segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A balsa

A balsa

Na História da Humanidade encontramos acontecimentos que nos levam a profundas reflexões.
Em 1816, uma fragata francesa encalhou próxima à costa do Marrocos. Não havia número suficiente de botes salva-vidas. Os restos do navio foram a única balsa que manteve vivas cento e quarenta e nove pessoas.
A tempestade as arrastou ao mar aberto por mais de vinte e sete dias sem rumo.
A dramática experiência dos sobreviventes impressionou a um artista. Theodoro Gericault realizou um estudo substancial dos detalhes para produzir a pintura.
Ele entrevistou os sobreviventes, os enfermos e, inclusive, viu os mortos. Horrorizado, reproduziu a íntima realidade humana nessa situação.
Seu quadro, intitulado A balsa de Medusa, retrata não somente o naufrágio do navio A Medusa, ocorrido no dia dois de julho de 1816, mas um acontecimento que comoveu a França e trouxe repercussões que tocaram o mais profundo da alma humana.
Na pintura, pode-se ver as diferentes atitudes humanas que se manifestam nos momentos cruciais da vida.
Alguns dos sobreviventes se apresentam deitados, em total abandono, sem reação alguma. Parecem simplesmente aguardar a morte inevitável.
Outros se mostram desesperançados, alheios aos demais. O olhar distante, perdido no vazio, demonstra que perderam a vontade de viver e de lutar.
Um punhado deles, no entanto, mantém a esperança acima de tudo. Tiram do corpo as próprias camisas e as agitam com força, fixando um ponto no horizonte, como se desejassem ser vistos por alguma embarcação, por alguém.
O curioso, entretanto, é que embora eles estejam balançando as vestes brancas, não há nenhum navio à vista. Nada que indique que eles serão resgatados.
*   *   *
A balsa é como o planeta Terra. Os tripulantes são a Humanidade e as atitudes que cada um toma diante da vida.
Podemos ser como os desesperançados, quando atravessamos situações difíceis e nos decidimos a simplesmente nos entregar sem luta alguma.
Podemos estar enquadrados entre aqueles que acreditam que não há solução e, assim, também não há porque se esforçar para melhorar o estado de coisas.
Podemos também ser os que duvidamos de tudo e de todos. Ou, finalmente, ser aqueles que mantemos a esperança acima de tudo, esforçando-nos para chegar à vitória, embora ela pareça estar muito, muito distante.
Afinal, decidir pela vitória em toda circunstância que a vida nos coloca é atitude de esperança.
*   *   *
Quando os problemas se multiplicam no norte da vida e os desafios ameaçam pelo sul, as dificuldades surgem pelo leste e os perigos se multiplicam no oeste, a esperança surge e resolve a situação.
Mensageira de Deus, torna-se companheira predileta da criatura humana, a serviço do bem.
É a esperança que, ante os quadros da guerra, conclama ao trabalho e à paz.
Em meio ao inverno rigoroso, inspira coragem e aponta a estação primaveril que, logo mais explodirá em cor, perfume e beleza.
Nunca se afaste da esperança!

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Chico Xavier

Mensagem de Chico Xavier


"Você nasceu no lar que precisava nascer, vestiu o corpo físico que merecia, mora onde melhor Deus lhe proporcionou, de acordo com o seu adiantamento. 
Você possui os recursos financeiros coerentes com suas necessidades… nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas. 

Seu ambiente de trabalho é o que você elegeu espontaneamente para a sua realização. 
Seus parentes e amigos são as almas que você mesmo atraiu, com sua própria afinidade. 
Portanto, seu destino está constantemente sob seu controle. 
Você escolhe, recolhe, elege, atrai, busca, expulsa, modifica tudo aquilo que lhe rodeia a existência. 

Seus pensamentos e vontades são a chave de seus atos e atitudes. São as fontes de atração e repulsão na jornada da sua vivência. 
Não reclame, nem se faça de vítima. Antes de tudo, analisa e observa. 
A mudança está em suas mãos. Reprograma sua meta, busca o bem e você viverá melhor. 
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim."

Chico Xavier

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Manoel Carlos planeja beijo gay entre Alinne Moraes e Giovanna Antonelli em novela

Manoel Carlos escalou Alinne Moraes e Giovanna Antonelli para interpretarem um casal lésbico em sua próxima novela da Globo, "Em Família".
"Giovanna será Clara, uma dona de casa comum, com uma vidinha doméstica entediante, que descobre o amor numa outra mulher [Marina, papel de Alinne Moraes]. Inicialmente muito assustada, vai aos poucos se deixando levar", disse o autor ao jornal "O Globo".
Maneco afirmou à publicação que planeja mostrar um beijo entre as duas atrizes. "O beijo é uma consequência natural de qualquer relação de amor, seja ela qual for. Não vejo nenhuma diferença. E se a relação entre Clara e Marina caminhar nesse sentido, colocarei um beijo entre elas."
O novelista lembra ainda que, na novela "Mulheres Apaixonadas" (2003), fez duas personagens --Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli)-- se beijarem no último capítulo, quando interpretavam os papéis centrais da peça "Romeu e Julieta".
Manoel Carlos disse também não acreditar ser mais fácil abordar a homossexualidade feminina em uma novela em rede nacional. "Me parece que o preconceito é mais severo e comum quando se trata de mulheres homossexuais", declarou.
"Eu não acompanho as novelas. Mal tenho tempo de seguir as minhas. Sei que existem gays em muitas delas, mas desconheço o tratamento que recebem dos autores. E é nisso que reside a diferença."
"Em Família" está prevista para estrear em janeiro de 2014, substituindo "Amor à Vida" no horário das 21h da Globo.

Fotógrafa americana registra casamento indiano entre duas mulheres

Após derrubada da lei Doma (que defende o casamento apenas entre pessoas do sexo oposto nos Estados Unidos), Shannon e Seema subiram ao altar e convidaram Steph Grant para registrar o momento inesquecível na vida do casal

A lei Doma (que defende o casamento apenas entre pessoas do sexo oposto nos Estados Unidos) foi derrubada em junho de 2013 e o casal Shannon e Seema aproveitou para oficializar a união. Vivendo no país, elas decidiram fazer a cerimônia em estilo indiano, seguindo a tradição, e contaram com um presente especial: lindas fotos da norte-americana Steph Grant.
Havia tanto amor que consumiu o SmogShoppe (local de Los Angeles onde aconteceu a recepção) naquela noite”, diz ela em seu blog. “O amor vence, sempre!”. Steph costuma dizer que seus cliques contam histórias inesquecíveis. “Ouço as histórias das pessoas e elas vivem em meu coração”. Para comprovar o que a fotografa diz, é só conferir as imagens do casamento de Shannon e Seema:

 (Foto: Steph Grant)
 (Foto: Steph Grant)
 (Foto: Steph Grant)
 (Foto: Steph Grant)
 (Foto: Steph Grant)
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DIZEM QUE SOU

