sexta-feira, 12 de novembro de 2010

IRMÃO MAIOR


IRMÃO MAIOR

Obrigado, Pai, por nos ter dado Jesus e ter permitido que nosso Irmão Maior até nós chegasse e junto a nós tivesse deixado, através do amor, o exemplo do trabalho verdadeiro de ajuda aos pobres e sofredores.

Obrigado, Senhor, e permita que Jesus esteja sempre presente onde existam a dor e o desespero, alertando-nos para o trabalho, ajudando-nos ao esquecimento de nós próprios, para que possamos estar junto ao Mestre, hoje, amanhã e sempre.

Assim seja!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Falsos Irmãos e Amigos Inábeis




Falsos Irmãos e Amigos Inábeis


Como demonstramos em nosso artigo precedente, nada poderia prevalecer contra o destino providencial do Espiritismo. Do mesmo modo que ninguém pode impedir a queda daquilo que, pelos decretos divinos – homens, povos ou coisas – deve cair, ninguém pode deter a marcha daquilo que tem de avançar. Em relação ao Espiritismo, esta verdade ressalta dos fatos realizados e, muito mais ainda, de outro ponto capital. Se o Espiritismo fosse uma simples teoria, um sistema, poderia ser combatido por outro sistema; mas repousa sobre uma lei da Natureza, tão bem quanto o movimento da Terra. A existência dos Espíritos é inerente à espécie humana; não se pode impedir que existam, como não se lhe pode impedir a manifestação, do mesmo modo que não se impede o homem de marchar. Para isso não necessitam de nenhuma permissão e se riem de toda a proibição, pois não se deve perder de vista que, além das manifestações naturais e espontâneas, que se produziram em todos os tempos e que se produzem diariamente num grande número de pessoas que jamais ouviu falar de Espíritos. Quem, pois, poderia opor-se ao desenvolvimento de uma lei da Natureza? Sendo obra de Deus, insurgir-se contra ela é revoltar-se contra Deus. Estas considerações explicam a inutilidade dos ataques dirigidos contra o Espiritismo. O que os espíritas têm a fazer em presença dessas agressões é continuar pacificamente seus trabalhos, sem fanfarrice, com a calma e a confiança dadas pela certeza de chegar ao fim.

Todavia, se nada pode deter a marcha geral, há circunstâncias que podem provocar entraves parciais, como uma pequena barragem pode retardar o curso de um rio, sem o impedir de correr. Deste número são as atitudes irrefletidas de certos adeptos, mais zelosos que prudentes, que não calculam bem o alcance de seus atos ou de suas palavras, produzindo, por isso mesmo, uma impressão desfavorável sobre as pessoas ainda não iniciadas na doutrina, mais próprias a afastá-las que as diatribes dos adversários. Sem dúvida o Espiritismo está muito espalhado; contudo, estaria ainda mais se todos os adeptos tivessem seguido os conselhos da prudência e guardado uma prudente reserva. Sem dúvida é preciso levar-lhes em conta a intenção, mas é certo que mais de um tem justificado o provérbio: Mais vale um inimigo confesso que um amigo inconveniente. O pior disto é fornecer armas aos adversários, que sabem explorar habilmente uma inconveniência. Nunca seria demais recomendar aos espíritas que refletissem maduramente antes de agir. Não tendo em vista senão o bem da causa, o verdadeiro espírita sabe fazer abnegação do amor próprio. Crer em sua própria infalibilidade, recusar o conselho da maioria e persistir num caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é atitude de um verdadeiro espírita. Seria dar prova de orgulho, se não de obsessão.

Entre as inabilidades é preciso colocar em primeira linha as publicações intempestivas ou excêntricas, por serem os fatos de maior repercussão. Nenhum espírita ignora que os Espíritos estão longe de possuir a soberana ciência; muitos dentre eles sabem menos que certos homens e, como certos homens também, têm a pretensão de tudo saber. Sobre todas as coisas têm sua opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa. Ora, ainda como os homens, em geral os que têm idéias mais falsas são os mais obstinados. Esses pseudo-sábios falam de tudo, constroem sistemas, criam utopias ou ditam as coisas mais excêntricas, sentindo-se felizes quando encontram intérpretes complacentes e crédulos que lhes aceitam as elocubrações de olhos fechados. Esse tipo de publicação tem grave inconveniente, pois o médium, iludido e muitas vezes seduzido por um nome apócrifo, tem-na como coisa séria, de que se apodera a crítica prontamente para denegrir o Espiritismo, ao passo que, com menos presunção, bastaria que se tivesse aconselhado com os colegas para ser esclarecido. É muito raro, neste caso, que o médium não ceda às injunções de um Espírito que, ainda como certos homens, quer ser publicado a qualquer preço. Com mais experiência ele saberia que os Espíritos verdadeiramente superiores aconselham, mas não impõem nem adulam jamais, e que toda prescrição imperiosa é um sinal suspeito.

Quando o Espiritismo estiver completamente implantado e conhecido, as publicações desta natureza não terão mais inconvenientes que os maus tratados de ciência em nossos dias. Mas, repetimos, no começo elas incomodam muito. Em matéria de publicidade, portanto, toda circunspeção é pouca e não se calcularia com bastante cuidado o efeito que talvez produzisse sobre o leitor. Em resumo, é um grave erro crer-se obrigado a publicar tudo quanto ditam os Espíritos, porque, se há os bons e esclarecidos, também os há maus e ignorantes. Importa fazer uma escolha muito rigorosa de suas comunicações e suprimir tudo quanto for inútil, insignificante, falso ou susceptível de produzir má impressão. É preciso semear, sem dúvida, mas semear a boa semente e em tempo oportuno.

Passemos a um assunto ainda mais grave: os falsos irmãos. Os adversários do Espiritismo – alguns pelo menos, já que os pode haver de boa fé – não são, como se sabe, tão escrupulosos quanto à escolha dos meios. Para eles toda luta é válida; e quando não podem tomar uma fortaleza de assalto, minam-na. Em falta de boas razões, que são armas leais, vemo-los todos os dias vomitar mentiras e calúnias sobre o Espiritismo. A calúnia é odiosa, bem o sabem, e a mentira pode ser desmentida; assim, procuram fatos para justificar-se. Mas como encontrar fatos comprometedores entre pessoas sérias, senão os produzindo mesmo ou pelos filiados? Como vimos, o perigo não está no ataque aberto, nem nas perseguições, nem mesmo na calúnia. Está nas intrigas ocultas empregadas para desacreditar e arruinar o Espiritismo por si mesmo. Serão bem sucedidos? É o que vamos examinar agora.

Já chamamos a atenção para essa manobra no relatório de nossa viagem de 1862, porque, em nosso caminho, recebemos três beijos de Judas, com os quais não nos enganamos, embora não nos tivéssemos manifestado. Aliás, tínhamos sido prevenidos antes de nossa partida das armadilhas que nos seriam estendidas. Mas ficamos de olho, certo de que um dia seriam desmascarados, porque é tão difícil a um falso espírita, quanto a um mau Espírito, simular um Espírito superior. Nem um nem outro podem sustentar por muito tempo o seu papel.

De várias localidades nos indicam criaturas, homens e mulheres de antecedentes e ligações suspeitas, cujo aparente zelo pelo Espiritismo apenas inspira uma medíocre confiança e não nos surpreendemos de aí encontrar os três judas de que falamos: Da parte deles é muitas vezes mais que zelo; é entusiasmo, uma admiração fanática. Em sua opinião, seu devotamento vai até o sacrifício de seus interesses e, apesar disto, não atraem simpatias: um fluido malsão parece envolvê-los e sua presença nas reuniões lança um manto de gelo. Acrescente-se que existem alguns, cujos meios de subsistência se tornam um problema, sobretudo na província, onde todo o mundo se conhece.

O que caracteriza principalmente esses pretensos adeptos é a tendência a fazer o Espiritismo sair dos caminhos da prudência e da moderação por seu ardente desejo do triunfo da verdade; a estimular as publicações excêntricas; a extasiar-se de admiração ante as comunicações apócrifas mais ridículas, e que têm o cuidado de espalhar; a provocar nas reuniões assuntos comprometedores sobre política e religião, sempre pelo triunfo da verdade, que não pode ficar debaixo do alqueire; seus elogios aos homens e às coisas são bajulações de arrepiar: são os fanfarrões do Espiritismo. Outros são mais afetados e hipócritas; com olhar oblíquo e palavras melífluas sopram a discórdia enquanto pregam a união. Suscitam com habilidade a discussão de questões irritantes ou ferinas, capazes de provocar dissidências. Excitam uma inveja de predominância entre os vários grupos e ficariam contentíssimos se os vissem a se apedrejarem e, em favor de algumas divergências de opinião sobre certas questões de forma ou de fundo, geralmente provocadas, erguem bandeira contra bandeira.

Alguns, ao que dizem, contraem enorme despesa com livros espíritas, de que os livreiros não se dão conta, e uma excessiva propaganda. Mas, por obra do acaso, a escolha de seus adeptos é infeliz; uma fatalidade os leva a se dirigirem de preferência a pessoas exaltadas, de idéias obtusas ou que já deram sinais de aberração; depois de um insucesso que deploram gritando em toda parte, constata-se que essa gente se ocupava do Espiritismo, do qual, a maior parte do tempo, não entendia patavina. Aos livros espíritas que esses zelosos apóstolos distribuem generosamente, muitas vezes adicionam, não críticas, pois seria falta de habilidade, mas livros de magia e feitiçaria ou escritos políticos pouco ortodoxos, ou ignóbeis diatribes contra a religião, a fim de que, surgindo um malogro qualquer, fortuito ou não, se possa confundir tudo numa verificação posterior.

Como é mais cômodo ter as coisas à mão, para ter comparsas dóceis, o que não se encontra em toda parte, alguns organizam ou fazem organizar reuniões onde se ocupam de preferência daquilo que o Espiritismo recomenda não se ocuparem, e onde se tem o cuidado de atrair estranhos, que nem sempre são amigos. Aí o sagrado e o profano estão indignamente confundidos; os mais venerados nomes são associados às mais ridículas práticas da magia negra, acompanhadas de sinais e palavras cabalísticas, talismãs, tripés sibilinos e outros acessórios. Alguns acrescentam, como complemento, e por vezes, visando ao lucro, a cartomancia, a quiromancia, a borra de café, o sonambulismo pago, etc. Espíritos complacentes, que aí encontram intérpretes não menos complacentes, predizem o futuro, lêem a buena-dicha, descobrem tesouros ocultos e tios na América e, caso necessário, indicam a cotação da Bolsa e os números premiados da loteria. Depois, um belo dia, a justiça intervém ou a gente lê num jornal a descrição de uma sessão de Espiritismo à qual o autor assistiu e conta o que viu com os próprios olhos.

Tentareis trazer toda essa gente a idéias mais sãs? Seria trabalho perdido, e compreende-se por que: a razão e o lado sério da doutrina não lhes interessa; é o que mais os contraria; dizer-lhes que prejudicam a causa, que fornecem armas aos inimigos é lisonjeá-los; seu objetivo é desacreditá-la, tendo o ar de a defender. Instrumentos, não temem comprometer os outros, fazendo que sofram os rigores da lei, nem a si mesmos, pois sabem encontrar uma compensação.

Nem sempre seu papel é idêntico; varia conforme a posição social, as aptidões, a natureza de suas relações e o elemento que os faz agir, embora o fim seja sempre o mesmo. Nem todos empregam meios tão grosseiros, mas não menos pérfidos. Lede certas publicações que são simpáticas à idéia, mesmo as que aparentam defendê-la; examinai todos os pensamentos e vede se, às vezes, ao lado de uma aprovação posta à guisa de cobertura e de etiqueta, não descobris, como que lançado ao acaso, um pensamento insidioso, uma insinuação de duplo sentido, um fato relatado de modo ambíguo e que pode ser interpretado num sentido desfavorável. Entre estes, uns são menos velados e, sob o manto do Espiritismo, visam suscitar divisões entre os adeptos.

