segunda-feira, 22 de março de 2010

DESTRUÍRAM A ÁRVORE

DESTRUÍRAM A ÁRVORE


O Sr. D. Home (famoso médium), em “Life and Mission”, descreve um conjunto de provas de identidade, obtidas pela mediunidade vidente e auditiva, e que julgamos dever aqui reproduzir:

“Ao tempo em que eu habitava Springfield (Mass.), fui acometido de grave enfermidade que me reteve no leito por algum tempo. Um dia, no momento em que o médico acabava de retirar-se, veio um Espírito comunicar-se comigo e me transmitiu esta determinação: “Vais tomar esta tarde o trem para Hartford; trata-se de assunto importante para o progresso da causa. Não discutas; Faze simplesmente o que te dizemos”. Dei parte à minha família dessa estranha ordem e, apesar do meu estado de fraqueza, tomei o trem, ignorando completamente o que ia fazer e qual o fim de tal viagem.

Chegado a Hartford, fui abordado por um desconhecido, que me disse: “Não tive ocasião de o ver senão uma vez; entretanto, creio não estar enganado: é o Sr. Home, não é verdade?” Respondi afirmativamente, acrescentando que chegava a Hartford, sem saber absolutamente o que aí me queriam. “É extraordinário! - replicou meu interlocutor - eu vinha justamente tomar o trem para ir procurá-lo em Springfield”. Explicou-me então que uma importante família, muito conhecida, me mandava convidar a visitá-la e lhe prestar meu concurso, nas investigações que desejava fazer em matéria de Espiritismo. O fim da viagem começava, portanto, a esboçar-se; mas o mistério continuava impenetrável quanto ao prosseguimento dessa aventura.

Um agradável trajeto em carruagem nos conduziu rapidamente ao nosso destino. O dono da casa, Sr. Wart Cheney, estava justamente à porta e deu-me as boas-vindas, dizendo que o mais cedo que esperava ver-me chegar era o dia seguinte. Ao penetrar no vestíbulo, atraiu-me a atenção o frufru de pesado vestido de seda. Reparo em torno de mim e fico surpreendido de não ver pessoa alguma; logo, porém, passamos a um dos salões, e não me preocupei mais com o incidente.

Pouco depois divisei no vestíbulo uma senhora idosa, baixinha, trajando um vestido de seda encorpada, cinzenta, e que parecia muito atarefada. Aí estava a explicação do mistério: eu ouvira, sem a ver, essa pessoa que andava pela casa, de um para outro lado.
Tendo-se feito novamente ouvir o frufru da seda, e tendo-o o Sr. Cheney notado ao mesmo tempo que eu, perguntou-me ele donde poderia provir esse ruído: “Oh! - respondi - é do vestido de seda cinzenta daquela senhora idosa que está ali no vestíbulo. Quem é essa pessoa?” A aparição era tão distinta, com efeito, que eu não tinha a menor dúvida de que aquela senhora fosse uma criatura de carne e osso.

Chegando nesse momento o resto da família, as apresentações impediram o Sr. Cheney de me responder, e nada mais pude saber na ocasião; tendo sido, entretanto, servido o jantar, admirei-me de não ver à mesa a senhora do vestido de seda: aguçou-me a curiosidade, e essa pessoa se tornou desde então para mim um motivo de preocupação.

Quando a sociedade se retirou da sala de jantar, tornei a ouvir o roçagar do vestido de seda. Nada via, mas ouvi distintamente uma voz que dizia: “Estou aborrecida por terem colocado um esquife sobre o meu; não quero que lá o deixem ficar”. Tendo comunicado ao chefe da família e a sua mulher o estranho recado, eles se olharam com surpresa; depois o Sr. Cheney, quebrando o silêncio, me disse que “reconhecia perfeitamente aquele vestido, sua cor e mesmo a qualidade da seda encorpada; mas, - acrescentou - a referência ao esquife colocado sobre o seu é absurda e errônea”. Essa resposta me deixou perplexo; não sabia já o que dizer, tanto mais que antes da comunicação eu não tinha suspeitado que se tratava de uma desencarnada; não conhecia mesmo as relações de família ou de amizade que pudessem existir entre a velha dama e os Cheney.

Uma hora mais tarde, ouvi de repente a mesma voz, proferindo exatamente as mesmas palavras, mas acrescentando: “Além disso, Seth não tinha o direito de cortar essa árvore”. Tendo dado parte desse novo recado ao Sr. Cheney, ficou ele muito apreensivo. “Há em tudo isso - disse ele - alguma coisa bastante singular; meu irmão Seth fez cortar uma árvore que encobria a vista da antiga vivenda, e nós sempre fomos de opinião que a pessoa que lhe diz estar falando não teria consentido em derribarem-na, se ainda pertencesse a este mundo. Quanto ao resto do aviso, não tem sequer sombra de bom senso”.
Tendo-me sido dado, à noite, a mesma comunicação pela terceira vez, arrisquei-me de novo a um desmentido formal, no que se referia ao esquife. Estava sob impressão muito aflitiva, quando me retirei para o meu quarto. Nunca tinha eu recebido comunicação falsa, e mesmo admitindo a perfeita veracidade do fato argüido, semelhante insistência, da parte de um Espírito desencarnado, em não querer que fosse um outro esquife colocado sobre o seu, me parecia absolutamente ridícula.

Pela manhã expus ao Sr. Cheney a minha profunda contrariedade; ele me respondeu que “tinha também com isso grande pesar, mas que ia provar-me que esse Espírito - se era de fato quem pretendia ser - estava completamente enganado. Vamos ao jazigo de nossa família - disse ele - e verá que, ainda que o quiséssemos, não seria possível colocar um esquife em cima do seu”.

Chegados ao cemitério, fomos procurar o coveiro que tinha a chave do jazigo. No momento em que ia abrir a porta, ele pareceu refletir e disse com um ar um tanto embaraçado, dirigindo-se ao Sr. Cheney: “Devo prevenir-vos, senhor, de que, como ficava justamente um pequeno espaço acima da Sra. ***, coloquei aí o pequenino féretro do filho de L... Creio que isso não tem importância, mas talvez eu tivesse feito melhor avisando-vos. É só desde ontem que ele aí está”.

Jamais esquecerei o olhar que me lançou o Sr. Cheney, ao exclamar, voltando-se para mim: “Meu Deus! É então verdade!”

Nessa mesma noite tivemos uma nova manifestação do Espírito, que nos veio dizer: “Não acreditem que eu ligue a mínima importância ao féretro colocado sobre o meu; poderiam aí empilhar uma pirâmide de esquifes, que isso me seria perfeitamente indiferente. Meu único fim era provar-lhes uma vez por todas minha identidade e os induzir à absoluta convicção de que sou sempre um ser vivo e dotado de razão, a mesma E... que sempre fui. Foi esse o único motivo que me levou a proceder como o fiz”.

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