Como a boa escritora que Dizem que sou, quero dividir com vocês o meu mundinho… Que, com muita licença poética, é extremamente interessante. Quando eu preciso de informação eu leio… Quando quero fantasia, eu crio. E entre realidade e ficção está crescendo no mundo literário o número de escritores – talentosíssimos – que abordam o cotidiano, anseios e sonhos do universo LGBT. E, aproveitando que semana passada foi dia do escritor (beijo pra mim), eu fui conferir essa literatura com os que estão bombando atualmente.
Começo com André Sena.
Andre SenaAndré, 39 anos, nasceu em Macaé, mas é um legítimo carioca, já que veio para o Rio de Janeiro com apenas três dias de nascido. Desde criança sonha em ser escritor, embora tenha iniciado sua carreira literária recentemente. “Acho que precisei lutar muito para sobreviver, sou um ‘self making man’*, não tive privilégios e meus pais não me deixaram bem material algum. Financiaram o quanto puderam minha educação intelectual, me legando um verdadeiro tesouro”, ele dá sua tacada inicial.
Além de escritor, é historiador na área de Relações Internacionais e Doutor em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. Ele já escrevia livros, porém na área acadêmica. De caráter pessoal e livre, o Dizem que sou, é o seu primeiro título. São narrativas, poesias e relatos sobre a homofobia carioca. O livro ainda é acompanhado por ilustrações de Jefferson Nascimento. A iniciativa de escrever sobre o tema veio naturalmente. André se baseou em experiências pessoais e, como cidadão, ele se sentiu com a responsabilidade de contribuir para o debate sobre a homofobia.
Não pude deixar de perguntar sobre seus embates pessoais. E o escritor só conseguiu contar aos pais sobre sua sexualidade aos 27 anos, depois de alcançar independência financeira. Ele se mostra arrependido e faz um importante alerta:
lgbt-inclusion“Recomendo a todos: saiam do armário o mais rápido possível! Enfrentem o mundo e vençam ainda jovens, a opressão homofóbica na família e na sociedade. Não sigam o meu exemplo. Não esse. Tenho outras qualidades. Mas, me escondi e hoje me arrependo muito disso.”
Falando em exemplo, crises de identidade são comuns a todos, e de fato revelar a sexualidade aos pais é um passo muito importante na vida de uma pessoa. Até os heterossexuais sofrem com isso. Por exemplo, quando eu tinha 20 anos minha mãe descobriu que eu perdi a virgindade, foi um Deus nos acuda. Em pleno século 21 ela sonhava que eu casasse casta. Risos.
Quem vive da arte atrela a ela um importante estímulo no sentimento chamado coragem. Ainda mais quando duas áreas se casam, como é o caso da estrela desse post. O escritor é casado há quatro anos com o bailarino Fábio Sanfer e afirma “é uma honra e ao mesmo tempo um privilégio poder ter um diálogo com a estética, me desprendendo sempre que possível da minha racionalidade como historiador”.
Tirando o trivial da entrevista, como sou muito curiosa, puxei uma pergunta para o lado literário e André me revelou o que lhe inspirou. Sua resposta foi divina:
“Minha orientação sexual é certamente e freudianamente o elemento mais estruturante da minha vida. É fundamental na maneira como vejo e interpreto o mundo. E acho isso incrível, rico e desafiador, porque aprendi a sentir orgulho do que sou. Orgulho existencial mesmo, não orgulho superficial, estampado em panfleto ou banner. Orgulho que me fortaleceu em sala de aula e acabou promovendo o maior de todos os elogios profissionais. Meu antigo coordenador acadêmico, Ronald Paschoal falava de mim em uma reunião de professores e me descreveu da seguinte maneira ‘o André é o profissional mais independente que nós temos’. Jamais vou esquecer isto, é a constatação de que cheguei a algum lugar; um lugar no mundo que sempre busquei e continuarei buscando: o da liberdade de ser.”
André não é sucesso apenas na academia ou com os seus alunos. Antes mesmo de publicar o Dizem que sou, já é, também, muito admirado pelo público heterossexual. Ele afirma inclusive que se tivéssemos alguma possibilidade de quantificar isso chegaríamos a um paradoxo. E lamenta a resistência do público LGBT, “a homossexualidade é algo complexo e difícil. Nesse sentido muitas vezes eu reconheço certa resistência da própria comunidade em prestigiar eventos homoculturais. Isso provavelmente se deve ao pavor que se tem de todos os estigmas e estereótipos em torno da homossexualidade que levam a drásticas e variadas manifestações de homofobia, como a homofobia clássica, a homofobia religiosa, a homofobia “cordial”, a homofobia familiar e a mais terrível de todas: a homofobia internalizada. O público hétero está muito mais inclinado a ler meus livros, embora desejasse muito que o público homossexual, ‘o qual tenho orgulho de pertencer’, fosse mais sensível às nossas causas, especialmente no campo das expressões culturais”. Fica a dica, pessoal!
Sem títuloO escritor está construindo sua carreira com versatilidade. Ele não faz apenas literatura homocultural, “escrevo sobre tudo”, e revela ainda que tem muita vontade de publicar algo em torno do diálogo inter-religioso, pois, é Budista. O Pastor Márcio Retamero que fez o prefácio do seu livro está trabalhando com ele na confecção de uma obra nesse sentido: Budismo e Cristianismo: um diálogo. “Tenho também o desejo de escrever um livro de poesias sobre uma das minhas mais recentes paixões. Meu companheiro é sergipano e meu amor por ele me trouxe o amor por Aracaju. Gostaria muito de lançar oDizem que sou por lá”, acrescenta.
Antes de terminar a entrevista ele ressalta que seu livro está repleto de emoções e fala especialmente de uma crônica sobre um atendente negro numa lanchonete no Centro do Rio, que sofreu preconceitos revelando a fragilidade de duas minorias diferentes: a sexual e a racial. Mas eu não vou soltar o título e nem dar mais detalhes, vocês terão que experimentar o livro. André passa seu último recado:
“Escrever é em grande medida revelar-se. Tenho enorme prazer em fazer isso e acho que alguém que está pensando em iniciar a carreira de escritor deve levar em consideração esse processo. Revelar-se é algo inerente ao exercício delicioso da escrita, com todos os seus riscos e deleites”.
E para deixar todos com água na boca e terminar a matéria, segue uma palhinha do Dizem que sou.  O lançamento será dia 16 de agosto, às 18h, na Livraria Cultura – Rua Senador Dantas, Centro do Rio.
homossexualismo_thumb“Vivemos em tempos de profundos anseios por mudanças no mundo, e isso requer de nós sensibilidade e reflexão.
Ao lado da homofobia histórica há um fenômeno cada vez mais visível em nossa sociedade: o da homofobia religiosa, ambientada no integrismo e no fundamentalismo. Outro fator visível é o da intolerância ao outro – a alteridade aparece no cotidiano, ora surpreendente, ora aberrante, mas ambos ‘desnaturalizados’, ou seja, impedidos de sua expressão na ordem do natural, do banal e do anônimo. A cidadania LGBT que vem construindo aos poucos uma agenda cada vez mais tangível enfrenta obstáculos aparentemente instransponíveis. Este livro de crônicas busca fotografar alguns acontecimentos que evidenciam nossa cultura sobre a homofobia, nosso cotidiano de intolerâncias e nossa resistência de cada dia. Todos nós, de uma forma ou outra nos reconheceremos nas páginas do Dizem que sou, o que não é nem surpreendente, nem pretensioso.”

sábado, 3 de agosto de 2013

Seja Você Mesmo (aos jovens gays, lésbicas e bissexuais)