Certamente perguntarão se todas as torpezas de que acabamos de falar se devem, invariavelmente, a manobras ocultas ou a uma comédia com fins interesseiros, ou se, também, não podem resultar e um movimento espontâneo; numa palavra, se todos os espíritas são homens de bom-senso e incapazes de se enganar?

Pretender que todos os espíritas sejam infalíveis seria tão absurdo quanto a pretensão dos nossos adversários de deterem o privilégio exclusivo da razão. Mas se alguns se enganam, é que se equivocam quanto ao sentido e ao fim da doutrina. Neste caso sua opinião não pode fazer lei, e é ilógico e desleal, conforme a intenção, tomar a idéia individual pela idéia geral, e explorar uma exceção. Seria o mesmo que tomar as aberrações de alguns sábios como regras da ciência. A esses diremos: se quiserdes saber de que lado está a presunção da verdade, estudai os princípios admitidos pela imensa maioria, se não, pela unanimidade absoluta dos espíritas do mundo inteiro.

Podem, pois, os crentes de boa-fé enganar-se e não os incriminamos por não pensarem como nós. Se, entre as torpezas relatadas acima, algumas não passassem de opinião pessoal, nelas não veríamos senão desvios isolados, lamentáveis; seria, porém, injusto responsabilizar a doutrina, que as repudia abertamente. Mas se dizemos que pode ser o resultado de manobras interesseiras, é que nosso quadro é feito sobre modelos. Ora, como é a única coisa que o Espiritismo tem realmente a temer no momento, convidamos todos os adeptos sinceros a se porem em guarda, evitando as armadilhas que lhes poderiam estender. Para tanto, jamais seriam bastante circunspetos quanto à escolha dos elementos a introduzir nas reuniões, nem repeliriam com excessivo cuidado as sugestões que tendessem a desnaturar o caráter essencialmente moral. Mantendo nisto a ordem, a dignidade e a gravidade que convém a homens sérios, que se ocupam com coisas sérias, fecharão o acesso aos mal-intencionados, que se retirarão quando reconhecerem que aí nada têm a fazer. Pelos mesmos motivos, devem declinar de toda solidariedade com as reuniões formadas fora das condições prescritas pela sã razão e os verdadeiros princípios da doutrina, se não os puderem conduzir ao bom caminho.

Como se vê, há certamente uma grande diferença entre os falsos irmãos e os amigos inábeis, mas, sem o querer, o resultado pode ser o mesmo: desacreditar a doutrina. A nuança que os separa freqüentemente está apenas na intenção, o que, por vezes, poderia confundi-los, e, vendo-os servir os interesses do partido contrário, supor que por este foram conquistados. A circunspeção, pois, sobretudo neste momento, é mais necessária que nunca, porquanto não devemos esquecer que palavras, ações ou escritos inconsiderados são explorados, e que os adversários estão satisfeitíssimos por poderem dizer que isto vem dos espíritas.

Neste estado de coisas, compreende-se que armas a especulação, tendo em vista os abusos que pode suscitar, haverá de oferecer aos detratores para apoiar a acusação de charlatanice. Em certos casos, portanto, isto pode ser uma armadilha, da qual se deve desconfiar. Ora, como não há charlatanice filantrópica, a abnegação e o desinteresse absolutos dos médiuns tiram aos detratores um de seus mais poderosos meios de denegrir, cortando pela raiz toda discussão a respeito.

Levar a desconfiança ao excesso seria um grave erro, sem dúvida, mas, em tempos de luta e quando se conhece a tática do inimigo, a prudência torna-se uma necessidade que, aliás, não exclui a moderação nem a observação das conveniências, das quais não devemos jamais nos separar. Por outro lado não nos poderíamos equivocar quanto ao caráter do verdadeiro espírita; há nele uma franqueza de atitudes que desafia toda suspeição, sobretudo quando corroborada pela prática dos princípios da doutrina. Que se levante bandeira contra bandeira, como procuram fazer nossos antagonistas: o futuro de cada um está subordinado à soma de consolações e satisfações morais que elas trazem. Um sistema não pode prevalecer sobre outro senão sob a condição de ser mais lógico, e só a opinião pública pode julgar com soberania. Em todo o caso, a violência, as injúrias e a acrimônia são maus antecedentes e uma recomendação ainda pior.

Resta examinar as conseqüências desse estado de coisas. Tais intrigas podem, incontestavelmente, levar a algumas perturbações parciais, momentâneas, razão por que é preciso abortá-las tanto quanto possível. Contudo, não poderiam prejudicar o futuro: primeiramente, porque não terão tempo, desde que são manobras da oposição, que cairá pela força das coisas; em segundo lugar porque, digam o que disserem, jamais tirarão à doutrina seu caráter distintivo, sua filosofia racional e sua moral consoladora. Por mais que a torturem e deturpem, por mais que façam falar os Espíritos à sua vontade ou reúnam comunicações apócrifas para lançar contradições de permeio, não farão prevalecer um ensino isolado, ainda que verdadeiro ou imaginário, contra o que é dado por toda parte. O Espiritismo se distingue de todas as outras filosofias pelo fato de não ser o produto da concepção de um só homem, mas de um ensino que cada um pode receber em todos os pontos do globo, e tal é a consagração que recebeu O Livro dos Espíritos. Escrito sem equívocos possíveis e ao alcance de todas as inteligências, esse livro será sempre a expressão clara e exata da doutrina e a transmitirá intacta aos que vierem depois de nós. As cóleras que excita são indícios do papel que ele é chamado a representar, e da dificuldade de lhe opor algo de mais sério. O que fez rápido sucesso da doutrina espírita são as consolações e as esperanças que dá. Todo sistema que, pela negação dos princípios fundamentais, tendesse a destruir a própria fonte dessas consolações, não poderia ser acolhido com simpatia.

Não se deve perder de vista que estamos, como já o dissemos, em momento de transição, e que nenhuma transição se opera sem conflito. Não se admirem, pois, de ver agitarem-se as paixões em jogo, as ambições comprometedoras, as pretensões malogradas, e cada um tentar recuperar o que vê escapar, agarrando-se ao passado. Mas, pouco a pouco tudo isto se extingue, a febre se acalma, os homens passam e as idéias ficam. Espíritas, elevai-vos pelo pensamento, olhai vinte anos para a frente e o presente não vos inquietará.

AMIZADE: UM TESOURO A SER CONQUISTADO

AMIZADE:
UM TESOURO A SER CONQUISTADO

Redação do Momento Espírita
http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=51&let=A&stat=0

Pesquisadores da universidade de Yale, nos Estados Unidos da América, realizaram um estudo com dez mil executivos Seniors para medir o poder da amizade na qualidade de vida dos americanos.

O resultado foi impressionante: ter amigos reduzia em nada menos que 50% o risco de morte, sobretudo por doenças, num período de cinco anos. Estas informações foram publicadas por um jornal carioca, recentemente, nos convidam a pensar a respeito das amizades que cultivamos.

Muitos de nós temos facilidades para fazer novos amigos. Mas, nem sempre temos habilidade suficiente para manter essas amizades. É que, pelo grau de intimidade que os amigos vão adquirindo em nossas vidas, nos esquecemos de os respeitar.

Assim, num dia difícil, acreditamos que temos o direito de gritar com o amigo. Afinal, com alguém devemos desabafar a raiva que nos domina. Porque estamos juntos muitas horas, justamente por sermos amigos, nos permitimos usar para com eles de olhares agressivos, de palavras rudes.

Ou então, usamos os nossos amigos para a lamentação constante. Todos os dias, em todos os momentos em que nos encontramos, seja para um lanche, um passeio, uma ida ao teatro ou ao cinema, lá estamos nós, usando os ouvidos dos nossos amigos como lixeira.

É isso mesmo. Despejando neles toda a lama da nossa amargura, das nossas queixas, das nossas reclamações. Quase sempre, produto da nossa forma pessimista de ver a vida. Sim, nossos amigos devem saber das dificuldades que nos alcançam para nos poderem ajudar. O que não quer dizer que devamos estragar todos os momentos de encontro, de troca de afetos, com os nossos pedidos, a nossa tristeza.

Os amigos também têm suas dificuldades e para nos alegrar, procuram esquecê-las e vêm, com sua presença, colocar flores na nossa estrada árida. Outras vezes, nos permitimos usar nossos amigos para brincadeiras tolas, até de mau gosto. Acreditando que eles, por serem nossos amigos, devem suportar tudo. E quase sempre nos tornamos inconvenientes e os machucamos.

Por isso, a melhor fórmula para fazer e manter amigos é usar a gentileza, a simpatia, a doçura no trato com as pessoas.

Lembremos que a amizade, como o amor, necessita ser alimentada como as plantas do nosso jardim. Por isso a amizade necessita, para se manter da terra fofa da bondade, do sol do afeto, da chuva da generosidade, da brisa leve dos pequenos gestos de todos os dias.

* * *

Usa a cortesia nos teus movimentos e ações, gerando simpatia e amizade.

Podes começar no teu ambiente de trabalho. Os que trabalham contigo merecem a tua consideração e o teu respeito.

Torna-os teus amigos. Por isso, no trato com eles, usa as expressões: por favor, muito obrigado.

Lembra-te de dizer bom dia, com um sorriso, desejando de verdade que eles todos tenham um bom dia.

Observa e ajuda quanto puderes, gerando clima de simpatia.

Sê amigo de todos e espalha o perfume da amizade por onde vás e onde estejas.

Amai os vossos inimigos


Amai os vossos inimigos
Retribuir o mal com o bem

1. Aprendestes que foi dito: "Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos." Eu, porém, vos digo: "Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. - Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?" (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)

- "Digo-vos que, se a vossa justiça não for mais abundante que a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no reino dos céus."(S. MATEUS, cap. V, v. 20.)

2. "Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que os amam? - Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? - Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. - Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus." (S. LUCAS, cap. VI, vv. 32 a 36.)

3. Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.

Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas idéias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.

A diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes, resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se deva estabelecer diferença alguma entre eles e os amigos. Se este preceito parece de difícil prática, impossível mesmo, é apenas por entender-se falsamente que ele manda se dê no coração, assim ao amigo, como ao inimigo, o mesmo lugar. Uma vez que a pobreza da linguagem humana obriga a que nos sirvamos do mesmo termo para exprimir matizes diversos de um sentimento, à razão cabe estabelecer as diferenças, conforme aos casos.

Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao contacto de um amigo. Amar os Inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos.

4. Amar os inimigos é, para o incrédulo, um contra-senso. Aquele para quem a vida presente é tudo, vê no seu inimigo um ser nocivo, que lhe perturba o repouso e do qual unicamente a morte. pensa ele, o pode livrar. Daí, o desejo de vingar-se. Nenhum interesse tem em perdoar, senão para satisfazer o seu orgulho perante o mundo. Em certos casos, perdoar-lhe parece mesmo uma fraqueza indigna de si. Se não se vingar, nem por isso deixará de conservar rancor e secreto desejo de mal para o outro.

Para o crente e, sobretudo, para o espírita, muito diversa é a maneira de ver, porque suas vistas se lançam sobre o passado e sobre o futuro, entre os quais a vida atual não passa de um simples ponto. Sabe ele que, pela mesma destinação da Terra, deve esperar topar aí com homens maus e perversos; que as maldades com que se defronta fazem parte das provas que lhe cumpre suportar e o elevado ponto de vista em que se coloca lhe torna menos amargas as vicissitudes, quer advenham dos homens, quer das coisas. Se não se queixa das provas, tampouco deve queixar-se dos que lhe servem de instrumento. Se, em vez de se queixar, agradece a Deus o experimentá-lo, deve também agradecer a mão que lhe dá ensejo de demonstrar a sua paciência e a sua resignação. Esta idéia o dispõe naturalmente ao perdão. Sente, além disso, que quanto mais generoso for. tanto mais se engrandece aos seus próprios olhos e se põe fora do alcance dos dardos do seu inimigo.

