POLÍTICA E DIREITOS HUMANOS
A
política é uma atividade humana que está diretamente relacionada à vida
em sociedade e deve ser regida pelo cumprimento dos direitos humanos.
Os direitos referentes à vida devem prevalecer sobre os direitos
referentes às coisas; e os direitos referentes ao bem de todos devem
prevalecer sobre os direitos referentes ao bem particular. Isso só se
efetiva na medida em que as pessoas possam livre e democraticamente
discutir os diferentes projetos em disputa e se colocarem em acordo
sobre as decisões que precisam ser adotadas. O diálogo permanente é
pressuposto básico para a política e a democracia. A POLÍTICA NO MEIO ESPÍRITA
Não
deve haver tema proibido no meio espírita. Podemos com naturalidade
tratar de política e oferecer excelentes contribuições para a sociedade a
partir da visão espírita. Os espíritas, a partir do referencial ético
que emana dos princípios doutrinários do espiritismo, têm não apenas o
direito como a responsabilidade de interferir no aperfeiçoamento dos
sistemas sociais.
Lidar com o tema da política em nossos grupos
de estudo e nas atividades de reflexão que têm lugar nas instituições
espíritas pode nos ajudar a interferir como cidadãos nos rumos da
sociedade, contribuindo para a promoção da justiça social e da
cidadania. Cito como exemplo a CEPA-Brasil, que atua representando os
espíritas no Conselho Nacional de Saúde. Em conjunto com outras
entidades da sociedade civil, trabalhadores da saúde, universidades e
gestores públicos têm dado importante contribuição na formulação e
controle da política de saúde em nosso País. Participa de discussões no
campo da bioética, da saúde mental, do planejamento familiar, do cuidado
ao idoso, das pesquisas com células-tronco, eutanásia, da prevenção e
controle ao uso das drogas, entre outros temas, contribuindo com a visão
espírita de homem e de mundo.
Muitos espíritas não conseguem
compreender que isso também é política, que existem diversas formas de
participação política e que a atividade política não se restringe ao
processo eleitoral ou a militância em partidos políticos. Naturalmente,
por mobilizar paixões e sentimentos antagônicos, deve-se evitar a
partidarização e a realização de qualquer atividade de cunho eleitoral
na casa espírita, bem como atrelar as instituições e órgãos de direção
do movimento a candidatos ou projetos partidários.
OS ESPÍRITAS E A AÇÃO POLÍTICA
Não
há como fugir da definição clássica de política, compreendida como a
arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou
Estados, da aplicação desta arte aos negócios internos da nação
(política interna) ou aos negócios externos (política externa).
Gosto
muito da definição de Norberto Bobbio, para quem política é a atividade
ou conjunto de atividades que, de alguma maneira, têm como termo de
referência a pólis, ou seja, o Estado. O conceito de Política, entendida
como forma de atividade ou de práxis humana, está estreitamente ligado
ao de poder. O poder político pertence à categoria do poder do homem
sobre outro homem, relação que se expressa de diversas maneiras: como
relação entre governantes e governados, entre soberano e súditos, entre
Estado e cidadãos, entre autoridade e obediência etc. O poder político é
apenas uma das formas de poder do homem sobre o homem.
O
espírita é um cidadão como outro qualquer. Tem, portanto, direitos
políticos, podendo participar como candidato ou apoiar campanhas
eleitorais, se assim for sua vocação ou sua vontade de contribuir com a
sociedade. O fato de ser espírita (assim como católico, evangélico,
maçon, ecologista ou marxista) não garante que esse cidadão, se eleito,
venha a ser um grande político e honre os votos de seus eleitores. Somos
seres humanos, espíritos em processo de aprendizado, num mundo de
provas e expiações.
Sem dúvida a política impõe-se como um
enorme desafio. O espírita que envereda pela política deve se pautar nos
princípios filosóficos e nas consequências éticas que se depreende da
filosofia espírita. Deve estar preparado para representar os interesses
da coletividade com competência, seriedade, honestidade e
responsabilidade, sabendo de antemão que o jogo não será nada fácil.