ORIENTAÇÕES







Seja Você Mesmo (aos jovens gays, lésbicas e bissexuais)
Introdução
O mundo pode ser um lugar difícil para um jovem adolescente. Você está atravessando um dos períodos mais confusos da sua vida.
Em primeiro lugar, seu corpo está mudando mais do que jamais mudará em qualquer outra época. Seus hormônios estão trabalhando duro para mudar seu corpo e podem fazer malabarismos com seu humor. É possível que você se sinta ótimo um dia e totalmente infeliz no outro, sem nenhuma razão aparente.
As regras da vida estão mudando. Espera-se que você se comporte cada vez mais como um adulto. Você pode ter as novas responsabilidades de um adulto, como um trabalho voluntário ou um emprego de meio-período, mas é possível que não lhe sejam dados os direitos de um adulto, como chegar em casa na hora que você quiser.
Seu relacionamento com seus pais está mudando. Você está se tornando mais independente, e eles têm que aceitar que você não é mais a garotinha ou o garotinho deles, e isso não é fácil para nenhum de vocês.
E de repente, algo em que você nunca pensou até há poucos anos atrás - sexo - pode parecer a coisa mais importante do mundo.
Se você é um jovem adolescente gay, lésbica ou bissexual - ou se você acha que pode ser ou quer saber se é - esse período ainda mais confuso, porque provavelmente ninguém preparou você para isso.
Quando você era mais jovem, provavelmente seus pais ou parentes fizeram brincadeiras com você a respeito de você gostar de meninas, se você é um garoto, ou gostar de meninos se você é uma garota. Eles provavelmente falaram sobre "quando você crescer e começar a namorar" ou "quando você se apaixonar e se casar". Mas eles provavelmente nunca falaram na possibilidade de você crescer e se apaixonar por outro cara, nem de casar com outra mulher igual a você.
Quase todos os programas de TV, filmes e revistas mostram homens com mulheres. A música que você ouve fala de amor entre pessoas de sexos diferentes. Se você é um garoto, seus amigos estão provavelmente falando sobre garotas, e se você é uma menina, suas amigas vão falar sobre garotos.
Tudo isso faz as coisas ficarem mais difíceis se você sente curiosidade, atração e amor por alguém de seu mesmo sexo, porque você não vê em casa, na rua, na televisão, na escola nenhuma conversa séria sobre este assunto que se relaciona diretamente com você.
Este texto foi escrito para ajudar você - para responder algumas das suas dúvidas, para sugerir livros que você possa ler e pessoas com quem você possa conversar - e para ajudar você a entender três coisas muito importantes:
  1. Ser gay, lésbica ou bissexual é uma maneira normal e saudável de viver. É uma parte a mais do que você é - como ser alto ou baixo, branco ou negro, baiano, carioca ou paulistano.
  2. Descobrir quem você é leva tempo. É normal você estar confuso, é natural você não ter certeza se é ou não homossexual. Não há porque ter pressa: tudo bem se você demorar para descobrir qual o caminho que lhe trará maior felicidade.
  3. Você não está sozinho. Neste exato momento, dezenas de milhares de jovens adolescentes estão pensando se são gays ou querendo saber se são gays, todos tentando descobrir se eles são os únicos, todos tentando encontrar alguém para conversar sobre isso. Milhões de homens e mulheres no mundo inteiro já passaram por este caminho.
Um deles, ou outra pessoa útil, estará no outro lado da linha se você ligar para algum dos telefones indicados no fim deste texto. Estas são pessoas com quem você pode falar abertamente, comparar observações e a quem você pode pedir conselhos sobre o seu "segredo".
Este texto foi elaborado com perguntas feitas por outros adolescentes sobre ser gay . Esperamos que ele ajude você a encontrar suas próprias respostas.
Alguns conceitos e definições usadas neste tema
"Heterossexual", refere-se à pessoas cujos sentimentos sexuais e românticos são direcionados ao sexo oposto: homens que se sentem atraídos por mulheres e mulheres que se sentem atraídas por homens.
"Homossexual" , "gay" ou "lésbica" são pessoas cujos sentimentos sexuais e românticos são direcionados para o mesmo sexo: homens que se sentem atraídos por homens e mulheres que se sentem atraídas por mulheres.
"Bissexual" refere-se a pessoas cujos sentimentos sexuais e românticos são dirigidos à pessoas de ambos os sexos.
Neste texto a palavra "gay" inclui homens e mulheres homossexuais e bissexuais.
ACHO QUE É POSSÍVEL QUE EU SEJA GAY, MAS O QUE VAI ACONTECER SE EU NÃO TIVER CERTEZA?
RESPOSTA CURTA: Você saberá quando tiver que saber. Pode ser que isso demore um pouco, e não há porque ter pressa.
Alguns gays contam que, desde quando eles eram bem jovens - às vêzes até com apenas cinco ou seis anos - eles "se sentiam diferentes". Eles não tinham as paixonites de escola que seus amigos comentavam, ou tinham por amigos do mesmo sexo que eles - e ninguém tocava neste assunto.
Em muitos casos, contam eles, demorou um bom tempo para saber exatamente o que eles sentiam e começar a pensar em si mesmos como gays, lésbicas, ou bissexuais. Mas quando conheceram melhor estas palavras, tudo fez sentido - elas se encaixavam no que eles sentiam quando estavam crescendo.
Mas muitas outras pessoas não começam a entender sua orientação sexual até chegarem à adolescência ou mesmo à idade adulta - e isso pode ser muito confuso.
Quase todo mundo, mais cedo ou mais tarde, se apaixona por alguém do mesmo sexo, como um professor que se admira ou o irmão ou irmã de um amigo. O "melhor amigo" de quase todo mundo é uma pessoa do mesmo sexo. Mas nada disso significa que você é gay.
Uma ou duas experiências sexuais com alguém do mesmo sexo não significam que você é gay - assim como uma ou duas experiências com alguém do sexo oposto podem não significar que você é heterossexual. Muitos homossexuais têm algumas experiências com pessoas do sexo oposto e muitos heterossexuais têm algumas experiências sexuais com pessoas do próprio sexo.
Também é importante saber que você pode ser virgem ou ainda não ter atividade sexual e ainda assim, no fundo, você sabe que sente atração mais forte pelo próprio sexo. Seus sentimentos e atrações emocionais e físicas lhe ajudarão a saber quem você é.
Nossa sexualidade se desenvolve com o tempo. Não se preocupe se você não tiver certeza. Os anos de adolescência são uma época para se entender o que funciona para você e as paixonites e experimentações geralmente fazem parte disso. Com o tempo você descobrirá se você se sente mais atraído por homens ou por mulheres - ou por ambos - e aí você saberá. Você não precisa se auto-rotular nem assumir agora.
Mas se você acha que é gay, lésbica ou bissexual, não tenha medo e não esconda seus sentimentos de você mesmo. Isso só serve para fazer com que você não descubra sua identidade sexual - não descubra quem você é.
EU NÃO VEJO NINGUÉM ASSUMINDO QUE É GAY. SERÁ QUE SOU O ÚNICO?
RESPOSTA CURTA: Não. Os gays e lésbicas estão em toda parte.
Dr. Alfred Kinsey, um dos sexólogos mais conhecido e respeitado mundialmente, concluiu em suas pesquisas que quase ninguém é totalmente heterossexual ou totalmente gay. Ele descobriu que a maioria das pessoas sente ou sentiu alguma atração por alguém do mesmo sexo no decorrer de suas vidas, e que muitas pessoas tiveram experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo ou de ambos os sexos.
Pense nisso como uma escala, ou "continuum sexual". Num extremo da escala estão muitas pessoas que se sentem atraídas apenas pelo mesmo sexo. No outro extremo estão muitas pessoas que se sentem atraídas apenas pelo sexo oposto. E no meio estão as pessoas que se sentem atraídas pelos dois sexos.
Assim, em qualquer ponto da escala que você esteja, você está junto com muitas outras pessoas. Algumas estimativas dizem que uma de cada dez pessoas é gay. Ou seja, 10% da humanidade é constituída por homossexuais.
Existem gays e lésbicas em todos os lugares à sua volta - só que nem sempre você pode saber quem são eles. São homens, mulheres, brancos, negros, pobres, ricos, jovens e adultos. Eles são católicos, judeus, protestantes, espíritas, espiritualistas, ateus, pais e mães de santo, budistas, etc. Eles são médicos e enfermeiros, trabalhadores da construção civil, professores, estudantes, artistas, jornalistas, advogados, estudantes, secretárias, ministros, vendedores, mecânicos, empresários, policiais, políticos, atletas etc...
E quando eles eram adolescentes, a maioria provavelmente se sentia da mesma forma como você se sente. Se você sentir que está completamente sozinho, lembre-se apenas: o cantor Renato Russo, Elton John, a tenista Martina Navratilova, o deputado Gerry Studds dos Estados Unidos e milhares de outros gays e lésbicas provavelmente também se sentiam assim. Mas depois viram que os gays e lésbicas estão em todos os lugares: em cada quatro famílias, uma tem um membro homossexual.
É NORMAL SER GAY OU LÉSBICA?
RESPOSTA CURTA: É. Ser gay ou lésbica é tão natural, normal e saudável como ser heterossexual.
Ninguém sabe exatamente de que forma é determinada a orientação sexual humana: por que alguns preferem o mesmo sexo, o oposto ou os dois. Muitos cientistas acham que é uma questão genética, biológica ou psicológica: a orientação sexual de uma pessoa pode ser estabelecida antes do nascimento ou nos primeiros anos da infância.
Dr. Richard Pillar, psiquiatra da Escola de Medicina da Universidade de Boston, afirma que a homossexualidade existe "em praticamente todas as espécies animais que já tenham sido exaustivamente estudadas". A homossexualidade é tão parte da natureza quanto o é a heterossexualidade.
Ser gay não é apenas natural: ser homossexual é tão saudável quanto ser heterossexual - não importa que algumas pessoas digam o contrário. Em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria declarou que a homossexualidade não é uma doença mental, e a Associação Americana de Psicologia disse que seria anti-ético tentar mudar a orientação sexual de um gay. Também entre nós, em 1984 a Associação Brasileira de Psiquiatria, aprovou moção considerando que a homossexualidade em si não implica em prejuízo do raciocínio, estabilidade, confiabilidade ou aptidões sociais e vocacionais, opondo-se a qualquer discriminação e preconceito contra gays e lésbicas. Desde l985 o Conselho Federal de Medicina e a Organização Mundial de Saúde (l994) proibiram classificar o homossexualismo como desvio ou doença.
