pergunta o repórter.

“Você fala em matéria de percentual? Percentual, o preço que der, a gente abre para você o custo e a nossa margem, e a gente joga o percentual que você desejar, que você achar que encaixa”, afirma Sarres.

“A margem, hoje em dia, fica entre 15 e 20”, diz Silva.

Os empresários explicam como é feito o pagamento da propina para que ninguém perceba.

“Onde você marcar. Os caras são muito discretos. Nem parece que é dinheiro. Traz em caixa de uísque, caixa de vinho. Fica tranquilo. A gente está acostumado com isso já.”, afirma Sarres.

Quem fala é David Gomes, o próprio presidente da Toesa: “Bateu o crédito na conta. No máximo 48 horas depois, está na sua mão”, conta. “Eu diria que é a maior empresa no ramo de ambulância em atividade no país”, afirma.

Ele veio avalizar todo o acerto que foi feito para o pagamento da propina. “Uma das coisas que eu passo para os meus filhos e que eu aprendi,: eu protejo meu contratante, meu contratante me protege”, diz ele.

O pagamento é sempre em dinheiro.

“Que tipo de moeda?”, pergunta o repórter.

“A que você quiser. Normalmente em real, o real está mandando aí”, explica ele.

Ele oferece outras opções: “Dólar, euro”.

“Como você quiser, até iene. Quer iene?”, diz Renata Cavas.

Ela faz outra visita à sala do suposto gestor, e o repórter Eduardo Faustini pergunta: Qual é o melhor lugar para entregar a propina?

“Shopping, praia. Shopping. Subsolo, discreto. Quinta da Boa Vista! Sensacional. Floresta da Tijuca. Olha aí que bacana”, diz ela.

O suborno pode ser um percentual do valor total. Ou um valor fixo em cima de cada item fornecido.

“Tem gente que não conhece alimentação e diz assim: ‘Figueiredo, eu quero 30%’. Isso não existe em alimentação. Em alimentação, nós temos que considerar a quantidade diária, colocar mais um valor ali em cima, que no montante do mês a coisa vai crescer. Então o que eu vou fazer? Eu vou te apresentar os preços e você vai dizer: ‘Figueiredo, tu vai botar mais xis aí em cima’. Deu para entender? Está claro?”, explica Figueiredo.

Jorge Figueiredo é representante comercial da Bella Vista Refeições Industriais.


“Somos uma empresa aberta para negociação. Forneço para Jardim Zoológico, Guarda Municipal. Forneço para Policia Civil, a gente está em todas”, completa ele.


Ele dá um exemplo de como esse esquema de propina pode chegar a valores absurdos: “Isso é bom quando você está falando de três, como eu tenho aí. Eu tenho fornecimento de 12 mil serviços por dia. Aí, meu irmão. Tu bota 12 mil serviços em um dia, acrescentando mais um real em cada serviço e projeta isso para 30 dias. Aí é o diabo”, diz.

Em um hospital, a palavra emergência deveria servir apenas para classificar um tipo de atendimento. Mas não é assim. Emergência pode ser o código para licitações e concorrências de carta marcada.

“Emergências existem. Um terremoto derruba as pontes, enchentes. Agora, uma coisa que acontece demais são emergências planejadas. Você tem uma repartição pública lá e o sujeito do almoxarifado, juntamente com o diretor, que sempre está conivente, deixa o papel higiênico chegar em um ponto em que ,'amanhã vai acabar o papel higiênico, temos que comprar papel higiênico por emergência!", explica Claudio Abramo, diretor da Transparência Brasil.

Como a lei prevê concorrência, mesmo em licitações em regime emergencial, a empresa que corrompe se oferece para conseguir as outras concorrentes.

“Vou trazer tudo filé. Só empresa boa, de ponta. Vou trazer empresa de ponta, tá?”, garante Renata.

As concorrentes, que fazem parte do esquema, entram com orçamentos mais altos que o da primeira empresa. Entram para perder.

“A gente faz a mesma coisa para eles. Eles pedem para gente a mesma coisa. Da mesma maneira que a gente vai pedir para eles formatarem uma proposta em cima da nossa - a nossa mais baixa - eles pedem para gente fazer isso para eles”, diz Sarres.

“Do jeito que eu cubro aqui, ele me cobre lá. É uma troca de favores”, define Silva.

“É uma troca de favores. Isso é muito normal, tá? É extremamente normal”, garante Renata.

O nosso repórter, que se passa por gestor de compras, pede a presença do dono da empresa para confirmar o pagamento da propina. Rufolo Villar vai ao hospital. Ele confirma que, apesar de não estar no contrato social da Rufolo, é ele mesmo quem manda na empresa.

“Quem existe no contrato social é minha mãe e meu tio. Eu toco a empresa”, diz ele.

“Já fizemos todos os hospitais, de uma vez só, do estado”, garante ele.

Ele fala abertamente sobre o pagamento do percentual da propina. “O mercado pratica 10%, é o normal, é o praxe. Aí tem uma negociação melhorzinha e faz para 15%. Hoje, 20% eu não vejo mais no mercado”, diz.

O empresário diz que este roubo do dinheiro público que o Fantástico está denunciando é comum. O que é uma fraude, ele chama de acordo de mercado.

“Felizmente, nós temos um acordo de mercado. Isso é normal. Eu faço isso direto. Tem concorrência que eu nem sei que eu estou participando”, afirma.

“É a ética do mercado, entendeu?”, diz Renata.

“No mercado, a gente vive nisto. Eu falo contigo que eu trago as pessoas corretas. Vigarista, não quero nunca”, afirma o empresário.

Para comemorar a negociata, ele convida o gestor para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Uma licitação correta, honesta, tem que terminar sempre com a abertura dos envelopes das propostas para afinal se saber quem é o vencedor. Mas na licitação fraudada, isso não acontece. É que os valores de todas as propostas já são acertados previamente.

O representante da Toesa antecipa o que só deveria ser conhecido na abertura dos envelopes. Ele fala em milhares de reais.

“Dois, oito, zero.O nosso, Toesa. O outro é 313”, diz o representante.

A representante da Rufolo faz a mesma coisa.

“Pode abrir? Não lacrei nada. Valor da CNS/ano: 5, 990, 002, 48”, diz Renata.

“O principal para mim: nossos 20%?”, pergunta o repórter.
“Está tudo aí dentro”, garante ela.

No dia do pregão, os representantes das empresas vão ao hospital para completar a farsa.

Preste atenção na cena absurda: a licitação para a contratação de empregados para serviços gerais. A ata é o documento final da licitação. E tem que ser feita por um funcionário público responsável pela concorrência. Mas, lá, o documento oficial é redigido pelos representantes das empresas.

Se o contrato fosse cumprido, a Rufolo receberia R$ 5.184.000. A propina seria de mais de R$ 1.036.800.

A situação se repete na licitação para a escolha da empresa que vai ser respondável pelo lixo hospitalar. Ela está armada para a escolha da Locanty. A empresa conseguiria a verba de R$ 450 mil. O que daria de propina quase R$ 70 mil. E o mesmo acontece na disputa fraudada pela Toesa para fornecimento de ambulâncias. A Toesa ganharia R$ 1,680 milhão pelo contrato. O desvio seria de mais de R$ 250 mil.

Apenas nestes três contratos, o gestor corrupto ganharia quase R$ 1,4 milhão do dinheiro da saúde.

Nós telefonamos para o presidente da Toesa. “Vocês cismam que tem carta marcada e não tem prova para isso. Você tem prova de que existe licitação de carta marcada?”, disse David Gomes, da Toesa.

Durante essa reportagem você viu Cassiano Lima, funcionário de David Gomes, fraudando uma licitação.

Telefonamos também para a empresa Rufolo. É a própria Renata que atende a ligação. Ela diz que o empresário vai falar e marca a entrevista.

No dia marcado, fomos à empresa. Uma secretária avisa que ninguém falaria.

Com Jorge Figueiredo, que no meio da licitação desistiu de disputar o contrato, conversamos por telefone. Ele parece não acreditar. “Só pode ser trote. Para de gozação”, diz ele.

Nós fomos à sede da Bella Vista. Fomos avisados de que não nos receberiam.

E o golpe não termina nem com o fim licitação de emergência, feita por convite. O representante da empresa de coleta de lixo explica como uma fraude pode continuar, mesmo em uma concorrência aberta ao

público.

“As empresas que vão participar desse pregão são as empresas que a gente vai fechar, entendeu? Você vai fazer a retirada do edital aqui. Você pode disponibilizar o edital na internet. Mas a retirada do extrato tem que ser aqui. Aí, quando ele retira, tu vai me dizer quem está retirando, entendeu? E deixa o resto com a gente. Aí a gente vai nas pessoas, cara, aí monta tudo, entendeu?”, explica Sarres.

O repórter do Fantástico pergunta por que uma empresa entraria para perder na concorrência.

“Porque existe uma mesa. Pode acontecer. Mas existe uma mesa, você pode ter certeza. Difícil dar errado”, garante Sarres.

O que ele chama de mesa é um acordo para fraudar as concorrências. Nós fomos à sede da Locanty. O gerente Carlos Sarres negou envolvimento nas fraudes.

Carlos Sarres: Desconheço completamente. Isso chega a ser fantasioso.
Fantástico: O senhor não oferece de maneira alguma suborno para o funcionário público.
Sarres: De maneira nenhuma.
Fantástico: O senhor não vem com a licitação já preparada?
Sarres: De maneira nenhuma.

Por email, a Locanty informou que afastou temporariamente o gerente Carlos Sarres.

O ministro-chefe da Controladoria Geral da União, que é um dos principais responsáveis por combater a corrupção nos órgãos federais diz que em oito anos mais de três mil funcionários públicos foram punidos. Ele defende que haja também maior rigor para os maus empresários.

“Existe uma noção pré-concebida contra o funcionário público, que ele é o mau, ele é o corrompível. Enquanto que o empresário, o setor privado, é puro, é eficiente, é eficaz. Associada à noção de que a empresa tem que entrar nesse jogo, porque senão ela não leva vantagem porque as outras vão fazer. Isso distorce o mercado, distorce a competição e no longo prazo prejudica todo mundo”, comenta Jorge Hage, ministro da Controladoria Geral da União.

“A pessoa que rouba da saúde deveria ter o dobro da pena, porque quando você rouba o dinheiro da saúde, você mata as pessoas”, diz Edmilson Migowski.