Gosto muito de uma singela recomendação de Jesus: “Eis que vos envio
como ovelhas no meio de lobos; sede pois prudentes como as serpentes e
simples como as pombas” (Mt. 10, 16).
O político assume
responsabilidades só compatíveis com grandes qualidades morais e de
competência. A atividade política requer espírito republicano, que o
poder seja exercido para proporcionar o bem público. A ética da política
não pode ser diferente da ética da vida pessoal. O político deve
exercer o que se convencionou chamar da “ética da responsabilidade”,
defendendo o bem comum e o bem estar da sociedade, sem se preocupar com o
simples exercício do poder ou com benefícios individuais advindo da sua
posição política. O político, espírita ou não, ciente de sua obrigação
com a ética da responsabilidade, sabe que não deve subverter seus
valores e, muito menos, aqueles que apresentou para seus eleitores.
Não
vejo problema em pedir apoio e o voto dos companheiros de ideal
espírita, desde que haja uma clara separação entre o espaço público e o
institucional, com o respeito à liberdade de consciência. Ninguém deve
se sentir constrangido ou obrigado a votar em um candidato apenas porque
é espírita. A partidarização e a utilização dos centros espíritas são
absolutamente indesejáveis e perniciosas em minha opinião. Temos que
agir de forma muito serena e responsável.
O EXERCÍCIO POLÍTICO
Não
se deve restringir o exercício político às campanhas eleitorais,
militância partidária ou participação em governos. Cabe a cada espírita
decidir livremente se é do seu interesse participar ou não esse tipo de
atividade e graduar o nível de engajamento. O exercício político, que se
confunde com a plena realização da cidadania, é exercido
cotidianamente, em cada espaço onde se dão as relações humanas. Atuamos
politicamente na família, na escola, no trabalho, no bairro, no clube,
no centro espírita etc.
Quando mobilizamos nossas energias em
torno de questões coletivas, que visam garantir e promover a cidadania, a
justiça, a equidade, o direito à diferença, a melhoria da vida em
sociedade, estamos atuando de forma política. Quando lutamos pela
preservação da natureza, contra a injustiça social, pelo fim da miséria,
em defesa da paz, pela democracia e pela liberdade, por exemplo,
estamos fazendo política. Viver em sociedade é um ato profundamente
político.
VOTO CONSCIENTE
Considero o voto uma
das decisões mais importantes e sérias que tenho periodicamente que
tomar na minha vida. Aqueles poucos minutos gastos na urna definem o
futuro de milhões de pessoas. Sou muito rigoroso e procuro tomar como
referência, para destinar o meu voto, um conjunto de critérios. Por mais
frágil que seja o sistema político brasileiro, procuro analisar
criteriosamente o partido e suas alianças políticas, ou seja, o grupo
que irá governar o Estado, implantar as políticas públicas ou formular
leis e fiscalizar o executivo. Analiso também o programa de governo e as
propostas defendidas (antes e durante o processo eleitoral). Levo em
consideração a biografia dos candidatos, sua postura e compromisso com
princípios éticos que considero fundamentais.
Nunca voto apenas
porque gosto ou confio em uma pessoa, ou porque ela é honesta. Confiança
e honestidade são pré-requisitos para a função pública, mas procuro
acompanhar criticamente o que fazem os partidos e os políticos
cotidianamente.
O voto consciente não pode ser exercido de forma
alienada, influenciado pelo que dizem os meios de comunicação, por
indicação de um amigo ou líder religioso que conhece o candidato.
Devemos submeter criticamente todas as informações disponíveis ao crivo
da razão, como nos ensinou Allan Kardec.