Assim, se você está querendo saber porque você é gay, a resposta é: algumas pessoas são gays e algumas pessoas são heterossexuais, da mesma forma como algumas pessoas têm olhos azuis e outras têm olhos castanhos. Não é algo que uma pessoa pode escolher ser ou não ser. É simplesmente mais uma parte do que você é. E quem tem de mudar não é você: são aqueles que discriminam os gays, lésbicas, negros, índios, etc.
EU PENSAVA QUE OS GAYS SE COMPORTAM TODOS DA MESMA MANEIRA. SE EU NÃO ME ENCAIXAR EM NENHUM ESTEREÓTIPO, AINDA ASSIM SOU GAY?
RESPOSTA CURTA: Ignore os estereótipos. Algumas pessoas se encaixam neles, outras não. Seja você mesmo.
Gays, assim como heterossexuais, se comportam de todas as formas. Os estereótipos nascem da ignorância e do preconceito. Às vêzes o estereótipo de um determinado grupo não se encaixa em ninguém neste grupo. Às vêzes ele se encaixa em algumas pessoas, às vêzes em mais pessoas. Mas um estereótipo nunca se encaixa em todas as pessoas de um grupo.
Por exemplo, você pode ter ouvido falar que os gays são "efeminados" e as lésbicas "masculinizadas". Bem, bastam alguns exemplos recentes para mostrar como esta afirmação é ridícula e falsa: que tal o nadador Greg Louganois, medalha de ouro nas Olimpíadas ou Alexandre Magno, o maior general da Antigüidade - os dois são gays - assim como muitos outros atletas, capoeiristas, policiais, militares, jogadores de futebol famosos, etc.
Você provavelmente vai ouvir falar também de travestis e transexuais. Travestis são pessoas que gostam de se vestir e agir como pessoas do sexo oposto. Transexuais são pessoas que querem mudar de sexo através de uma operação e depois viver suas vidas como qualquer outro homem ou mulher: é um direito humano que deve ser respeitado. Pouquíssimos são os homossexuais que gostam de se vestir com roupa do sexo oposto ou querem mudar de sexo. Você pode gostar de um homem permanecendo homem. Ser gay não faz de você um travesti nem um transexual. Procure os endereços dos grupos de travestis e transexuais para maiores informações.
Algumas pessoas reagem aos estereótipos tentando agir exatamente da forma oposta. Alguns homens heterossexuais que não estão seguros da sua sexualidade podem agir como super-machos, assim como alguns homens gays que têm medo de serem identificados como gays ou de serem discriminados. Algumas mulheres lésbicas têm atitudes muito femininas pela mesma razão. Lembre-se: você não precisa provar nada para ninguém. Apenas seja você mesmo.
PRECISO ME PREOCUPAR COM A AIDS?
RESPOSTA CURTA: Sim. Todo mundo precisa se informar sobre HIV e AIDS.
Ser jovem não protege você da AIDS. Muitas pessoas entre 20 e 30 anos que hoje estão com AIDS foram contaminados quando eram adolescentes. Não importa o que você seja - gay ou heterossexual, negro ou branco - mas sim o que faz e que o coloca em risco de contaminação pelo HIV.
A AIDS é uma doença causada por um vírus. Este vírus, chamado HIV, destrói o sistema imunológico do corpo, tornando a pessoa suscetível a doenças ou infecções fatais. Não se conhece a cura para a AIDS, e não existe uma vacina para evitá-la até o momento. Informe-se!
Você pode se contaminar pelo HIV de três formas: (1) fazendo sexo não protegido (sem preservativo) com uma pessoa contaminada; (2) compartilhando seringas e agulhas; (3) uma mulher contaminada pode passar o vírus para o bebê durante a gravidez ou o parto.
Atenção: é impossível saber se uma pessoa tem ou não o vírus da Aids só pela sua aparência. O vírus pode ficar inativo até 10 anos. Uma pessoa pode ter uma aparência saudável e ainda assim estar contaminada e contaminar outros parceiros.
Mas você pode se proteger. Nunca compartilhe agulhas nem seringas. Se você usa drogas injetáveis, procure ajuda profissional em uma clínica especializada. A única forma segura de evitar a contaminação pelo HIV através do sexo é fazendo sexo seguro, usando corretamente o preservativo. Se você é sexualmente ativo, seja homo, hetero ou bi, aprenda o que é "sexo seguro" para se proteger. Só transe com camisinha, evite penetração e ejaculação se não tiver preservativo. Beijar, abraçar, acariciar, masturbar, se apaixonar, tudo isto faz bem e não transmite Aids. Isto é sexo seguro. Atenção: se desejar mais informações sobre Aids e sexo seguro, entre em contato com uma das organizações ou serviços de Disque-AIDS listados em nossa página.
SERÁ QUE EU SEREI ACEITO COMO HOMOSSEXUAL?
RESPOSTA CURTA: Algumas pessoas vão aceitar você e outras não.
"Eu estava com medo. Aí encontrei o endereço e o telefone de um grupo de apoio para gays. Fiquei feliz por conhecer outros gays na minha cidade."
Preconceito e discriminação existem em todas as partes do mundo. Existe preconceito contra negros, contra mulheres, contra idosos, índios, contra qualquer grupo que você pensar. No Brasil, as mulheres não tinham direito de votar porque nossa sociedade achava que elas não eram suficientemente inteligentes. Embora o Movimento Feminino pelo Voto - e mais tarde o Movimento Feminista - tenha ajudado a mudar esta forma de pensar, as mulheres ainda sofrem discriminação no trabalho, na rua, na política e em casa. Superar o preconceito e mudar posturas é um processo lento. Hoje no Brasil, por incentivo da Deputada Marta Suplicy, é lei a participação nas eleições de 20% de mulheres como candidatas.
Se você é gay, você vai enfrentar preconceito. Nossa sociedade tem uma "pressuposição heterossexual". Nós somos educados - pela nossa família, pelas escolas, pelas religiões e pela imprensa - a achar que todo mundo é heterossexual, e nós somos freqüentemente influenciados a discriminar aqueles que não são. Esta "pressuposição" somente agora começa a mudar.
O preconceito que você vai encontrar pode ser moderado: por exemplo, as pessoas acharem que você é heterossexual quando você não o é, e esta falsa suposição pode lhe causar alguns constrangimentos. Mas pode ser muito pior. Gays correm o risco de serem espancados, expulsos de suas casas e despedidos dos seus empregos - simplesmente porque são gays. As pessoas geralmente temem aquilo que não entendem, e odeiam aquilo que temem. Esta é a base do preconceito e, quando este preconceito é direcionado aos gays, é chamado de "homofobia".
Felizmente a homofobia começa a ser combatida à medida que um número maior de pessoas está aprendendo que ser gay é tão normal e saudável quanto ser heterossexual. As pessoas estão começando a mudar parcialmente suas posturas porque os gays - assim como fizeram antes as mulheres, os judeus, os índios, os negros - estão começando a resistir e a dizer: "É legal ser homossexual! Sou gay e tenho orgulho do que sou!" A sociedade também está mudando de postura, porque cada vez mais pessoas estão apoiando os gays, seja um filho gay ou lésbica, seja amigos ou colegas homossexuais.
ME SINTO TÃO SÓ. COM QUEM EU POSSO CONVERSAR?
RESPOSTA CURTA: Se você se sente só, você está só - e você não precisa estar assim. Existem pessoas que podem lhe ajudar.
A menos que seus pais tenham tido uma postura muito aberta em relação a sexo, a maioria dos adolescentes provavelmente irá se sentir culpada e envergonhada em relação a qualquer sentimento ou experiência sexual, heterossexual ou gay. Alguns adultos vêem o sexo como tabu , de forma que não é uma surpresa que os adolescentes tenham muitos problemas com a sexualidade.
Além disso, não é fácil descobrir que você é gay. O preconceito que existe na nossa sociedade pode fazer com que você queira esconder o que você sente, até de você mesmo. E isso pode fazer com que você se sinta isolado e completamente sozinho.
A melhor coisa que você pode fazer é encontrar uma pessoa em que você confie e com quem você possa conversar.
Talvez alguém que você já conheça - um amigo, seu pai ou sua mãe, um irmão ou uma irmã... ou o pai, a mãe, o irmão ou a irmã mais velha de um amigo. Talvez um adulto a quem você tenha contado alguma confidência no passado, alguém em quem você sabe que pode confiar novamente.
Mas, nesse exato momento, até que você se sinta à vontade e satisfeito com você mesmo, evite conversar com alguém que você ache que pode julgar você ou alguém que possa ser anti-gay. Você pode testar a reação das pessoas levantando o assunto da homossexualidade de forma geral. Faça perguntas como: "Assisti um programa na TV sobre gays. Você conhece algum gay?" ou "Alguns garotos na escola estavam zombando de um menino que eles acham que é gay. Você não acha isso errado?" ou "Soube de uma menina que é lésbica e os pais dela a expulsaram de casa. Por que eles fizeram isso?"
Quando você fizer perguntas como essas, leve em consideração o fato de que as respostas das pessoas não são comentários pessoais a seu respeito. Elas não sabem a intenção real das suas perguntas. Elas podem fazer comentários negativos sobre gays nestas situações.
Se você não conhece ninguém com quem você se sinta à vontade para conversar, ninguém que possa lhe apoiar e compreender, comece ligando para um dos telefones das organizações listadas em nossa página. Você poderá conversar com uma outra pessoa e esclarecer suas dúvidas. Você não precisará dizer o seu nome e eles não vão tentar convencer você de nada.
Se você não se sente disposto a conversar com alguém pelo telefone, você pode se corresponder com um amigo gay, através de clubes de correspondência, ou pelo computador. E se você realmente quiser falar com alguém pessoalmente, as pessoas com quem você pode falar nos serviços telefônicos podem ajudar você a encontrar um grupo ou pessoas em sua cidade com quem você possa conversar. Lembre-se de usar seu bom senso quando for entrar em contato com qualquer pessoa. Qualquer que seja a sua escolha, conversar realmente ajuda. E você vai descobrir que não está só.
SERÁ QUE EU DEVO ME ASSUMIR?!
RESPOSTA CURTA: Só se você quiser, e quando você se sentir preparado. Não assuma só porque alguém acha que você deve fazer isso, ou num momento de angústia.