O homem que no mundo ocupa elevada posição não se julga ofendido com os insultos daquele a quem considera seu inferior. O mesmo se dá com o que, no mundo moral, se eleva acima da humanidade material. Este compreende que o ódio e o rancor o aviltariam e rebaixariam. Ora, para ser superior ao seu adversário, preciso é que tenha a alma maior, mais nobre, mais generosa do que a desse último.

Os inimigos desencarnados

5. Ainda outros motivos tem o espírita para ser indulgente com os seus inimigos. Sabe ele, primeiramente, que a maldade não é um estado permanente dos homens; que ela decorre de uma imperfeição temporária e que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom,

Sabe também que a morte apenas o livra da presença material do seu inimigo, pois que este o pode perseguir com o seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra; que, assim, a vingança, que tome, falha ao seu objetivo, visto que, ao contrário, tem por efeito produzir maior irritação, capaz de passar de uma existência a outra. Cabia ao Espiritismo demonstrar, por meio da experiência e da lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, que a expressão: extinguir o ódio com o sangue é radicalmente falsa, que a verdade é que o sangue alimenta o ódio, mesmo no além-túmulo. Cabia-lhe, portanto, apresentar uma razão de ser positiva e uma utilidade prática ao perdão e ao preceito do Cristo: Amai os vossos inimigos. Não há coração tão perverso que, mesmo a seu mau grado, não se mostre sensível ao bom proceder. Mediante o bom procedimento, tira-se, pelo menos, todo pretexto às represálias, podendo-se até fazer de um inimigo um amigo, antes e depois de sua morte. Com um mau proceder, o homem irrita o seu inimigo, que então se constitui instrumento de que a justiça de Deus se serve para punir aquele que não perdoou.

6. Pode-se, portanto, contar inimigos assim entre os encarnados, como entre os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua malevolência pelas obsessões e subjugações com que tanta gente se vê a braços e que representam um gênero de provações, as quais, como as outras, concorrem para o adiantamento do ser, que, por isso; as deve receber com resignação e como conseqüência da natureza inferior do globo terrestre. Se não houvesse homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus ao seu derredor. Se, conseguintemente, se deve usar de benevolência com os inimigos encarnados, do mesmo modo se deve proceder com relação aos que se acham desencarnados.

Outrora, sacrificavam-se vítimas sangrentas para aplacar os deuses infernais, que não eram senão os maus Espíritos. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo demonstra que esses demônios mais não são do que as almas dos homens perversos, que ainda se não despojaram dos instintos materiais; que ninguém logra aplacá-los, senão mediante o sacrifício do ódio existente, isto é, pela caridade; que esta não tem por efeito, unicamente, impedi-los de praticar o mal e, sim, também o de os reconduzir ao caminho do bem e de contribuir para a salvação deles. E assim que o mandamento: Amai os vossos inimigos não se circunscreve ao âmbito acanhado da Terra e da vida presente; antes, faz parte da grande lei da solidariedade e da fraternidade universais.

Se alguém vos bater na face direita, apresentai-lhe também a outra
7. Aprendestes que foi dito: olho por olho e dente por dente. - Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal que vos queiram fazer; que se alguém vos bater na face direita, lhe apresenteis também a outra; - e que se alguém quiser pleitear contra vós, para vos tomar a túnica, também lhes entregueis o manto; - e que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil. - Dai àquele que vos pedir e não repilais aquele que vos queira tomar emprestado. (S. MATEUS, cap. V, vv. 38 a 42.)

8. Os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar "ponto de honra" produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a retribuir uma injúria com outra injúria, uma ofensa com outra, o que é tido como justiça por aquele cujo senso moral não se acha acima do nível das paixões terrenas. Por isso é que a lei moisaica prescrevia: olho por olho, dente por dente, de harmonia com a época em que Moisés vivia. Veio o Cristo e disse: Retribui o mal com o bem. E disse ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra." Ao orgulhoso este ensino parecerá uma covardia, porquanto ele não compreende que haja mais coragem em suportar um insulto do que em tomar uma vingança, e não compreende, porque sua visão não pode ultrapassar o presente.

Dever-se-á, entretanto, tomar ao pé da letra aquele preceito? Tampouco quanto o outro que manda se arranque o olho, quando for causa de escândalo. Levado o ensino às suas últimas conseqüências, importaria ele em condenar toda repressão, mesmo legal, e deixar livre o campo aos maus, isentando-os de todo e qualquer motivo de temor. Se se lhes não pusesse um freio as agressões, bem depressa todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da Natureza, obsta a que alguém estenda o pescoço ao assassino. Enunciando, pois, aquela máxima, não pretendeu Jesus interdizer toda defesa, mas condenar a vingança. Dizendo que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros. E, ao mesmo tempo, a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação de orgulho. Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio. Daí vem o repetirmos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

A vingança

9. A vingança é um dos últimos remanescentes dos costumes bárbaros que tendem a desaparecer dentre os homens. E, como o duelo, um dos derradeiros vestígios dos hábitos selvagens sob cujos guantes se debatia a Humanidade, no começo da era cristã, razão por que a vingança constitui indício certo do estado de atraso dos homens que a ela se dão e dos Espíritos que ainda as inspirem. Portanto, meus amigos, nunca esse sentimento deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e proclame espírita. Vingar-se é, bem o sabeis, tão contrário àquela prescrição do Cristo: "Perdoai aos vossos inimigos", que aquele que se nega a perdoar não somente não é espírita como também não é cristão. A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto tem por companheiras assíduas a falsidade e a baixeza. Com efeito, aquele que se entrega a essa fatal e cega paixão quase nunca se vinga a céu aberto. Quando é ele o mais forte, cai qual fera sobre o outro a quem chama seu inimigo, desde que a presença deste último lhe inflame a paixão, a cólera, o ódio. Porém, as mais das vezes assume aparências hipócritas, ocultando nas profundezas do coração os maus sentimentos que o animam. Toma caminhos escusos, segue na sombra o inimigo, que de nada desconfia, e espera o momento azado para sem perigo feri-lo. Esconde-se do outro, espreitando-o de contínuo, prepara-lhe odiosas armadilhas e, em sendo propícia a ocasião, derrama-lhe no copo o veneno, Quando seu ódio não chega a tais extremos, ataca-o então na honra e nas afeições; não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas a todos os ventos, se vão avolumando pelo caminho. Em conseqüência, quando o perseguido se apresenta nos lugares por onde passou o sopro do perseguidor, espanta-se de dar com semblantes frios, em vez de fisionomias amigas e benevolentes que outrora o acolhiam. Fica estupefato quando mãos que se lhe estendiam, agora se recusam a apertar as suas. Enfim, sente-se aniquilado, ao verificar que os seus mais caros amigos e parentes se afastam e o evitam, Ah! o covarde que se vinga assim é cem vezes mais culpado do que o que enfrenta o seu inimigo e o insulta em plena face.

Fora, pois, com esses costumes selvagens! Fora com esses processos de outros tempos! Todo espírita que ainda hoje pretendesse ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tem como divisa: Sem caridade não há salvação! Mas, não, não posso deter-me a pensar que um membro da grande família espírita ouse jamais, de futuro, ceder ao impulso da vingança, senão para perdoar. - Júlio Olivier. (Paris, 1862.)

O ódio

10. Amai-vos uns aos outros e sereis felizes. Tomai sobretudo a peito amar os que vos inspiram indiferença, ódio, ou desprezo. O Cristo, que deveis considerar modelo, deu-vos o exemplo desse devotamento, Missionário do amor, ele amou até dar o sangue e a vida por amor, Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio. Se bem a lei de amor mande que cada um ame indistintamente a todos os seus irmãos, ela não couraça o coração contra os maus procederes; esta é, ao contrário, a prova mais angustiosa, e eu o sei bem, porquanto, durante a minha última existência terrena, experimentei essa tortura. Mas Deus lá está e pune nesta vida e na outra os que violam a lei de amor. Não esqueçais, meus queridos filhos, que o amor aproxima de Deus a criatura e o ódio a distancia dele. - Fénelon, (Bordéus, 1861.)

O duelo

11. Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida uma viagem que o há de conduzir a determinado ponto, pouco caso faz das asperezas da jornada e não deixa que seus passos se desviem do caminho reto. Com o olhar constantemente dirigido para o termo a alcançar, nada lhe importa que as urzes e os espinhos ameacem produzir-lhe arranhaduras; umas e outros lhe roçam a epiderme, sem o ferirem, nem impedirem de prosseguir na caminhada. Expor seus dias para se vingar de uma injúria é recuar diante das provações da vida, é sempre um crime aos olhos de Deus; e, se não fôsseis, como sois, iludidos pelos vossos prejuízos, tal coisa seria ridícula e uma suprema loucura aos olhos dos homens.

Há crime no homicídio em duelo; a vossa própria legislação o reconhece. Ninguém tem o direito, em caso algum, de atentar contra a vida de seu semelhante: é um crime aos olhos de Deus, que vos traçou a linha de conduta que tendes de seguir. Nisso, mais do que em qualquer outra circunstância, sois juizes em causa própria. Lembrai-vos de que somente vos será perdoado, conforme perdoardes; pelo perdão vos acercais da Divindade, pois a clemência e irmã do poder. Enquanto na Terra correr uma gota de sangue humano, vertida pela mão dos homens, o verdadeiro reino de Deus ainda se não terá implantado aí, reino de paz e de amor, que há de banir para sempre do vosso planeta a animosidade, a discórdia, a guerra. Então, a palavra duelo somente existirá na vossa linguagem como longínqua e vaga recordação de um passado que se foi. Nenhum outro antagonismo existirá entre os homens, afora a nobre rivalidade do bem. - Adolfo, bispo de Argel. (Marmande, 1861.)

12. Em certos casos, sem dúvida, pode o duelo constituir uma prova de coragem física, de desprezo pela vida, mas também é, incontestavelmente, uma prova de covardia moral, como o suicídio. O suicida não tem coragem de enfrentar as vicissitudes da vida; o duelista não tem a de suportar as ofensas, Não vos disse o Cristo que há mais honra e valor em apresentar a face esquerda aquele que bateu na direita, do que em vingar uma injúria? Não disse ele a Pedro, no jardim das Oliveiras: "Mete a tua espada na bainha, porquanto aquele que matar com a espada perecerá pela espada?" Assim falando, não condenou, para sempre, o duelo? Efetivamente, meus filhos, que é essa coragem oriunda de um gênio violento, de um temperamento sangüíneo e colérico, que ruge à primeira ofensa? Onde a grandeza dalma daquele que, à menor injúria, entende que só com sangue a poderá lavar? Ah! que ele trema! No fundo da sua consciência, uma voz lhe bradará sempre: Caim! Caim! que fizeste de teu irmão? Foi-me necessário derramar sangue para salvar a minha honra, responderá ele a essa voz, Ela, porem, retrucará: Procuraste salvá-la perante os homens, por alguns instantes que te restavam de vida na Terra, e não pensaste em salvá-la perante Deus! Pobre louco! Quanto sangue exigiria de vós o Cristo, por todos os ultrajes que recebeu! Não só o feristes com os espinhos e a lança, não só o pregastes num madeiro infamante, como também o fizestes ouvir, em meio de sua agonia atroz, as zombarias que lhe prodigalizastes, Que reparação a tantos insultos vos pediu ele? O último brado do cordeiro foi unia súplica em favor dos seus algozes! Oh! como ele, perdoai e oral pelos que vos ofendem.

