segunda-feira, 12 de setembro de 2011

UMA VISÃO ESPÍRITA DA VIOLÊNCIA NO BRASIL





Não apenas na visão dos estudiosos da Antropologia Social mas, muito além dela, constata-se, pela observação diuturna, a índole marcantemente generosa do povo brasileiro. Aqui não se cogita de restaurar-se a tão propalada e, ao mesmo tempo, objeto de severas críticas dos cientistas sociais de formação materialista, a tese do brasileiro cordato.

O que tem de equivocado nessa concepção, no entendimento rigoroso de uma visão espírita, é apenas o modo torto e inaceitável de compreendê-la como afirmação de formas pacíficas de agir com elevado grau de predominância em nosso meio social já que a realidade também e, sobretudo nos últimos tempos, tem dado mostras de uma crescente e espantosa violência a corroer o tecido social de nossa pátria como a configurar um fenômeno até então desconhecido e representado por algo como uma mistura de duas populações de índoles opostas: uma, generosa e predominantemente pacífica; outra, contrariamente, a exibir um primitivismo asselvajado.

Por tais razões, o Espiritismo e as ciências sociais de cunho materialista divergem quanto à aceitação do caráter predominante da cordialidade em nosso país, porque estas últimas não podem aceitar a existência de uma diferenciação comportamental a caracterizar o nosso povo, tornando-o especial entre os demais, embora contundentes evidências, mais do que favorecer, comprovem essa natureza que só pode ser explicada pela prevalência de causas espirituais.

Não há, infelizmente, em nosso país, uma unanimidade quanto ao caráter de cordialidade e o Espiritismo bem compreende isto e também lhe conhece as razões. É que ainda não ingressamos na nova era da regeneração, ao mesmo tempo em que trazemos, como coletividade, os estigmas dos débitos individuais e aqueles outros que o Brasil adquiriu ao longo de sua história. Por isso mesmo, junto às razões que ao longo deste estudo serão expostas, vivemos sob o impacto da crescente onda de violências, causa de indignação e perplexidade ante o que foi acima constatado e vem em socorro do que afirmamos. No entanto, é fato que a própria história do Brasil revela surpreendentes soluções de seus conflitos intestinos a mostrarem-se conciliadoras e com sofrimentos mínimos relativamente a ocorrências da mesma natureza registradas em outras nações. De outra parte, o farto noticiário de crimes hediondos; a difusão dos tóxicos a condenar, sobretudo, grande número de jovens; os escândalos públicos de desrespeito dos que deveriam zelar pelos interesses da coletividade; a crescente onda de licenciosidade; o uso da crença para a prática descarada e lamentável do crime de simonia e, sem que nisso se esgotem os reparos a configurarem um estado de inferioridade espiritual, o quadro de desrespeito público à autoridade de pais e mestres, tudo isso, no Brasil, afigura-se como fortes indícios contra a natureza mais elevada de nossa povo.

Os espíritas, em especial, diante do que é apenas superficialmente lembrado, quedam-se perplexos ante as afirmações trazidas por fontes mediúnicas confiáveis, em que os guias da mais elevada hierarquia revelaram o caráter especial do Brasil como ' o coração do mundo; a pátria do evangelho'. Por outro lado quem, em sã consciência, seria capaz de negar ou atribuir a uma possível e apaixonada miopia quanto à realidade da vida social em nossa pátria, o caráter de generosidade da maioria? Como são extensas e numerosas as colônias de descendentes de estrangeiros - nesta abordagem da crescente e preocupante violência a agir, qual um câncer a corroer o tecido social do país em suas variadas e amplas expressões - reconhecidos pelo modo diferenciado com que acolhemos os que aqui aportam na condição de imigrantes. Como negar a marcante faceta da solidariedade social para com as vítimas das catástrofes cujas raízes espirituais ainda não compreendemos, tal o que se deu e ocorre ainda, na ocorrência dolorosa do Haiti? No entanto, deve-se mirar o caráter futurístico ou de meta a ser alcançada, no tempo histórico assinalado pela providência divina, o que nos foi revelado como a destinação do Brasil!

Ao mesmo tempo, infere-se que a revelação espírita abriu, duplamente, queremos ressaltar, os portais da dita vida eterna. Primeiramente, por exibir a pujante vida no além túmulo em suas inumeráveis facetas, desde as regiões paradisíacas de seres voltados para o bem e para seu crescente aperfeiçoamento espiritual, até aquelas outras, formada por trevas e dores e onde os calcetas, tidos por flagelos da humanidade, carpem seus crimes até disporem-se à prática do amor, tal ensinado por Nosso Senhor Jesus Cristo e destino inexorável de todas as criaturas. Em segundo lugar, escancararam-se as portas do além para que, pela via da reencarnação maciça possibilitada, sobretudo, pelo fenômeno mais que centenário da explosão demográfica, pudesse reencarnar na Terra um enorme contingente de espíritos retrógrados, de culturas primitivas e, boa parte deles, fria e violenta.