Esconder o fato de que você é gay chama-se "ficar no armário" (enrrustir). Ser aberto sobre isso chama-se "sair do armário" (assumir). Você pode assumir só para uma pessoa, para seus amigos e sua família, ou para todo mundo que você conhece. É você quem deve decidir.
Não existe razão para você assumir se você não está preparado. Às vezes existem razões muito boas para você não assumir. Existem riscos reais quando você assume. Existem pessoas que não vão aceitar você se você for gay ou lésbica, pessoas que vão fazer e dizer coisas horríveis. Estas pessoas podem ser seus pais, seus amigos, seus colegas ou seus professores, pessoas que você ama ou de quem você depende para ajuda financeira, companhia, incentivo ou outro tipo de apoio.
Mas existem também muitas boas razões para deixar que as pessoas saibam que você é gay. Esconder sua orientação sexual faz com que pessoas importantes na sua vida não conheçam uma parte importante de você. Esconder quem você é torna seus relacionamentos irreais. Mais cedo ou mais tarde, muitos gays descobrem que a solidão e o isolamento por manter este segredo é pior do que o medo de assumir. Há ainda o perigo das chantagens.
Quaisquer que sejam suas razões para achar que você deve ou não assumir, esta decisão é só sua e de mais ninguém. É também uma decisão que você deve tomar no momento certo para você. Antes de assumir para os outros, você precisa assumir para você mesmo. Isto significa não somente saber que você é gay, mas se sentir à vontade sendo gay, e ter certeza de quem você é enquanto pessoa.
Lembre-se que saber que você é gay é apenas ter consciência de mais uma parte do que você é. Você é a mesma pessoa que sempre foi; simplesmente agora você sabe mais sobre você mesmo. Muitos adolescentes gays e lésbicas aprenderam a dizer para eles mesmos: "Eu sou gay e isso é legal".
É possível que você queira, antes de assumir, saber mais sobre homossexualidade e orientação sexual, para sua própria informação e porque muitas pessoas formulam idéias erradas. Você terá orgulho de seu conhecimento se alguém lhe fizer uma pergunta ou se você quiser corrigir as mentiras que alguém disser sobre gays e lésbicas. Leia um ou mais dos livros indicados em nossa página e converse com outras pessoas iguais a você. Ao aprender sobre as experiências dessas pessoas e ao falar sobre você mesmo, você saberá mais sobre quem você é e o que deve esperar ao assumir-se. Conte seu "segredo" aos seus novos amigos gays quando você estiver sentindo-se preparado para assumir, para que eles possam lhe dar apoio.
Este tipo de sistema de apoio é realmente importante quando você está se assumindo. Você vai querer ter por perto pessoas que realmente se importam com você e que lhe ajudarão quando você precisar, seja para conversar ou apenas para lhe dar um abraço quando você estiver carente, ou para lhe oferecer um lugar para ficar, se houver necessidade. Se você ainda não tem amigos gays ou lésbicas, ligue para a sede mais próxima do grupo gay de auto-ajuda de sua cidade ou para um dos grupos indicados em nossa página. Aí certamente encontrará um amigo!
A QUEM EU DEVO CONTAR?
RESPOSTA CURTA: Para começar, só para as pessoas que você quiser que saibam.
"Eu não perco uma única reunião do meu grupo gay.Foi lá que encontrei meus melhores amigos."
Assumir não é uma coisa que você faz uma vez e depois acabou. Você pode assumir primeiro para sua família e só depois para seus amigos, ou o contrário. Você pode assumir-se primeiro apenas para seu pai ou sua mãe, ou para seu irmão ou irmã, e depois para o resto da família.
As primeiras pessoas a quem você vai contar devem ser as pessoas em quem você mais confia. Você precisa ser capaz de confiar que eles não vão ferir você, que vão aceitar você e respeitar sua privacidade e não vão contar que você é gay para ninguém que você não queira que saiba.
Pense no que você poderia perder contando para uma pessoa em particular. Se esta pessoa é seu pai ou sua mãe, será que ele ou ela poderia expulsar você de casa? Isolar você dos seus amigos? Se é um amigo, é provável que eles se afastem de você? Será que eles contariam para outros colegas na escola? O que aconteceria se eles fizessem isso?
Pense também no que você poderia perder não contando a uma pessoa em particular. Seu relacionamento com seus pais ou com seus amigos está sendo prejudicado porque você está escondendo alguma coisa deles? Você estaria mais próximo deles, e poderia receber mais apoio, se eles perceberem que você foi honesto e deu prova de amizade ao confiar-lhes seu segredo?
Pense nos tipos de coisas que você já pôde compartilhar com eles no passado e na reação que eles tiveram. Se existem pessoas para quem você gostaria de contar, mas não tem certeza de como reagiriam, tente sondá-los primeiro. Faça com que eles falem sobre um livro, um filme ou um programa de televisão sobre gays. Use perguntas abertas.
Lembre-se que a reação de alguém a um gay em um filme pode não ser a mesma se aquela pessoa for sua filha, seu irmão ou seu amigo. E isso vale nas duas direções - as pessoas podem parecer mais ou menos preconceituosas em uma situação hipotética, como um filme, do que o que eles seriam ao reagir a uma pessoa próxima a eles.
Por exemplo, como a homofobia é tão comum na nossa sociedade - e ainda é amplamente aceita - um amigo de seu pai ou de sua mãe pode, sem pensar, fazer uma piada sobre um personagem gay em um filme - ou podem fazer isso porque acham que você espera isso - mas podem ter muito mais consideração e serem muito mais compreensivos reagindo ao fato de você assumir. Por outro lado, seus pais ou amigos que parecem aceitar personagens gays na mídia podem reagir com muito menos aceitação à homossexualidade de alguém próximo a eles.
Para ter uma idéia de como alguém vai reagir quando você disser que é gay ou lésbica, tente fazer perguntas específicas, pessoais e que provoquem reflexão. Diga que você tem um amigo cujo irmão mais velho é gay e está na universidade ou prestando serviço militar. Você pode dizer alguma coisa como: "andei lendo sobre grupos gays nas universidades" ou "Andei lendo sobre gays no exército. Você ficaria chateado se seu irmão chegasse em casa e lhe contasse que é gay?" Seu amigo pode surpreender você e responder: "Meu irmão é gay" ou " Meu tio é gay " "Meu pai é gay..."
COMO FAÇO PARA CONTAR A MEUS PAIS?
RESPOSTA CURTA: Quando você estiver preparado, mas seja cuidadoso.
Muitos jovens adolescentes gays e lésbicas contam que o relacionamento entre eles e seus pais se tornou muito mais íntimo e honesto depois que eles assumiram que eram gays. Eles dizem que foi um alívio saber que não estavam mais escondendo nada.
Mas as coisas não são sempre assim. Alguns adolescentes que revelam sua homossexualidade para os pais são forçados a sair de casa. Certos pais assumem um comportamento intolerante. Algumas relações familiares não são nunca recuperadas.
Antes de você se assumir para seus pais, leve em conta algumas considerações.
"Por incrível que pareça minha avó é a pessoa que mais me apoia, e teve uma época em que eu cheguei a pensar que nunca contaria para a minha família."
Pense qual é a reação que seus pais geralmente têm aos gays. Descubra o máximo de coisas possíveis, observando seus pais ou fazendo perguntas indiretas. Eles têm amigos gays? Eles lêem livros ou assistem filmes que incluem relacionamentos homossexuais? A religião deles aceita gays? Você já os ouviu dizendo que não há nada errado em ser homossexual?
Pense na sua relação com seus pais. Eles expressam seu amor por você mesmo quando estão chateados com você? Eles continuaram próximos a você mesmo depois de você ter feito alguma coisa que eles não gostaram?
Esteja preparado. Se você tiver que sair de casa, você vai ter um lugar para ficar? Se seus pais deixarem de lhe dar dinheiro, você tem mais alguém a quem recorrer?
Se a resposta a todas estas perguntas for "não", é mais prudente não assumir sua homossexualidade para seus pais até que você tenha um lugar seguro onde ficar e uma forma de se sustentar. Você provavelmente vai se sair melhor se esperar até estar morando sozinho. Pode até ser que você decida nunca contar a eles, porque eles não entenderiam. Neste caso, mantenha as aparências, evite "dar bandeira" e tocar no assunto.
Se as respostas para todas aquelas perguntas é "sim", então provavelmente é seguro contar a eles.
Você é a única pessoa que pode responder a estas perguntas e pesar os "sim" e os "não". Confie na sua força. É quase sempre conflitante assumir a homossexualidade para os pais, mas se você está inseguro, acredite neste seu pressentimento, pois infelizmente nem todos os pais são compreensivos.
Se você decidir que pode e quer contar aos seus pais, pense nas formas de tornar isso mais fácil para eles - e para você. Tente imaginar como eles vão se sentir e quais as perguntas que eles poderão fazer, para que você esteja preparado para respondê-las. Ligue para um grupo gay de auto-ajuda e converse com alguém para que ele possa lhe contar como seus próprios pais reagiram a esta situação.
Vai ser mais fácil conversar com seus pais quando você estiver se sentindo bem com você mesmo. Assumir sua homossexualidade para a família vai exigir muita compreensão de ambas as partes. Se você estiver se sentindo confuso, isso pode aumentar a confusão deles e lhes transmitir pouca confiança no seu bom senso.
Também será melhor se você puder escolher um momento em que seus pais estejam relaxados e não estejam sob nenhuma pressão por causa de preocupações com o trabalho ou com a família. Caso contrário, eles podem sentir que não estão com tempo para lidar com isso e podem se afastar de você.
Esteja preparado para o fato de seus pais precisarem de tempo para aceitar que você é gay - da mesma forma que você provavelmente também precisou de algum tempo para superar a homofobia internalizada. Lembre-se que seus pais pertencem a uma geração mais velha que a sua - uma geração que era ainda mais homofóbica. E mesmo que seus pais aceitem os gays em geral, eles podem ficar chocados ao saber que você é gay. É provável que a princípio eles não queiram acreditar, ou pode ser que eles tentem chamar um psiquiatra para "curar" você.
