sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Planejamento familiar sob a ótica espírita “

Planejamento familiar sob a ótica espírita

“Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo.” (João, 3:7.)

Clara Lila Gonzales de Araújo

A análise do presente tema embasa-se no Evangelho e na Doutrina Espírita, abstendo-se, contudo, de destacar as teses das ciências materialistas, que buscam solucionar esses delicados e intrincados problemas sem o conhecimento das soberanas leis da vida, originadas no princípio divino da reencarnação.

Reencarnar é a oportunidade bendita que temos para retornar à vida corporal, cumprindo, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus nos confia; permite- nos demonstrar o uso que faremos de nosso livre-arbítrio, por meio de abençoado aprendizado, e estabelecer, para isso, diretrizes adequadas ao engrandecimento de nossos destinos imortais, através dos laços da verdadeira fraternidade.

Em decorrência, os compromissos fixados em nosso programa existencial não são meros acordos superficiais, mas ensejam a possibilidade de podermos realizar, em uma nova existência, o que não foi possível fazer ou concluir, nas provas de vidas anteriores. Daí procede a certeza de que não escaparemos das resoluções infelizes, sem os ajustes necessários para resgatarmos os débitos contraídos no pretérito e que tantas mutilações e conflitos geraram em nossas almas. A esse respeito, afirma Allan Kardec, em nota à questão 171, de O Livro dos Espíritos:

A doutrina da reencarnação [...] é a única que corresponde à idéia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam.KARDEC, Allan.
O livro dos espíritos. 2. ed. espec. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Comentário de Kardec à questão 171." class="tooltip">1


Sem dúvida, o Espírito reencarnado pode e deve preocupar-se em planejar a constituição e a organização de sua família terrena: o número de filhos, o período propício para maternidade etc., sem eximir-se, no entanto, dos imperiosos resgates a que está vinculado.No entender do nobre Espírito Joanna de Ângelis,“ os filhos, porém, não são realizações fortuitas [...] Procedem de compromissos aceitos antes da reencarnação pelos futuros progenitores, de modo a edificarem a família de que necessitam para a própria evolução”. FRANCO, Divaldo P.
Após a tempestade. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1974. Cap. 10, p. 58-62." class="tooltip">2
E conclui a bondosa Mentora:

A programação da família não pode ser resultado da opinião genérica dos demógrafos assustados, mas fruto do diálogo franco e ponderado dos próprios cônjuges, que assumem a responsabilidade pelas atitudes de que darão conta.
O uso dos anticonceptivos como a implantação no útero de dispositivos anticoncepcionais, mesmo quando considerado legal, higiênico, necessita possuir caráter moral, a fim de se evitarem danos de variada consequência ética.______. ______. p. 60." class="tooltip">3

As decisões quanto à utilização de recursos anticonceptivos, por parte dos casais espíritas, devem nortear-se pelos padrões morais-cristãos adqui- ridos nos ensinos dos princípios fundamentais da Doutrina, confiantes nas palavras lúcidas e iluminadas dos benfeitores espirituais, que declaram:

Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar, sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades. Não deve opor-se-lhe sem necessidade. A ação inteligente do homem é um contrapeso que Deus dispôs para restabelecer o equilíbrio entre as forças da Natureza e é ainda isso o que o distingue dos animais, porque ele obra com conhecimento de causa. [...]KARDEC, Allan.
Op. cit., q. 693a." class="tooltip">4


Sem esquecer que “tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral”.______. ______. Q. 693." class="tooltip">5

As questões do sexo, entretanto, não se reduzem a meros fatores fisiológicos, mas se concentram na alma, em sua sublime edificação. Ao retornarmos ao mundo carnal, mesmo sem condições de viver integralmente em regime de purificação, pelas próprias imperfeições que ainda nos caracterizam, é necessário despender intensos esforços para conquistar qualidades mais elevadas, como a ternura, a humildade, a delicadeza e o amor fraterno, a fim de lograrmos êxito ao obter o necessário equilíbrio em nossas exteriorizações do sentimento.