A escolha de candidatos
não deve ser também uma brincadeira inconsequente, elegendo o humorista
ou a celebridade de plantão. Por trás dessas figuras há sempre um grupo
de espertos aproveitadores, que acabam se beneficiando do voto
proporcional dado à legenda ou coligação. Por isso é importante também
conhecer as regras do processo eleitoral.
Já lamentei muito não
ter conseguido eleger candidatos em quem votei, porque teriam dado uma
grande contribuição à sociedade, mas nunca me arrependi do meu voto.
POLÍTICA E CIDADANIA
Minha
responsabilidade como cidadão não acaba no dia da eleição. Com o mesmo
rigor que escolho o partido e os meus candidatos procuro acompanhar,
monitorar e fiscalizar as ações dos políticos eleitos, com especial
ênfase àqueles que receberam o meu voto. O controle social é o mecanismo
mais efetivo de aperfeiçoamento do sistema político. Se cada cidadão
cumprisse esse dever cotidianamente (e não a cada quatro anos) teríamos
outro sistema político e um país muito mais civilizado.
A lógica
é muito simples. Você controlaria a sua conta bancária uma vez a cada
quatro anos? Veria o boletim dos seus filhos ou controlaria o que eles
assistem na TV uma vez a cada quatro anos? Controlaria as vendas do seu
negócio ou as despesas da sua empresa uma vez a cada quatro anos? Ou
controlamos os políticos ou eles nos controlam. Não adianta depois
reclamar ou afirmar simplesmente que não votou nesse ou naquele
político.
Uma vez eleito, o político que ocupa lugar no poder
executivo ou legislativo passa a ser um problema meu, seu e de todos
nós. Não importa se ele recebeu ou não o meu voto. Suas decisões têm
implicações na vida de toda a sociedade e, portanto, todos têm a
responsabilidade de controlá-los.
O regime democrático pode não
ser um sistema perfeito, mas é sem nenhuma dúvida o mais eficiente e
civilizado que a humanidade conseguiu erigir até o momento.
POLÍTICA E DEMOCRACIA
É
inegável que vivemos hoje num país democrático, ainda que em pleno
processo de desenvolvimento. Desde o fim do regime militar temos
eleições livres e democráticas. Todos têm o direito de votar e serem
votados. Nossas instituições funcionam com autonomia e independência,
embora ainda reféns da influência do poder econômico e das elites que
dominam algumas regiões. Os poderes executivo, legislativo e judiciário
funcionam com autonomia e regularidade. O Ministério Público atua
vigorosamente em defesa dos interesses coletivos e difusos. Temos
liberdade de expressão e imprensa livre. Vem crescendo na sociedade
brasileira a consciência da ética na política, isto é, o dever que têm
os políticos de se comportarem conforme os preceitos da democracia. Eles
são cada vez mais obrigados a agir com honestidade, fidelidade às
promessas de campanha e compromisso com o bem comum acima dos interesses
individuais.
Depusemos um presidente da República por
impeachment. Elegemos uma liderança operária que se tornou o mais
popular presidente da história democrática. Temos juízes negros.
Mulheres passam a lutar em pé de igualdade para exercer as mais variadas
funções públicas. Só quem não consegue comparar as mudanças históricas
que ocorreram no país é que pode colocar em dúvida a consolidação do
processo democrático no Brasil.
O nosso maior desafio agora é
acabar com a miséria e a ignorância. O exercício pleno da cidadania e a
garantia dos direitos sociais consolidarão de vez a nossa jovem
democracia. Tenho muito fé no futuro do Brasil.
POLÍTICA E MORALIDADE
O
Espiritismo, na definição de Allan Kardec, seu fundador, é a “ciência
que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas
relações com o mundo corporal”, uma filosofia espiritualista de
consequências morais. Ele é, por excelência, um agente da solidariedade
humana. Ao mostrar as provas da vida atual como consequências lógicas e
racionais dos atos praticados em anteriores existências, fazendo de
cada pessoa autor da felicidade própria, possibilita uma importante
contribuição à elevação do nível moral da sociedade.
