terça-feira, 6 de março de 2012

Política


A sociedade propicia condições para um aperfeiçoamento interativo entre o homem e o meio social À medida que os homens progridem, dão sua contribuição para o progresso da sociedade, suas leis e mecanismos de poder. Por outro lado, esses avanços impulsionam os mais atrasados para a frente. É uma via de mão dupla

O Espiritismo e a Política

Kardec poderia ter optado por restringir o seu trabalho apenas ao estudo técnico da mediunidade. Já seria ama grande contribuição, é bem verdade, mas ele percebeu que os fenômenos que estudava tinham, pela sua natureza, forte impacto sobre a compreensão do significado da vida:
"Percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurava em toda a minha vida."
4 - KARDEC, A. "A minha primeira iniciação no Espiritismo", in: Obras Póstumas, p.268.
Vários pontos abordados por Kardec em sua obra avançam para uma análise espírita da política, não se restringindo ao estudo do mundo dos Espíritos e da mediunidade. Esses textos se encontram sobretudo em O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo e Obras Póstumas. Até mesmo em O Livro dos Médiuns dedicado ao estudo da mediunidade, aparece a sua preocupação com a contribuição do Espiritismo para a solução dos problemas humanos:
"A par das obras especiais, formigam os jornais repletos de fotos, de narrativas, de acontecimentos, de rasgos de
virtudes ou de vícios, que levantam graves problemas morais, cuja solução só 0 Espiritismo pode apresentar constituindo isso ainda um meio de se provar que ele se prende a todos os ramos da ordem social."(5)
5 - KARDEC, A. "Assuntos de estudo", in: O Livro dos Médiuns, pp.431- 432
Ouve-se muito no movimento espírita (e em outros meios) a frase "não gosto de política" ser dita com certa vaidade, como símbolo de imunidade aos erros, desvios e desmandos que os poder propicia. Não resiste à lógica esta forma de pensar e agir, pois ninguém está imune de responsabilidade pela vida social, por mais que queira se isolar. Na verdade a alegada inconsciência política e a conseqüente abstinência política são também práticas políticas, que contribuem para a manutenção das estruturas vigentes e dos grupos hegemônicos.
Os parâmetros fundamentais para a busca do progresso político, sob o ponto de vista espírita, são os seguintes:

Liberdade:

Somos Espíritos livres e, quando encamados, o livre arbítrio se toma o nosso maior instrumento de progresso material e espiritual. Tornamo-nos mais livres à medida que aprendemos a nos relacionar com a natureza e com as demais pessoas, conhecendo e respeitando os limites de cada um.

Igualdade:

Somos iguais perante Deus e nossa sociedade deve desenvolver o respeito por todos os seus integrantes, quaisquer que sejam sua origem e suas características individuais Esse respeito deve se refletir em igualdade
em influência, condições de sobrevivência e acesso aos recursos disponíveis.

Fraternidade:

A base de uma organização social sólida está no combate ao egoísmo e na reunião de esforços para o bem comum.