Amigos, lembrai-vos deste preceito: "Amai-vos uns aos outros" e, então, a um golpe desferido pelo ódio respondereis com um Sorriso, e ao ultraje com o perdão. O mundo, sem dúvida, se levantará furioso e vos tratará de covardes; erguei bem alto a fronte e mostrai que também ela se não temeria de cingir-se de espinhos, a exemplo do Cristo, mas, que a vossa mão não quer ser cúmplice de um assassínio autorizado por falsos ares de honra, que, entretanto, não passa de orgulho e amor-próprio. Dar-se-á que, ao criar-vos, Deus vos outorgou o direito de vida e de morte, uns sobre os outros? Não, só à Natureza conferiu ele esse direito, para se reformar e reconstruir; quanto a vós, não permite, sequer, que disponhais de vós mesmos. Como o suicida, o duelista se achará marcado com sangue, quando comparecer perante Deus, e a um e outro o Soberano Juiz reserva rudes e longos castigos. Se ele ameaçou com a sua justiça aquele que disser raca a seu irmão, quão mais severa não será a pena que comine ao que chegar à sua presença com as mãos tintas do sangue de seu irmão! -Santo Agostinho. (Paris, 1862.)

13. O duelo, como o que outrora se denominava o juízo de Deus, é uma das instituições bárbaras que ainda regem a sociedade. Que diríeis, no entanto, se vísseis dois adversários mergulhados em água fervente ou submetidos ao contacto de um ferro em brasa, para ser dirimida a contenda entre eles, reconhecendo-se estar a razão com aquele que melhor sofresse a prova? Qualificaríeis de insensatos esses costumes, não é exato? Pois o duelo é coisa pior do que tudo isso. Para o duelista destro, é um assassínio praticado a sangue frio, com toda a premeditação que possa haver, uma vez que ele está certo da eficácia do golpe que desfechará. Para o adversário, quase certo de sucumbir em virtude de sua fraqueza e inabilidade, é um suicídio cometido com a mais fria reflexão, Sei que muitas vezes se procura evitar essa alternativa igualmente criminosa, confiando ao acaso a questão: - mas, não é isso voltar, sob outra forma, ao juízo de Deus, da Idade Média? E nessa época infinitamente menor era a culpa. A própria denominação de juízo de Deus indica a fé, ingênua, é verdade, porém, afinal, fé na justiça de Deus, que não podia consentir sucumbisse um inocente, ao passo que, no duelo, tudo se confia à força bruta, de tal sorte que não raro é o ofendido que sucumbe.

Ó estúpido amor-próprio, tola vaidade e louco orgulho, quando sereis substituídos pela caridade cristã, pelo amor do próximo e pela humildade que o Cristo exemplificou e preceituou? Só quando isso se der desaparecerão esses preceitos monstruosos que ainda governam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir, porque não basta interditar o mal e prescrever o bem; é preciso que o princípio do bem e o horror ao mal morem no coração do homem. - Um Espírito protetor. (Bordéus, 1861.)

14. Que juízo farão de mim, costumais dizer, se eu recusar a reparação que se me exige, ou se não a reclamar de quem me ofendeu? Os loucos, como vós, os homens atrasados vos censurarão; mas, os que se acham esclarecidos pelo facho do progresso intelectual e moral dirão que procedeis de acordo com a verdadeira sabedoria. Refleti um pouco. Por motivo de uma palavra dita às vezes impensadamente, ou inofensiva, vinda de um dos vossos irmãos, o vosso orgulho se sente ferido, respondeis de modo acre e daí uma provocação. Antes que chegue o momento decisivo, inquiris de vós mesmos se procedeis como cristãos? Que contas ficareis devendo à sociedade, por a privardes de um de seus membros? Pensastes no remorso que vos assaltará, por haverdes roubado a uma mulher o marido, a uma mãe o filho, ao filho o pai que lhes servia de amparo? Certamente, o autor da ofensa deve uma reparação; porém, não lhe será mais honroso dá-la espontaneamente, reconhecendo suas faltas, do que expor a vida daquele que tem o direito de se queixar? Quanto ao ofendido, convenho em que, algumas vezes, por ele achar-se gravemente ferido, ou em sua' pessoa, ou nas dos que lhe são mais caros, não está em jogo somente o amor-próprio: o coração se acha magoado, sofre. Mas, além de ser estúpido arriscar a vida, lançando-se contra um miserável capaz de praticar infâmias, dar-se-á que, morto este, a afronta, qualquer que seja, deixa de existir? Não é exato que o sangue derramado imprime retumbância maior a um fato que, se falso, cairia por si mesmo, e que, se verdadeiro, deve ficar sepultado no silêncio? Nada mais restará, pois, senão a satisfação da sede de vingança. Ah! triste satisfação que quase sempre dá lugar, já nesta vida, a causticantes remorsos. Se é o ofendido que sucumbe, onde a reparação?

Quando a caridade regular a conduta dos homens, eles conformarão seus atos e palavras a esta máxima: "Não façais aos outros o que não quiserdes que vos façam." Em se verificando isso, desaparecerão todas as causas de dissensões e, com elas, as dos duelos e das guerras, que são os duelos de povo a povo. - Francisco Xavier, (Bordéus, 1861.)

15. O homem do mundo, o homem venturoso, que por uma palavra chocante, uma coisa ligeira, joga a vida que lhe veio de Deus, joga a vida do seu semelhante, que só a Deus pertence, esse é cem vezes mais culpado do que o miserável que, impelido pela cupidez, algumas vezes pela necessidade, se introduz numa habitação para roubar e matar os que se lhe opõem aos desígnios. Trata-se quase sempre de uma criatura sem educação, com imperfeitas noções do bem e do mal, ao passo que o duelista pertence, em regra, à classe mais culta. Um mata brutalmente, enquanto que o outro o faz com método e polidez, pelo que a sociedade o desculpa. Acrescentarei mesmo que o duelista é infinitamente mais culpado do que o desgraçado que, cedendo a um sentimento de vingança, mata num momento de exasperação. O duelista não tem por escusa o arrebatamento da paixão, pois que, entre o insulto e a reparação, dispõe ele sempre de tempo para refletir. Age, portanto, friamente e com premeditado desígnio; estuda e calcula tu do, para com mais segurança matar o seu adversário. E certo que também expõe a vida e é isso o que reabilita o duelo aos olhos do mundo, que nele então só vê um ato de coragem e pouco caso da vida. Mas, haverá coragem da parte daquele que está seguro de si? O duelo, remanescente dos tempos de barbárie, em os quais o direito do mais forte constituía a lei, desaparecerá por efeito de uma melhor apreciação do verdadeiro ponto de honra e à medida que o homem for depositando fé mais viva na vida futura. -Agostinho. (Bordéus, 1861.)

16. NOTA. Os duelos se vão tornando cada vez mais raros e, se de tempos a tempos alguns de tão dolorosos exemplos se dão, o número deles não se pode comparar com o dos que ocorriam outrora. Antigamente, um homem não saía de casa sem prever um encontro, pelo que tomava sempre as necessárias precauções. Um sinal característico dos costumes do tempo e dos povos se nos depara no porte habitual, ostensivo ou oculto, de armas ofensivas ou defensivas. A abolição de semelhante uso demonstra o abrandamento dos costumes e é curioso acompanhar-lhes a gradação, desde a época em que os cavaleiros só cavalgavam bardados de ferro e armados de lança, até a em que uma simples espada à cinta constituía mais um adorno e um acessório do brasão, do que uma arma de agressão. Outro indício da modificação dos costumes está em que, outrora, os combates singulares se empenhavam em plena rua, diante da turba, que se afastava para deixar livre o campo aos combatentes, ao passo que estes hoje se ocultam. Presentemente, a morte de um homem é acontecimento que causa emoção, enquanto que, noutros tempos, ninguém dava atenção a isso.

O Espiritismo apagará esses últimos vestígios da barbárie, incutindo nos homens o espírito de caridade e de fraternidade.

CAPÍTULO XIII

Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita
Fazer o bem sem ostentação

1. Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos céus. -Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. - Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; - a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. - (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)

2. Tendo Jesus descido do monte, grande multidão o seguiu. - Ao mesmo tempo, um leproso veio ao seu encontro e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, poderás curar-me. - Jesus, estendendo a mão, o tocou e disse: Quero-o, fica curado; no mesmo instante desapareceu a lepra. - Disse-lhe então Jesus: abstém-te de falar disto a quem quer que seja; mas, vai mostrar-te aos sacerdotes e oferece o dom prescrito por Moisés, a fim de que lhes sirva de prova. (S. MATEUS, cap. VIII, vv. 1 a 4.)

3. Em fazer o bem sem ostentação há grande mérito; ainda mais meritório é ocultar a mão que dá; constitui marca incontestável de grande superioridade moral, porquanto, para encarar as coisas de mais alto do que o faz o vulgo, mister se torna abstrair da vida presente e identificar-se com a vida futura; numa palavra, colocar-se acima da Humanidade, para renunciar à satisfação que advém do testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que prefere ao de Deus o sufrágio dos homens prova que mais fé deposita nestes do que na Divindade e que mais valor dá à vida presente do que à futura. Se diz o contrário, procede como se não cresse no que diz.

Quantos há que só dão na esperança de que o que recebe irá bradar por toda a parte o benefício recebido! Quantos os que, de público, dão grandes somas e que, entretanto, às ocultas, não dariam uma só moeda! Foi por isso que Jesus declarou: "Os que fazem o bem ostentosamente já receberam sua recompensa." Com efeito, aquele que procura a sua própria glorificação na Terra, pelo bem que pratica, já se pagou a si mesmo; Deus nada mais lhe deve; só lhe resta receber a punição do seu orgulho.

Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa modéstia, o simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá, tendo, porém, o cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para verificar se alguém não o terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são depreciados entre os homens, que não será perante Deus? Também esses já receberam na Terra sua recompensa. Foram vistos; estão satisfeitos por terem sido vistos. E tudo o que terão.

E qual poderá ser a recompensa do que faz pesar os seus benefícios sobre aquele que os recebe, que lhe impõe, de certo modo, testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir a sua posição, exaltando o preço dos sacrifícios a que se vota para beneficiá-lo? Oh! para esse, nem mesmo a recompensa terrestre existe, porquanto ele se vê privado da grata satisfação de ouvir bendizer-lhe do nome e é esse o primeiro castigo do seu orgulho. As lágrimas que seca por vaidade, em vez de subirem ao Céu, recaíram sobre o coração do aflito e o ulceraram. Do bem que praticou nenhum proveito lhe resulta, pois que ele o deplora, e todo benefício deplorado é moeda falsa e sem valor.

A beneficência praticada sem ostentação tem duplo mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples aparências capazes de melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o sofrimento que se origina da necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade, quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como beneficiado diante daquele a quem presta serviço. Eis o que significam estas palavras: "Não saiba a mão esquerda o que dá a direita."

Os infortúnios ocultos

4. Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres. Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.

Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida? Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente. Aonde vai ela? Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. E que ela vai acalmar ali todas as dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar. O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família. Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família. No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita. Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação. A noite, um concerto de benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.

Por que tão singelo traje? Para não insultar a miséria com o seu luxo. Por que se faz acompanhar da filha? Para que aprenda como se deve praticar a beneficência. A mocinha também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz: "Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu? Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu mérito? Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso? Não é justo. Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa. Não te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti." É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou. E espírita ela? Que importa!

Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos. Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora. "Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a ninguém." Falava assim Jesus.

O óbolo da viúva

5. Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. - Nisso, veio também uma pobre que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. - Chamando então seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio; - por isso que todos os outros deram do que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu sustento. (SÃO MARCOS, cap. XII, vv. 41 a 44. - S. LUCAS, cap. XXI. vv. 1 a 4.)

