Às vezes, também reclamava da vida. Como
toda pessoa, tinha sonhos e desejos irrealizados. O problema é que com o
tempo, sem que se soubesse o por quê, essas reclamações se tornaram
cada vez mais constantes. As menores dificuldades que surgiam o
aborreciam profundamente, ao mesmo tempo em que o desânimo com o
trabalho aumentava. Os conselhos da dedicada esposa o deixava irritado e
os filhos já não lhe despertavam a ternura de antes. Só conseguia
relaxar da tensão e da ansiedade do dia-a-dia na hora da cervejinha com
os amigos.
Com o tempo, perdeu completamente o interesse pelo trabalho,
chegando, mesmo, a odiar o emprego. O convívio com a família se tornava
cada vez mais insuportável e sua válvula de escape era beber... cada vez
mais.
A esposa, temendo a ruína total do lar,
sugeriu que o marido procurasse orientação psicológica. Jorge, num
lampejo de lucidez, aceita, mas não comparece mais que uma sessão. Cada
vez mais ausente e apático, só encontrava forças para brigar,
enfurecido, com a família, o que fazia com um certo prazer ao ver seus
entes queridos magoados. Isso acabava gerando um complexo de culpa, o
que o deixava preso ao círculo vicioso e doentio da depressão.
À noite, quase não dormia. Tinha
pesadelos constantes, escutava passos e via vultos pela casa. Não
admitia, mas no fundo começava a acreditar-se enlouquecendo.
É claro que seu corpo começou a
manifestar doenças cada vez mais difíceis de serem diagnosticadas, em
face a perturbação espiritual em que se encontrava.
Com a situação cada vez mais fora de
controle e o casamento ameaçado, a família resolveu levá-lo, por
indicação de terceiros, a um centro espírita. Jorge, surpreso com a
idéia, parecia uma fera presa por correntes indefiníveis. Mal assiste a
palestra. Irrita-se, debocha e por fim, cochila, mas após os passes
energéticos sente-se mais calmo.
Na semana seguinte, quando retorna, após o
trabalho de desobsessão, já começa a apresentar sinais de melhora.
Afirma sentir-se mais leve... chega a sorrir e abraçar a esposa.
Passados dois anos, Jorge é outra pessoa.
Iniciou, com sinceridade, a longa jornada do autoconhecimento e reforma
íntima, vivendo com mais lucidez. Passou a freqüentar o centro espírita
que tanto o ajudou e com o estudo da doutrina se tornou palestrante e
voluntário da casa, sendo um valioso médium nos trabalhos de
desobsessão.
Este é um caso que se repete aos milhares
todos os dias. Precisamos entender que toda sintonia espiritual, seja
com espíritos ou encarnados, tem suas raízes na alma de cada um. Diante
desta realidade, conhecermos o nosso mundo interior, mudando em nossas
vidas aquilo que nossa consciência nos aponta, é o começo do processo de
equilíbrio. Nossos hábitos são moldados por nossos sentimentos e
pensamentos, na maioria, inconscientes. São eles que elegem nossa
companhia espiritual. Mediunidade, acima de tudo, é a capacidade de
entrarmos em sintonia com a Inteligência e Amor de Deus.
Transformemos nossa vida, começando por nós mesmos. O resto, é conseqüência!
Nenhum comentário:
Postar um comentário