Espiritismo e Democracia

"A democracia é o governo no qual o povo, titular da soberania, ou a exerce diretamente ou por meio de seus representantes." (7)
7 - BARBOSA, F. A & CORBISIER, R. "Democracia', in Enciclopédia Mirador Internacional, v.7, p.3200
A democratização dos mecanismos sociais de participação e de legitima representação - a democracia formal - é uma das componentes fundamentais do progresso social. No entanto, ela não é, por si só, suficiente. A construção de uma sociedade livre, igualitária e justa a democracia real , capaz de possibilitar a todos o acesso aos recursos sociais e ao poder- requer mais do que a democracia formal. As leis e os viciados sistemas de representação não têm garantido a igualdade de direitos (brancos e negros, mulheres e homens, pobres e ricos etc.), o fim da fome e da miséria, o fim da violência, o fim das precárias condições dos serviços prestados pelo Estado.
A democracia real é um desafio social que abrange dois aspectos fundamentais: o progresso continuo dos instrumentos formais e os progresso das pessoas. O Espiritismo está comprometido com ambos.
Participação Política
O Centro Espírita tem condições de assumir um papel político relevante na sociedade, ao contribuir para a conscientização política das pessoas. O debate aberto e sento dos problemas sociais, desvinculado de interesses transitórios, de grupos e de partidos é uma conseqüência natural dos estudos espíritas. Para isso é fundamental acabarmos com a censura aos debates sociais nos estudos, que faz muitas vezes com que tampemos o sol com a peneira, deixando de ver 0 que ocorre em nosso dia-a-dia, e até mesmo evitando entender o que está escrito nas próprias obras espíritas. (V. item 5 "Participação consciente", mais adiante)
À luz das idéias espíritas, os espíritas podem se engajar em diversas atividades na sociedade, juntamente com outras pessoas, espíritas ou não, com as quais se identifiquem.
A participação pode ocorrer através de diversas entidades não governamentais como sindicatos, conselhos tutelares, associações de bairros, ecológicas, de defesa de direitos humanos, de defesa dos direitos do consumidor etc.
As organizações governamentais (esferas municipal, estadual e federal) e os mecanismos de representação formal também representam espaço para participação: no executivo, no legislativo e no judiciário. É importante notar, nesta forma de participação, a importância da organização partidária. Às vezes se observam espíritas de boa vontade(?) se envolverem e serem engolidos por partidos comprometidos com idéias conservadoras e, que, mais do que 0 povo, representam pequenos mas poderosos grupos que lutam para manter em suas mãos privilégios e poder. Já assisti a cenas em que espíritas, seguindo orientação partidária, votavam a favor de orçamentos que priorizavam obras diversas em detrimento de verbas para educação. Certamente não foi em nem uma obra espírita que buscou justificativa para este posicionamento.
Ouve-se muito que 'os partidos são todos iguais" No entanto, o estudo das propostas e, sobretudo, a atuação dos integrantes de cada um, explicarão diferenças marcantes que devem ser consideradas na escolha de um partido através do qual atuar. O sistema partidário ainda tem muito a progredir, mas é através dele que temos condição de participar das organizações governamentais.
É grande, sem dúvida, a responsabilidade envolvida na decisão de participar da política, qualquer que seja a instancia. Muitos são os interesses e as pressões. É majoritário o mecanismo de trocas ("é dando que se recebe") favorecendo poucos e marginalizando muitos.
Muitos são os casos dos que sucumbem diante de tão poderosos e bem estruturados meios de manutenção do poder vigente. Mas este quadro reforça, ainda mais, o quanto ainda há para ser feito. A responsabilidade pela omissão dói ainda mais na consciência daqueles que sabem quais são os melhores caminhos:
"A aspiração por uma ordem superior de coisas é indicio da possibilidade de atingi-la. Cabe aos homens progressistas ativar esse movimento pelo estudo e a aplicação dos meios mais eficazes."8
8 - KARDEC, A. "Liberdade, igualdade e fraternidade", in. Obras Póstumas, p.237.

Participação Consciente

A visão espírita nos permite identificar alguns princípios norteados para aprimorar a organização social. Devidamente discutidos, esses princípios estabelecem a base da contribuição espírita à atuação social. Pinçamos, diretamente de O Livro dos Espíritos, um pequeno (mas significativo) conjunto desses princípios. A leitura Completa da parte III desse livro dará
aos interessados um quadro mais completo
Principio de atuação social Referências
1 TrabalhoO trabalho é um direito e um dever de todos.
O repouso para reparação das forças e também na velhice é também um direito.
Cap. III, q.674-685
2 EducaçãoA educação intelectual e a educação moral são os maiores instrumentos de progresso nas relações no trabalho, econômicas e sociais. Capitulo III comentário à q. 685Capitulo III q. 780 e 796
3 Reprodução e ecologia"Tudo o que embaraça a natureza em sua marcha é contrário à lei geral"
O direito de destruir a Natureza está regulado pela necessidade.
Capitulo IV q.693Capitulo VI q. 734
4 Família, casamento e divórcioA união voluntária de duas pessoas e sua eventual separação (também voluntária) são chaves para constituição de casamentos e famílias autênticos, uma das bases da organização social. Capitulo IV q. 695 e 697Capitulo VII q.773-775, parte 4
Capitulo I q.939-940
5 VidaTodos tem o direito à vida e ao necessário para viver.
"Quando ela (a civilização) houver concluído a sua obra, ninguém deverá haver que possa queixar-se de lhe faltar o necessário, a, não ser por sua própria
"Numa sociedade organizada segundo a lei de Cristo ninguém deve morrer de fome."
Capitulo V q.704-710 parte 4,Capitulo I q.920-933
6 ViolênciaO assassinato e todas as demais formas de violência e crueldade devem ser coibidos.
A pena de morte deve desaparecer e "sua supressão assinalará um progresso da Humanidade”
Capitulo VI q.742 a 756Capitulo VI q. 760-765
7 ProgressoReconhece-se uma civilização completa pelo seu desenvolvimento moral. Capitulo VIII q.790-793
8 IgualdadeTodos os homens são iguais em direitos.
As desigualdades sociais desaparecerão "quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar."
Respeitadas as diferenças de natureza biológica e psicológica, o homem e a mulher possuem os mesmos direitos.
Capitulo IX q. 806 e 807 q.817 a 822
9 LiberdadeTodos os homens devem possuir a liberdade para pensar e agir
"É contrária a lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem.”
"A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso "
Capitulo X q. 829-850
10 JustiçaA base da justiça deve ser: "Queira cada um para os outros o que queira para si mesmo."
"Propriedade legitima só é a que foi adquirida sem prejuízo de outrem."
Capitulo XI q. 876-885

