Atitude e Comportamento
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Percepção: 3.1. Significado; 3.2. Personalidade e Autoconceito; 3.3. Distorção Perceptiva. 4. Atitude e Comportamento: 4.1. Componentes Básicos das Atitudes; 4.2. Formação das Atitudes e dos Comportamentos: 4.2.1. Observações Experimentais; 4.2.2. Pavlov; 4.2.3. Doutrina Espírita; 4.3. Diferença entre Atitude e Comportamento. 5. Mudança de Atitudes e de Comportamentos. 6. Conclusões. 7. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é fornecer subsídios para uma
reflexão mais acurada sobre a tão propalada reforma íntima, entendida por nós
como uma mudança comportamental. Veremos o conceito de atitude e comportamento,
desenvolveremos idéias sobre a percepção, a formação das atitudes e
comportamentos e a possibilidade de mudança do nosso modo de pensar e de agir.
2. CONCEITO
Atitude - Do latim aptitudinem atitude,
através do italiano attitudine significa uma maneira organizada e
coerente de pensar, sentir e reagir em relação a grupos, questões, outros seres
humanos, ou, mais especificamente, a acontecimentos ocorridos em nosso meio
circundante. (Kardec, 1978, p. 7) É um dos conceitos fundamentais da psicologia
social. Faz junção entre a opinião (comportamento mental e verbal) e a conduta
(comportamento ativo) e indica o que interiormente estamos dispostos a fazer.
Segundo Jean Meynard, “É uma disposição ou ainda uma preparação para agir de uma
maneira de preferência a outra. As atitudes de um sujeito dependem da
experiência que tem da situação à qual deve fazer face”. Pode se dizer também
que é a “Predisposição a reagir a um estímulo de maneira positiva ou negativa”.
Comportamento. Porto, em latim, significa
levar. Em português passou a forma reflexiva: portar-se. O prefixo “com” denota
um modo global de levar-se, portar-se. É o conjunto organizado das operações
selecionadas em função das informações recebidas do ambiente através das quais o
indivíduo integra as suas tendências. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)
Em sentido mais geral designa a mudança, o movimento ou a reação de qualquer
entidade ou sistema em relação a seu ambiente ou situação.
Em termos científicos, o comportamento pode ser visto:
a) em Psicologia, o comportamento constitui o seu
próprio objeto;
b) em Biologia, designa todas as ações e reações
dos seres vivos relativamente ao meio;
c) em Antropologia, são os aspectos da cultura
necessariamente referíveis ao organismo humano;
d) em Economia, além das decisões dos agentes
econômicos, a ações previstas pela teoria da racionalidade;
e) em Sociologia, as atividades dos grupos humanos;
f) em Ergonomia, as atividades dos sistemas
homem-máquina. (Polis Enciclopédia)
Mudar significa tornar-se diferente do que era,
física e moralmente.
3. PERCEPÇÃO
3.1. SIGNIFICADO
A Percepção é uma atividade do espírito que organiza
os dados sensoriais pelo qual conhecemos a “presença atual de um objeto
exterior”.
Graficamente:
P.S. →
e
→
P.E.S.→
|
←
←
Corpo
Físico
→ →
|
←
←
Perispírito
→ →
|
←
←
Espírito
↑
→ →
|
Explicação:
as informações nos chegam através das percepções sensoriais e das
extra-sensoriais. Passam, primeiramente, pelo corpo físico; depois, pelo corpo
perispiritual, e, por último, chegam ao Espírito propriamente dito. O senso
crítico está localizado no Espírito, que faz a seleção de tudo o que lhe chega,
enviando de volta, como crítica conceituada.
3.2. PERSONALIDADE E AUTOCONCEITO
Personalidade. Os psicólogos utilizam o termo num
sentido neutro e universal, como representando aquilo que caracteriza o
indivíduo. Embora haja uma infinidade de definições, o ponto central é a
consistência das reações que uma pessoa tem em diversas situações.