6. Multa gente deplora não poder fazer todo o bem que desejara, por falta de recursos suficientes, e, se desejam possuir riquezas, é, dizem, para lhes dar boa aplicação. E sem dúvida louvável a intenção e pode até nalguns ser sincera. Dar-se-á, contudo, seja completamente desinteressada em todos? Não haverá quem, desejando fazer bem aos outros, muito estimaria poder começar por fazê-lo a si próprio, por proporcionar a si mesmo alguns gozos mais, por usufruir de um pouco do supérfluo que lhe falta, pronto a dar aos pobres o resto? Esta segunda intenção, que esses tais porventura dissimulam aos seus próprios olhos, mas que se lhes depararia no fundo dos seus corações, se eles os perscrutassem, anula o mérito do intento, visto que, com a verdadeira caridade, o homem pensa nos outros antes de pensar em si O ponto sublimado da caridade, nesse caso, estaria em procurar ele no seu trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de seus talentos, os recursos de que carece para realizar seus generosos propósitos. Haveria nisso o sacrifício que mais agrada ao Senhor. Infelizmente, a maioria vive a sonhar com os meios de mais facilmente se enriquecer de súbito e sem esforço, correndo atrás de quimeras, quais a descoberta de tesouros, de uma favorável ensancha aleatória, do recebimento de inesperadas heranças, etc. Que dizer dos que esperam encontrar nos Espíritos auxiliares que os secundem na consecução de tais objetivos? Certamente não conhecem, nem compreendem a sagrada finalidade do Espiritismo e, ainda menos, a missão dos Espíritos a quem Deus permite se comuniquem com os homens. Daí vem o serem punidos pelas decepções. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, nº 294 e nº 295.)

Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.

Convidar os pobres e os estropiados. Dar sem esperar retribuição
7. Disse também àquele que o convidara: Quando derdes um jantar ou uma ceia, não convideis nem os vossos amigos, nem os vossos irmãos, nem os vossos parentes, nem os vossos vizinhos que forem ricos, para que em seguida não vos convidem a seu turno e assim retribuam o que de vós receberam. - Quando derdes um festim, convidai para ele os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos. - E sereis ditosos por não terem eles meios de vo-lo retribuir, pois isso será retribuído na ressurreição dos justos.

Um dos que se achavam à mesa, ouvindo essas palavras, disse-lhe: Feliz do que comer do pão no reino de Deus! (S. LUCAS, cap. XIV, vv. 12 a 15.)

8. "Quando derdes um festim, disse Jesus, não convideis para ele os vossos amigos, mas os pobres e os estropiados." Estas palavras, absurdas, se tomadas ao pé da letra, são sublimes, se lhes buscarmos o espírito. Não é possível que Jesus haja pretendido que, em vez de seus amigo




Conhecer-se a si mesmo


Conhecer-se a si mesmo


O que impede, por vezes, que vos corrijais de um defeito, de um vício, é, certamente, que não vos apercebeis que o tendes. Enquanto vedes os menores defeitos do próximo, do irmão, nem mesmo suspeitais de que tendes as mesmas falhas, talvez maiores que as deles. Isto é uma conseqüência do orgulho que vos leva, como a todos os seres imperfeitos, a não achar nada de bom senão em vós. Deveríeis vos analisar como se não fosseis vós mesmos. Imaginai, por exemplo, que aquilo que fizestes ao vosso irmão, vos tivesse sido feito por ele. Colocai-vos em seu lugar: que faríeis? Respondei sem idéia preconcebida, pois suponho que quereis a verdade. Assim fazendo, estou certo de que muitas vezes descobrireis defeitos vossos, que antes não havíeis notado. Sede francos convosco mesmos; travai conhecimento com o vosso caráter, mas não o aduleis, porque as crianças aduladas às vezes se tornam más e os aduladores são os primeiros a experimentar os efeitos. Voltai um pouco a sacola onde estão os vossos e os alheios defeitos. Ponde os vossos à frente e os dos outros para trás e cuidai que não tenhais de baixar a cabeça quando tiverdes a vossa carga à frente.


A Amizade e a Prece


Criando as almas, Deus não estabeleceu diferenças entre elas. Esta igualdade de direitos entre elas serve de princípio à amizade, que nada mais é do que a unidade nas tendências e nos sentimentos. A verdadeira amizade só existe entre os homens virtuosos, que se reúnem sob a proteção do Todo-Poderoso, para se encorajarem reciprocamente no cumprimento de seus deveres. Todo coração verdadeiramente cristão possui o sentimento da amizade. Ao contrário, esta virtude encontra no egoísmo das almas viciosas a pedra de tropeço que, semelhante à semente caída sobre a rocha árida, a torna infecunda para o bem.
Rodeai vossa alma pelo muro protetor de uma prece cheia de fé, a fim de que o inimigo, interno ou externo, aí não possa penetrar.
A prece eleva o Espírito do homem para Deus, desprende-o de todas as preocupações terrenas, transporta-o para um estado de tranqüilidade, de paz, que o mundo não lhe poderia oferecer. Quanto mais confiante e fervorosa for a prece, melhor escutada e agradável a Deus. Quando inteiramente penetrada de zelo santo, a alma do homem se lança para o céu na prece íntima e ardente, os inimigos interiores, isto é, as paixões do homem, e os inimigos externos, ou os vícios do mundo, são impotentes para forçar os muros que a protegem. Homens, orai a Deus com toda confiança, do fundo do coração, com fé e verdade!

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O Futuro do Espiritismo


Vós perguntais-me qual será o futuro do Espiritismo e que lugar ocupará no mundo. Não só ocupará um lugar, mas encherá o mundo inteiro. O Espiritismo está no ar, no espaço, na natureza. É a chave da abóbada do edifício social. Podes prever seu futuro, através de seu passado e seu presente. Espiritismo é obra de Deus; vós, homens, deu a ele um nome, Deus vos deu a razão quando a hora chegou, porque o Espiritismo é a lei imutável do Criador. Uma vez que o homem teve a inteligência, Deus lhe inspirou o Espiritismo e, de época em época, ele enviou para a Terra Espíritos adiantados, que ensaiaram em sua natureza corpórea a influência do Espiritismo. Se tais homens não triunfaram, foi porque a inteligência humana ainda não era aperfeiçoada o suficiente, mas estes homens nem por isso deixaram de implantar a idéia, e deixaram atrás si seus nomes e suas obras, como marcos indicadores numa estrada, para que o viajante pudesse encontrar seu caminho. Olhe para trás e verás quantas vezes Deus já experimentou a influência espírita como a melhoramento moral. Há dezoito séculos, o que era cristianismo senão o Espiritismo? Só o nome era diferente, mas o pensamento era o mesmo. Apenas o homem, com seu livre arbítrio, desnaturou a obra de Deus. A natureza tem sido preponderante e o erro implantou-se nessa preponderância. Depois o Espiritismo esforçou-se para germinar; mas o terreno era inculto e a semente quebrou-se atingiu a fronte dos semeadores que Deus encarregou de semear. Com o tempo a inteligência cresceu, o campo pode ser lavrado, já que se aproxima a época em que o terreno deve ser novamente semeado. Todos admitem que o Espiritismo se espalha. Mesmo os mais céticos compreendem; e se não admitem isso, se fecham os olhos, é que a luz brilhante do Espiritismo os cega. Mas Deus protege a sua obra, sustenta-a com o seu poderoso olhar, ele a encoraja e, em breve, todos os povos serão espíritas, porque essa é a universalidade de todos os credos. Espiritismo é o grande nivelador que avança para aplainar todas as heresias. É conduzido pela simpatia, seguido pela concórdia, o amor e a fraternidade. Avança sem choques, sem revolução. Nada vem destruir, nada vem derrubar na organização social; vem tudo renovar. Não vejas nisso uma contradição: os homens, tornando-se melhores, aspirarão melhores leis, o professor, entendendo que o operário é da mesma essência que a sua, o patrão introduzirá, nas suas operações comerciais, leis mais suaves, mais sábias, e as relações sociais se transformarão muito naturalmente entre riqueza e a mediocridade. O Espírito não podendo tornar-se morgado, o Espírita sentirá que há algo mais importante para ele do que a riqueza; desprender-se-á da idéia de acumular, que gera a cupidez e, certamente os pobres ainda se beneficiarão por essa diminuição do egoísmo. Não direi que não haverá rebeldes a essas idéias, que todos crescerão universalmente fecundados pela onda do Espiritismo. Ainda haverá refratários e anjos decaídos, porque os homens têm livre-arbítrio e, embora não lhe faltem conselhos, muitos deles, vendo apenas de seu acanhado ponto de vista, que restringe o horizonte da ganância, não quererão render-se à evidência. Ai deles! Pior para eles. Lamentai-os, esclarecei-os. Porque não sois juízes, e só Deus lhes pode censurar a conduta. Pelo futuro que te mostro para o Espiritismo podes julgar da influência que exercerá sobre as massas. Como estais organizados moralmente falando? Fizestes a estatística de vossas qualidades e defeitos? Os homens levianos e neutros povoam boa parte da terra. Os benevolentes constituem maioria? É duvidoso. Entre os neutros, isto é, entre os que estão com um pé na balança do bem e outro na do mal, muitos podem meter os dois no prato da benevolência, que é a primeira etapa conducente rapidamente a níveis mais avançados. Ainda há no globo uma parcela de seres maus, mas que diariamente tende a diminuir. Quando os homens estiverem imbuídos do pensamento que a pena de Talião é a lei imutável que Deus lhes inflige, muito mais terrível que vossas terríveis leis terrenas, mais apavorante e mais lógica que as chamas eternas do inferno, em que não mais acreditam, temerão essa reciprocidade de penas e pensarão duas vezes antes de cometerem um ato censurável. Quando, pela manifestação espírita, o criminoso puder prognosticar a sorte que o espera, recuará ante a idéia do crime, pois saberá que Deus tudo vê e que o crime, ainda que ficasse impune na terra, ele o terá que pagar um dia, e muito caramente, essa impunidade. Então todas as falhas odiosas, que vêm, vez por outra, trazer a sua marca indelével à frente da humanidade, desaparecerão para dar lugar à concórdia e a fraternidade que há séculos vos são pregadas. Vossa legislação abrandar-se-á na proporção do melhoramento moral, a escravidão e a pena de morte não permanecerão em vossas leis senão como uma lembrança das torturas da inquisição. Assim regenerado, poderá o homem ocupar-se mais com seus progressos intelectuais. Não mais existindo o egoísmo, as descobertas científicas, que por vezes reclamam o concurso de várias inteligências, se desenvolverão rapidamente, cada um dizendo: “Que importa aquele que produz o bem, desde que o bem seja produzido?” Porque, na verdade, quem muitas vezes detém os vossos cientistas em sua marcha ascendente para o progresso, senão o personalismo, a ambição de ligar seu nome à sua obra? Eis o futuro e a influência do Espiritismo nos povos da Terra.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Espiritismo e Diversidade Sexual

Espiritismo e Diversidade Sexual

Por Mundo Fraternal

Espiritismo e Diversidade Sexual"Os preconceitos são as cadeias inventadas pela ignorância para separar os homens" (L. Blessington)

Aqui se apresenta um estudo condensado sobre este importante tema que é a homossexualidade, tema este que tem recebido crescente destaque nos meios de comunicação. Procurei ser o mais breve possível, porém devo destacar que o texto que se segue foi resultado de pesquisas de grande número de fontes (livros, artigos na Internet,
artigos de jornal e revistas, etc.)

O objetivo principal é diminuir o preconceito e a discriminação a que pessoas que possuem uma orientação sexualdiferente da maioria são expostas, inclusive dentro da comunidade espírita - onde, infelizmente, tive a oportunidade de constatar.