Eles não sabiam que estavam sendo filmados. Mas sabiam bem o que estavam fazendo.

domingo, 18 de março de 2012

O Fenômeno e Doutrina - Até hoje, os fenômenos mediúnicos que se desdobraram à margem do apostolado do Cristo se definem como sendo um conjunto de teses discutíveis, mas os ensinamentos e atitudes do Mestre constituem o maciço de luz inatacável do Evangelho, amparando os homens e orientando-lhes o caminho.
Existe quem recorra à idéia da fraude piedosa para justificar a transformação da água em vinho, nas bodas de Caná.
Ninguém vacila, porém, quanto à grandeza moral de Jesus, ao traçar os mais avançados conceitos de amor ao próximo, ajustando teoria e prática, com absoluto esquecimento de si mesmo em benefício dos outros, num meio em que o espírito de conquista legitimava os piores desvarios da multidão.
Invoca-se a psicoterapia para basear a cura do cego Bartimeu.
Há, todavia, consenso unânime, em todos os lugares, com respeito à visão superior do Mensageiro Divino, que dignificou a solidariedade como ninguém, proclamando que “o maior no Reino dos Céus será sempre aquele que se fizer o servidor de todos na Terra”, num tempo em que o egoísmo categorizava o trabalho à conta de extrema degradação.
Fala-se em hipnose para explicar a multiplicação dos pães.
O mundo, no entanto, a uma voz, admira a coragem do Eterno Amigo que se consagrou aos sofredores e aos infelizes sem qualquer preocupação de posse terrestre, conquanto pudesse escalar os pináculos econômicos, numa época em que, de modo geral, até mesmo os expositores de virtude viviam de bajular as personalidades influentes e poderosas do dia.
Questiona-se em torno do reavivamento de Lázaro.
Entretanto, não há quem negue respeito incondicional ao Benfeitor Sublime que revelou suficiente desassombro para mostrar que o perdão é alavanca de renovação e vida, num quadro social em que o ódio coroado interpretava a humildade por baixeza.
Debate-se, até agora, o problema da ressurreição dele próprio.
No entanto, o mundo inteiro reverencia o Enviado de Deus, cuja figura renasce, dia a dia, das cinzas do tempo, indicando a bondade e a concórdia, a tolerância e a abnegação por mapas da felicidade real, no centro de cooperadores que se multiplicam, em todas as nações, com a passagem dos séculos.
Recordemos semelhantes lições na Doutrina Espírita.
Fenômenos mediúnicos serão sempre motivos de experimentação e de estudo, tanto favorecendo a convicção, quanto nutrindo a polêmica, mas educação evangélica e exemplo em serviço, definição e atitude, são forças morais irremovíveis da orientação e da lógica, que resistem à dúvida em qualquer parte. (Mediunidade e Sintonia, 2, FCXavier)


A Faculdade de Curar - A faculdade de curar, para manter-se íntegra, não deve permanecer precavida tão-somente contra o pagamento em dinheiro amoedado.
Há outras gratificações negativas a que lhe cabe renunciar, a fim de que não seja corroída por paixões arrazoadas que começam nos primeiros sinais de personalismo excessivo.
Imprescindível saber olvidar o vinho venenoso da bajulação, a propaganda jactanciosa, o perigoso elixir da lisonja e a aprovação alheia como paga espiritual.
Quem se proponha a auxiliar aos enfermos, há que saber respirar no convívio da humildade sincera, equilibrando-se, cada instante, na determinação de servir.
Para curar é preciso trazer o coração por vaso transbordante de amor e quem realmente ama não encontra ensejo de reclamar.
Compreendendo as nossas responsabilidades com o Divino Médico, se queres efetivamente curar, cala-te, aprende, trabalha honrando a posição de servidor de todos a que Jesus te conduziu.
Auxilia aos ricos e aos pobres, como quem sabe que fartura excessiva ou carência asfixiante são igualmente enfermidades que nos compete socorrer.
Ampara aos amigos e aos adversários, aos alegres e aos tristes, aos melhores e aos menos bons, como quem compreende na Terra a valiosa oficina de reajuste e elevação.
Reconheçamos que toda honra pertence ao Senhor, de quem não passamos de apagados e imperfeitos servidores.
Não te afastes da dependência do Eterno Benfeitor e, movimentando os próprios recursos, a beneficio dos que te cercam, guardemos a certeza de que, curando, seremos curados por nossa vez, soerguendo-nos, enfim, para a vitória real do espírito, em cuja luz os monstros da penúria e da vaidade, da ignorância e do orgulho não mais nos conseguirão alcançar. (Mediunidade e Sintonia, 18, FCXavier)

Fatalidade e Livre-Arbítrio - Antes do regresso à experiência no Plano Físico, nossa alma em prece roga ao Senhor a concessão da luta para o trabalho de nosso próprio reajustamento.
Solicitamos a reaproximação de antigos desafetos.
Imploramos o retorno ao círculo de obstáculos que nos presenciou a derrota em romagens mal vividas...
Suplicamos a presença de verdugos com quem cultiváramos o ódio, para tentar a cultura santificante do amor...
Pedimos seja levado de novo aos nossos lábios o cálice das provas em que fracassamos, esperando exercitar a fé e a resignação, a paciência e o valor...
E com a intercessão de variados amigos que se transformam em confiantes avalistas de nossas promessas, obtemos a bênção da volta.
Efetivamente em tais circunstâncias, o esquema de ação surge traçado.
Somos herdeiros do nosso pretérito e, nessa condição, arquitetamos nossos próprios destinos.
Entretanto, imanizados temporariamente ao veículo terrestre, acariciamos nossas antigas tendências de fuga ao dever nobilitante.
Instintivamente, tornamos, despreocupados, à caça de vantagens físicas, de caprichos perniciosos, de mentiroso domínio e de nefasto prazer.
O egoísmo e a vaidade costumam retomar o leme de nosso destino e abominamos o sofrimento e o trabalho, quais se nos fossem duros algozes, quando somente com o auxílio deles conseguimos soerguer o coração para a vitória espiritual a que somos endereçados.
É, por isso, que fatalidade e livre-arbítrio coexistem nos mínimos ângulos de nossa jornada planetária.
Geramos causas de dor ou alegria, de saúde ou enfermidade em variados momentos de nossa vida.
O mapa de regeneração volta conosco ao mundo, consoante as responsabilidades por nós mesmos assumidas no pretérito remoto e próximo; contudo, o modo pelo qual nos desvencilhamos dos efeitos de nossas próprias obras facilita ou dificulta a nossa marcha redentora na estrada que o mundo nos oferece.
Aceitemos os problemas e as inquietações que a Terra nos impõe agora, atendendo aos nossos próprios desejos, na planificação que ontem organizamos, fora do corpo denso, e tenhamos cautela com o modo de nossa movimentação no campo das próprias tarefas, porque, conforme as nossas diretrizes de hoje, na preparação do futuro, a vida nos oferecerá amanhã paz ou luta, felicidade ou provação, luz ou treva, bem ou mal. (Nascer e Renascer, 4, FCXavier)

Sofrimento e Eutanásia - Quando te encontres diante de alguém que a morte parece nimbar de sombra, recorda que a vida prossegue, além da grande renovação...
Não te creias autorizado a desferir o golpe supremo naqueles que a agonia emudece, a pretexto de consolação e de amor, porque, muita vez, por trás dos olhos baços e das mãos desfalecentes que parecem deitar o último adeus, apenas repontam avisos e advertências para que o erro seja sustado ou para que a senda se reajuste amanhã.
Ante o catre da enfermidade mais insidiosa e mais dura, brilha o socorro da Infinita Bondade facilitando, a quem deve, a conquista da quitação. Por isso mesmo, nas próprias moléstias reconhecidamente obscuras para a diagnose terrestre, fulgem lições cujo termo é preciso esperar, a fim de que o homem lhes não perca a essência divina.
E tal acontece, porque o corpo carnal, ainda mesmo o mais mutilado e disforme, em todas as circunstâncias, é o sublime instrumento em que a alma é chamada a acender a flama de evolução.
É por esse motivo que no mundo encontramos, a cada passo, trajes físicos em figurino moral diverso.
Corpos — santuários...
Corpos — oficinas...
Corpos — bênçãos...
Corpos — esconderijos...
Corpos — flagelos...
Corpos — ambulâncias...
Corpos — cárceres...
Corpos — expiações...
Em todos eles, contudo, palpita a concessão do Senhor, induzindo-nos ao pagamento de velhas dívidas que a Eterna Justiça ainda não apagou.
Não desrespeites, assim, quem se imobiliza na cruz horizontal da doença prolongada e difícil, administrando-lhe o veneno da morte suave, porquanto, provavelmente, conhecerás também mais tarde o proveitoso decúbito indispensável à grande meditação.
E usando bondade para os que atravessam semelhantes experiências, para que te não falte a bondade alheia no dia de tua experiência maior, lembra-te de que, valorizando a existência na Terra, o próprio Cristo arrancou Lázaro às trevas do sepulcro, para que o amigo dileto conseguisse dispor de mais tempo para completar o tempo necessário à própria sublimação. (Reunião pública de 3/4/59, Questão nº 944, Religião dos Espíritos, FCXavier)

Reencarnação - Reencarnação nem sempre é sucesso expiatório, como nem toda luta no campo físico expressa punição.
Suor na oficina é acesso à competência.
Esforço na escola é aquisição de cultura.
Porque alguém se consagre hoje à Medicina, não quer isso dizer que haja ontem semeado moléstias e sofrimentos.
Muitas vezes, o Espírito, para senhorear o domínio das ciências que tratam do corpo, voluntariamente lhes busca o trato difícil, no rumo de mais elevada ascensão.
Porque um homem se dedique presentemente às atividades da engenharia, não exprime semelhante escolha essa ou aquela dívida do passado na destruição dos recursos da Terra.
Em muitas ocasiões, o Espírito elege esse gênero de trabalho, tentando crescer no conhecimento das leis que regem o plano material, em marcha para mais altos postos na Vida Superior.
Entretanto, se o médico ou o engenheiro sofrem golpes mortais no exercício da profissão a que se devotam, decerto nela possuem serviço reparador que é preciso atender na pauta das corrigendas necessárias e justas.
Toda restauração exige dificuldades equivalentes. Todo valor evolutivo reclama serviço próprio.
Nada existe sem preço.
Por esse motivo, se as paixões gritam jungidas aos flagelos que lhes extinguem a sombra, as tarefas sublimes fulgem ligadas às renunciações que lhes acendem a luz.
À vista disso, não te habitues a medir as dores alheias pelo critério de expiação, porque, quase sempre, almas heróicas que suportam o fogo constante das grandes dores morais, no sacrifício do lar ou nas lutas do povo, apenas obedecem aos impulsos do bem excelso, a fim de que a negação do homem seja bafejada pela esperança de Deus.
Recorda que, se fosses arrebatado ao Céu, não tolerarias o gozo estanque, sabendo que os teus filhos se agitam no torvelinho infernal. De imediato, solicitarias a descida aos tormentos da treva para ajudá-los na travessia da angústia...
Lembra-te disso e compreenderás, por fim, a grandeza do Cristo que, sem débito algum, condicionou-se às nossas deficiências, aceitando, para ajudar-nos, a cruz dos ladrões, para que todos consigamos, na glória de seu amor, soerguer-nos da morte no erro à bênção da Vida Eterna. (Reunião pública de 6/4/59
Questão nº 617, Religião dos Espíritos, FCXavier)

O Perispírito - Como será o tecido sutil da espiritual roupagem que o homem envergará, sem o corpo de carne, além da morte?
Tão arrojada é a tentativa de transmitir informes sobre a questão aos companheiros encarnados, quão difícil se faria esclarecer à lagarta com respeito ao que será ela depois de vencer a inércia da crisálida.
Colado ao chão ou à folhagem, arrastando-se, pesadamente, o inseto não desconfia que transporta consigo os germes da próprias asas.
O perispírito é, ainda, corpo organizado que, representando o molde fundamental da existência para o homem, subsiste, além do sepulcro, demorando-se na região que lhe é própria, de conformidade com o seu peso específico.
Formado por substâncias químicas que transcendem a série estequiogenética conhecida até agora pela ciência terrena, é aparelhagem de matéria rarefeita, alterando-se, de acordo com o padrão vibratório do campo interno.
Organismo delicado, com extremo poder plástico, modifica-se sob o comando do pensamento. É necessário, porém, acentuar que o poder apenas existe onde prevaleçam a agilidade e a habilitação que só a experiência consegue conferir.
Nas mentes primitivas, ignorantes e ociosas, semelhante vestidura se caracteriza pela feição pastosa, verdadeira continuação do corpo físico, ainda animalizado ou enfermiço.
O progresso mental é o grande doador de renovação ao equipamento do espírito em qualquer plano de evolução.
Note-se, contudo, que não nos reportamos aqui no aperfeiçoamento interior.
O crescimento intelectual, com intensa capacidade de ação, pode pertencer a inteligências perversas.
Daí a razão de encontrarmos, em grande número, compactas falanges de entidades libertas dos laços fisiológicos, operando nos círculos da perturbação e da crueldade, com admiráveis recursos de modificação nos aspectos em que se exprimem.
Não possuem meios para a ascese imediata, mas dispõem de elementos para dominar no ambiente em que se equilibram.
Não adquiriram ainda, a verticalidade do Amor que se eleva aos santuários divinos, na conquista da própria sublimação, mas já se iniciaram na horizontalidade da Ciência com que influenciam aqueles que, de algum modo, ainda lhes partilham a posição espiritual.
Os "anjos caídos" não passam de grandes gênios intelectualizados com estreita capacidade de sentir.
Apaixonados, guardam a faculdade de alterar a expressão que lhes é própria, fascinando e vampirizando nos reinos inferiores da natureza.
Entretanto, nada foge à transformação e tudo se ajusta, dentro do Universo, para o geral aproveitamento da vida.
A ignorância dormente é acordada e aguilhoada pela ignorância desperta.
A bondade incipiente é estimulada pela bondade maior.
O perispírito, quanto à forma somática, obedece a leis de gravidade, no plano a que se afina.
Nossos impulsos, emoções, paixões e virtudes nele se expressam fielmente. Por isso mesmo, durante séculos e séculos nos demoraremos nas esferas da luta carnal ou nas regiões que lhes são fronteiriças, purificando a nossa indumentária e embelezando-a, a fim de preparar, segundo o ensinamento de Jesus, a nossa veste nupcial para o banquete do serviço divino. (Emmanuel - Roteiro - Francisco Cândido Xavier)

