O que sente uma pessoa quando morre
A morte é sempre um tema que tem tanto de misterioso como assustador.
Talvez porque ninguém consegue
saber com clareza o que acontece no final da sua existência até aquele
momento final chegar, o Homem sempre teve um fascínio por saber qual
será a última coisa que experimentará antes de perder a consciência para
sempre.
Precisamente isso é o que tentou encontrar Anna Gosline, num artigo para a revista New Scientist,
publicado em 2007, depois de conversar com especialistas e rever
depoimentos tanto de testemunhas como de sobreviventes de 10 tipos
diferentes de mortes, desde paragem cardíaca até à decapitação.
A saber:
1. Afogamento
O afogamento
pode não ser uma das mortes mais dolorosas de uma pessoa, mas é de
certeza uma das mais angustiantes devido à enorme sensação de pânico
quando não se é capaz de respirar.
Conforme descrito pelo fisiologista e especialista em sobrevivência marinha da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, Mike Tipton,
a maioria das mortes por afogamento no mar são eventos extremamente
bruscos, onde dois terços das vítimas são reconhecidos como bons
nadadores.
A partir daí começa uma luta
desesperada para manter a cabeça acima da água, onde as tentativas de
tomar fôlego impedem a pessoa de gritar por socorro. Muitas vezes, os
corpos são encontrados em pé, com as mãos ligeiramente fechadas, como se
tivessem tentado agarrar uma escada invisível.
Quando a pessoa finalmente
submerge, tenta manter o ar o máximo possível, normalmente durante 30 a
90 segundos. Depois respira água, tosse e respiração ainda mais água, à
medida que esta lhe enche os pulmões e impede a oxigenação do sangue.
"Há uma sensação de rasgar e de
queimar à medida que o líquido invade as vias aéreas. Em seguida,
segue-se um estado de calma e tranquilidade ", diz Tipton, com base em
depoimentos de sobreviventes.
A tranquilidade é o resultado da falta de oxigénio para o cérebro. Finalmente, o coração pára e ocorre a morte cerebral.
2. A paragem cardíaca
Os ataques cardíacos podem
parecer uma maneira mais natural de morrer em comparação com as
execuções ou acidentes, mas também pode ser uma das mais dolorosas.
Enquanto alguns podem ser
fulminantes, na maioria dos casos os sintomas ocorrem até 6 horas de
antecedência, que são frequentemente menosprezados pelas vítimas,
especialmente mulheres, que atribuíram isso ao cansaço, indigestão ou
cólicas.
Estes incluem dor no peito, que
pode vir como pressão ou aperto, pois os pacientes geralmente descrevem
como "sentir-se sentados num elefante." A dor pode ser tão aguda que
corre ao longo da mandíbula, garganta, costas e braços.
Procurar ajuda médica é
essencial. Mais dos 85% dos pacientes que chegam às urgências a tempo,
sobrevivem. Aqueles que não sentem o seu coração a parar, perdem a
consciência em 10 segundos, morrendo minutos depois.
3. Hemorragia
Sangrar até a morte - dependendo de como se desenvolva - pode não ser tão horrível como parece.
Segundo o Dr. John Kortbeek
da Universidade de Calgary em Alberta, no Canadá, se uma pessoa corta a
aorta num acidente, vai morrer em segundos. No entanto, se for uma
artéria ou veia menor, o processo pode demorar horas, quando a pessoa
passará pelas diferentes fases de um choque hemorrágico.
Considerando-se que um adulto
tem cerca de 5 litros de sangue, uma perda de 750 mililitros pode causar
apenas sintomas leves. Se você aumentar para 1,5 litros, a pessoa vai
se sentir fraca, sedenta e ansiosa, começa a respirar rapidamente. Após
os 2 litros, a sensação passa para confusão, tonturas e eventualmente
inconsciência.