Espero que este material sirva de apoio para uma melhor compreensão do tema dentro da comunidade espírita, lembrando que Kardec nos alerta que o Espiritismo deve sempre andar lado a lado com os progressos da Ciência.

Este trabalho é especialmente dedicado a todas as pessoas do mundo que sofrem discriminação, velada ou explícita, pelos mais diversos motivos: seja pela cor da pele, seja pelas suas crenças, seja por sua orientação sexual, etc.

Se este texto fizer uma única pessoa diminuir um pouco que seja o seu preconceito, então todo este trabalho terá valido a pena.

Conforme se costuma dizer na comunidade espírita: primeiro conhecer, para depois criticar.

Não é isto que dizemos às pessoas que criticam o Espiritismo sem nunca terem lido as obras de Kardek?

Aliás, kardec diz que o Espiritismo deve ir aonde a Ciência está, em permanente atualização. Tanto a OMS quanto o Conselho Federal de Medicina não consideram mais a homossexualidade como doença ou desvio ou problema psíquico desde 1985. Alguns espíritas estão "apenas" uns 15 anos atrasados...



1) Considerações Gerais

homossexualidade tem a ver com orientação sexual.

O homossexual é o indivíduo, homem ou mulher que, ao contrário dos heterossexuais, sentem atração por pessoas do mesmo sexo. Não se trata de escolha. Nunca ouvi alguém dizer "Sábado vou virar homossexual". Aliás, se fosse questão de escolha, eles seriam em muito menor número, para não enfrentarem os preconceitos de tantas pessoas - no trabalho, na sociedade e dentro de seus próprios lares.

A maioria das pessoas é heterossexual, mas algumas são lésbicas, gays ou bissexuais. Algumas pessoas são altas e outras, baixas. Algumas são pretas ou pardas, enquanto outras são amarelas, vermelhas ou brancas. A maior parte é composta de destros, mas há alguns canhotos. Há uma ampla gama de diferenças individuais entre os seres humanos. A orientação sexual parece ser uma dessas diferenças.[1]

Quando observamos as brincadeiras infantis, vemos que a curiosidade da criança se dirige tanto para o corpo feminino como para o corpo masculino. Será mais tarde, na puberdade ou na adolescência que se definirá a sua inclinação para a homo ou heterossexualidade.

Nos ambientes em que existe uma convivência mais ou menos longa de pessoas do mesmo sexo é fácil que surjam comportamentos do tipo homossexual acidental entre pessoas declaradamente heterossexuais. Esta situação é observada principalmente no internato e no
serviço militar. Saindo desses ambientes, a maioria retorna ao comportamento heterossexual.[2]

Uma pessoa não se torna homossexual pelo simples fato de ter uma ou algumas relações homossexuais. Da mesma forma, um homossexual não se torna heterossexual pelo fato de ter relações com pessoas do sexo oposto.

Devemos também ter em mente que podem ocorrer mudanças na orientação sexual de uma pessoa ao longo da vida. Essas mudanças ocorrem naturalmente e fora do controle das pessoas. Não é uma simples questão de escolha. Simplesmente acontece.

A homossexualidade não é simplesmente uma prática sexual com alguém do mesmo sexo. A homossexualidade é um desejo de se vincular emocional, física e afetivamente com alguém do mesmo sexo.

Muitos acreditam que a pessoa é homossexual por ter dificuldade em ser heterossexual. Isto é um engano. Ele não sente desejo por alguém de sexo oposto ao seu, ou sente muito pouco. Ele pode até ter uma prática sexual com alguém do sexo oposto, mas seu desejo real é em relação ao mesmo sexo.



2) Análise Científica

O primeiro que fez uma pesquisa científica sobre o comportamento homossexual masculino e feminino foi Kinsey, respectivamente em 1948 e 1953. Apesar de muitos indivíduos terem uma experiência homossexual em alguma época de suas vidas, eles não são afetados por estas experiências, permanecendo com orientação heterossexual.

Os resultados foram surpreendentes e verificou-se que as práticas homossexuais eram muito mais freqüentes do que se pensava.

Um dos conceitos kinsenianos mais populares foi o do continuum. Para o autor, "não podemos representar dois tipos diferentes e opostos de população: homossexual um e heterossexual outro; não se podem dividir, simplesmente e de acordo com um critério maniqueísta, em totalmente brancas e totalmente negras as coisas este mundo(...)". Criou a famosa escala que leva seu nome.

O continuun de Kinsey

Grau
Comportamento

0
Exclusivamente heterossexual, sem traços homossexuais

1
Predominantemente heterossexual, acidentalmente homossexual.

2
Predominantemente heterossexual, homossexual em maior grau que o acidental

3
Igualmente homossexual e heterossexual

4
Predomínio homossexual, mais que acidentalmente heterossexual

5
Predomínio homossexual, acidentalmente heterossexual

6
Exclusivamente homossexual

Esta classificação não é estática para um mesmo indivíduo, ele pode alterar sua orientação sexual ao longo de sua vida, independente de sua vontade.

Outra obra fundamental sobre este assunto foi “homossexualidade em Perspectiva”, de Masters e Johnson em 1979. Neste trabalho foram observados, em laboratório, o comportamento sexual de noventa e seis homossexuais, dos quais quarenta e quatro com relação estável. Uma população heterossexual também foi observada, para servir de comparação.

Uma das observações mais interessantes de Masters e Johnson foi a diferença entre o desempenho, a forma de fazer amor, entre os casais homossexuais e heterossexuais. O casal homossexual em relação ao casal heterossexual tende a ser mais vagaroso na execução das carícias, ao contrário dos casais heterossexuais, onde foi observado um desejo de "acabar logo". Obviamente havia exceções.[3]

O discurso científico legitima a idéia de que o amor entre iguais não é patologia.

A Organização Mundial de Saúde retirou o termo "homossexualismo" do Catálogo Internacional de Doenças desde 1993, o que o Conselho Federal de Medicina já tinha reconhecido desde 1985.

Em dezembro de 1998 a Associação Americana de Psiquiatria (APA) se posicionou contra as "terapias de cura" - como são chamadas as falsas terapias pretensamente destinadas a "reverter" homossexuais em heterossexuais. Com isso confirmou que a orientação sexual não é um problema de saúde, sequer psíquico.

A associação adverte: "Os riscos em potencial da pretensa "terapia de cura" são muito grandes, podendo causar depressão, ansiedade e comportamento auto-destrutivo'. Nesses "tratamentos", segundo a APA, não se apresenta ao paciente a possibilidade de que uma pessoa possa encontrar a felicidade e formar relações satisfatórias como gay ou lésbica. E afirma categoricamente; "A APA se opõe a qualquer tratamento psiquiátrico que se baseie na suposição de que a homossexualidade por si só é um distúrbio mental, ou que se baseie na hipótese de que o paciente deve mudar"[4]




3) Breve histórico

A antropóloga e socióloga Margaret Mead notou que não existem povos na terra onde a homossexualidade não se manifesta. Em alguns destes povos, o homossexual guerreiro é bastante respeitado, pois demonstra coragem sem igual quando vai à luta e tem de defender
seu parceiro também guerreiro.[5]

Alemanha, França, Dinamarca, Holanda, Suécia e Noruega são exemplos de países de Primeiro Mundo que já regulamentaram a união civil entre pessoas do mesmo sexo.

A menor ou maior aceitação da homossexualidade depende da época e do lugar, como ilustram alguns exemplos que se seguem.

- Grécia - Quando os gregos escreviam sobre o amor entre os homens eles o exaltavam como a mais alta forma de afeição. Ele incluía uma ligação emocional, uma profunda amizade, valores em comum e um compromisso em torno de uma tarefa. Sexo não era o ponto principal do relacionamento, e sim a virtude. A relação envolvia mais freqüentemente um adulto e um jovem, sendo que o mais velho atuava como mentor do mais jovem, introduzindo-o à cultura e ao aprendizado.[6]

- Japão - Por volta de 1637 o Japão se fechou para o resto do mundo. As grandes cidades eram prósperas, o budismo amplamente aceito, e o hábito da homossexualidade tornou-se popular, sob o nome de shudo, não apenas entre as classes dos monges e samurais, mas
também entre a burguesia.

O shudo, assim como o conceito do amor por meninos na Grécia clássica era uma filosofia. Tinha sido desenvolvido pelos monges budistas e os samurais na época medieval, e punha ênfase na moralidade e espiritualidade.

- China - Existe uma enorme quantidade de histórias que revelam a grande naturalidade com que os chineses viam a homossexualidade e a bissexualidade.

As fontes Ming revelam lampejos de amor homossexual em diferentes classes e regiões. Em Fujian havia uma forma de casamento entre homens, uma cerimônia na qual o mais velho se referia ao mais jovem como o "irmão adotivo mais moço". Uma carpa, um galo e um pato eram sacrificados, e os homens sujavam as mãos uns do outro com sangue e juravam lealdade eterna. A cerimônia era concluída com um banquete. O homem mais moço ia morar na casa do mais velho e era tratado pela família como um afilhado.

- Índios americanos - Nas sociedades em que as mulheres têm mais igualdade com os homens, como a dos índios americanos, existe uma maior tranqüilidade em relação à troca de sexos. Os homens podem optar por ser mulheres ou as mulheres por ser homens, se desejarem, podendo se vestir de acordo. As pessoas desse tipo eram valorizadas como sendo de grande talento. Nessas sociedades, o gênero é visto como algo fluido, não tendo a grande significância que os poderes ocidentais lhe deram e ainda dão. (Estes 3 últimos exemplos foram tirados do livro "homossexualidade, uma história", de Colin Spencer, editora Record).

-Índios brasileiros - No livro "Devassos no Paraíso", de João Silvério Trevisan (Ed. Record), fundamental para o entendimento da homossexualidade no Brasil, há vários relatos de antropólogos famosos sobre a naturalidade com que nossos indígenas praticavam a homossexualidade, desde as remotas expedições ao Brasil.

- Alemanha nazista - A posição dos nazistas era, e ainda é, totalmente contra a prática da homossexualidade. Assim, em 1936, um total de 5.321 homossexuais foi condenado e em 1.939 este número subiu para 24.450. Estes, depois de condenados, passavam pelas mãos da Gestapo (a polícia de elite de Hitler) e eram enviados para campos de concentração, onde eram freqüentemente castrados e mantidos sob regime de trabalho forçado e de subnutrição especialmente concebidos para acelerar sua morte. Marcados com um triângulo cor de rosa costurados em seus uniformes, eles sofriam não só a perseguição e a violência dos seus captores, como também dos outros prisioneiros, e ainda hoje, quando se fala nas vítimas dos campos de concentração eles são sistematicamente excluídos.[7]

O filme inglês Bent ilustra bem isso. Um prisioneiro que era ao mesmo tempo judeu e homossexual subornou um oficial alemão para que trocasse o seu distintivo, que era um triângulo cor de rosa, pela cruz de Davi (a marcação dos judeus) para aumentar suas chances de sobrevivência.

- União Soviética - Em dezembro de 1917, o governo bolchevique aboliu as leis contra os homossexuais. A tomada de posição da União Soviética, de que a homossexualidade não prejudicava ninguém e que não era um problema legal, mas sim científico, fez com que os
radicais de outros países também apoiassem as reivindicações homossexuais.

Mas as coisas mudariam com a ascensão de Stalin ao poder. Começou-se uma campanha contra os homossexuais e estes começaram a ser expulsos do Partido, discriminados, vigiados e denunciados. Em janeiro de 1934 foram efetuadas detenções em massa em Moscou, Leningrado e outras cidades. Artistas, intelectuais e outros foram condenados a vários anos de prisão na Sibéria, e foi gerada, desta forma uma onda de pânico e suicídios. Finalmente em março de 1934, com o apoio pessoal de Stalin, foi introduzida uma lei punindo homossexuais masculinos com até oito anos de prisão.