O Fenômeno Espírita- Em todas as civilizações, o culto dos desencarnados aparece como facho aceso de sublime esperança. Rápido exame nos costumes e tradições de todos os remanescentes da vida primitiva, entre os selvagens da atualidade, nos dará conhecimento que as mais rudimentares organizações humanas guardam no intercâmbio com os "mostos" suas elementares noções de fé religiosa.
Aparições e vozes, fenômenos e revelações do mundo espiritual assinalam a marcha das tribos e das povoações do princípio.
No Egito, os assuntos à morte assumem especial importância para a civilização. Anúbis, o deus dos sarcófagos, era o guardião das sombras e presidia à viagem das almas para o julgamento que lhes competia no Além.
Na China multimilenária, os antepassados vivem nos alicerces da fé. Em todas as circunstâncias da vida, os Espíritos dos avoengos são consultados pelos descendentes, recebendo orações e promessas, flores e sacrifícios.
Na Índia encontram nos "rakchasas", Espíritos maléficos que residem nos sepulcros, os portadores invisíveis de moléstias e aflições.
Os gregos acreditavam-se cercados pelas entidades que nomeavam por "demônios" ou familiares intangíveis, as quais os inspiram na execução de tarefas habituais.
Em Roma, os Espíritos amigos recebem o culto constante da intimidade doméstica, onde são interpretados como divindades menores. Para a antiga comunidade latina, as almas bem intencionadas, que haviam deixado, na Terra, os traços da sabedoria e da virtude era os "deuses lares", com recursos de auxiliar amplamente, enquanto que os fantasmas das criaturas perversas eram conhecidos habitualmente por "larvas", cuja aproximação causava dissabores e enfermidades.
Os feiticeiros das tabas primitivas eram nas civilizações recuadas substituídos por magos, cujo poder imperava sobre a espada dos guerreiros e sobre a coroa dos príncipes.
E ainda, em todos os acontecimentos religiosos que precederam a vinda do Cristo, a manifestação dos desencarnados ou o fenômeno espírita comparece por vívido clarão da verdade, orientando os sucessos e guiando as supremas realizações do esforço coletivo.
Com a supervisão de Jesus, porém, a marcha da espiritualidade na Terra adquire novos característicos.
Ele é o disciplinador dos sentimentos, o grande construtor da Humanidade legítima.
Por trezentos anos, os discípulos do Senhor sofrem, lutam, sonham e morrem para doar ao mundo a doutrina de luz e amor, com a plena vitória sobre a morte, mas a política do Império Romano reduz, por dezesseis séculos consecutivos, o movimento libertador.
Os séculos, contudo, na eternidade, são simples minutos e, em seguida às sombras da grande noite, o evangelismo puro surge, de novo.
Cristianismo - doutrina do Cristo...
Espiritismo - doutrina dos Espíritos...
Volta a influência do Mestre sobre a imensa coletividade humana, constituída por mentes de infinita gradação.
Homens por homens, inteligências por inteligências incorreríamos talvez no perigo de comprometermos o progresso do mundo, isolados em nossos pontos de vista e em nossas concepções deficitárias, mas, regidos pela Infinita Sabedoria, rumaremos para a perfeição espiritual, a fim de que, um dia, despojados em definitivo das escamas educativas da carne, possamos compreender a excelsa palavra da celeste advertência: - "vós sois deuses"... (Emmanuel - Roteiro - Francisco Cândido Xavier)


Sintonia - As bases de todos os serviços de intercâmbio, entre os desencarnados e os encarnados, repousam na mente, não obstante a possibilidade de fenômenos naturais, no campo da matéria densa, levados a efeito por entidades menos evoluídas ou extremamente consagradas à caridade sacrificial.
De qualquer modo, porém, é no mundo mental que se processa a gênese de todos os trabalhos de comunhão de espírito a espírito.
Daí procede a necessidade de renovação idealística, de estudo, de bondade operante e de fé ativa, se pretendemos conservar o contato com os Espíritos da Grande Luz.
Simbolizemos nossa mente como sendo uma pedra inicialmente burilada.Tanto quanto a do animal, pode demora-se, por muitos séculos, na ociosidade ou na sombra, sob a crosta dificilmente permeável de hábitos nocivos ou de impulsos degradantes, mas se a expomos ao sol da experiência, aceitando os atritos, as lições, os dilaceramentos e as dificuldades do caminho, por golpes abençoados do buril da vida, esforçando-nos por aperfeiçoar o conhecimento e melhorar o coração, tanto quanto a pedra burilada reflete a luz, certamente nos habilitamos a receber a influência dos grandes gênios da Sabedoria e do Amor, gloriosos expoentes da imortalidade vitoriosa, convertendo-nos em valiosos instrumentos da obra assistencial do Céu, em favor do reerguimento de nossos irmãos menos favorecidos e para a elevação de nós mesmos para as regiões mais altas.
A fim de atingirmos tão altos objetivo, é indispensável traçar um roteiro para a nossa organização mental, no Infinito Bem, e segui-lo sem recuar
Precisamos compreender - repetimos, que os nossos pensamentos são forças, imagens, coisas e criações visíveis e tangíveis no campo espiritual.
Atraímos companheiros e recursos de conformidade com a natureza de nossas idéias, aspirações, invocações e apelos.
Energia viva, o pensamento desloca, em torno de nós, forças sutis, construindo paisagens ou formas e criando centros magnéticos ou ondas, com as quais emitimos a nossa atuação ou recebemos a atuação dos outros.
Nosso êxito ou fracasso dependem da persistência ou da fé com que nos consagramos mentalmente aos objetivos que nos propomos alcançar.
Semelhante lei de reciprocidade impera em todos os acontecimentos da vida
Comunicar-nos-emos com as entidades e núcleos de pensamentos, com os quais nos colocamos em sintonia.
Nos mais simples quadros da natureza, vamos manifestado o princípio da correspondência.
Um fruto apodrecido ao abandono estabelece no chão um foco infeccioso que tende a crescer incorporando elementos corruptores.
Exponhamos a pequena lâmina de cristal, limpa e bem cuidada, à luz do dia, e refletirá infinitas cintilações do Sol.
Andorinhas seguem a beleza da primavera.
Corujas acompanham as trevas da noite.
O mato inculto asila serpentes.
A terra cultivada produz o bom grão.
Na mediunidade, essas leis se expressam ativas.
Mentes enfermiças e perturbadas assimilam as correntes desordenadas do desequilíbrio, enquanto que a boa-vontade e a boa intenção, acumulam os valores do bem.
Ninguém está só.
Cada criatura recebe de acordo com aquilo que dá.
Cada alma vive no clima espiritual que elegeu, procurando o tipo de experiência em que situa a própria felicidade.
Estejamos, assim, convictos de que os nossos companheiros da Terra ou no Além são aqueles que escolhemos com as nossas solicitações interiores, mesmo porque, segundo o antigo ensinamento evangélico, "teremos o nosso tesouro onde colocarmos o nosso coração." (EMMANUEL - Do livro "ROTEIRO", caps. 06, 24 e 28, edição
FEB)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Brasil e EUA trocam punição por tratamento a usuários de crack

 O Fantástico mostra histórias de esperança, projetos que estão ajudando os usuários dessa droga terrível a retomar a vida.
A luta do Brasil contra o crack: o Fantástico mostra histórias de esperança, projetos que estão ajudando os usuários dessa droga terrível a retomar a vida. Um dos modelos que inspirou algumas iniciativas brasileiras veio da justiça americana. Lá, oito em cada dez dependentes que participam de um programa de reabilitação conseguem se livrar das drogas.

Miami, 23h. Quando a busca é por usuários de drogas, o endereço é certo. Uma das chamadas “crack-house” em Miami é uma das poucas que ainda existem. São casas, lugares abandonados onde as pessoas se reúnem para usar drogas. Lá, o policial verifica se há alguém no local.

“Se você comparar com alguns atrás agora está mais fácil. Não há muitos usuários de drogas nas ruas. Menos do que antes, com certeza”, conta o policial.

Miami, nos anos 1980 e 1990, era maconha e cocaína. Crack e heroína. Eram drogas que poluíam as ruas, destruíam as mentes e desafiavam a polícia.

Entre as estratégias para combater o problema estavam as prisões e a destruição das “crack-houses”, território dos usuários de drogas. Mas nada disso era suficiente. Repressão não era a saída.

Um dos métodos mais eficientes de combate às drogas no mundo nasceu em uma sala do Tribunal de Drogas de Miami. Desde que esse tribunal foi criado, em 1989, o número de crimes caiu 33%. Oito em cada dez dependentes que chegam ao tribunal conseguem abandonar as drogas.

Funciona assim: o usuário é flagrado com uma pequena quantidade de entorpecentes. Vai preso, porque em Miami isso é crime. Passa uma noite na cadeia e segue para o tribunal. Se não tem nenhum histórico criminal a juíza pergunta: “Você quer participar do programa?”.

Dura um ano. Exigência número 1: fazer exame de urina a cada sete dias. Número 2: ir duas vezes por semana a um psicólogo. A terceira exigência a equipe de reportagem do Fantástico acompanhou.

Às 21h, em Miami, em uma casa, assim como em muitos outros locais da cidade, há um encontro de narcóticos anônimos. São usuários de drogas que se reúnem para trocar experiências. Mas mais do que isso: cumprir uma determinação da Justiça.

Eles não mostram o rosto, mas é possível identificá-los pela voz. São brasileiros. “Estamos nas garras de uma doença progressiva que termina sempre da mesma maneira: prisões, instituições e morte”, diz um usuário.

Eles se juntam duas vezes por semana. Um ajuda o outro a controlar a dependência e ainda contam ponto perante a Justiça. Aí se entra na quarta exigência do programa do Tribunal de Drogas de Miami: a prestação de contas. Uma vez por mês todos fazem fila para se apresentar à juíza.

O porto-riquenho Martin Cavallero apresenta os comprovantes de que cumpriu todos os requisitos. Diz onde está morando e trabalhando e recebe os parabéns. Se não tiver uma recaída, daqui a um mês completará o programa. “O mais importante para mim é ter o nome limpo”, diz Martin.

Quem cumpre o programa não se afasta apenas das drogas. Fica sem histórico criminal e apaga esse passado de entorpecentes.

Quem comanda esse tribunal, todo decorado com avisos sobre o perigo das drogas, é Deborah White-Labora. “Tudo o que existe no programa está disponível na sociedade. Mas quando uma pessoa vem aqui, ela se sente motivada e percebe que está sendo monitorada”, diz a juíza.

A dependência quase arruinou a vida do advogado Richard Baron. Graças ao programa, conseguiu reconquistar tudo o que tinha: a mulher, os filhos e o trabalho. “No colégio, comecei a beber e fumar maconha. Alguém disse: ‘Experimente isso’. Era crack e cocaína. Por três anos e meio eu usei essas drogas”, conta.

Hoje, Richard Baron ajuda financeiramente o Tribunal de Drogas de Miami. Paga quatro advogados, que ajudam na defesa dos dependentes. Assim, o programa acaba se tornando mais eficiente do que manter qualquer pessoa na cadeia.

A cada US$ 1,00 gasto no tratamento, cerca de R% 1,70, o governo economiza mais de US$ 3 em gastos com prisões.

David Kahn é um ex-promotor de Justiça que trabalhou durante seis anos no Tribunal de Drogas. E hoje ele mostra como ficou uma área que, há duas décadas, era devastada pelo crack e pela cocaína. “A situação aqui explodiu, assim como no seu país. A mesma coisa”, afirma o ex-promotor David Khan.