"Os sobreviventes de choques
hemorrágicos descrevem sentimentos diferentes que variam do medo até
uma relativa calma. Grande parte disso depende de quão grave foram os
seus ferimentos. Uma única ferida que penetra a artéria femoral na perna
será menos dolorosa do que múltiplas fraturas causadas por um acidente
de trânsito ", explica Kortbeek.
4. Fogo
Seja nos fogos tortuosos da Inquisição ou num incêndio, as queimaduras são uma das formas mais dolorosas de morrer.
Imediatamente, o calor e a
fumaça queimam as sobrancelhas e os cabelos, passando, de seguida, para a
garganta e vias respiratórias. Quando chega à pele, o fogo produz uma
intensa resposta em todo o sistema nervoso, que é ainda agravado pela
inflamação do tecido.
À medida que a pele se vai danificando, vai perdendo sensibilidade, mas não deixa ser uma experiência excruciante.
"As queimaduras de terceiro grau
não doem tanto quanto as de segundo grau, porque os nervos superficiais
foram destruídos, mas a diferença é quase semântica: uma queimadura
extensa é horrivelmente dolorosa em qualquer instância", explica o Dr. David Herndon, da Universidade do Texas.
Mas, ironicamente, num incêndio o
maior risco não são as chamas, mas os gases tóxicos. De fato, um estudo
norueguês, de 1996, constatou que de 286 vítimas mortais de incêndios,
75% morreram de envenenamento por monóxido de carbono.
Dependendo da concentração, isso
pode levar à dor de cabeça, tonturas e, logo de seguida, à perda de
consciência em poucos minutos. Além disso, segundo a Associação de
Proteção Contra Incêndios dos EUA, 40% das vítimas fatais de fogo perdem
os seus sentidos antes que consigam acordar do sonho.
5. Decapitação
Ainda que pareça macabro, a
decapitação é uma das mortes mais rápidas e indolores. Claro, isto se
for executada de maneira correta.
Mas, mesmo utilizando
dispositivos especializados, tais como uma guilhotina, sempre restarão
alguns segundos de consciência após o corte da coluna vertebral. Num
estudo realizado em ratos, em 1991, descobriu-se que o cérebro levou 2,7
segundos para terminar de consumir o seu fornecimento de oxigénio, o
que conduzido à proporção de seres humanos, pode levar cerca de 7
segundos de consciência.
Durante as numerosas execuções
da Revolução Francesa, houve relatos que falavam de movimentos das
sobrancelhas e olhos até cerca de 30 segundos após a decapitação, mas é
provável que tenham sido apenas reflexos post mortem.
6. Eletrocussão
Se estivermos a falar de
acidentes domésticos, a morte ocorre por paragem do coração produzida
pela descarga. Num estudo realizado na cidade canadiana de Montreal,
descobriu-se que 92% das vítimas de eletrocussão em suas casas, morreu
de arritmia cardíaca, que provoca inconsciência em 10 segundos.
Um circuito de alta tensão, no
entanto, provoca inconsciência instantânea. Isso bem sabiam os
prisioneiros executados na cadeira elétrica, que sofreram a paragem
imediata do coração e do cérebro, no que foi considerado um avanço sobre
as mortes por enforcamento.
Mas os investigadores não
concordavam se o método seria tão piedoso como diziam. Em muitos casos,
os presos tiveram de ser submetidos a choques múltiplos para terminar
com as suas vidas, e alguns acabaram envoltos em chamas devido ao
aquecimento que a electricidade produzia através dos seus corpos.
7. As quedas de alturas
Método utilizado por muitos
suicidas e homicidas, e também por acidente, cair de grandes alturas é
uma das mortes mais rápidas e eficazes. Um estudo realizado em Hamburgo,
Alemanha, relata que 75% das vítimas morrem em poucos segundos ou
minutos após a queda.
Com velocidades que podem
atingir até 200 quilómetros por hora, a uma altura de 145 metros ou
mais, a causa da morte depende do tipo de terreno onde se aterra e a
forma como a pessoa cai.
