segunda-feira, 14 de novembro de 2011

 

MARLAN ROCHA: MORRE O ESTADO DO RIO SÃO FRANCISCO





Qual será o sentido da vida: nascer, crescer, se reproduzir e morrer? Ou quem sabe plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho? Se forem somente estes os motivos, a passagem de Marlan Rocha pela terra não teria sido em vão. Mas pelo contrário, podemos ter a certeza: 75 anos foi muito pouco tempo para aquele grande homem.

Ele não só deu imenso sentido a sua própria existência, nos concebeu o direito de sonhar, sonho este de vida melhor, de justiça social, igualdade, fraternidade ou simplesmente, viver dignamente e quando, amparado num novo estado da federação.

Barreirense nato da “beronha” do Rio Grande, Marlan fez o primário na Escola Costa Borges e no Colégio Padre Vieira. Já no Rio de Janeiro conclui o ginásio no Colégio Juruena e logo depois, se graduou numa das melhores escolas de administração da América Latina, a Fundação Getúlio Vargas.

Trabalhou na transição do antigo IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, para o que hoje é o INCRA. Neste período foi encarregado de organizar o novo órgão entre a Bahia e o Paraná, onde multiplicou sua paixão pela nossa terra e peloo povo brasileiro, em especial, a paranaense Terezinha Rocha, com quem se casara.

Marlan atuou no IBAMA, foi Assessor da Secretaria de Planejamento do Estado do Maranhão, trabalhou no Governo de São Paulo, e participou ativamente na instalação administrativa do recém criado Estado de Rondônia.

Ele era uma verdadeira biblioteca ambulante: Dante Alighieri, Guimarães Rosa, Karl Marx, Castro Alves, Vitor Hugo e tantos outros, pareciam viver balbuciando aos ouvidos daquele homem.

Sua paixão pela literatura nos garantiu a instalação da 1ª biblioteca pública de Barreiras (hoje na Praça Amphilofio Lopes), que leva o nome de seu irmão querido, o também genial professor Folk Rocha.

O Parque de Exposições Agropecuário Geraldo Rocha, em Barreiras, foi resultado de seu trabalho em convencer Dr. Orlando de Carvalho a doar o terreno para construção, provando assim, sua habilidade política e visão futurista. Porém, no ato de inauguração do Parque, seu verdadeiro idealizador, Marlan Rocha, nem se quer convidado fora.

Ele dizia sempre que o desenvolvimento de uma nação passa prioritariamente pela educação de sua gente, e por isso, trouxe para cá a 1ª Escola Técnica, dando-nos a capacitação necessária para contribuir decisivamente na transformação da nossa região num dos maiores celeiros agrícolas do Brasil. A Agrotécnica Geraldo Rocha foi parte de um mega projeto desenvolvido por ele em 1973, que incluiu ainda, a instalação dos primeiros projetos de irrigação no vale, pela CODEVASF.

Certa vez, Marlan trouxe a Barreiras, escoltado por um policial Federal, que desconhecia a identidade do passageiro, o lendário deputado Chico Pinto, de quem o senador Pedro Simon chamou de, “um puro, um digno”. Marlan quando fez política eleitoral rodeou-se de pessoas da mais alta estirpe moral. Integrou a ala denominada de “Os Autênticos”, alcunha dada pelo Jornalista Carioca Evandro Paranaguá, ao grupo político dos que defendiam os direitos humanos e a soberania nacional durante a Ditadura Militar na década de 70, no Brasil, e que faziam parte do velho MDB, hoje o “morto-vivo” PMDB.

Getulista convicto, Marlan foi candidato a deputado estadual, e nunca foi querido entre a “grande classe política local”, não por sua controvérsia, genialidade ou “ríspida” moral, mas por ter sido livre, independente ideologicamente e financeira, que pensava por si só, ou simplesmente, por não bajular o poderoso da hora em busca de ganhos pessoais! Pois nesta terra, não agradar ou criticar publicamente um político é motivo para todos os infortúnios, até o desaparecimento físico.

Mas, seu maior feito foi à inclusão do projeto de criação do Estado do Rio São Francisco na Assembléia Nacional Constituinte de 1987/88. Ele convenceu nada mais, nada menos que, 171 deputados a endossar sua causa, ou seja, um terço da Câmara Federal, e isso não deve ter sido nada fácil, diante todo aquele conturbado momento de reinstalação da democracia no Brasil.

Marlan enfrentou o Estado da Bahia e seus representantes que sempre foram contra, confrontou o projeto do novo Estado de Cabrália que, incluía boa parte de nossas terras, expulsou o Pernambuco que desejava a devolução desta área, e ainda “de quebra”, convenceu o Senador Pernambucano, Mansueto Lavor, a fazer parte de sua causa mesmo que, inviabilizasse os projetos dos pernambucanos e dos “riosãofranciscanos”. “Marlan Rocha foi o herói do exército de um homem só, o nosso verdadeiro Simom Bolívar”.  

Mais de 20 novos estados brasileiros tentaram e tentam nascer desde a nova constituição, todos estes tinham e têm seus líderes políticos: dezenas de senadores, centenas de deputados federais e estaduais, e milhares de prefeitos e vereadores, porém, o Estado do Rio São Francisco tinha Marlan Rocha, que valia e sempre valeu mais que todos os nossos representantes políticos da região juntos, e olha que ele nunca teve mandato algum, era somente ele e ele mesmo.  

Por isso, adiciono à afirmação do conceituado Pós-Doutor em Geografia pela Open University da Inglaterra e professor da Universidade Federal Fluminense, Rogério Haesbaert da Costa, que garantiu em 1996, que Marlan Rocha era “o principal articulador do movimento Pró-Criação do Estado do Rio São Francisco”. Mais do que isso “Seu Dotô”: ele foi o sonho, o nome, as cores, a bandeira, o hino, o brasão. Marlan era o próprio Estado do Rio São Francisco.

Contudo, ele não deixou de ser o filho, o irmão, o tio e o pai. O livro, a biografia de Geraldo Rocha; Os filhos: Folk, Augusto, Juliana e Camila. A árvore: o Estado do Rio São Francisco.

E agora, quem empunhará a bandeira pelo nosso Estado? Quem fará o lobby do bem em Brasília? Quem no front abdicará dos seus mais íntimos interesses políticos e pessoais, e com a faca entre os dentes desafiará o novo/velho governo da Bahia contra este desgoverno? Quem de coragem dirá: “Wagner, já se passaram três anos, você nos pediu apenas dois, e agora? Não será esses políticos (a) que aí estão! Até por que, onde estiveram todos (a) nestes últimos 22 anos?

Mestre Marlan, meu muito obrigado por tudo, vá em paz. Pois daqui, “sempre lhe contarei uma vantagem”.

Concluo meus amigos e amigas, desejando-lhes Feliz Natal e um 2010 cheio de saúde, paz e alegrias. Deixo apenas as sabias palavras de Geraldo Rocha: “... O povo que ainda produz loucos desta espécie, tem direito de conservar esperanças de ver realizado o milagre da ressurreição”.

Por Fernando Machado
Pré-Alfabetizado

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