Antes das associações de Psicologia e de Psiquiatria terem chegado à conclusão de que a homossexualidade é perfeitamente normal, havia um monte de teorias sobre como as pessoas se tornavam gays ou lésbicas por causa do comportamento dos pais. É possível que seus pais se preocupem com o quanto você ser gay diz sobre eles e sobre como eles falharam de alguma forma com você - e esta preocupação pode se manifestar na forma de raiva e defesa.
"Eu contei que era lésbica primeiro para a minha irmã. Depois disso eu não me senti mais tão sozinha. E então eu me senti preparada para contar a meus pais."
Seus pais podem achar que você os está rejeitando, ou que você de alguma forma arruinou os sonhos que eles tinham para você. Geralmente existe um pouco deste sentimento em todos os relacionamentos entre adolescentes e seus pais, mas à medida que os adolescentes se tornam mais independentes, os pais têm de abrir mão dos projetos que planejaram para o futuro de seus filhos e filhas. Pais que têm filhos gays podem ter este sentimento de perda e rejeição de forma ainda mais forte.
Mesmo que seus pais não reajam desta forma, eles provavelmente vão ficar preocupados com você - vão pensar se você vai correr algum perigo, se vai ser feliz, se vai ter sua própria família. Essas preocupações podem fazer com eles queiram ignorar ou negar o que você contou para eles.
É possível que eles se preocupem também em saber como irão contar para os outros parentes, vizinhos, amigos, etc. Eles também estarão iniciando seu próprio processo de assumir-se.
A melhor coisa que você pode fazer é estar preparado para perguntas - ou sugerir pessoas com quem eles possam conversar. Quanto mais você tiver lido e conversado, e quanto mais seguro aparentar, mais você convencerá seus pais de que está preparado para assumir suas próprias responsabilidades. E assim eles não se preocuparão tanto com você.
O GGB ou os grupos gays de seu estado podem ajudar bastante neste ponto - sugerindo livros, vídeos e oferecendo informações para você e para seus pais, e propiciando contato com outras famílias com filhos gays ou lésbicas, ou profissionais que possam ajudar seus pais a elaborar seus sentimentos.
E lembre-se: você não precisa contar para seus pais ao mesmo tempo. Muitos adolescentes conversaram primeiro com o pai ou com a mãe, com quem eles achavam que seria mais compreensivo ou com quem seria mais fácil falar. Reconheça, porém, que contar a apenas um deles pode causar mágoa e tensão entre seus pais - mágoa porque aquele a quem você não contou pode sentir-se desprezado quando descobrir, e tensão porque aquele a quem você contou terá agora a obrigação de explicar seu silêncio - ou de ter mantido um segredo até que você esteja pronto para falar para o outro. Pense em tudo isso, se você planejar contar a apenas seu pai ou a sua mãe.
E, o que é mais importante, assegure-se de ter outras pessoas com quem conversar, porque mesmo quando é fácil assumir para seus pais, é um momento difícil. Quanto mais apoio você tiver, melhor.
SERÁ QUE VOU PERDER MEUS AMIGOS HETEROSSEXUAIS? E ONDE VOU ENCONTRAR AMIGOS GAYS E AMIGAS LÉSBICAS?
RESPOSTA CURTA: Para a primeira pergunta - provavelmente não. E para a segunda - em todos os lugares. Somos milhões e estamos em todos os lugares!!
Muitos gays e lésbicas contam que passaram a ter mais amigos heterossexuais depois de assumir e que agora estão muito mais felizes e mais confiantes do que no tempo da "gaveta". É mais fácil ter pessoas por perto quando você não está escondendo nada delas e quando você está bem consigo mesmo.
Alguns jovens, contudo, passaram por experiências terríveis ao assumir sua homossexualidade na escola. Especialmente em cidades pequenas ou na zona rural, ou em lugares onde existem muitos adeptos de religiões fundamentalistas, a discriminação contra gays e lésbicas ainda é muito forte. E jovens também podem ser muito cruéis, especialmente quando não estão seguros de si mesmos e estão procurando maneiras de se desenvolver. Eles podem incomodar você e lhe trazer muitos problemas. O índice de abandono escolar entre jovens gays é muito alto devido à forma como são tratados. Atualmente, em Salvador e em outras cidades do Brasil existe uma lei que proíbe a discriminação com base na sua orientação sexual. É um primeiro passo para enfrentar o preconceito: cirme não é ser homossexual, mas discriminar os gays e lésbicas.
Se você quer assumir para seus amigos, tenha o cuidado de confiar apenas em amigos que respeitarão sua privacidade e confidencialidade. Amigos que gostam de fofocar podem causar problemas mesmo que não queiram magoar você.
Alguns amigos ficarão do seu lado imediatamente. (Tanto os homens quanto as mulheres dizem que é mais fácil assumir-se para uma mulher). Um ou mais amigos podem já ter adivinhado que você é gay ou lésbica. É possível que você descubra que já tem amigos gays e não sabia.
Alguns amigos vão precisar de um certo tempo para se acostumarem à idéia de que você é gay. Alguns podem achar que o fato de você lhes contar é uma forma de dar em cima deles e podem se sentir pouco à vontade por causa disso. Alguns podem se perguntar: já que você é amigo íntimo deles e é gay, eles serão gays também. Da mesma forma como você fez com seus pais, tente pensar como cada amigo pode se sentir e de que forma você pode fazer com que eles vejam que você não mudou. Exatamente como você fez com seus pais, pode ser útil oferecer a eles alguns dos livros listados.
Conversar com alguns amigos gays sobre como foi para eles a experiência de assumir-se também pode ajudar. Encontrar novos amigos gays é muito importante - amigos que saberão exatamente o que você está vivendo porque eles passaram por isso, ou estão no seu próprio processo de se assumir.
Grupos de jovens gays são uma boa forma para começar a encontrar amigos, porque lá você não vai precisar tentar descobrir se o adolescente é gay ou não. A maioria das cidades grandes tem grupos gays onde você poderá facilmente conhecer outros jovens como você. Ali você encontrará novos amigos com quem poderá trocar experiências e apoio, além de aprender mais sobre você mesmo.
Se você mora numa cidade pequena ou no campo, provavelmente vai ser difícil encontrar grupos deste tipo. Neste caso, poderá conhecer pessoas através dos clubes de correspondência e dos grupos listados nesta página. As organizações na lista de nossa página também podem lhe ajudar a encontrar grupos mais específicos de gays e lésbicas, ou outros grupos de apoio
E lembre-se: mesmo que lhe pareça que você é o único gay na sua escola, esteja certo que não é! Com uma média de 10 % de homossexuais na população, existem outros estudantes gays e lésbicas na sua escola que você provavelmente conhece , mas não sabe que são gays - ou que pode ser que não os conheceu ainda. Os gays costumam dizer brincando que eles têm uma espécie de "radar" para descobrir quem é gay e quem não é. Descobrir quem é gay, caso eles não sejam completamente assumidos, é igual a descobrir se alguém está a fim de você. Às vezes você pode identificar, às vezes não. Você fará isso mais facilmente quando tiver mais experiência.
POSSO TER MINHA PRÓPRIA FAMÍLIA?
RESPOSTA CURTA: Claro que sim. Não se pode considerar família somente os parentes de sangue, mas também a família afetiva, aquela que você constrói com seus laços de amizade e amor.
Muitos gays e lésbicas realizam cerimônias de casamento para celebrar o compromisso que têm um com o outro e para compartilhar seu relacionamento com os parentes e amigos. Embora somente poucas religiões realizem oficialmente tais cerimônias, essas posturas estão mudando pouco a pouco. Hoje está tramitando no Congresso Nacional, um projeto que visa legalizar o "contrato de união civil entre pessoas do mesmo sexo". Atualmente cada vez mais empresas, tais como Computadores Apple nos Estados Unidos, a BBC de Londres e a Associação dos Professores Universitários da Bahia, tratam os casais gays da mesma forma que os outros casais, e incluem os companheiros de seus funcionários gays e lésbicas nos seguros de saúde. A administração do presidente Clinton instituiu o termo; "você e seu outro significativo" no lugar de "você e seu cônjuge" em reconhecimento aos companheiros gays.
Muitos casais gays estão até criando filhos juntos. Algumas lésbicas recorreram à inseminação artificial para ter filhos. Outros gays e lésbicas, que se assumiram após ter tido relacionamentos heterossexuais, estão criando, com seus parceiros gays, os filhos destes relacionamentos. À medida que a postura da sociedade continua a se transformar, a adoção de crianças por casais homossexuais também se tornará mais comum. Seis estados nos Estados Unidos da América, permitem a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.
E muitos gays e lésbicas vêem seus amigos e a comunidade homossexual à sua volta como uma família. A maioria das cidades tem uma comunidade "Lesbigay" ampla e unida que pode nos dar o mesmo tipo de amor e de apoio que procuramos na nossa família.
SEJA VOCÊ MESMO
Obviamente este texto não pode responder todas as suas perguntas, inquietações e dúvidas sobre a homossexualidade. Esperamos que ele lhe dê algumas pistas por onde começar sua felicidade. Você não precisa estar sozinho quando for explorar sua identidade sexual. Os grupos e instituições indicados no final deste livrinho lhe ajudarão nesta caminhada: ali você encontrará informações, respostas e amigos.
Você vai aprender que o melhor conselho é ser você mesmo. Se você é gay, lésbica ou bissexual, você logo vai descobrir que tem o poder de formar e de definir seu processo de assumir-se - para fazer dele uma experiência única em sua vida. Embora o processo de assumir-se coloque à sua frente perguntas e situações nunca enfrentadas antes, você também vai descobrir grandes alegrias nesta jornada de descoberta.
É possível que você sinta necessidade de apoio durante esta jornada. Por isso, procuramos listar serviços telefônicos de ajuda para gays, telefones de ajuda geral, endereços e dicas de acesso a grupos e organizações pelo computador, clubes de correspondência entre gays, serviços telefônicos sobre HIV/AIDS, organizações; livros recomendados para adolescentes gays, lésbicas e bissexuais e seus pais, parentes e amigos; e revistas e boletins para a comunidade homossexual. Boa sorte!