David Khan já esteve no Brasil várias vezes para tentar implantar o programa que hoje existe em 2,5 mil cidades no mundo. Khan visitou a Cracolândia paulista e vê uma diferença simples entre o que foi feito nos Estados Unidos e o que é feito no Brasil. “Nós não nos limitamos a tirar essas pessoas daqui. Nós damos a elas uma chance de vida saudável, longe das drogas”, compara o ex-promotor David Khan.


 Projeto em São Paulo troca punição por tratamento

Será que um sistema igual ao americano funcionaria bem no Brasil? O Fantástico mostra como a Justiça brasileira está mudando a maneira de lidar com o usuário de drogas. Um homem tinha uma ordem de não chegar a menos de cem metros da filha por causa da dependência.

“Quando eles me pegaram, fazia mais de 30 dias que eu não escovava os dentes”, revela o homem.

Ele foi parar no Fórum de Santana, em São Paulo, onde funciona um projeto chamado “Justiça Terapêutica”, que dá uma chance para quem é flagrado com drogas. Se ficar claro que a pessoa estava com entorpecentes somente para consumo, ela tem a chance de trocar a punição pelo tratamento.

“Tanto a Corte americana quanto a Justiça Terapêutica brasileira trabalham no sentido de evitar que aquele que foi preso e teve problemas com drogas receba atenção na área terapêutica para evitar a repetição do uso da droga e novos crimes”, afirma Mário Sérgio Sobrinho, do Fórum de Santana.

Desde que o programa paulista começou, há dez anos, quase mil pessoas já participaram. O homem que não podia chegar perto da filha é um deles. Para ficar com a ficha limpa, ele é obrigado a frequentar o programa “Narcóticos Anônimos” e precisa comprovar a frequência. A cada sessão, recebe um carimbo na ficha. Desde que começou a participar das reuniões, largou as drogas e conseguiu ter a família de volta.

“Estou vivo, ando de cabeça erguida, consigo olhar as pessoas nos olhos. Consigo ficar com a minha filha, dar um bom exemplo para ela”, diz o homem. “Se a Justiça Terapêutica não tivesse dado essa chance, hoje você estaria onde?”, indaga o repórter. “Preso ou morto”, responde o homem.

A experiência da Justiça pernambucana é ainda mais radical. O foco são os bandidos que cometem outros crimes por causa do uso de tóxicos. Troca a prisão pelo compromisso de ficar longe das drogas.

“Ele deve ser tratado. Tratar significa para a Justiça deixar de usar droga. Não é reduzir, mas deixar plenamente. Se ele consegue isso durante dois anos, ao final do período ele está reabilitado do uso da droga e, ao mesmo tempo, o processo dele é extinto. Ele não deve mais nada à Justiça”, explica José Marques Costa Filho, psiquiatra responsável pelo Centro de Justiça Terapêutica de Pernambuco.

“O país tem cinco regiões diferentes, com culturas diferentes. Quando tem uma posição desse tipo, com um juiz tentando fazer um trabalho, mesmo que a recuperação seja pequena, eu acho que vale a pena investir”, avalia o psiquiatra Artur Guerra.

Essas são alternativas para quem tem contas a acertar com a Justiça. Mas o que fazer se você tem um parente dependente das drogas? A quem recorrer?

“Primeiro lugar, buscar o centro de atenção psicossocial do seu município ou do seu estado, e estou dando como alternativa procurar o 136 do Ministério da Saúde, número que pode ajudar a identificar no seu município, no seu estado, e o ministério vai ajudar nisso: a buscar uma unidade de saúde que pode acolhê-lo”, afirma o ministro Alexandre Padilha.

No fim de 2011, o governo federal lançou um plano nacional para enfrentar o problema. Liberou R$ 2 bilhões para que os municípios invistam em diferentes tipos de tratamentos. O ministro da Saúde admite que o Sistema Único de Saúde (SUS) não está pronto para lidar com o crack.

“Nós temos que ter tratamento para esse caso como uma epidemia, e toda epidemia que desafia o serviço de saúde, exige que ele se reorganize”, declarou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Dez cidades foram consideradas prioritárias. Nelas, os agentes de saúde vão a campo buscar quem precisa de ajuda. Na noite de sexta-feira (9), a equipe de reportagem do Fantástico acompanhou o trabalho da equipe do projeto Consultório de Rua, no Centro de São Bernardo. A intenção é oferecer ajuda e tratamento aos usuários de crack e cocaína para que eles abandonem as drogas. É um trabalho difícil e de muita conversa.

Um usuário conta que tem 22 anos, dois filhos pequenos e está sem aparecer em casa há três dias. Ele diz que aceita ser atendido em um CAPS, um centro de atendimento sem internação. “Eu tenho capacidade de consertar minha vida de novo e eu vou consertar”, promete.

Mas para pacientes que precisam ser internados, que estão pondo em risco a própria vida ou a de outras pessoas, a solução pode ser a casa de acolhimento. Um lugar onde se reconstrói a vida.

Adriana usou crack por 20 anos e sumiu no mundo. Depois de passar por cinco clínicas diferentes, conseguiu sair do buraco fazendo os outros rir. Na terapia, ela foi convidada a fazer parte de um grupo de palhaços. A brincadeira trouxe de volta algo muito sério.

“O juiz, inclusive, ia fazer atestado de óbito provisório para minha família. E aí dei uma entrevista do grupo de palhaços e minha família me viu na televisão e me achou”, conta Adriana.

Onde não há os serviços públicos, há cidades investindo em soluções que só eram acessíveis para quem podia pagar. “Você se prostitui, você rouba, trafica. Eu abandonei meus filhos. Cuidei dele por menos de 2 anos, praticamente ficou sem a mãe”, lembra.

A família de Bruna pagou o tratamento em uma clínica por três meses. Quando não teve mais condições, recebeu um cartão de assistência do governo de Minas Gerais. São R$ 900 por mês. “Foi uma benção”, se emociona.

Bruna ainda sente medo da rua, mas já consegue sair e passar o fim de semana em casa. A família tem um papel fundamental na recuperação do usuário de drogas.

“Eu vou procurar fazer meu papel de mãe melhor. Talvez eu tenha falhado em alguma coisa, talvez tenha faltado diálogo, um puxão de orelha. Eu não vou perdê-la pela segunda vez. Eu perdi e recuperei, agora não perco mais”, afirma a mãe de Bruna.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Homossexualismo na Visão Espírita



“A homossexualidade, também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência, definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação” (Xavier) Espírito Emmanuel 1

Introdução

Tema que ainda gera muita polêmica em nosso meio, surgindo naturais divergências de opiniões quando esse assunto entra em pauta. Mas intransigência, intolerância e falta de compreensão é o que se vê na maioria das pessoas que não conseguem vislumbrar que existe o outro lado da moeda. Falta a muitos a capacidade de ver nessas pessoas irmãos em doloroso estágio evolutivo.

Não percebem que o sofrimento deles é tanto que, em alguns casos, tiram-lhes a vontade de viver. Quantos já não abandonaram a vestimenta carnal, como fuga ao insuportável preconceito de que sofrem? Quantos não se isolam, entre quatro paredes, evitando o contato com a sociedade que lhes repelem como se estivesse diante de uma asquerosa doença contagiosa.

Ouvimos de várias pessoas que Kardec não fala sobre esse assunto, o que nos incentivou a pesquisá-lo em suas obras para ver qual é a realidade. Embora muitos, com certeza, não saibam que, mesmo sem falar especificamente sobre esse assunto, Kardec diz algo a esse respeito. Entretanto, como a maioria dos espíritas mal mal só lê o tal do “Pentateuco Kardequiano”, dificilmente irá encontrar a opinião do codificador do Espiritismo, pois somente na Revista Espírita é que ele faz sua abordagem ao tema.

Opinião de Kardec

Em janeiro de 1866, na Revista Espírita, quando analisa o assunto “As mulheres têm uma alma?”, ele diz o seguinte:

(...)
As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que as une nada têm de carnal, e, por isto mesmo, são mais duráveis, porque são fundadas sobre uma simpatia real, e não são subordinadas às vicissitudes da matéria.
(...)
Os sexos não existem senão no organismo; são necessários à reprodução dos seres materiais; mas os Espíritos, sendo a criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, é por isto que os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Os Espíritos progridem pelo trabalho que realizam e as provas que têm que suportar, como o operário em sua arte pelo trabalho que faz. Essas provas e esses trabalhos variam segundo a sua posição social. Os Espíritos devendo progredir em tudo e adquirir todos os conhecimentos, cada um é chamado a concorrer aos diversos trabalhos e a suportar os diferentes gêneros de provas; é por isto que renascem alternativamente como ricos ou pobres, senhores ou servidores operários do pensamento ou da matéria.
Assim se encontra fundado, sobre as próprias leis da Natureza, o princípio da igualdade, uma vez que o grande da véspera pode ser o pequeno do dia de amanhã, e reciprocamente. Deste princípio decorre o da fraternidade, uma vez que, nas relações sociais, reencontramos antigos conhecimentos, e que no infeliz que nos estende a mão pode se encontrar um parente ou um amigo.
É no mesmo objetivo que os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos; tal que foi um homem poderá renascer mulher, e tal que foi mulher poderá renascer homem, a fim de cumprir os deveres de cada uma dessas posições, e delas suportar as provas.
A Natureza fez o sexo feminino mais frágil do que o outro, porque os deveres que lhe incumbem não exigem uma igual força muscular e seriam mesmo incompatíveis com a rudeza masculina. Nele a delicadeza das formas e a fineza das sensações são admiravelmente apropriadas aos cuidados da maternidade. Aos homens e às mulheres são, pois, dados deveres especiais, igualmente importantes na ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro.
O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem esse mesmo organismo. Essa influência não se apaga imediatamente depois da destruição do envoltório material, do mesmo modo que não se perdem instantaneamente os gostos e os hábitos terrestres; depois, pode ocorrer que o Espírito percorra uma série de existências num mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, ele possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher do qual a marca permaneceu nele. Não é senão o que ocorre a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização que a influência da matéria se apaga completamente, e com ela o caráter dos sexos. Aqueles que se apresentam a nós como homens ou como mulheres, é para lembrar a existência na qual nós os conhecemos.
Agora vem o principal do texto, que fala exatamente do assunto que estamos tratando:

Se essa influência repercute da vida corpórea à vida espiritual, ocorre o mesmo quando o Espírito passa da vida espiritual à vida corpórea. Numa nova encarnação, ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se for avançado, fará um homem avançado; se for atrasado, fará um homem atrasado. Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres. (RE 1866, pp. 3-4).

Foi-nos necessário colocar o texto um pouco mais longo, pois, caso contrário, a idéia de Kardec poderia não ficar bem clara. O pensamento de Kardec não deixa nenhuma margem à dúvida: “assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres”. Ora, se fala em “anomalias aparentes” é porque ele, Kardec, admite tais situações como dentro da normalidade, o que em outras palavras, poderíamos dizer como coisas completamente naturais.

Opinião de autores espíritas

Dr. Hernani de Guimarães Andrade, foi, segundo cremos, quando encarnado entre nós, o maior pesquisador brasileiro sobre o assunto reencarnação. Podemos ver sua opinião, a respeito desse assunto, em seus livros Espírito, Perispírito e Alma e Você e a Reencarnação, nos quais dedica, em cada um, um capítulo ao tema. Vejamos o que coloca nesse último:

Por que Reencarnação?