Nova Zelândia - Após propor uma nova lei de união civil que beneficia homossexuais, a primeira-ministra deixou claro que não apóia pessoalmente as relações entre gays e lésbicas. Mas diz que governa para todos e que esse é um direito civil fundamental e, por isso mesmo, defende o projeto. [8]




4) Repressão durante o regime militar

O falecido delegado brasileiro Sérgio Fleury, carro-chefe da tortura contra presos políticos no período mais truculento da repressão aos opositores do regime militar na área de São Paulo, não fazia segredo de sua admiração pelo comportamento dos homossexuais durante os interrogatórios a que eram submetidos. Contava, assim, serem eles infinitamente superiores aos heterossexuais em matéria de resistência física e moral e toda sorte de castigo e pressão. Ainda que, excepcionalmente admitissem sua participação em atividades consideradas subversivas, jamais delatavam companheiros. Eram duros e orgulhosos. Talvez por isso lhes fossem confiadas missões reconhecidamente perigosas, que exigissem ousadia e maior exposição a riscos, como as operações de expropriação e seqüestros políticos. E o número de homossexuais mortos em confrontos, aprisionados ou libertados em troca de diplomatas seqüestrados em conseqüência dessas ações confirma as revelações de Fleury. ("Os Homoeróticos", de Décio Monteiro de Lima. Ed. Francisco Alves, 1983).



5) homossexualidade na imprensa espírita

Há grande divergência nas colocações dos espíritas. A meu ver, a assunto está mais bem analisado em "Vida e Sexo", do espírito Emmanuel que nos ensina, no capítulo "homossexualidade": "A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos"

Em "Doenças da Alma", da FE Editora, Roberto Brólio nos ensina:". O homossexualismo, tão generalizado em todos os países, não constitui anomalia da Criação, mas a vivência colhida pelo Espírito, que imprime ao organismo seus próprios sentimentos, independente de sua constituição física".

No JORNAL ESPÍRITA, edição de fev/99, página 3, encontramos outro trecho de uma reportagem sobre homossexualidade:

"Cada indivíduo terá que justificar a sua atitude, no entanto uma lei é incontestável: temos o dever de nos respeitarmos e respeitarmos o nosso semelhante. Não está em causa qualquer sintomatologia ou patologia, mas uma experiência de vida: A postura mental e a conduta sexual é que irão estabelecer a moralidade ou a imoralidade destas experiências sexuais, sejam homo ou heterossexuais".

Não existe homogeneidade nos livros espíritas em relação ao tema. Em geral, o que é dito é o seguinte:

"Não devemos de forma alguma discriminar os irmãos que estão vivenciando a experiência homossexual. Alguns deles assim nasceram como expiação, mas há, por outro lado, espíritos muito evoluídos que assim nasceram por escolha própria. (Eu acrescentaria apenas que a maioria não está em nenhum desses dois extremos)".

Lembremos sempre que o bom senso nos ensina que jamais devemos generalizar as situações no que se refere à vida espiritual, cada caso é único.

Em alguns artigos a homossexualidade é vista principalmente como fonte de sofrimentos e na Revista Espírita chegou a ser taxada de patologia. Em um certo livro o autor chegou ao cúmulo de declarar: "Há homossexuais que se sentem bem como estão. Não há como tratá-los". O autor é evidentemente livre para expor suas idéias, mas deve ficar claro que elas estão em desacordo com a posição científica moderna, com a maioria das correntes espiritualistas da chamada Nova Era e com o progresso obtido pelas organizações de direitos humanos em todo o mundo.

Alguns espíritas toleram os homossexuais, mas recomendam que as relações sexuais com pessoas do mesmo sexo devam ser evitadas.

Os homossexuais argumentam que o que torna uma prática sexual saudável ou não é o envolvimento afetivo entre os parceiros, independente se são ou não do mesmo sexo. Se um homem e uma mulher querem ter um relacionamento duradouro e há vínculos de harmonia entre eles, o relacionamento sexual será visto como algo perfeitamente natural. Por que seria diferente para um outro casal, nas mesmas condições, só que entre indivíduos do mesmo sexo? E um casal homossexual não pode ter sido heterossexual em existências passadas? E se o ato não fosse natural, então porque encontramos relações homossexuais tão freqüentemente entre os animais?

Alguns espíritas condenam a homossexualidade com o seguinte argumento: "Cargas elétricas de mesmo sinal de repelem e cargas de sinais opostos se atraem". Primeiramente não se pode comparar seres humanos com cargas elétricas. Levada esta teoria às últimas conseqüências, uma pessoa pacífica deveria se casar um alguém violento, ou seja, seu "oposto". Em quantas ocasiões as pessoas se atraem mais pela semelhança que pela diferença?

As palavras de Kinsey nos darão uma boa reflexão sobre o tema:

"Os machos não se dividem em dois grupos distintos: homossexuais e heterossexuais. O mundo não está dividido em ovelhas e carneiros. Nem todas as coisas são negras, nem todas são brancas. É um princípio fundamental do sistema de classificação que raramente na Natureza se encontram categorias nitidamente separadas. Só a mente humana inventa as categorias e tenta abrigar os fatos em compartimentos separados. O mundo vivente representa uma continuidade em todos os aspectos. Quanto mais depressa aprendermos esta noção, aplicando-a ao comportamento sexual do homem, tanto mais depressa compreenderemos claramente o que é a realidade do sexo".




6) Imprensa em geral

Nos últimos anos percebe-se um maior enfoque por parte da imprensa em geral a este assunto. Citarei apenas alguns exemplos selecionados.

A conservadora e prestigiosa revista inglesa The Economist surpreendeu a todos quando, em 1996 apresentou matéria de quatro páginas e outra de editorial, com direito a fato de bonequinhos gays e o pedido: "Deixem que eles se casem". Não, a revista não falou sobre consumo gay ou discutiu aspectos legais do casamento. Sua argumentação foi toda feita em termos de política social. "Os homossexuais são como os canhotos", diz a reportagem, "uma minoria bastante comum".

Diz o jornal: "homossexuais precisam de estabilidade emocional e econômica tanto quanto heterossexual - e a sociedade inteira se beneficia quando isso ocorre". "Então os faça abandonar o homossexualismo e escolher um parceiro do sexo oposto para se casar", era a velha resposta. Hoje, isto é impensável. homossexuais não escolhem sua condição; na verdade, eles tentam desesperadamente, às vezes a ponto do suicídio, evitá-la. Para a sociedade, a escolha está entre o casamento homossexual e a alienação do homossexual. E não há nenhum interesse na última escolha" (Sui Generis)

A revista SUPERINTERESSANTE de agosto/99 traz em sua reportagem de capa considerações sobre os dez anos de estudos realizados pelo biólogo Bruce Bagemihl.

Vejamos alguns trechos:

- Mais de setenta espécies de aves realizam casamentos duradouros de indivíduos do mesmo sexo. Essas uniões são também adotadas por trinta mamíferos. Leões e elefantes machos, por exemplo, formam laços mais duradouros do que pares heterossexuais.

- Ocorre algo interessante com uma espécie de pássaro da América Central, o pássaro-cantor, na qual um macho atrai o outro por meio do canto, no início do período reprodutivo, e depois eles se juntam. Constróem, então, o ninho e cuidam dos ovos e das
crias abandonadas por outros indivíduos. Machos de guepardo, um felino africano, adotam filhotes e os criam. Fazem o papel de pais e mães.

- Tirando o homem, poucas espécies apresentam homofobia - que é aversão ao homossexualismo.

- Não é falta de opção e muito menos engano. Mesmo em territórios onde há muitas fêmeas, muitos animais machos preferem fazer sexo entre si

- Já foram registrados casos de casais de gansas que viveram mais de quinze anos juntos. O casamento só terminou quando a morte as separou

- Periquitos formam casais tanto de machos como de fêmeas. Os pares passam meia hora trocando carícias. Eles também se alimentam mutuamente.

- Há zebras que morrem sem jamais ter copulado heterossexualmente. Optam pela conduta homossexual para sempre.

A FOLHA DE SÃO PAULO é um jornal tradicionalmente com uma postura gay friendly, inclusive mantendo uma seção fixa na Revista da Folha, a GLS.

É comum que as grandes revistas semanais de grande circulação (Isto É, Época, Veja, etc.) apresentem de tempos em tempos reportagem de capa sobre o tema.



7) O homossexual e a sociedade

O homossexual é freqüentemente estereotipado, tanto social como cientificamente. Como se os homossexuais fossem todos iguais, tivessem as mesmas profissões, interesses, educação, estilo de vida, personalidade e aparência física. Não é comum alguém se referir a uma outra pessoa como "ele é heterossexual", a não ser que esteja sendo discutida sua orientação sexual. Entretanto, "ele é homossexual", "bicha", são expressões que se ouvem para descrever um indivíduo. Esta classificação limita o homossexual como ser humano, enquadrando-o dentro de um estereótipo, esquecendo-se de que ele é gente e pode ser alto, baixo, gordo, magro, forte, fraco, bonito, feio, extrovertido, introvertido, rico, pobre, ilustrado, analfabeto, inteligente, burro, avarento, generoso... por que reduzi-lo à sua orientação sexual?

A falta de um casamento e de famílias convencionais induz os casais gays a valorizarem enormemente os amigos gays que, num certo sentido, formam uma espécie de família. Edmund White fala da duração e intensidade das relações homossexuais e diz que uma tendência sexual comum pode unir as pessoas com experiências muito diferentes, cruzando as fronteiras de raça, classe social e crenças.[9]

Os casais gays de ontem e hoje são muito mais heterogêneos que os heterossexuais no tocante à idade, cor e classe social dos parceiros.[10]

Num estudo encomendado pelo governo americano, concluiu-se que apenas 10% dos homossexuais masculinos são efeminados.


O marco da luta dos homossexuais pelos seus direitos aconteceu em Nova York no ano de 1969.Cansados de serem perseguidos pela polícia nos bares de freqüência gay, os homossexuais se envolveram em vários dias numa verdadeira batalha contra a polícia.

Mas as verdadeiras conquistas dos homossexuais seriam vencidas nos tribunais, nas Universidades, no mercado de trabalho, nos palcos e nos cinemas.[11]



8) homossexuais casados

Como muitos homossexuais não são capazes de aceitar a sua própria orientação sexual, e sentem necessidade de se adequar às expectativas da sociedade, vários deles acabam se decidindo por casamentos heterossexuais.

Estima-se que nos Estados Unidos, 40% dos homens casados se envolvem com relações homossexuais regulares.

A maioria dos homossexuais consegue manter relações sexuais com suas mulheres nos primeiros dois anos de casamento, embora sem muita paixão. Eles ficam encantados pela excitação ou exaltação de estar casado. Tiram proveito do convencionalismo e aceitação social dos pais. A maioria dos homossexuais casados tem filhos e se tornam pais responsáveis e afetuosos. Uma pesquisa na França revelou que as mulheres casadas com homossexuais têm menos problemas de alcoolismo, devido ao fato de os maridos homossexuais ficarem mais tempo com a família.


A maioria dos homossexuais relata ter apresentado ansiedades e depressões crescentes depois dos primeiros anos de casamento. Em geral a freqüência de suas relações com a esposa diminuiu ou cessa por completo depois do nascimento do primeiro filho.

É interessante que a separação ou o divórcio ocorram com tanta freqüência depois de quinze a vinte anos de casamento, época em que as crianças estão mais independentes.

A meia-idade aumenta a consciência da "finitude da vida". Junto com esta consciência cresce também o desejo de reverter, antes que seja tarde, as discrepâncias entre as reais necessidades, desejos e ambições e as responsabilidades e expectativas sociais.

