Homofobia "Ele gritava a plenos pulmões que me mataria"
Jovem de 21 anos relata como foi agredido pelo pai do namorado no Shopping Paulista, em São Paulo, enquanto a segurança ignorava a situação
Me
chamo Fernando Souza, tenho 21 anos, e escrevo esse relato de forma
quase "vomitada". Enquanto o escrevia, tremia. E ainda tremo de nervoso.
Essa é uma história de violência e preconceito contra homossexuais, que
infelizmente ainda se repete no Brasil.
No dia 8 de
julho, meu namorado, de 20 anos, passou a manhã fazendo trabalhos da
faculdade no Shopping Pátio Paulista, em São Paulo. Fui encontrá-lo na
hora do almoço. Ao chegar, nos cumprimentamos e escolhemos um lugar para
almoçar na praça de alimentação.Estávamos
distraídos, quando o pai do meu namorado se aproximou. Segurou meu
pescoço violentamente e começou a me xingar. Em meio às diversas ameaças
de morte, me chamava de "viado" aos berros. Fiquei apavorado, e meu
primeiro instinto foi tentar buscar ajuda.
Após cerca
de um minuto de agressões físicas, consegui me soltar. Fui correndo até
uma segurança que estava ali perto, em busca de auxílio. Pedi para que
ela chamasse reforço. Ela passou uma mensagem pelo rádio.Enquanto
isso, o pai do meu namorado, exaltado, o agarrou e foi com ele recolher
suas coisas que estavam na praça de alimentação do shopping. Já estavam
deixando o local quando um segurança chegou.Pedi para que ele chamasse a polícia, para que segurassem o agressor... mas
eles nada fizeram. Disseram apenas que eu é que deveria chamar a
polícia. Enquanto isso o agressor repetia a plenos pulmões que me
mataria, que sabia meu endereço e que viria atrás de mim para me matar.
Senti-me amedrontado e sozinho.Ao meu redor, as pessoas do shopping apenas olhavam, sem oferecer ajuda ou chamar a polícia. Ninguém se moveu.
Quando
consegui contatar a polícia, o agressor havia ido embora, levando meu
namorado. Ninguém o impediu, ninguém fez nada, mesmo com a clara
violência presente na situação. A polícia também se negou a ir ao local
já que o agressor não estava mais lá.
Registrei o
caso no shopping e na delegacia. Depois, passei o dia sem notícias do
meu namorado. Somente na noite do dia seguinte conseguimos nos falar.
Ele me relatou que seu pai o havia ameaçado, que se ele não tivesse
aceitado ir embora daquele jeito, seu pai voltaria e me mataria. E assim
meu namorado foi.Quando chegou em
casa, o pai dele o agrediu. Deixou diversos hematomas pelo seu corpo. O
seu rosto sangrava, ele me disse. Além disso, o agressor e a mãe do meu
namorado o trancaram em um quarto por 24 horas. Não lhe deram comida ou
água, e ele ficou gritando enquanto seus pais fingiram que nada
acontecia.Desde então, não
conseguimos mais nos ver. Os pais do meu namorado tiraram dele todos os
meios de comunicação. Mantêm uma grande pressão física e psicológica
contra ele, constantemente me ameaçando de morte. A mãe dele chegou a
pesquisar meus dados - usando os benefícios da empresa em que trabalha –
para chantagear meu namorado. Ela disse a ele: "olha, eu tenho o
endereço dele, sei tudo da vida dele, posso mandar matar seu namorado se
vocês não terminarem".
Há um mês e
meio, estamos reféns de duas pessoas repletas de ódio. Indivíduos que
nos perseguem, ameaçam e agridem apenas porque somos gays.
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