Em outubro de 1969, tomamos contacto com o primeiro caso de reencarnação por nós investigados, a pedido do Dr. Ian Stevenson. Daí em diante passamos a levantar e a investigar outros mais, por nossa própria iniciativa. Desse modo, em 1972, já nos encontrávamos familiarizados com essa área de pesquisa.
A leitura de diversas obras versando sobre a reencarnação e suas pesquisas científicas consolidou ainda mais a nossa crença de que, talvez, a reencarnação fosse uma das causas do homossexualismo, se não a única. Entre os autores que consultáramos figuraram: Muller (1970), Banerjee (1964, 1965) e Stevenson (1966).
Mas, naquela ocasião, não era só a explicação das causas do homossexualismo que visávamos descobrir. Na realidade, esperávamos obter também mais uma fonte de evidência de apoio à idéia da reencarnação. O plano inicial era, partindo da investigação por meio da regressão de memória, chegar à causa do comportamento homossexual do paciente. Seria uma explicação do homossexualismo e, ao mesmo tempo, uma evidência da reencarnação.
Outro ponto importante era fornecido pela pesquisa direta de casos de reencarnação efetuados por nós, com evidências da possibilidade de troca de sexos, e sustentados em base de relatos de casos semelhantes de outros investigadores.
Tudo apontava em direção à validade da nossa hipótese de trabalho. Em suma, a nossa suspeita de que a troca de sexo de uma encarnação para outra talvez fosse, em certas circunstâncias, a principal causa do homossexualismo, mas não a única, especialmente a do transexualismo parecia emergir cada vez mais clara.
Existem três modalidades de homossexuais

Para que o leitor ainda pouco familiarizado com a questão do homossexualismo, lembramos que, basicamente, distinguem-se três modalidades de homossexuais:
1 – O homossexual genérico, cuja característica fundamental é a atração sexual por pessoas do mesmo sexo. O homossexual possui o impulso erótico dirigido para indivíduos de seu próprio sexo.
No heterossexual esse impulso parece não depender exclusivamente da carga hormônica no organismo. O indivíduo castrado geralmente perde o apetite sexual, mas não muda a direção da atração pelo outro sexo.
No homossexual, embora muitos deles possuam órgãos sexuais normais, bem como cargas hormonais suficientes e com atividade sexual normal, verifica-se a impulsão erótica em direção aos indivíduos do mesmo sexo. Nestes casos, o homossexualismo pode ter-se desenvolvido em razão de outros fatores que não a troca de sexo proveniente da reencarnação. Tais fatores podem ser os familiares e educacionais. Há também os circunstanciais, resultantes de situações especiais como, por exemplo, promiscuidade em cárceres, internatos, conventos, comunidades místico-religiosas, iniciações em seitas esdrúxulas, etc. etc.
Os homossexuais podem formar pares (casais) em que um deles exerce o papel ativo nas relações sexuais. No caso do sexo masculino, esta diferenciação torna-se mais definida.
2 – O travesti é aquele indivíduo que procura assumir a aparência dos de sexo oposto. Nem todo travesti é sistematicamente homossexual, assim como nem todo homossexual é obrigatoriamente travesti.
3 – O transexual é a modalidade mais típica do homossexualismo. Neste caso, o indivíduo se sente uma pessoa de determinado sexo, ocupando um corpo físico do sexo oposto; uma mulher em um corpo masculino, ou um homem em um corpo feminino.
O transexual sugere fortemente a intervenção da reencarnação em sua ocorrência.
No transexual podem ocorrer alterações inatas fisiológicas e cromossômicas. Permitimo-nos deixar sem comentário esse aspecto, para não estender excessivamente o presente capítulo.
“Sankhârâ” e homossexualismo

Finalizando esse capítulo, pedimos licença para transcrever parte do Cap. X, do livro Espírito, Perispírito e Alma.

“...A realidade do Sankhârâ”, revela nos casos que sugerem reencarnação, favorece a hipótese de que pelo menos o transexualismo seja motivado por uma herança reencarnatória. Neste caso, se um indivíduo, que se reencarnou reiteradas vezes com um determinado sexo, vem a renascer com um sexo oposto, ele provavelmente sofrerá problemas do gênero transexualismo. Pelo menos há grande possibilidade de isto ocorrer.

A troca de sexo de uma encarnação para outra pode não ser exclusivamente a causa do homossexualismo, pois vários fatores educacionais poderiam contribuir para despertar no indivíduo as tendências sepultadas nas profundezas do seu inconsciente espiritual. Deve ter-se em conta, também, outras variáveis que possam influir na equação que define o homossexualismo em função do “Sankhârâ”. Assim, por exemplo, apontamos duas imediatamente evidentes: 1) o tempo que o indivíduo passou desencarnado (intermissão); 2) o número de vezes que ele renasceu e viveu tendo um determinado sexo. A intermissão muito prolongada apaga muitos “Sankhârâs”, especialmente aqueles que poderiam gerar as “birthmarks” resultantes de ferimentos, malformações, moléstias graves, etc. É possível que as fontes características sexuais se atenuem com uma demorada intermissão. Por outro lado, a reiterada repetição de um mesmo tipo de sexo pode contribuir para acentuar as tendências do indivíduo a determinado comportamento sexual. Se, em sucessivos renascimentos, ele alternou os sexos, talvez seu comportamento sexual venha a depender sobretudo da educação recebida durante a infância e juventude. Isto porque ele é portador aproximadamente de igual carga de sexualidade masculina e feminina. Talvez seja este o motivo pelo qual o número de homossexuais parece aumentar à medida que o meio social se torna mais tolerante e menos repressivo. Os indivíduos com maior tendência em relação a um dado comportamento sexual e que poderiam proceder normalmente, serão estimulados pelas facilidades do meio social a mudar de atitude. Antigamente a educação muito rígida e repressiva contribuía para enquadrar o indivíduo ambisséxuo, em seu sexo natural. (Andrade, 1984, pp. 227-229)”. (Andrade, 2002, pp. 113-117)

As colocações do Dr. Hernani além de coerentes são sensatas não fugindo ao que Kardec disse. Em nenhum de seus dois livros, ele citada a conclusão a que chegara o codificador do Espiritismo, fato esse que também percebemos em todos autores espíritas que trataram dessa matéria.

Agora iremos ver a opinião de outro autor que fala sobre o assunto. Trata-se do Dr. Roberto Lúcio Vieira de Souza, foi no triênio 2001/2003 o Vice-Presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil, atualmente (2004) exerce a função de Assessor de Pesquisas da AMEMG – Associação Médico Espírita de Minas Gerais, num artigo intitulado A Visão Espírita da Homossexualidade, publicado na Revista Cristã de Espiritismo, faz interessantes colocações a respeito das causas desse tipo de comportamento. Vejamos:

(...) tentamos classificar, do ponto de vista doutrinário, as causas da homossexualidade em: morais, educacionais, obsessivas e psiquiátricas.

Causas morais

No campo das causas morais, encontramos aquelas criaturas que abusaram das faculdades genésicas tanto da posição masculina como da feminina, arruinando a vida de outros indivíduos, destruindo uniões e lares diversos. Elas são induzidas a procurarem uma nova posição ao reencarnarem, em corpos físicos opostos às suas estruturas psicológicas, a fim de que possam aprender, em regime de prisão, a reajustarem seus próprios sentimentos.
Encontramos também aqueles que persistem nessas práticas por uma busca hedonista, sem maior compromisso com a vida, que reencarnam assim na tentativa de retratarem suas posições em nova chance de resgate. São espíritos rebeldes, pertinazes em seus erros, que encontram na questão da inversão sexual uma oportunidade para o refazimento de suas vidas, na qual a lei divina lhes coloca diante de situações semelhantes ao passado de faltas, cobrando-lhes posturas mais éticas perante si e o outro.

Causas educacionais

As causas educacionais podem ser agrupadas em atávicas e atuais. A atávica é resultado de vivências repetitivas dos espíritos em culturas e comunidades onde a prática homossexual seria aceita e até estimulada, como na Grécia antiga e em certas tribos indígenas, ou nas sociedades culturais e religiosas que segregavam ou segregam seus membros, facilitando esse comportamento nas criaturas. Assim, ao reencarnarem em um local onde o homossexualismo não fosse mais aceito como prática livre, esbarrariam em sua condição viciosa.
Já dentro das atuais, temos aquelas causas advindas dos defeitos de educação nos lares, onde o comprometimento dos afetos já estaria presente anteriormente, em que as paixões deterioradas do passado tendem a levar pais e parentes ascendentes a estimularem posturas psicológicas e sexuais inversas ao seu estado físico em seus descendentes, sem que necessariamente ocorressem comportamentos ostensivamente incestuosos. Encontramos também os casos de pais contrariados em seus desejos quanto ao sexo do rebento, levando-o a uma condição inversa do de seu sexo físico ou aqueles dos quais a entidade reencarnante, ao perceber esse desejo inconsciente dos pais, busca se adaptar patologicamente a essa situação durante o processo de gestação.

Outra causa está na presença de segmentos atuais da sociedade e da cultura estimulando esse tipo de conduta, quando uma linguagem mais política e sem qualquer comprometimento ético, através dos vários meios de comunicação de massa, estimula e condiciona as criaturas a acreditarem que essas vivências seriam uma postura natural, dependendo unicamente da escolha realizada pelo indivíduo. Esse posicionamento vai de encontro a uma visão social mais ampla, que continua atribuindo ao homossexualismo uma condição de marginalidade, mantendo um processo de segregação social e associando a ele outras posturas marginalizadas, como o abuso das drogas e a prostituição, agravando ainda mais a situação daqueles que optaram por esse caminho sexual.

Causas obsessivas

Entre esse tipo de causa, podemos citar os casos em que parceiros do passado delituoso, em processos homossexuais ou vivências heterossexuais pervertidas, reencontram-se em condição de ódio ou paixão doentia, estimulando uma postura homossexual no encarnado como objetivo de atender o desencarnado em seus anseios viciosos ou de levar sua vítima para uma situação constrangedora e de intenso sofrimento. Esses desencarnados poderiam estar em uma condição mental de homossexualidade ou não, induzindo o encarnado em um projeto de total desestruturação íntima e social.

O processo obsessivo não precisa necessariamente ter sua origem em uma encarnação anterior. Ocorre que, nos casos de uma obsessão atual, os parceiros da vivência patológica participam de opções de vida viciosas, onde geralmente o encarnado invigilante busca posições mentais sexualmente pervertidas ou locais nos quais esses comportamentos são socialmente aceitos, condicionando-se a essas práticas.

Uma outra situação possível, oriunda de um processo obsessivo, seria aquela na qual um espírito obsediando um encarnado em posição sexual inversa à sua, enfermado por uma interação intensa e duradoura, passa a sentir prazer sexual semelhante à sua vítima, pervertendo-se nesse campo e se condicionando a uma vivência homossexual em uma próxima encarnação. Nesses casos, a situação obsessiva teria existido em uma encarnação anterior e a homossexualidade seria a desdita daquele que teria sido o algoz naquela vivência. Seria o famoso caso em que “o tiro saiu pela culatra”.

Causas psiquiátricas

São causas que reúnem casos nos quais a criatura, presa a um processo de deficiência mental ou de desestruturação psicótica, vê-se com a crítica comprometida, permitindo-se condutas sexuais das mais diversas, sem necessariamente existir uma escolha do objeto de desejo ou compreensão da condição moral. São relações homossexuais sem necessariamente representarem opções de homossexualidade. Resultam de um passado delituoso em outras áreas que influenciam a criatura nos vários setores de sua vida.

No campo da psicopatologia, encontramos ainda os transtornos psicopáticos, nos quais as criaturas se posicionam em uma condição de amoralidade e imoralidade, optando por uma vida de prazeres sem limites, não se constrangendo na busca do hedonismo por nenhum motivo, estimulando a homossexualidade em si e nas criaturas psiquicamente influenciáveis.

De maneira especial, temos os processos gerados por vivências traumáticas na infância, quando a criança seduzida sexualmente por um de seus ascendentes familiares viu-se condicionada por ele a adotar um comportamento sexual invertido (como, por exemplo, um pai que utiliza sexualmente um filho) ou, então, quando o jogo de sedução e perversão realizado por parentes de sexos opostos provoca uma situação de ódio intenso, levando a criança ou o jovem a fazer uma opção pela homossexualidade como forma de rejeitar aquela vivência. (pp. 40-45)

Essas causas identificadas pelo Dr. Roberto, nos dão uma dimensão totalmente diferente da simplicidade que muitos pensam ser a opção sexual de uma pessoa. Como vimos existem fatores que, fugindo totalmente ao controle do encarnado, poderão influir nessa questão, daí, segundo, pensamos a homossexualidade não poderá ser vista como coisa pervertida, cujos praticantes a fazem por lhes faltar o senso moral.

