terça-feira, 16 de março de 2010

A MORTE COMO VEJO


Os veleiros para mim sempre foram os meus barcos de eleição. Não sei se tem a ver com a sua navegabilidade, imponência ou outro motivo qualquer. Sei que gosto imenso e por diversas vezes, fazem-me sentar na beira da praia a observar aqueles navegantes, transportando-me para um mundo de sonhos. Sim, muitos dos meus sonhos estão dentro de um veleiro.

Comparo muitas vezes um veleiro com a morte. Não me refiro aos perigos que se corre quando nos aventuramos em alto mar, debaixo de fortes tempestades, mas sim quando observo da praia, navegando mar adentro, ao sabor da brisa matinal, diante de um espetáculo de beleza rara.O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor. Quem observa o veleiro a desaparecer na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi". Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas ou numa viagem de romantismo. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo e talvez, no exacto instante em que alguém diz: "já se foi", haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro" ! Assim é a morte.
Esse mesmo veleiro quando parte, leva como carga um grande amor e que aos poucos vamos vê-lo a desaparecer na linha do horizonte, tornando-se cada vez mais pequeno, através da linha que separa o visível do invisível, dizemos uma vez mais: “já se foi”. Quem amamos continua a mesma pessoa, com os mesmos sonhos, objectivos e níveis de felicidade. Nada se perde, a não ser o corpo físico que não se torna mais necessário. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: "já se foi", no além, outro alguém dirá: "já está a chegar". Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.

Morte: Angústia ou

Libertação?


Na Codificação Kardeciana, onde sobeja o conhecimento das leis que regem as relações do Espírito e da matéria, recebemos informações valiosas a respeito do que acontece no chamado fenómeno da morte.

De início, o ensinamento básico de que a alma se separa do corpo físico por desprendimento dos laços que a prendem. Em realidade, os liames são desatados e nunca quebrados ("O.L.E." n" 155).

É importante frisarmos, também, que há considerável diferença entre morrer e desencarnar, desde que a morte é a cessação da vida de um ser biológico, enquanto a desencarnação consiste no desatamento total do perispírito da matéria.

Através dessa informação, podemos avaliar que, na maior parte das vezes, o momento do falecimento não é acompanhado da libertação completa do Espírito.

Informa-nos Kardec que o processo desencarnatório pode operar-se gradualmente e com lentidão muito variável, chegando ao ponto de durar alguns dias. semanas ou meses, nos indivíduos que nutriram excessivas paixões materiais ("O.L.E.". n° 155).

Essa afinidade tenaz e persistente com o veículo físico acontece nos que viveram mais da matéria que do espírito, levando mesmo à sensação dos vermes a consumirem suas entranhas, junto à decomposição cadavérica.

Algumas suicidas, também, experimentam essa horripilante impressão, podendo durar o tempo equivalente ao da vida abreviada, consoante as circunstâncias agravantes da falta.

Da obra "O Céu e o Inferno", retiramos algumas palavras proferidas pelo "Suicida de Samaritana", quando evocado pelo Codificador:

"Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à tortura"(...) "Ansiava pela morte; esperava repousar"(...) "A vida não se extinguiu; minha alma está ligada ao corpo. Sinto os vermes a corroerem-me" (Pág. 296/FEB).

Quanto ao fato de a alma não ter consciência de si mesma imediatamente após deixar o veículo somático, a Doutrina Espírita ensina-nos o seguinte: "... Aquele que já está purificado, se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, enquanto que o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria" ("O.L.E.", n° 164, FEB).

Allan Kardec, comentando o tema, relata que essa "perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte".

Afirma o Mestre francês que "nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto" ("O.L.E.", pág. 118-FEB)

Os leitores que assistiram ao filme "Ghost, o outro lado da vida", devem lembrar-se de que, de início, o Espírito se mostra surpreendido, não sabendo que não fazia mais parte do mundo dos encarnados, apresentando-se com corpo bem semelhante ao que deixou no ambiente físico.

Diz o Codificador que o Ser Espiritual "vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece com tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de não estar morto.

Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe chama a atenção para esse ponto

admira-se de não poder palpá-lo." ("O.L.E.", págs. 118 e 119, FEB)

Na obra "Voltei", psicografada pelo estimado médium Francisco Cândido Xavier, editada pela FEB (Federação Espírita Brasileira), vem-nos à lembrança o momento em que o irmão Jacob (pseudônimo do confrade Frederico Figner), já liberto dos liames terrenos, toca uma parte do seu corpo extrafísico, surpreendendo-se por sua consistência amolecida, como se fosse constituído de borracha macia.

A propósito, lembramo-nos de um caso pitoresco, vivenciado por amigo espírita que estava viajando, à noite, para São Paulo, e dormiu ao volante. Acordou, em plena escuridão, fora da estrada, e logo lhe veio à mente a certeza da desencarnação.

Na dúvida, chutou um bloco de pedra e a dor que sentira, ao mesmo tempo entremeada de alegria, revelava-lhe a comprovação de que se achava ainda entre os "vivos", embora com o pé quebrado.

Se o companheiro fosse afeito ao estudo da Doutrina, saberia que bastava apenas simples toque em seu corpo, para cientificar-se de que estava ainda encarnado.

Do final do tópico “Da Volta à Vida Espiritual" (Parte 2°, Capítulo III de "O.L.E."), não podemos deixar de trazer a afirmação da Espiritualidade Superior, dizendo-nos que a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem sobre o estado espiritual que se segue à morte.

Disse o Cristo: "Em verdade ,em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte " (João 8:51).

"Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá (João 11:25).

"Quanto à ressurreição dos mortos,não tendes lido o que Deus vos declarou: "Eu sou o Deus de Abraão, Isaque e Jacó?. Ele não é Deus de mortos, e sim, de vivos"

(Mateus 22:31 e 32).

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