O PRECONCEITO NÃO EXISTE PQ EU SOU GAY. EXISTE PQ VC É IGNORANTE.




Ney Matogrosso Ardente!
Aos 65 de idade, o cantor Ney Matogrosso se despe de qualquer tipo de preconceito num bate-papo esclarecedor sobre sexualidade

Eu não posso deixar de te contar uma coisa, Ney, já que vamos conversar sobre sexualidade. Um jornalista que trabalhava comigo numa revista costumava dizer: “Se eu descobrir que o meu filho é gay, eu coloco pra fora de casa”!!!!!...
... E ele vai transformar esse filho num marginal. Pra você ver o tamanho do amor desse pai pra esse filho.
Ele comentava isso antes de a esposa engravidar. O filho nasceu e ele continuou afirmando a mesma coisa.
Isso demonstra quem ele é: “adoooooooora” o filho. Coloca a expectativa dele na frente das necessidades do filho, se o filho tiver alguma. Mas é muito comum a gente ouvir: “Prefiro que meu filho seja ladrão do que ‘viado’ ”. Que ridículo! Quem fala isso é uma pessoa totalmente desinformada. Isso é ignorância. É uma pessoa que não tem nenhum esclarecimento mental.
Quem falou isso é um jornalista!
Mas ele é um ignorante.
Eu não me conformava de ter que conviver no trabalho todo dia com uma pessoa que tinha uma cabeça tão pequena. Não tenho o mínimo preconceito, aliás, o meu melhor amigo e a minha melhor amiga são gays.
Essa gente tem mentalidade antiga. Quando a pessoa coloca o filho pra fora de casa por causa da sua sexualidade, aí, sim, ele vai ser marginalizado, pode até se transformar num travesti. Nem tenho nada contra eles, mas acho que não deve ser uma vida fácil, de estar se prostituindo. É uma vida marginal. Eu acho que quase todos esses meninos que estão se prostituindo como travestis é porque foram expulsos de casa. Há exceções, claro.
Você se declara homossexual, Ney?
Eu já transei com muitas mulheres e com muitos homens. Eu acho que esse rótulo “homossexual” é muito recente, do final do século 19. Essa palavra não existia e ela se referia a homens que transavam com muitas mulheres. Quer dizer, “homem sexual, sexualidade masculina exacerbada, homossexual”... Não sei por que transformaram o sentido dessa palavra. Isso o que eu estou falando pra você, Cléo, é científico, não estou inventando. Homossexual, heterossexual, isso tudo é uma bobagem. É tudo sexualidade humana. Tudo isso são rótulos, é mais uma forma de manipulação, é uma palhaçada. Isso não interessa. O que importa é a liberdade de se expressar sexualmente. O ideal é que todo mundo se expresse livremente tanto com homens ou com mulheres, do jeito que bem entender. Acho que isso não deve ter nome.
Como eu vou te perguntar isso? Estou completamente constrangida pelo respeito que eu tenho por você e pelo ser humano que você é... Enfim... Como você se enquadra sexualmente?
Eu não me enquadro em nada. Sou uma pessoa muito sexualizada e manifesto a minha sexualidade da maneira que o momento permita (gargalhadas).

Pára de rir, Ney. Assim, não consigo fazer a entrevista (risos).
Mas o que eu vou falar pra você, Cléo? (gargalhadas). Falando sério, agora. Sei que eu sou rotulado como homossexual. Mas são as pessoas que me rotulam assim. Eu não me rotulo dessa maneira, eu não assumo nada, não assumo que eu tenha que ser de alguma maneira só porque as pessoas acham isso sobre mim. Sou um ser humano normal, como qualquer outro.
E por que te rotulam?
Porque eu admito que transo com homens. Só por isso. Não tenho porque esconder nada.
Como a imprensa descobriu isso?
Em 73, mais ou menos, me perguntaram e eu falei. O que acontecia era o seguinte: em 73, quando a imprensa conversava comigo sobre sexualidade, eu falava claramente sobre a MINHA sexualidade. Aí, quando eu lia a matéria, o texto era completamente diferente do que eu declarei, falava sobre o amor. E eu pensava: “Mas eu não falei nada sobre o amor, eu falei sobre sexo”. É que, naquela época, existia uma proibição de se tocar claramente sobre esse assunto porque estávamos na ditadura. Os jornalistas sabem alguma coisa sobre mim porque eu mesmo falei, nunca tive problemas em relação a isso. Eu tive problemas antes de resolver isso comigo mesmo. A partir do momento que eu resolvi, deixou de ser um problema.
Você enfrentou quais os tipos de problemas com a sua sexualidade?
Eu tinha muito medo disso, medo de transar com homens e virar um estereótipo. Aí, eu entendi que você pode transar com quem você quiser – com homem ou com mulher. Mulher com mulher, homem com homem – e não precisa virar nada. Esses estereótipos são muito chatos, tipo “mulher machona”, “homem “viadinho”... O mais atraente é você continuar a ser uma pessoa normal.
Eu te conheço há tantos anos, Ney, há quase 30 anos! Cheguei a discutir com algumas pessoas por causa disso. É que a gente vê você no palco e, lá, você é outra pessoa. Conversando assim, frente a frente, você é completamente diferente. Eu achava que você fazia um tipo.
Não, Cléo! (risos). Eu transo com homens, sim. Mas já transei com muitas mulheres. Neste momento, não transo mais com mulher. Inevitavelmente, a relação vira um romance. Não quero isso. Não quero me relacionar com ninguém que tenha que virar casamento. E com mulher é impossível você escapar disso. E todas elas querem casar. Até as mulheres mais loucas que eu conheci, as mais liberadas, no fundo, no fundo, elas queriam casar. Gosto de viver sozinho. Isso não significa que eu não possa ter um relacionamento com alguém, não possa ter pessoas com quem eu transe – mas eu não quero me casar mais, nem com homem nem com mulher. A não ser que caia um raio sobre a minha cabeça que me faça mudar de idéia. Pode acontecer! (risos).
Na primeira entrevista que eu fiz com você, em 79, eu tinha 19 anos. Você comentou de uma filha sua que teria hoje dois anos a menos que eu.
Supostamente, Cléo. Essa filha apareceu e eu falei pra ela: “Vamos fazer um teste de DNA”. Ficou comprovado que eu não sou o pai dela. Se existe alguma filha que eu tenho, está perdida no mundo e eu desconheço.
Como a sua família reagiu diante da sua sexualidade? Seus pais eram preconceituosos?
Meu pai era militar, só pra você ter uma idéia. Mas eu assumi minha sexualidade num momento em que eu já estava fora de casa há muito tempo e era dono do meu próprio nariz, vivendo às minhas custas. Eu não tinha que pedir licença nem dar satisfação pra ninguém. Meu pai tocou nesse assunto uma única vez. Sabe qual foi o choque dele, Cléo?