Alguns autores espíritas não se alinham à idéia de que o homossexualismo possa ter como causa a mudança de sexo entre uma encarnação e outra. Fora as opiniões acima, ainda poderemos, para reforçar essa idéia, o que encontramos no livro Ação e Reação, André Luiz na psicografia de Chico Xavier. Leiamos:

(...) Considerando-se que o sexo, na essência, é a soma das qualidades passivas ou positivas do campo mental do ser, é natural que o Espírito acentuadamente feminino se demore séculos e séculos nas linhas evolutivas da mulher, e que o Espírito marcadamente masculino se detenha por longo tempo nas experiências do homem. Contudo, em muitas ocasiões, quando o homem tiraniza a mulher, furtando-lhe os direitos e cometendo abusos, em nome de sua pretensa superioridade, desorganiza-se ele próprio a tal ponto que, inconsciente e desequilibrado, é conduzido pelos agentes da Lei Divina a renascimento doloroso, em corpo feminino, para que, no extremo desconforto íntimo, aprenda a venerar na mulher sua irmã e companheira, filha e mãe, diante de Deus, ocorrendo idêntica situação à mulher criminosa que, depois de arrastar o homem à devassidão e à delinqüência, cria para si mesma terrível alienação mental para além do sepulcro, requisitando, quase sempre, a internação em corpo masculino, a fim de que, nas teias do infortúnio de sua emotividade, saiba edificar no seu ser o respeito que deve ao homem, perante o Senhor. Nessa definição, porém, não incluímos os grandes corações e os belos caracteres que, em muitas circunstâncias, reencarnam em corpos que lhes não correspondem aos mais recônditos sentimentos, posição solicitada por eles próprios, no intuito de operarem com mais segurança e valor, não só o acrisolamento moral de si mesmos, como também a execução de tarefas especializadas, através de estágios perigosos de solidão, em favor do campo social terrestre que se lhes vale da renúncia construtiva para acelerar o passo no entendimento da vida e no progresso espiritual. (Ação e Reação, p. 209).

Opinião de quem viveu o problema

Vamos transcrever do site Portal do Espírito um trecho de um artigo publicado na Revista de Espiritismo, nº 39, abr-mai-jun1998, do autor Luiz de Almeida. Leiamos:

Para melhor entendermos o drama da homossexualidade, citamos depoimentos de dois espíritos (2). Isso porque poderão contribuir para esclarecer certas partes desta tendência.

CASO 1: Eu fui lésbica. Dentro do meu corpo de mulher, sentia-me um homem. Desde pequena, os meus pendores foram todos masculinos. Menina, e os meus companheiros de peraltagem eram os meninos, tanto que minha mãe repetia: Não sei a quem me saiu a Laurinha; é peralta como um menino, está sempre no meio deles; coisa feia. E assim era: em qualquer reunião raramente me encontrava entre minhas amiguinhas. Porém, nos grupos de rapazes, lá estava eu, não como mulher, mas como homem, que intimamente me parecia ser.

Veio-me a menstruação; sofri horrores que se repetiam mês após mês. Completei 15 anos. Eu era bonita de rosto, conquanto desgraciosa de corpo. E os meus pais chamaram-me em particular:

— De agora em diante, evita estar tanto entre os moços; tens coleguinhas... porquê isso?

— Mas, mamãe, não gosto das conversas delas, de vestidos, de modas, de sapatos, de batons, de penteados, de namoradinhos. Eu, por mim, cortaria os meus cabelos como homem, e vestiria calças.

A minha resposta desgostou-os. Mudei: apaixonava-me facilmente por meninas e mulheres casadas. Deliciava-me freqüentar o vestiário de meu clube; contemplando aqueles corpos nus, lavando-se, esfregando-se, enxugando-se, muitas vezes, surpreendia-me exclamando: Ah, se eu fosse homem! Viciei uma prima; além do prazer que ela me proporcionava, dava-me a sensação de ser verdadeiramente um homem. Descobriram-me, e passei a ser vigiada. Evitam-me. O meu pai tratava-me com rispidez.

Uma fria solidão envolvia-me. Mesmo assim, casei-me. Não lhes descreverei o horror do sofrimento íntimo que senti na minha noite de núpcias; foi pasmoso. O meu esposo tinha-me nos braços e acariciava um corpo de mulher, dentro do qual se escondia o espírito de um homem. E durante as carícias, enlaçada pelo meu marido, que me abraçava e me beijava, quantas vezes tive ímpetos de repeli-lo e gritar: Eu também sou um homem! Jamais ele o percebeu; fui-lhe fiel até ao fim. A nossa união durou 15 anos; não tivemos filhos.

O meu marido enviuvou, e contraiu segundas núpcias, desta vez com uma autêntica mulher, de corpo e alma. Desencarnado, compreendi o porquê dessa encarnação como mulher; porque eu, um espírito masculino, fora embutido — sim, embutido é o termo certo —, num corpo feminino. Por quatro encarnações consecutivas, eu erigira o sexo como o supremo fim de um homem. A mulher para mim era um objeto, um mero instrumento de prazer, de gozo. Quando uma me saciava, atirava-a para um canto qualquer, e servia-me de outra. Jamais lhes respeitava a dignidade. Jamais as reconhecera como mães, esposas, irmãs. E nos intervalos de minhas encarnações, em vez de me corrigir, freqüentando as escolas correcionais da Espiritualidade, para o que não me faltaram convites, associava-me a hordas maléficas, cujo escopo era implantar o domínio do sexo. Até que, por ordem superior, encaminharam-me de forma compulsória aos engenheiros maternais, que me agrilhoaram a um corpo feminino a fim de que eu aprendesse a valorizar a mulher. Felizmente tão dolorosa experiência valeu-me.

Corrigi-me. Não só aprendi a valorizar a mulher como a divinizá-la no seu papel de mãe, de esposa, de irmã. Voltei à minha forma masculina. Trabalho agora no sector de socorro aos náufragos do sexo. Quando soar a hora, tornarei à Terra no corpo de homem normal, e saberei respeitar a mulher no altar sagrado do casamento. Claro que o meu carma não será tranqüilo, e as vicissitudes que por certo virão, em que pese gerar aflições, serão lições valiosas. E ao depararem com homens e mulheres transviados do sexo, compaixão, muita compaixão para com eles.

CASO 2: Eu fui uma prostituta em seis encarnações sucessivas. A primeira foi num navio pirata. Apanharam-me numa razia contra nossa cidadezinha na orla do Mediterrâneo; com o saque e outros cativos, embarcaram-me numa caravela. Eu era jovem e bonita. Um dia, o comandante atraiu-me para o seu camarote. Percebi-lhe a intenção. Eu já tinha os meus planos, e antes que ele tomasse a iniciativa, adiantei-me: Saiba que sou uma virgem. Quanto dá por minha virgindade? Dirigiu-se a uma das arcas ao pé do leito, abriu-a; estava cheia de jóias preciosas, produto de pilhagens. Colocou um punhado delas sobre a mesinha à minha frente. É pouco, disse-lhe com firmeza. Mergulhou ambas as mãos na arca, e pô-las sobre as primeiras. É o bastante.

Ainda por muitas vezes lhe arranquei peças de valor. Logo que o notei farto de mim, entreguei-me aos outros marujos, a troco de ouro, que todos possuíam. Desembarquei em porto europeu, rica, e dediquei-me ao meretrício de alto luxo.

Vejo-me agora reencarnada na França, na época do I Império. Sou dama da corte. E, para obter honrarias, jóias, luxo, prostitui-me não abertamente, mas entregando-me aos cortesãos que servissem aos meus intentos.

A terceira reencarnação foi em Portugal. Casei-me com um caixeiro modesto em pequena cidade portuguesa. Abandonei-o e transferi-me para Lisboa, onde montei casa de tolerância, desgraçando mocinhas ingênuas, e desencaminhando pais de família.

Na minha quarta reencarnação, ainda em Portugal, não me sujeitando a uma pobreza digna, tão logo me emancipei, comercializei o meu corpo. E, por isso, a minha mãe finou-se de desgosto. Como cobra venenosa, atraía a mocidade da nobreza, sugando-lhe impiedosamente os haveres e até a honra, em luxuoso prostíbulo no Rio de Janeiro, no tempo do império.

Na minha quinta reencarnação, no início do século XX, ainda no Rio, aos 14 anos já me envolvia no meretrício. De nada me adiantavam os intervalos de minhas reencarnações. Não dava ouvidos a espíritos benévolos que me queriam afastar dessa vida imunda. Endurecida no vício, filiava-me a grupos de obsessores sexuais, e praticava desatinos vampirescos com encarnados que aceitavam minhas sugestões.

Até que engenheiros maternais decidiram aplicar-me a corrigenda cabível. Estudaram minuciosamente o meu passado, submeteram-me a rigoroso exame psíquico, e concluíram que só havia um remédio para mim, posto que amargo: reencarnar em corpo masculino, tantas vezes quantas as necessárias. A petição seguiu para instância superior e foi aprovada.

E eu, mulher, espírito essencialmente feminino, reencarnei-me em corpo de homem, no Rio de Janeiro, como quarto e último filho de um casal da classe média, remediados.

Hoje sei dos motivos que teve este casal para me receber como filho; porém, não vem ao caso mencioná-lo. Bem cedo começaram os meus martírios. Eu adorava brincar com meninas, evitava os meninos. Na escola ouvia os ditérios dos colegas; e ao ir ao quadro dar a lição, a classe ria-se ante o meu andar feminil. Durante o recreio, escondia-me. Com a idade, mais se acentuou minha inclinação feminina: parava diante das vitrinas de modas e das de jóias, e extasiava-me a admirar os vestidos, os sapatos, as meias, os colares, os brincos, os braceletes, tudo, enfim que pertencesse à toilette da mulher. Por vezes, ansiava ir à cabeleireira maquiar-me, e a custo reprimia-me. O meu pai não me aceitava; os meus irmãos detestavam-me e repeliam-me; a minha mãe, pobrezinha, era o meu único refúgio. Consolava-me, acariciava-me, infundia-me ânimo, abraçava-me.

A solidão embrulhou-me no seu pesado manto. Certa vez, atraído por um homem, fui com ele ao seu apartamento. O horror, o nojo que isto me causou vós não podeis imaginar. Quis tornar-me seu amante; tive dificuldades em livrar-me dele. Para vós terdes uma idéia do meu suplício de espírito feminino num corpo masculino, faço uma comparação: havia outrora um instrumento de tortura, que consistia numa caixa de ferro, mais ou menos no formato de um homem, em cuja porta, do lado de dentro, se engastavam punhais. O condenado era encaixado nessa caixa, e nela ficava por dias e dias à espera que o carrasco recebesse ordem de fechar a porta, quando era trespassado pelas lâminas. Todavia, raramente o corpo do condenado se amoldava à caixa; e então os verdugos o ajustavam à força naquele aparelho, no qual com corpo horrivelmente comprimido, aguardava o fechar da porta, cessando o seu tormento. O condenado à tortura da máscara era mais feliz do que eu: o sofrimento dele durava poucos dias; o meu durou 68 anos, que se arrastaram como uma eternidade.

Jamais me passou pela cabeça a idéia do suicídio, ou de me prostituir, felizmente. Agüentei firme o rojão, como se diz popularmente.

Uma tarde, de volta a casa, um grupinho de estudantes vadios pôs-se a chacotear-me. Para fugir deles, entrei na primeira porta que vi aberta; subi pequena escada, e achei-me num vasto salão; muitas pessoas lá estavam; sentei-me entre elas. Era a Federação Espírita Brasileira. Explicaram-me e entendi que o acaso não existe, e o fato de ali entrar é porque por certo encontraria lenitivo. Passei a freqüentar aquela casa, onde conquistei muitos amigos e amigas. Os passes e a água fluidificada fizeram-me muito bem, e assim a minha solidão foi suavizada.

Eu não trabalhava; tive vários empregos, mas na ocasião, o meu problema não era tolerado como hoje em dia (embora seja uma tolerância falsa e aparente) sendo despedido de todos. Quem sempre me socorria e socorreu foi a minha mãe, fornecendo-me algum dinheiro. Os meus irmãos casaram-se; os meus pais desencarnaram. Envelheci.