Previsivelmente, as quedas mais
devastadoras tendem a ser aquelas em que as vítimas caem de cabeça,
comuns em precipitações curtas (menos de 10 metros), ou muito altas
(mais de 25 metros).
A análise de 100 quedas suicidas
da ponte de São Francisco, a uma altura de 75 metros e a uma velocidade
de 120 km/h- revelou que a maioria das mortes ocorreu devido a traumas,
como colapso pulmonar, explosão cardíaca ou ferimentos múltiplos
causados por costelas partidas.
Aqueles que sobreviveram a
quedas de alturas relatam que, ao cair, sentiam o tempo ficar mais
lento. Uma reação instintiva é a de tentar pousar com os pés, que muitas
vezes resulta em pernas partidas na parte inferior da coluna e da
pelve, apesar de que há uma maior chance de ser salvo graças à proteção
dos órgãos internos.
8. Enforcamento
Método usado por muitos suicidas
e carrascos, a morte por enforcamento normalmente ocorre assim que a
pressão ao redor do pescoço corta o fornecimento de sangue para o
cérebro, causando perda de consciência em 10 segundos.
No entanto, a forca está longe
de ser uma maneira pacífica de deixar este mundo. Na melhor das
hipóteses, o peso corporal fará com que a corda parta o pescoço entre a
primeira e a segunda vértebras. Na pior das hipóteses, um nó feito de
forma errada provocará uma morte lenta e dolorosa, sufocando as vítimas
até 15 minutos.
9. A injeção letal
Concebida em 1977 como uma
alternativa humanitária à cadeira eléctrica, a injeção letal é um método
de execução nos Estados Unidos que consiste em três drogas
administradas de forma sucessiva: pentotal como um anestésico, seguido
por uma dose de pancurónio como um paralisante do sistema respiratório e
finalmente, cloreto de potássio, que pára o coração quase
instantaneamente.
Tecnicamente, o procedimento
deve fornecer uma morte rápida e pacífica, mas vários relatos de
testemunhas alegaram que, em muitos casos, os réus sofreram convulsões
ou tentaram levantar-se quando receberam as últimas drogas.
Segundo o Dr. Leonidas Koniaris
da Escola de Medicina da Universidade de Miami Miller, isto se deve
porque, por regra, usando a mesma dose de pentotal como um anestésico,
pode ser insuficiente no caso dos prisioneiros mais robustos.
Koniaris afirma que as pessoas
nesta situação desagradável experimentarão uma sensação de sufocamento
após a paralisia dos pulmões, e dor semelhante a uma queimadura
resultante de cloreto de potássio. Por esta razão é que a execução por
injeção letal está a ser analisada pelo Supremo Tribunal dos EUA.
10. Descompressão explosiva
Sendo um destino a que poucos de
nós estamos expostos, a menos que sejamos mergulhadores, pilotos ou
astronautas, a morte por descompressão leva a um fim digno de uma obra
de ficção científica.
A morte ocorre quando a pressão
do ar que nos rodeia desce repentinamente, fazendo com que os pulmões se
expandam e rasgando os tecidos delicados, que permitem o intercâmbio de
gases.
Se a vítima não expira ou tenta
manter o fôlego antes da descompressão, os danos serão ainda maiores. O
oxigénio começa a faltar do sangue e dos pulmões, enquanto o corpo
começa a inchar devido à evaporação da água nos tecidos.
Finalmente, as bolhas de vapor
de água inundará a corrente sanguínea, impedindo que o sangue circule.
Em apenas um minuto, o sistema circulatório pára.
Sobreviventes vítimas de
descompressão, que incluem pilotos e um técnico da NASA, cujo fato se
despressurizou dentro de uma câmara de vácuo, indicam que primeiro
sente-se uma dor no peito, como se tivessem sido espancados. Em seguida,
percebem que o ar se escapa dos pulmões e que são incapazes de voltar a
inspirar. Finalmente, perdem a consciência após cerca de 15 segundos.
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