Nem imagino.
Meu pai via que na minha casa tinha um trânsito de homens e mulheres. Ele ficou muito incomodado e me disse: “Você tem que se definir, está errado não se definir”. Eu falei pra ele que eu não precisava me definir em nada, que não tinha nada de errado. Fiquei chocado de o meu pai achar que o erro era eu não me definir sexualmente. Eu achei que o meu pai iria ficar grilado pelo fato de eu transar com homens, não de eu não ser definido. Se você gosta de transar com homem e mulher já está definido, não é? Foi a única vez que tocamos nesse assunto.
E como a sua mãe reagiu?
Não faço a menor idéia, nunca perguntei! Ela nunca me disse nada e eu também não. Minha mãe nunca teve problemas com relação a isso e ela conheceu várias pessoas com quem eu namorei. Nunca vi sequer torcer o seu nariz. Meu pai também não. Uma vez ele foi ao Rio de Janeiro e eu namorava um judeu. Meu pai sempre teve admiração pelo povo judeu. Quando eles se conheceram, ele ficou íntimo amigo do meu namorado. Eu achava aquilo tão estranho! Eu pensei que meu pai não iria aceitar o contato com uma pessoa que ele sabia que tinha uma história comigo. E ficou íntimo amigo...
O que os pais devem fazer ao descobrir que o filho é gay?
Eu acho que você tem que acolher uma pessoa que você ama, independente da circunstância. Se você ama uma pessoa, você precisa acolher, ser um apoio pra ela em qualquer situação. Isso é um princípio humano, não é só na relação entre pai e filho. Até se a pessoa se transformar num marginal, num assassino, você precisa ser a sua estrutura e ser um apoio pra ela. Estou falando até num extremo exagerado.
Eu tenho uma curiosidade. Como a homossexualidade desperta na pessoa? Porque existem várias teses: a pessoa nasce assim, é a convivência com outras pessoas, é uma doença...
Desde a minha infância eu sabia que eu era uma criança diferente. Só que eu não sabia o que era. Meus amigos eram extrovertidos e eu era introvertido, eu era hipersensível, tinha dons artísticos. O grande problema com o meu pai era esse. Ele percebia que eu era um menino diferente. Eu não tinha consciência de que isso significasse alguma coisa. Pra mim, eu era daquele jeito. Só fui entender muito tempo depois, já na adolescência, que isso tinha a ver com atração por pessoas do mesmo sexo. Não fui um adolescente namorador. A minha primeira relação sexual foi aos 13 anos e foi com uma mulher – e eu gostei. Não tive nenhum trauma. Você me perguntou como isso desperta na pessoa. Eu acho que a gente nasce assim. Mas eu sempre me entendi diferente.
E você é a mesma pessoa até hoje desde quando eu te conheci.
Sim, sou exatamente a mesma pessoa que eu me entendi quando eu tinha cinco ou seis anos de idade. Eu sou aquele. Só que, com o passar do tempo, fui me permitindo experimentar coisas novas. Na verdade, a minha sexualidade despertou depois que eu me tornei artista. Antes, eu passava até dois anos sem transar com ninguém. Eu não tinha essa sexualidade aflorada. Liberei depois dos 30 anos.
O palco colaborou pra isso?
O palco foi um estimulador. Na medida em que eu liberava isso pras pessoas, isso passou a ser uma verdade pra mim.
Eu já te perguntei isso uma vez, mas acho bacana ressaltar. Comentei como chega aos seus ouvidos as pessoas gritarem “gostoso” durante o seu show, tanto homem quanto mulher. Você respondeu que estimula a sexualidade nas pessoas.
A minha manifestação no palco estimula mesmo a sexualidade nas pessoas. Isso eu ouço delas, não é uma tese minha. Recebo cartas me dizendo isso, de pessoas de muita idade comentando que isso não existia mais na vida delas e que, depois de me verem no palco, reconhecem que a sexualidade faz parte da vida delas. Fico feliz de poder mostrar pras pessoas que elas estão vivas. Agora, como elas vão resolver, não é um problema meu.
Uma cena interessante que eu presenciei em um dos seus shows aqui em São Paulo, o Vagabundo, foi uma mulher casada largar o marido na mesa pra te levar um cartaz... Ela gritava “gostoso” na frente do palco, e o marido ficou lá na mesa, sozinho...
Eu acho que os maridos não devem ter ciúme disso – muitos maridos têm e são grilados. Não vai acontecer nada. Aquilo lá, que elas consideram “gostoso” , é uma sereia, aquilo não existe – dura uma hora e meia e desaparece. Quando eu saio do palco, não sou aquele, não sou aquilo. Não tenho necessidade daquilo. Em relação ao que você falou, de homens e mulheres gritarem “gostoso” pra mim, eu emano essa sexualidade, mas indistintamente.
Você falaria sobre o Cazuza?
Eu falo do Cazuza, sim, sempre falei do Cazuza.
Quanto tempo vocês ficaram juntos?
Foram só três meses, mas muuuuuuuuito intensos. E ficamos pro resto da vida juntos, como amigos. O Nélson Motta escreveu no livro dele que eu fiquei com o Cazuza quando ele era cantor – não foi nada disso. Minha história com o Cazuza aconteceu em 79, ele não era nem artista, era fotógrafo da gravadora Som Livre. Foram três meses de relacionamento com labaredas de dois metros de altura. Mas acabou e a gente nunca mais se afastou. Sempre fomos amigos, não houve aquele mês de separação.
Nossa! Eu achava que você tivesse ficado com ele numa época mais pra frente.
As pessoas deturpam tudo. No livro do Nelsinho, ele justifica que eu gravei a música Pro Dia Nascer Feliz porque eu era apaixonado pelo Cazuza. E não era nada disso – eu gravei porque eu tinha admiração pelo Cazuza e porque a música era ótima. Fui apaixonado por ele em 79 (fomos apaixonados, foi recíproco).
Eu assisti ao filme Cazuza. Cadê você no filme, Ney????
É a pergunta que todos fazem e que a diretora e o produtor do filme devem responder. A diretora foi na minha casa e eu contei tudo pra ela – desde o momento em que eu conheci o Cazuza até o último dia em que a gente se viu. Falei de toda a nossa trajetória. Sei lá, disseram pra mim que eu era um personagem tão grande que não cabia em apenas duas entradas do filme. O que eu vou fazer? Cortar meus pulsos? (gargalhadas).
Mas não tem sentido sequer mencionar seu nome no filme, Ney.
Não tem sentido mesmo.
O Cazuza morreu porque era portador do vírus HIV. Como você consegue preservar a sua saúde?
Hoje, existe a camisinha, mas na época fui poupado e não sei por que razão. Isso não tem explicação. Eu pergunto pros médicos qual a explicação pra isso e ninguém me dá uma resposta. Não existem aquelas prostitutas africanas, que transam com todo mundo e não adquirem a doença? Eu não sei o que acontece comigo. A partir do momento em que eu soube da existência da Aids, no primeiro teste que eu fiz e vi que não era portador da doença, passei a usar camisinha. Mas, antes, a camisinha era usada apenas pra não procriar e, mesmo assim, pouquíssimas pessoas usavam.
Uso que a igreja católica inclusive condena...
A igreja católica é ridícula.