Vivi penosamente de minguado benefício que me tocou por herança. Fui morar num telheiro, mal transformado em quarto, no fundo do quintal da casa de um dos meus irmãos, com ordem expressa de não me mostrar a visitas fossem quem fossem. Proibiram-me de ter intimidades com os meus sobrinhos. Mais tarde, recolheram-me a um asilo, onde desencarnei.

Acordei, não sei depois de quanto tempo, em um quarto hospitalar. Tão logo me mexi na cama acorreu uma enfermeira gentil que me disse:

— Tudo bem, minha irmã, não se impressione!

-— Irmã?... murmurei arregalando os olhos. Ela não me respondeu, mas ajeitou-me a coberta, sorrindo.

Hoje estou plenamente integrada nos meus predicados femininos.

Regenerei-me. Faço parte do Grupo de Socorros das Servas de Maria Madalena, que se dedica ao reerguimento das infelizes que resvalam pelo abismo escuro da prostituição.

(2) - Extraído do Boletim Eletrônico n.º 258 de 1997 do GEAE (Grupo de Estudos Avançados de Espiritismo).

Esses dois depoimentos molduram muito bem o drama íntimo de muitos que vivem a prática sexual com parceiros do mesmo sexo que o seu. Deveremos refletir sobre esse assunto, e tentar entender que, em sua grande maioria, eles vivenciam insuperável conflito interno. Percebemos que, como já foi evidenciado anteriormente, alguns casos não há escolha deliberada, os indivíduos são levados a essa pratica por fatores que fogem completamente ao seu controle.

Conclusão

Tentamos fazer um levantamento sobre o assunto em pauta, procurando dar, a você leitor, instrumentos para uma possível reavaliação do que poderia estar pensando sobre isso.

Considerando que os Espíritos não tem sexo podemos concluir que o impulso sexual reside no próprio espírito, sendo o corpo físico apenas o veículo de sua instrumentalização. Assim, não seria absurdo dizermos que ao reencarnar o Espírito traz dentro de si as duas polaridades sexuais, daí ser necessário rever conceitos sobre o homossexualismo entre os seres humanos.

Apesar de que para muitos isso não ser natural, advogamos ser, pela razão de que podemos encontrar esse tipo de comportamento entre os animais, embora suas causas possam ser absolutamente diferentes das que poderíamos atribuir aos seres humanos. O que defendemos é que se há essa ocorrência entre os animais não vemos porque taxar como perversão todos os casos de homossexualismo que acontecem entre nós, os humanos. E definindo o que é natural é tudo aquilo em que não há trabalho ou intervenção do homem. Além desse significado o Aurélio ainda nos indica: inato, ingênito, congênito. Se uma pessoa já trás de nascença alguma tendência para a prática homossexual, por que então crucificá-lo, já que a própria natureza ou pela lei de causa e efeito ou pela do progresso, é a origem do seu problema?

Há quem diga, que não devemos nos comparar aos animais, entretanto, em algumas situações não há como fugir dessa comparação. Os animais, comem, dormem, fazem sexo, e inúmeras outras coisas que nós os humanos também fazemos, é por isso, que enxergamos isso como coisa da natureza. O que não significa dizer que os que assim se comportam não devam se esforçar para mudar, apenas não vemos nenhuma situação para se ter qualquer tipo de preconceito a pessoas que assim agem.

Ana Paula Corradini, numa reportagem na Revista dos Curiosos, intitulada Eu quero é sexo!, coloca a certa altura:

O prazer homossexual

Outro comportamento registrado entre os bonobos é o das relações homossexuais: as fêmeas adultas enroscam pernas e braços ao redor uma das outras e esfregam suas genitais, emitindo ruídos de contentamento. Os machos penduram-se em galhos e friccionam os pênis eretos. O lesbianismo já foi constatado em onze espécies, mas o homossexualismo não é só notado em primatas. Ele existe entre golfinhos, zebras, gaivotas, pingüins, felinos e até baleias. Muitos estudiosos afirmavam que isso só poderia acontecer em uma situação de confinamento, como entre dois pingüins machos que, por ventura, fossem colocados a sós em uma jaula no zoológico. No entanto, a conduta ocorre também na natureza, mesmo em bandos em que há machos para todas as fêmeas e vice-versa. Ainda não existe um consenso para explicar o porquê dessa opção. “Os animais não se tornam homossexuais por falta de parceiros, mas pela alternativa de se obter prazer”, afirma Eduardo Cunha Farias (...) O homossexualismo no reino animal passou a ser discutido mais abertamente após o lançamento do livro Biological Exuberance – Animal Homosexuality and Natural Diversity (Exuberância Biológica – Homossexualidade Animal e Diversidade Natural), do biólogo norte-americano Bruce Begamihl, em 1999. O autor descreveu casos de homossexualismo entre 450 espécies, em sua maioria mamíferos e aves. (p. 50)

Está aí a comprovação desse acontecimento na natureza, o que, para nós, justifica a mudança de atitude em relação aos homossexuais que existem no nosso meio.

Por outro lado, também gostaríamos de saber dos que alimentam preconceitos contra os homossexuais se também o teriam pelos heterossexuais que, em atividades sexuais viciosas, fazem sexo até mesmo com animais, fato que todos sabemos que acontece, mas fingimos de peixe morto.

Muitos advogam que na pratica sexual tradicional entre um homem e mulher há troca de energias, para fazer disso uma arma conta as relações sexuais homossexuais. Não duvidamos que numa relação sexual há troca de energias entre o homem e a mulher, mas perguntamos: isso ocorre em todas as situações? Mesmo que um dos dois a pratique por prostituição? Será que poderia haver troca de energias, quando o casal, saindo dessa prática sexual tradicional, pratica o sexo oral e anal? E aqui, por acreditar que aquilo que podemos encontrar na natureza é perfeitamente natural, afirmamos então, que: a prática do sexo oral e anal, entre os casais, como não a encontramos na natureza, obviamente, para nós, não se trata de uma coisa natural. Embora, também não vamos dizer que seja imoral. Por outro lado, não poderia um homem viciar sua mulher na prática sexual anal de tal forma que na encarnação seguinte ela, mesmo habitando um corpo físico masculino, mantenha seu impulso sexual canalizado para essa zona erógena, agindo assim como homossexual?

Para demonstrar que nem todos discriminam, e que, graças a Deus, muitos não admitem esse preconceito, apenas buscam respeitar a opção pessoal de cada um, o que não significa, necessariamente, concordar com tais práticas, fecharemos nossa pesquisa com a opinião de alguns desses autores:

José Herculano Pires: “os casos de homossexualismo adquirido, não-congênito ou constitucional, de classificação psiquiátrica, decorrem de fatores educacionais mal dirigidos ou de influências diversas, posteriores ao nascimento, que dão motivo à sintonia do paciente com espíritos obsessores vampirescos. O problema sexual é extremamente melindroso, pois tanto o homem quanto a mulher dispõem de tendências de ambos os sexos, podendo cair aos desvios provocados por excitação de após nascimento” (Mediunidade, p. 141).

Drauzio Varella: “... O espectro da sexualidade humana é amplo e de alta complexidade, no entanto, vai dos heterossexuais empedernidos aos que não têm o mínimo interesse pelo sexo oposto. Entre os dois extremos, em gradações variadas entre a hetero e a homossexualidade, oscilam os menos ortodoxos”.

“Como o presente não nos faz crer que essa ordem natural vá se modificar, por que é tão difícil aceitarmos a riqueza da biodiversidade sexual de nossa espécie? Por que insistimos no preconceito contra um fato biológico inerente à condição humana?”.

“Em contraposição ao comportamento adotado em sociedade, a sexualidade humana não é questão de opção individual, como muitos gostariam que fosse, ela simplesmente se impões a cada um de nós. Simplesmente é!”. (www.drauziovarella.com.br)

Chico Xavier: em resposta às perguntas: como encara o espiritismo o problema da homossexualidade? Qual a melhor atitude da sociedade frente a essa ocorrência?

- “Acreditamos que o tempo e a compreensão humana traçarão normas sociais susceptíveis de tranqüilizar quantos se vinculam a semelhante segmento da comunidade, assegurando-se-lhes a benção do trabalho com o respeito devido a todos os filhos de Deus (...) Até que isso se concretize, não vejo qualquer motivo para críticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com os nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas”.

“Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender por que razão esse ou aquele preconceito social impedirá certo número de pessoas de trabalhar e de serem úteis à vida comunitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria. (...) Nunca vi mães e pais, conscientes da elevada missão que a Divina Providência lhes delega, desprezarem um filho porque haja nascido cego ou mutilado. Seria humana e justa a nossa conduta em padrões de menosprezo e desconsideração, perante os nossos irmãos que nascem com dificuldades psicológicas?”. (www.espirito.org.br, texto de Luiz Almeida intitulado: Homossexualidade).

Hernani Guimarães de Andrade: O homossexualismo não deve, pois, ser classificado como uma psicopatia ou como um comportamento merecedor de discriminação ou medidas repressivas. O homossexual, especialmente o “transexual”, merece toda a nossa compreensão e ajuda, para que ele possa vencer sua luta de adaptação ao novo sexo adquirido com o renascimento. Alguns homossexuais poderão ser reorientados, de maneira a se comportarem normalmente dentro dos padrões impostos pelo meio social. Entretanto, igual reorientação é necessária aos que se dizem normais para que se compenetrem da necessidade de respeitar e aceitar fraternalmente os homossexuais. (Espírito, Perispírito e Alma, pp. 228-229).

Richard Simonetti: ao responder à questão: Ele [o homossexual] pode ser acolhido como colaborador do Centro Espírita, trabalhar como médium, por exemplo?, diz: Condenável qualquer discriminação. Não há porque vedar-lhe essa possibilidade, a não ser que esteja envolvido em relacionamento promíscuos. Essa mesma restrição estende-se ao heterossexual. A promiscuidade, herança das tendências à poligamia que ainda caracterizam o ser humano, inspirando o comportamento irresponsável, é incompatível com as atividades espirituais. (Reencarnação - tudo o que você precisa saber, p. 124).

Divaldo Pereira Franco, psicografando Joana de Angelis diz: Outro fator que merece análise é o da identidade sexual. Há jovens que logo definem e aceitam a sua natureza essencial, masculina ou feminina. Nessa oportunidade surgem os conflitos mais fortes do transexualismo e do homossexualismo, alguns deles como resultado de fatores genéticos, trabalhados pelo Espírito na constituição do corpo através da reencarnação, que se utilizou do perispírito para a modelagem da forma orgânica, outros como efeito da conduta familiar ou social, e, outros mais, ainda, pela necessidade de ser trabalhada a sexualidade como diretriz preponderante para a aquisição de recursos mais elevados e difíceis de conquistados.

Quando essa identidade sexual é prematura, o adolescente sofre de um efeito apenas biológico, sem preparação psicológica para o comportamento algo estressante. Quando atrasada, reações igualmente psicológicas podem levar a uma hostilidade ao próprio corpo como ao dos outros.

A identificação sexual do indivíduo equilibrado faz-se definir quando se harmonizam a expressão biológica – anatômica – com a psicológica, expressando-se de forma natural e progressiva, sem os choques da incerteza ou da incapacidade comportamental diante da realidade do fenômeno sexual. (Adolescência e Vida, Divaldo P. Franco, pp. 70-71).

J. Raul Teixeira, psicografando Camilo: Provenientes dos recônditos da alma, onde se alocam reminiscências de desrespeito e de crimes hediondos, cometidos contra as leis morais que são presentes nas consciências humanas, ou, por outro lado, decorrentes de processos educacionais deletérios que se apoiaram em inclinações morais deficitárias, ainda não suficientemente amadurecidas para a verdadeira liberdade, os dramas homossexuais têm lugar na intimidade das criaturas, largamente.

Motivados, ainda, por terríveis programas obsessivos, que antigos inimigos desencarnados engendram por vingança ou, ainda, decorrentes de perturbações psiquiátricas não devidamente diagnosticadas, explodem quadros homossexuais, aqui e acolá.

A situação vem se tornando tão comum que, ao largo do tempo, vem sendo admitida como terceiro sexo ou como opção normal daqueles que assim almejam viver.