Na lógica
espírita, a união da inteligência e da moralidade pode produzir formas
de organizações e sistemas — políticos, econômicos e sociais — mais
condizentes com as necessidades e dotados de maior poder de
legitimidade. Para o espiritismo, os homens não podem ser felizes
enquanto não viverem em paz e enquanto procurarem esmagar uns aos
outros.
Segundo Kardec, a causa do orgulho está na crença que o
homem tem da sua superioridade individual; a igualdade é um fato e não
uma teoria filosófica. São verdades que derivam da preexistência da alma
e da reencarnação.
A visão espírita, fundamentada nos
princípios da caridade, igualdade e fraternidade vai além, descortinando
novos horizontes e leis, provando que não se trata apenas de uma
doutrina moral, mas de uma lei natural, que está no interesse dos homens
em cultivar e praticar. Alarga o campo da solidariedade, que se assenta
numa lei universal da natureza, que liga todos os seres ao passado, ao
presente e ao futuro, e a cujas consequências ninguém pode subtrair-se.
A
visão de homem e de mundo proporcionada pela filosofia espírita
permite conceber um novo homem (moral), resultado e ao mesmo tempo
construtor de uma nova humanidade. Para o espiritismo, a harmonia que
rege o universo material e o universo moral está fundamentada sobre leis
naturais, inscritas em nossa consciência. Estão contidas na máxima de
amor ensinada por Jesus, baseadas nos preceitos de justiça, de amor e de
caridade. O trabalho, para o espiritismo, é uma lei natural, uma
necessidade para o aperfeiçoamento da sociedade e do próprio espírito. O
forte deve trabalhar pelo fraco e na falta da família, a sociedade deve
tomar-lhe o lugar: é a lei da caridade. O Estado, portanto, assume um
papel essencial de proteção e regulação das relações sociais.
POLITICAGEM
A
politicagem é uma sociopatia cuja fisiopatologia deve ser explicada por
questões relacionadas tanto ao indivíduo político como à sociedade. Não
existe corrupto sem o corruptor. Essas mazelas não são exclusivas do
setor público. Há muita corrupção, desvio de verbas e outros crimes na
esfera privada também. O problema é que o político corrupto que destrói a
idoneidade das instituições e rouba oportunidades de vida para o povo,
influencia a vida das pessoas mais do que qualquer outra atividade
humana. Assume, assim, as responsabilidades advindas da posição
privilegiada que ocupa. Pode até escapar, num primeiro momento, da
justiça humana, mas a justiça divina, inscrita nas leis da natureza,
haverá de lhe cobrar a fatura. Essa criatura, mais cedo ou mais tarde — e
o espiritismo alarga a dimensão temporal para além da morte física —
irá se defrontar com a própria consciência.
O aperfeiçoamento
dos sistemas sociais depende do esforço individual de cada ser e do
conjunto da sociedade. Só assim será possível construir o progresso e a
justiça social. O que você chama de politicagem é reflexo tanto das
fragilidades do sistema político, que requer aperfeiçoamento, como da
omissão ou conivência de parte considerável da sociedade, inclusive dos
cidadãos espíritas, com essas mazelas inaceitáveis.
Não podemos
esquecer que vivemos num mundo de provas e expiações, onde habitam
espíritos cujo estágio evolutivo ainda é marcado pelo predomínio do
orgulho, do egoísmo e de outras paixões. A vida em sociedade dá a
oportunidade de crescimento para cada individuo. Temos livre-arbítrio
para tomar as decisões que achamos mais adequadas em cada circunstância e
arcamos com as consequências delas advindas. Somos livres para errar ou
acertar.
A visão espírita nos traz muita esperança no futuro,
mas também uma enorme responsabilidade: afinal, o progresso da sociedade
depende de uma postura ativa de cada cidadão para que haja a
predominância do bem e a implementaçao de uma nova hegemonia, reflexo do
adiantamento intelectual e moral da sociedade.