É nesse mecanismo, acelerado por outro fenômeno demográfico de profundas implicações espirituais configurado pela urbanização, a colocar, frente a frente, espíritos que, como as hordas de bárbaros antes cruzavam as fronteiras para as guerras de rapinagem, destruição e estupros, agora, pela fronteira da reencarnação, invadem os lares e, neles e aos seus derredores, destróem já não mais ou apenas a infra-estrutura física e a vida dos vencidos, mas o edifício social carcomido pela fragilidade das bases com que foi erigido pela humanidade.

Como jamais houvera ocorrido na história, nestes dias configura-se a nítida dualidade entre os polos antípodas do bem e do mal. Por acaso não se percebe que as oposições, aqui sucintamente exibidas, não crescem a olhos vistos? Que fenômeno torna mais patente o exacerbamento dos embates mencionados do que o denominado conflito de gerações? Onde, senão à custa da doutrina reencarnacionista vai-se compreender o que claramente ultrapassa a velha e insuficiente tese de afirmação das personalidades juvenis como causa dos conflitos de gerações? Que prova mais definitiva da direção espiritual na história do que mostram as novas gerações naquilo que constitui suas contribuições ao progresso geral? Como explicar que as revoluções científicas e culturais ocorram, preponderantemente, na juventude? Fossem elas frutos das conquistas do hoje não seria de esperar-se que, na maturidade, dessem contribuições ainda maiores? E de onde trouxeram os conhecimentos que não podem ser atribuídos à formação dos jovens pois revolucionários da ordem estabelecida? Quando, senão nesta era, os mecanismos institucionais e voluntários da solidariedade social apresentaram-se tão patente e crescentemente quanto agora?

Em países como os Estados Unidos o serviço social voluntário é praticado por dezenas de milhões de criaturas e, até mesmo, é estimulado pelas corporações econômicas! E o seguro, o que representa a não ser um mecanismo inteligente de solidariedade na repartição dos riscos que afetam a frágil condição humana? O próprio capitalismo, embora padecente da enfermidade fatal do egocentrismo representado pelo princípio do lucro e pelo mecanismo anticristão da lei de mercado, não vem se modificando a custa de concessões ao trabalho? O que revelam, essas antinomias, senão as dores do parto de uma era que dará à luz a uma grande transformação deste mundo para que nele, definitivamente, estabeleça-se uma sociedade fraterna. Os bárbaros, agora, encontram-se infiltrados em nossas famílias, mostram a que vieram sem se darem conta de que, ao fazê-lo, agem para favorecer o cumprimento dos desígnios de Deus para o estabelecimento do mundo de regeneração, ao mesmo tempo em que, mergulhados numa civilização que os superou, despertam eles mesmos para uma nova realidade a que chegarão pela dor, pelo choque cultural e pelos exemplos que recebem, em especial pelo amor dos pais nos lares, pela tolerância das leis convencionais e pelas conquistas sociais consolidadas em tantos países. É sob esta ótica que se deve compreender o quadro especial da violência generalizada que se observa no Brasil.

Entenda-se que boa parte dos espíritos mais retrógrados aqui aportados pela reencarnação têm necessidade de receber sólidos exemplos de amor fraternal e, ao mesmo tempo, dentro do quadro de necessidades provacionais da coletividade, somos nós os necessitados dos sofrimentos por eles gerados. Assim, o que se compreende como a família espiritual brasileira aceitou recebê-los em seu seio para proporcionar-lhes os ensinamentos que, neste mundo alijado das preocupações com as verdades eternas, nenhuma outra nação poderia oferecer-lhes e, por tal razão, compreendemos a coexistência das duas coletividades no mesmo espaço nacional. Onde, pergunta-se, o sentimento de amor ao próximo estaria manifestado no que a visão canhestra dos fundamentos cristãos da família brasileira entende ser a tibieza das leis convencionais aqui vigentes? Por acaso não vêem que, tantas vezes, os homens públicos, sem sabê-lo, agem atendendo a propósitos superiores que lhes são impostos? Onde a paciente tolerância negocia com seqüestradores e rebelados quando, nas demais nações, atiradores de elite e tropas violentas agem prontamente para liquidá-los e fazerem valer a autoridade? Em que nação os apenados têm licença para visitar familiares em certas datas comemorativas e onde as múltiplas penas somam-se sem ultrapassarem o limite de trinta anos?

Do exposto e tudo o mais que, para não entediarem-se os leitores, não se menciona, sai vitoriosa a compreensão espírita de que todo esse quadro de perplexidades e de justa indignação ante as infaustas e freqüentes transgressões às mais elementares regras do respeito à lei e ao semelhante, é passageiro e modificar-se-á tão prontamente a família espiritual brasileira possa apresentar-se liberta pela obra de intensa caridade espiritual que lhe é reservada pela providência divina antes de afirmar-se, definitivamente, como a pátria do evangelho restaurado pela Doutrina Espírita, o Consolador prometido por Jesus a seus apóstolos tal o é, também, à posteridade em que todos viveremos.

Jorge de Souza

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