Em raros casos, a "passagem" para a heterossexualidade é definitiva. Mas isto só é possível para os pseudo-homossexuais, aqueles que tiveram alguma experiência homossexual apenas em determinadas circunstâncias.

Para os homossexuais de fato, as tendências homossexuais existirão sempre. Se ele as reprime, elas ressurgirão um dia ou outro e uma vontade, uma promessa, um sacramento ou um ato jurídico não poderá nada contra o desejo.[12]



9) Casais homossexuais

Muitos homossexuais, para escaparem das pressões sociais, levam uma vida (e se comportam) de forma a não sugerir o seu homossexualismo.

Como a relação homossexual não é reconhecida pela (nossa) sociedade, geralmente ela é vivida de forma meio secreta e está sujeita a maiores tensões que as relações heterossexuais. É até admirável como alguns homossexuais conseguem manter um relacionamento estável em situação tão adversa. As relações homossexuais podem ser longas ou breves, felizes ou infelizes como todas as relações entre duas pessoas.[13]

Mesmo sendo parte de corrente minoritária na Igreja Católica, o padre Trasferetti diz: "Eu tenho encontrado casais (homossexuais) que estão juntos há dez, vinte anos e levam uma vida normal e são profundamente humanos. Eu diria até que muitos são mais humanos do
que muitos casais heterossexuais".

Grandes nomes da história da humanidade foram homossexuais. Só para citar alguns: Sócrates, Alexandre - o Grande, Michelângelo, Leonardo da Vinci, Oscar Wilde, Pasolini, Luchino Visconti, Martina Navratilova.

Alguns deles formaram casais estáveis e se tornaram notórios[14].

-Imperador de Roma, Adriano (76-138) foi amante de Antínuo durante seis anos, até a morte de seu ex-escravo. Saudoso, mandou construir uma cidade - Antinuópolis - para eternizar o amado.

-Aclamadíssima, a poeta americana Elizabeth Bishop desembarcou no Brasil em 1951. Aqui, iria conhecer o amor de sua vida, a aristocrática Lota Macedo Soares, responsável pelas obras do aterro do Flamengo, no Rio.

-Monumento das letras francesas do século XX e autora de Memórias de Adriano, Youcemar (1903-1987) dividiu alegrias e tristezas com Frick durante 40 anos.

-Ginsberg (1929-1999) foi um dos expoentes do movimento beatnik, que pregava a mais absoluta liberdade nas artes e nos costumes. Viveu até a morte com o também poeta Peter Orlovski.



10) Bissexualidade

Diz-se bissexual o indivíduo que tem atração sexual por pessoas de ambos os sexos.

A bissexualidade é, das orientações sexuais, a que mais polêmica causa.

Geralmente, a pessoa é interpretada pelas outras como não resolvidas, "em cima do muro" ou muito promíscuas, etc.

Os grupos homossexuais excluem os bissexuais, e os heteros não o compreendem. A rejeição vem de todos os lados. Muitos gays e lésbicas desprezam os bissexuais, acusando-os de insistir em manter os "privilégios heterossexuais" e não ter coragem de se assumir. E
muitos heterossexuais costumam ver a bissexualidade como um estágio, e não como uma
condição permanente.

Homens e mulheres bissexuais são tratados como se não tivessem capacidade afetiva para uma relação amorosa fixa. Muita gente acredita, erroneamente, que estas pessoas estarão sempre sexualmente insatisfeitas se tiverem somente um dos parceiros. Na verdade, o bissexual sente desejo afetivo-sexual por ambos os sexos e sente-se satisfeito com qualquer
um deles, mas não precisa se relacionar com duas pessoas ao mesmo tempo.[15]




11) Travestis e Transexuais

Travestis são homens ou mulheres que sentem a necessidade, mais ou menos acentuada, de se vestir e adotar atitudes características do sexo oposto.

Quase todos os travestis são homens e heterossexuais, freqüentemente casados e com filhos. Essas pessoas começam a usar roupas do sexo oposto na infância e na adolescência, mas a maioria não apresenta comportamento efeminado. Um exemplo clássico de travesti com essas características é o cineasta americano Ed Wood, famoso por ser considerado o pior diretor de Hollywood de todos os tempos. Ele era casado, sentia atração sexual apenas por mulheres e, no entanto, sentia necessidade de vestir roupas femininas em casa.

Um grupo especial de travestis, provavelmente o mais popular, apesar de ser justamente a minoria, usam roupas do sexo oposto publicamente e procuram contatos homossexuais, enquanto disfarçados de mulher.

Importante: ao contrário do transexual, o travesti não almeja mudar de sexo.

Transexual é o indivíduo, homem ou mulher, que sente um desejo impulsivo de mudar de sexo. Julga-se vítima de erro biológico e procura alterar sua aparência para que seu corpo corresponda à identidade emocional e psicológica que experimenta. Alguns chegam a fazer a operação para mudança de sexo. Muitos não consideram o transexual como homossexual, mas uma categoria à parte.




12) homossexuais e homossexuais

É um erro achar que os homossexuais são todos iguais quanto ao seu comportamento.

Por surpreendente que possa parecer, apenas 10% dos homossexuais masculinos são efeminados, ou seja, apresentam trejeitos tipicamente femininos. Na maioria dos casos é impossível saber se um homem é homo ou heterossexual apenas pelas aparências.

Mesmo entre os homossexuais masculinos existe uma diversidade de grupos. De um lado temos os homossexuais extremamente efeminados, passando pelas "barbies" (os que priorizam a forma física obtida nas academias de ginástica e adoram boates). No meio encontramos os que não em nada quase nada diferenciam dos heterossexuais, com exceção, é claro, da orientação sexual. No outro extremo temos os "bears" (ursos, em inglês) - geralmente homens peludos, de aspecto bastante viril e que, em sua maioria, sentem atração por homens com as mesmas características. A lista está longe de ser completa.

Portanto, antes de contar uma piadinha infame ao seu vizinho ou a seu colega de trabalho, lembre-se de que apesar dele ter voz grossa, ser musculoso, viril etc. ele pode ser homossexual e provavelmente vai fingir que está achando graça de sua piadinha; mas, na verdade, está sendo ferido no mais íntimo de seus sentimentos.

E lembre-se também de que não são somente os filhos dos outros, os parentes dos outros e os amigos dos outros que são homossexuais.



13) Os pais [16]

Primeiro Estágio: Choque

Pergunta: Por que meu filho me contou isso?

Resposta: Provavelmente, porque confia em você e precisa de seu apoio para dividir o peso de uma postura ainda encarada como preconceito.

Pergunta: Ele vai ficar desmunhecando? Vai querervestir-se de mulher?

Resposta: Não. São conceitos estereotipados (e incorretos) como esses que incitam o preconceito e dificultam a aceitação dos homossexuais.

Pergunta: O que os vizinhos vão pensar?

Resposta: O que vão falar independe de você. Não é possível controlar a opinião alheia.

Pergunta: Meu filho vai contaminar-se com o vírus da AIDS?

Resposta: No Brasil, o número de heterossexuais contaminados já superou o de homossexuais. Todos estão igualmente expostos à doença.

Segundo Estágio: Culpa

Pergunta: Onde foi que eu errei?

Resposta: Não errou. Ninguém, nem mesmo os pais, tem influência para direcionar a sexualidade de outra pessoa.

Pergunta: Quem levou meu filho para esse caminho?

Resposta: Ninguém. Como também ninguém levou você a ser heterossexual.

Pergunta: Como podemos reverter isso?

Resposta: Não se reverte. As tentativas de mudar o comportamento sexual dos gays foram sempre malsucedidas.


Terceiro Estágio: Negação

Pergunta: Não é só uma fase?

Resposta: Provavelmente não é. Para seu filho ter tomado coragem de contar a verdade, deve ter pensado e refletido muito.

Dilema: Ele não pode ser gay. Ele não tem nada de gay!

Resposta: Ser homossexual não significa usar fio dental na praia ou falar fino. È uma preferência amorosa, muitas vezes conhecida apenas pelo parceiro. (Lembre-se que a maioria dos homossexuais masculinos, por exemplo, não são efeminados)



14) A homofobia

Define-se homofobia como a manifestação de atitudes discriminatórias contra as pessoas que apresentam comportamento homossexual.

Um dos maiores inimigos dos homossexuais são os jornais sensacionalistas. Alguma vez você já viu uma manchete de jornal com o título "Heterossexual abusa sexualmente de crianças"? Certamente não. Mas se o infrator fosse homossexual os jornais sensacionalistas
não deixariam de colocar a palavra homossexual na manchete. O Departamento de Estado Norte-Americano de Saúde, Educação e Bem-estar diz, por exemplo, que nos EUA, 90% de todos os abusos sexuais contra crianças são cometidos por homens heterossexuais contra menores de idade do sexo feminino.

As instituições religiosas, que teoricamente deveriam servir de ponte para tolerância e compreensão entre os homens, às vezes fazem o papel oposto. Dom Euzébio Oscar Sheid, Arcebispo Metropolitano de Florianópolis declarou: "O homossexualismo é uma tragédia. gay é gente pela metade. Se é que são gente!"[17]

Meninos e meninas homossexuais sofrem muito com o preconceito, principalmente na adolescência. Eles receberam uma carga de informações desqualificativas a respeito da homossexualidade e quando se vêem homossexuais acreditam estar condenados a ser tudo o que ouviram falar de ruim sobre "veados" e "sapatonas".

15) Filmes

Filmes com temática homossexual, quer seja em primeiro ou em segundo plano, tem tido uma presença marcante no mercado, principalmente nos últimos anos. Ao contrário da televisão brasileira, que geralmente aborda o assunto de forma superficial e caricata, alguns filmes retratam o ambiente homossexual com bastante realismo.

Entre a grande quantidade de filmes que poderíamos recomendar, estão: O Banquete de Casamento, Amores possíveis, Morango com Chocolate, Traídos Pelo Desejo, Tudo Sobre Minha Mãe, Beleza Americana, Filadélfia, O Padre, Satyricon (Fellini), Jeffrey - de caso com a vida, Wilde, Quando a Noite Cai, Aimée e Jaguar, Delicada Atração, Segredos e Confissões,etc.



16) Epílogo

O que os homossexuais têm suportado, ao longo dos séculos, é de uma monstruosidade e injustiça tais que se torna difícil aceitar que uma mera preferência sexual e emocional possa excitar uma oposição tão cruel.

Quantas vezes devem os homossexuais ter pensado: mas que mal estou fazendo, e a quem?

O quadro mundial é cinzento e, por isso mesmo, devemos ser mais e mais gratos às leis recentes que, nos países mais esclarecidos em todo o mundo, têm combatido a discriminação social.[18]


Terminarei com um trecho de uma carta recebida de um médium, divulgador e orador espírita:

"Felizmente conquistei um espaço muito bom no grupo e na sociedade, mas ainda assim o preconceito é algo que sempre enfrentam.

Sou homossexual, tenho um companheiro com o qual vivo há mais de quinze anos.

Sempre pensei em divulgar mais material para que as pessoas reflitam melhor sobre essa questão, pois muitos jovens hoje estão fazendo uma opção por um caminho de infelicidade e solidão, após ouvirem nas casas e obras espíritas que a única opção para o homossexual é o celibato, que é orientado a sublimar suas energias sexuais para as artes, e para o trabalho ao próximo.

Muitos jovens que poderiam sonhar com o amor, encontrar alguem, formar um lar feliz com um companheiro, ou companheira, trilham um caminho de isolamento, pela ignorância de muitos líderes espíritas que não hesitam em expor suas opiniões pessoais, mesmo sabendo que estão influenciando na decisão de uma vida inteira para muitas pessoas. Se esquecem que Jesus e Kardec jamais se pronunciaram sobre isso, e fazem muitos se sentirem errados, aberrações da natureza, vítimas condenadas pela lei de Causa e Efeito."