REFORMA POLÍTICA
Nosso
país precisará enfrentar com urgência uma ampla reforma política que
modifique o sistema político, eleitoral e partidário. Defendo que
diversas medidas sejam adotadas: o financiamento público e a proibição
do uso de recursos privados nas campanhas eleitorais; o estabelecimento
do voto em lista pré-ordenada; a revisão do papel do Senado; a correção
das distorções do pacto federativo na representação parlamentar; a
convocação de plebiscitos para decidir questões de grande alcance
nacional; o fim da reeleição para todos os cargos majoritários a partir
das próximas eleições; a proibição do exercício de mais de três mandatos
consecutivos no mesmo cargo; o Orçamento Participativo e a
simplificação das formalidades para proposição de iniciativas populares
legislativas, dentre outras medidas.
A reforma política não pode
ser um debate restrito ao Congresso Nacional, que já demonstrou ser
incapaz de aprovar medidas que prejudiquem os interesses estabelecidos
dos seus integrantes. A sociedade precisa enfrentar esse debate e
desencadear uma campanha pela convocação de uma Assembléia Nacional
Constituinte exclusiva para realizar a reforma política, com mandatos
eleitos especificamente para promover a reforma das instituições
políticas do Estado nacional.
O ESPÍRITA E A CIDADANIA
A
visão de mundo a partir da filosofia espírita delega ao homem o papel
de sujeito, de protagonista de sua própria história, responsável pelo
que é e pelas circunstâncias em que se encontra. E mais: delega ao
próprio homem o papel de construtor de seu destino, de seu futuro, tanto
numa perspectiva individual como societária. Permite-nos vislumbrar, a
partir da perspectiva imortalista e evolucionista (não determinística,
mas sim, dialética), um novo comportamento pessoal, familiar e social em
busca da transformação da sociedade através de formas mais fraternas e
justas de convivência.
A filosofia espírita requer que estejamos
integrados com a vida, para alcançarmos a transformação que os novos
tempos requerem. Como afirma o escritor espírita venezuelano Jon
Aizpúrua: “o espiritismo não se reduz à fria experimentação de
laboratório. O científico e o filosófico se projetam no ético e no
moral...”. Daí a necessidade de participar ativamente do processo de
aperfeiçoamento da sociedade, do qual a política é um dos dispositivos
disponíveis.
Devemos agir de forma coerente com os princípios
éticos decorrentes da filosofia espírita. A concepção espírita
fundamenta-se nas leis naturais que regem o universo e indicam o que o
homem deve fazer para ser feliz. A lei (divina ou natural, segundo
Kardec) está inscrita em nossa consciência.
O instrumento para
distinguir o bem e o mal, segundo a visão espírita, é o uso da
inteligência. Ela permite o discernimento, mediado pela vontade, que se
mobiliza no sentido de fazer o bem, o máximo de amor capaz de
estabelecer novos patamares de relação entre os seres humanos e impor um
novo status evolutivo para a humanidade. Se efetivamente praticados e
perseguidos obstinadamente, a liberdade, a fraternidade, a solidariedade
e a justiça social podem propiciar uma existência profícua, que coloque
todo o potencial intelectivo do homem e o direcionamento de suas ações a
serviço do progresso.
AS DESIGUALDADES SOCIAIS
Desde
a Revolução Francesa deseja-se a felicidade na terra e não só no céu:
igualdade, liberdade e fraternidade. O resgate destes princípios passa
pela promoção da cidadania e a participação política. Não é possível
mudar o mundo sem tomar partido ao lado dos sofredores, contra qualquer
ordem de injustiça e tirania.
Os espíritos foram claros quando
responderam a Kardec sobre a origem das desigualdades sociais. Não são
obras de Deus. Traduzem o grau de adiantamento da sociedade. Segundo o
filósofo espírita Herculano Pires, somos co-construtores do Universo. Ou
assumimos o papel de protagonistas do nosso destino ou não veremos tão
cedo o “reino” de justiça, igualdade, fraternidade e felicidade que
tanto almejamos. Não cabe, portanto, uma posição de indiferença.