O preclaro autor espiritual André Luiz, em um de seus livros, relata a experiência vivida, junto com seu Instrutor Calderaro, em centro de estudos “onde elevados mentores ministram conhecimentos a companheiros aplicados ao trabalho de assistência na Crosta”.XAVIER, Francisco C.
No mundo maior. Pelo Espírito André Luiz. Ed. espec. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 11, p. 159." class="tooltip">6
Na ocasião, o mensageiro responsável pela explanação da noite fez os seguintes comentários, entre outros, sobre problemas atinentes ao sexo:

A construção da felicidade real não depende do instinto satisfeito. A permuta de células sexuais entre os seres encarnados, garantindo a continuidade das formas físicas em processo evolucionário, é apenas um aspecto das multiformes permutas de amor. [...] Desenvolvamos, pois, carinhosa assistência aos que se desesperam no mundo [...]. Ensinemo-los a libertar a mente das malhas do instinto, abrindo-lhes caminho aos ideais do amor santificante, recordando-lhes que fixar o pensamento no sexo torturado, com desprezo dos demais departamentos da realização espiritual [...] é estacionar, inutilmente, no trilho evolutivo [...].______. ______. p. 167." class="tooltip">7

Como reter o fulgor revelador desses conceitos, no momento em que tantas pessoas, motivadas pela excessiva permissividade sexual, ultrajam valores morais de forma inimaginável? Lamentavelmente, em meio a tantos descalabros do sexo, a maternidade aviltada busca o aborto como solução para repelir os filhos indesejados, especialmente entre certos jovens, desnorteando os pais que não os prepararam devidamente para o enfrentamento das consequências de ligações sexuais precoces e irresponsáveis, sem nenhum cuidado com os compromissos morais assumidos de uns para com os outros. De que forma sanar problemas tão graves?

O Espiritismo revela-nos algo fundamental:

Louváveis esforços indubitavelmente se empregam para fazer que a Humanidade progrida [...]. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do mal. [...] Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. [...] Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. [...]KARDEC, Allan.
Op. cit., comentário de Kardec à questão 917." class="tooltip">8
(Grifo nosso.)

Essa educação deve fazer parte do programa familiar, a ser ministrada nos lares onde predominem o amor cristão e a fraternidade entre seus membros, unidos pelos laços da parentela: orientar os filhos sobre temas alusivos ao sexo, abordando-se questões de acordo com o nível de compreensão de cada faixa etária, da infância e da adolescência, tendo como referência principal a visão espírita, por considerar o retorno ao corpo de carne conjuntura sublime de aperfeiçoamento dos sentimentos e de aprimoramento das condições intelecto-morais; preparar os jovens para o uso responsável da sexualidade, a partir de comportamentos de equilíbrio emocional e de respeito ao próximo, de modo a evitar, no futuro, arrastamentos no terreno da aventura que interfiram na integridade e na formação do caráter deles; ensinar às novas gerações que o dever é a obrigação moral da criatura para consigo mesma, primeiro, e em seguida, para com os outros, conforme aconselha o Espírito Lázaro, em mensagem recebida, em 1863: “O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós”.______.
O evangelho segundo o espiritismo. 4. ed. espec. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 17, item 7." class="tooltip">9


“Identifiquemos no lar a escola viva da alma”,XAVIER, Francisco C.
Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 4, p. 26." class="tooltip">10
sem esquecer que as gerações novas, conforme prenunciado por Allan Kardec, são Espíritos que reencarnarão com o objetivo de “fundar a era do progresso moral”KARDEC, Allan.
A gênese. 2. ed. espec. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 18, item 28." class="tooltip">11
e, mesmo sem ascenderem a classes mais elevadas na escala espírita, estarão em condições de contribuir para melhoria da Terra.

Acolhamos o ensinamento de Jesus sobre a necessidade de nascer de novo (João, 3:7): como pais, favorecendo a vinda desses Espíritos que necessitam povoar o orbe para sua transformação em mundo de regeneração; como espíritas, planificando a existência em prol do esforço a desenvolver pela nossa transformação moral e procurando, na prática constante da caridade, sobretudo no reduto familiar, as condições ideais de vida.

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