Desembocam no estuário dos conflitos da homossexualidade infindáveis gravames assinalados nos arquivos extra-cerebrais, provenientes de passadas reencarnações, quando o abuso do próprio corpo e dos corpos alheios, a agressão à própria constituição emocional e às constituições alheias determinaram os torturantes quadros de agora, na esfera da sexualidade.

Ninguém suponha que tais conflitos não se estendam do mesmo modo, nas esferas heterossexuais, uma vez que os Espíritos que se movimentam sobre a Terra, com poucas exceções, carregam complexos problemas na área sexual, carecendo reestruturar-se, renovar-se, a fim de valorizar tão sublime fonte de estesias que a Divindade ensejou as Suas criaturas com o objetivo feliz, na cooperação junto à obra Universal.

O fenômeno homossexualismo, em si mesmo, impõe aos que por ele estão assinalados, um regime de imperiosas disciplinas em sentido amplo, capazes de ensejar à alma, se atendidas, bênção de venturas crescentes a projetarem luzes de paz, de harmonia para o amanhã.

Quem disse que será crime ou pecado que um homem a outro homem ame?

Onde a condenação para o amor e o afeto entre as mulheres?

O amor, devidamente compreendido, é a energia que nos diviniza, é o traço que nos liga ao Criador, impulsionando-nos a espalhar a Sua vontade pelo Universo.

Não cogitamos aqui desse arremedo de amor com que o vulgo resolveu apelidar as práticas carnais do sexo, mas cogitamos desse Amor que é o próprio Deus, que faz com que na sexualidade a criatura humana se torne co-criadora com o seu Criador,

O drama que se instala nas vidas terrenas é que não estão aptos aos indivíduos a vivenciarem o Amor que sensibiliza a alma, que imprime sentimentos de renúncias felizes, que enleva, que renova, forjando saúde e plasmando vida plena.

Amar jamais será desaconselhável seja entre quem for. Não obstante, o homossexual não necessitará mergulhar nos pântanos da pederastia, tampouco as homossexuais carecerão perder-se nos viscos do lesbianismo, nas voragens da relação carnal.

Se um companheiro ou uma companheira percebe em si as inclinações homossexuais, que procure identificar nisso os gritos da expiação, induzindo à educação para que a vida seja vitoriosa.

O amor, o entendimento, a prestação de serviços, a comunhão idealística, tudo isso contribuirá para a gradativa liberdade do ser. (Educação e Vivências, J. Raul Teixeira, pp. 73-75). (grifos do original).

Chico Xavier, psicografando André Luiz: (...) Empenhou-se a repetir que na Crosta Planetária os temais sexuais são levados em conta, na base dos sinais físicos que diferenciam o homem da mulher e vice-versa; no entanto, ponderou que isso não define a realidade integral, porquanto, regendo esses marcos, permanece um Espírito imortal, com idade às vezes multimilenária, encerrando consigo a soma de experiências complexas, o que obriga a própria Ciência terrena a proclamar, presentemente, que masculinidade e feminilidade totais são inexistentes na personalidade humana, do ponto de vista psicológico. Homens e mulheres, em espírito, apresentam certa percentagem mais ou menos elevada de característicos viris ou feminis em cada indivíduo, o que não assegura possibilidade de comportamento íntimo normal para todos, segundo a conceituação de normalidade que a maioria dos homens estabeleceu para o meio social.

Tendo Neves formulado consulta sobre os homossexuais, Félix demonstrou que inúmeros Espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, que exigem duras disciplinas por parte daqueles que as solicitam ou que as aceitam. Referiu ainda que homens e mulheres podem nascer homossexuais ou intersexos, como são suscetíveis de retomar o veículo físico na condição de mutilados ou inibidos em certos campos de manifestação, aditando que a alma reencarna, nessa ou naquela circunstância, para melhorar e aperfeiçoar-se e nunca sob a destinação do mal, o que nos constrange a reconhecer que os delitos, sejam quais sejam, em quaisquer posições, correm por nossa conta. À vista disso, destacou que nos foros da Justiça Divina, em todos os distritos da Espiritualidade Superior, as personalidades humanas tachadas por anormais são consideradas tão carentes de proteção quanto as outras que desfrutam a existência garantida pelas regalias da normalidade, segundo a opinião dos homens, observando-se que as faltas cometidas pelas pessoas de psiquismo julgado anormal são examinadas no mesmo critério aplicado às culpas de pessoas tidas por normais, notando-se, ainda, que em muitos casos, os desatinos das pessoas supostas normais são consideravelmente agravados, por menos justificáveis perante acomodações e primazias que usufruem, no clima estável da maioria.

E à ligeira pergunta que arrisquei sobre preceitos e preconceitos vigentes na Terra, no que tange ao assunto, Félix ponderou, respeitoso, que os homens não podem efetivamente alterar, de cofre, as leis morais em que se regem, sob pena de precipitar a Humanidade na dissolução, entendendo-se que os Espíritos ainda ignorantes ou animalizados, por enquanto em maioria no seio de todas as nações terrestres, estão invariavelmente decididos a usurpar liberalidades prematuras para converter os valores sublimes do amor em criminalidade e devassidão. Acrescentou, no entanto, que no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças assacadas, há séculos, contra aqueles que renascem sofrendo particularidades anômalas, porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessantemente para viver, sob o Sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos. (Sexo e Destino, Chico Xavier, pp. 272-274)



Poderemos ainda deixar para uma reflexão individual, a ser feita por cada um de nós, o seguinte:

Suponhamos que vivêssemos num país onde, por determinação superior, tivéssemos que, por um longo tempo, abrigar em nossa casa uma pessoa, cuja escolha poderíamos fazer entre duas que nos seriam indicadas. Apresentam-nos, então, para essa escolha, um assassino psicopata e um homossexual. Perguntamos: qual dos dois você escolheria para viver sob seu teto durante o tempo estabelecido?

Suponhamos, também, que tivéssemos uma criança pequena que demonstrasse tendências homossexuais, cuja causa poderia ser a viciação por outras pessoas mais velhas, como por exemplo, o uso indiscriminado de supositórios como medicamento para problemas de “ar preso”, que veio despertar nela o prazer na região anal, o quê faríamos diante dessa realidade?

Suponhamos, ainda, que entre os nossos filhos atuais ou que viéssemos a ter no futuro, houvesse um deles, com a idade de 18 anos, que, por alguma razão que desconhecemos, resolve, durante a festa de seu aniversário, assumir publicamente diante de todos os convidados sua homossexualidade. Qual seria a nossa atitude diante deste bombástico fato? Iríamos tratar esse filho com o mesmo preconceito que temos para com os que não se ligam a nós pelos laços da consangüinidade?

Assunto abordado pelo Dr. Roberto Lúcio, com o qual plenamente concordamos, é que, em algumas situações, a causa da homossexualidade poderia ser por indução psíquica dos próprios pais, quando desejando ardentemente que o seu futuro rebento seja de um sexo diferente daquele que a vontade de Deus determinou, acabam implantando no psiquismo desse feto o desejo de seus pais. Após nascer poderá, consciente ou inconscientemente, agir para realizar tal desejo, passando a ser apenas na esfera psíquica a criança cujo sexo foi objeto do sonho dos pais.

Somente quando nos colocamos na mesma situação do outro é que poderemos avaliar o que ele poderia estar passando, daí a razão de colocarmos essas situações para a nossa reflexão, esperando que cada um possa ter a capacidade de considerar tais hipóteses, na expectativa de, se for o caso, mudar seu pensamento diante da homossexualidade dos que jornadeiam conosco em busca da própria evolução moral e espiritual. Oportuno não esquecermos de que “... nenhuma coisa é de si mesmo imunda senão para aquele que a tem por imunda, ,para este é imunda”. (Rm 14,14).

O texto já estava por nós encerrado, mas um amigo após analisá-lo pediu ao seu guia para opinar sobre esse assunto. Essa mensagem, novíssima, vem arrematar tudo o que já foi dito, quanto ao preconceito, que, com a permissão dele, estamos incluindo agora ao final.

O nosso amigo advogado Raimundo de Moura Rego Filho, médium, espírita atuante na cidade do Rio de Janeiro, nos envia, por e-mail, o seguinte:



Hermes, por sentir-te por perto penso que me poderias dar um esclarecimento sobre o tema que hora estudo e d qual, preciso dar uma opinião ao autor da matéria de estudo.
Seria possível que me explicasses sobre as causas do homossexualismo? Estariam essas causas ligadas à reencarnação, com elemento fulcro, desse acometimento?
Responde Hermes:
Amado meu:
Temas como este, tão discutidos e por vezes tão insistentemente associados somente aos nossos quereres ou visões mais íntimas, têm mais das vezes, afastado irmãos de ideal espírita não só da Casa Espírita, mas de todo o entendimento que, haurido da doutrina Espírita, poderia ajudar a que eles fossem mais bem compreendidos, e por isso mesmo, tratados com mais respeito, amor e tolerância.
O mais importante em qualquer caso, querido, é o entendimento fraterno do problema, e a recondução do paciente adoecido, ao caminho do recomeço.
Ora, o que se vê, é a tônica da intolerância, do desrespeito, e por vezes os ataques e achaques mal intencionados, oriundos das assertivas, sempre baseadas no desconhecimento doutrinário, ou reforçadas pelo preconceito para com essas pessoas. São nossos irmãos em Cristo, são também eles, o nosso elemento de melhora e ascensão espiritual, ao sabermos com eles conversar, de modo doutrinário, correto e adeso às Leis do amor, da Caridade e do Progresso. Sem esses elementos, não se reeduca, não se ensina, em suma não se faz Espiritismo.
Quantos já não terão sentido o gosto do amargo fel do desprezo, o escárnio, as palavras duras com que muitos se manifestam e lhes dirigem?
Quanta dor, sofrimento e humilhação, já não haverão de ter passado? Estes, também, são nossos irmãos, meu filho.
Se voltarmos olhos ao episódio da “adúltera”, encontraremos não a condenação do Rabi, mas o julgamento sensato e amoroso que a indicou o caminho da regeneração.
Tal é assim para com esse caso em específico. Remeter-se o homem de hoje, ainda cheio de preconceitos, (e isso dos dois lados), aqueles que querem descobrir tão somente as causas, sem atacar os irmãos em provação, e daqueles por quem chegam as palavras mais duras, mais distantes, tanto do conhecimento sobre o tema, quanto da formação doutrinária, descambando para os apupos e para os acicates, brandindo seus chicotes idiomáticos como se estivessem isentos de erros, a tema tão importante e tão controverso, seria pedir não a descoberta do remédio, mas que se estabelecesse a discórdia afastante, o cisma, a cizânia, todos os desvarios a que a pouca moral humana possa encaminhar alguns irmãos, por vezes em maior desalinho do que o próprio Homossexual. Como se os Heteros formassem a nação dos eleitos, dos corretos e dos infalíveis, quanta empáfia, quanto desamor. Notas como o Evangelho, bem estudado e conhecido faz falta a essas pessoas?
Por não terem alteados os patamares morais, a ponto de entenderem o Evangelho, não entendem as premissas da doutrina Espírita.
Por não se reconfigurarem, persistindo também, nas próprias mazelas morais que já lhe são de conhecimento, tornam-se míopes aos ensinos que a própria doutrina oferece, e que lhes indicaria o caminho para a resposta que, ao que nos é permitido saber e dizer distaria, ainda para um próximo período reencarnatório, este já sob outra vibração, mais sutil e elevada, remetendo os ideais do Amor Crístico e da Fraternidade, à maior celeridade no cumprimento da Lei do Progresso.
Faze, então, teus amigos e tu mesmo, da experiência transitória nesta existência, caminho para um aprendizado mais amplo e dignificante ao espírito, para que no porvir, possam todos ajudar, sob o olhar do Cristo, a todos os doentes, da alma e do Corpo.
Até lá, amado meu, ora por eles, por estes nossos irmãos que tanto sofrem escondidamente, não os diminuam ou discriminem, esclareçam! Posto que já sofrem deveras, neste período de dor sob o qual passam suas existências, no hoje.
Amor e Paz,