Compreender
as limitações alheias ou perdoar os nossos inimigos não pode ser
confundido com alienação ou perda da capacidade de indignação com o
sofrimento, a dor e a injustiça. A melhor maneira de exercer a
solidariedade e a caridade é lutando pelo direito de todos a uma vida
digna. Isso exige, entre outras coisas, um enorme compromisso com o
aperfeiçoamento de nosso sistema político, o que só ocorrerá com a
efetiva participação de cada cidadão.
Nossa capacidade de
alterar o destino das coisas é diretamente proporcional ao quanto nos
esforçamos e trabalhamos para que isto de fato ocorra.
O VOTO E A LIDERANÇA POLÍTICA
“Cada povo tem o
líder que merece” é uma frase que simplifica um tema de enorme
complexidade. É inegável a interferência do poder econômico, a
influência das elites e o complexo jogo de interesses que se expressam
nas relações de poder.
Segundo Allan Kardec, chegará o dia em
que o poder será exercido por uma aristocracia intelecto-moral. Para
ele, o desenvolvimento intelectual sem o guia dos princípios morais pode
ter consequências desastrosas para a humanidade. Por outro lado, a
simples moralidade pode não ter capacidade de dar conta dos desafios de
organizar e dirigir o Estado.
A união da inteligência e da
moralidade que Allan Kardec visualizou vai liderar o desenvolvimento e o
governo de nossa sociedade no futuro. Atingir esse patamar é nossa
responsabilidade e será fruto do nosso esforço individual e coletivo.
Este
ano elegemos o presidente, governadores, senadores e deputados nas
esferas federal e estadual. No caso do poder legislativo é preciso
entender como funciona o voto proporcional. Esse sistema eleitoral
contribui para garantir a representatividade dos cidadãos porque o voto
dado a um candidato menos votado ajuda a eleger outro candidato do mesmo
partido. Em tese, os membros de cada partido deveriam ter o mesmo
ideário político. É de se esperar que todos os candidatos de um mesmo
partido se identifiquem com o projeto do partido. Porém, quando o
partido se transforma em simples legenda eleitoral, sem coerência
partidária, o nosso voto pode sim eleger pessoas indesejáveis. Havendo
coerência partidária, não há “voto perdido” em eleições proporcionais
(exceto quando o partido não alcança o quociente eleitoral).
O
sistema eleitoral pode distorcer a representatividade ao facilitar a
eleição de políticos profissionais que estimulem a candidatura de
pessoas desinformadas, artistas, jogadores de futebol e outras
personalidades famosas somente para acrescentarem votos ao seu partido.
Tais políticos induzem as pessoas famosas a se candidatarem porque elas
trazem votos sem, contudo, colocarem em risco o seu favoritismo. Em
geral, a campanha não destaca o partido, e sim sua vida pessoal e
familiar, sua participação em igrejas e movimentos sociais, sua
honestidade pessoal e outros temas alheios à política. Sem entender bem o
funcionamento do sistema eleitoral é impossível saber qual será o
destino do nosso voto.
Voto para deputado não se “perde”, porque
conta para o partido. Por isso, é preciso informar-se sobre os outros
candidatos lançados pelo partido do candidato em quem desejamos votar.
Isso é tão ou mais importante quanto informar-se sobre as qualidades do
próprio candidato e sua capacidade para o exercício de cargo político,
porque o voto vai primeiro para o partido e só depois para o candidato.
E
sempre bom lembrar que a participação política e cidadã não termina com
o voto, no dia da eleição. Ela prossegue durante todos os dias, no
acompanhamento dos eleitos, na luta pelas melhorias em nossas
comunidades, na exigência da ética na política. O exercício da política,
com responsabilidade, faz parte da vivência espírita.
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