Participação Política do Espírita

"Porque, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?
- Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão. (Questão n° 932 de O Livro dos Espíritos)
Há uma inequívoca contribuição política, sob o aspecto filosófico que o Espiritismo oferece à sociedade humana, a fim de que ela se estruture, organize e funcione em termos de verdade, da justiça e do amor. Disseram os Espíritos: "Quando bem compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos, as relações sociais." (Questão n° 917, grifos nossos)Portanto, o espírita deve estar atento na concretiza-o da Doutrina Espírita na sociedade, apesar dos obstáculos e dificuldades semeados pelo egoísmo e pelo orgulho de pessoas e grupos. Assim, como um ser social e conseqüentemente um ser político ele deve ter uma ação social ou política. Apresentamos algumas reflexões de como o espírita deve e não deve atuar na política:
  1. Como o Espírita não deve atuar na política:
    1. Levar a política partidária para dentro do Centro ou Entidade ou do Movimento Espírita.
    2. Utilizar-se de médiuns e dirigentes espíritas para apoiar políticos partidários candidatos a cargos eletivos aos Poderes Executivos e Legislativos.
    3. Catar votos para políticos que, às vezes, dão alguma "verbinha" para asilos, creches e hospitais, mas cuja conduta política não se afina com os princípios éticos ou morais do Espiritismo.
    4. Apoiar políticos que se dizem espíritas ou cristãos mas aprovam as injustiças, as barganhas, a "politicagem" (usar a política partidária para interesses egoísticos pessoais ou de grupos a que se ligam).
    5. Participar da política apenas por interesse pessoal, para melhorar a sua vida e de sua família, divorciado em sua militância político-partidária dos princípios e normas da filosofia espírita.
  2. Como o espírita deve atuar na política:


    1. O espírita pode e deve estudar e reflexionar sobre os princípios político-filosófico-espíritas no Centro Espírita, pois eles estão contidos em O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, das Leis Morais.
    2. Através da análise, do estudo e da reflexão das normas e princípios acima referidos, o espírita deve identificar o egoísmo, o orgulho e a injustiça nas instituições humanas, denunciando-as e agindo para que elas desapareçam da sociedade humana.
    3. Confrontar os fundamentos morais e objetivos do Espiritismo com os fundamentos morais dos partidos políticos, verificando de forma coerente qual ou quais deve apoiar e até mesmo participar como membro atuante, se tiver vocação para tal.
    4. Participar de organizações e movimentos que propugnem pela justiça, pelo amor, pelo progresso intelectual, moral e físico das pessoas. Exemplo: clubes de serviço, sindicatos, associações de classes, diretórios acadêmicos, movimentos de respeito e defesa dos direitos humanos, etc.
    5. Fazer do voto um elevado testemunho de amor ao próximo. Considerando que a sociedade humana é dirigida por políticos que saem das agremiações partidárias, e suas influências podem ajudar ou atrasar a evolução intelecto-moral da humanidade, o voto, realmente, é uma forma de exprimir o amor ao próximo e à coletividade. Deve-se, pois, analisar se a conduta do candidato político-partidário tem maior ou menor relação com os princípios morais e políticos (aspecto filosófico) do Espiritismo.
    6. Participar de agremiação partidária, se tiver vocação para tal, sabendo, no entanto, da responsabilidade que assume nesse campo, já que sua militância deve sempre estar voltada para o interesse do ser humano, em seus aspectos social e espiritual.
      Para isso, sua ação política deverá estar em harmonia com os valores éticos (morais) do Espiritismo que, em última análise, são fundamentalmente os mesmos do Cristianismo.
    7. Participar conscientemente da ação política no sociedade, sem relegar o estudo e a reflexão do Espiritismo a plano secundário. Pelo contrário, o estudo e a reflexão dos temas espíritas deverão levá-lo a permanente participação, objetivando a aplicação concreta do amor e da justiça ao ser humano individual e coletiva mente.

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