Autoconceito. A maneira como vemos a nós mesmos está
intimamente relacionada à noção de personalidade. Consciente ou não, cada um de
nós tem uma imagem de si mesmo que influencia tudo o que dizemos ou fazemos ou
percebemos em relação ao mundo. São os nossos valores, as nossas crenças, a
nossa habilidade de lidar com o mundo e os objetivos que temos em mente. (Bowditch,
1992, p. 62 a 76)
3.3. DISTORÇÃO PERCEPTIVA
Um dos grandes problemas da percepção é a distorção
perceptiva, ou seja, vemos as pessoas de uma forma bem diferente das que elas
são, ou daquela como estas nos são objetivamente apresentadas.
Entre tais distorções, citamos:
estereotipagem
- É o processo de usar uma impressão padronizada de um grupo de pessoas para
influenciar a nossa percepção de um indivíduo em particular. Estigma.
efeito halo
- Consiste em deixar que uma característica de um indivíduo ou grupo encubra
todas as demais características daquele indivíduo ou grupo.
expectativas - Consiste em "vermos" e "ouvirmos" o
que esperamos ver e ouvir e não o que realmente está acontecendo. (Bowditch,
1992, p. 62 a 76)
4. ATITUDE E COMPORTAMENTO
4. 1. COMPONENTES BÁSICOS DAS ATITUDES
Num estudo mais detalhado das atitudes, podemos dizer que
elas possuem três componentes básicos: componente cognitivo, que
são os nossos pensamentos e crenças;
componente afetivo, que são os nossos
sentimentos e emoções; componente comportamental, que são as nossa
tendências para reagir.
“Diz-se que uma atitude está formada quando esses
componentes se encontram de tal maneira inter-relacionados que os sentimentos e
tendências reativas específicas ficam coerentemente associadas com uma maneira
particular de pensar em certas pessoas ou acontecimentos. Desenvolvemos nossas
“atitudes” ao enfrentarmos e ajustarmo-nos ao meio social e, uma vez
desenvolvidas, emprestam regularidade aos nossos modos de reagir e de facilitar
o ajustamento social”. (Kardec, 1978, p. 7)
4.2. FORMAÇÃO DAS ATITUDES E DOS COMPORTAMENTOS
4.2.1. OBSERVAÇÕES EXPERIMENTAIS
Os processos condizentes à aquisição de atitudes podem ser
resumidas em:
1) pelos resultados de nossa própria experiência;
2) nossas tendências e preconceitos perceptivos;
3) nossas observações das reações de uma outra pessoa a uma
situação específica;
4) nossa observação dos resultados das experiências de
outra pessoa.
4.2.2. PAVLOV
Ivã Pavlov (1849-1936),
fisiologista russo, ficou famoso pela descoberta dos reflexos condicionados ou
da reação condicionada. A sua teoria dos reflexos condicionados é extraída dos
experimentos que fizera com os cães. Profundo conhecedor das glândulas e suas
secreções, resolve por em prática o conteúdo dos seus conceitos. Para isso,
amarra um cão, isola-o de todo o barulho externo, e dá-lhe uma substância
sialogênica; ao mesmo tempo, faz retinir um som, por exemplo, o de uma
campainha. Depois de várias repetições, suspende a substância sialôgenica,
permanecendo tão somente com o som da campainha. Resultado: o cão, sem o
estímulo inicial, emite suco gástrico, associando-o apenas ao som da campainha.
Disto depreende-se que há um
reflexo, denominado congênito, isto é, aquele que vem com a espécie, e outro, o
condicionado, aquele que a espécie adquire.
Os operadores de marketing,
aqueles que querem vender os seus produtos, utilizam o processo de reação
condicionada (de compra), baseado em Pavlov. As condições são: repetição,
intensidade e clareza (ou simplicidade) dos estímulos. Observe que
os anúncios são cheios de cores, rápidos e repetitivos. Quantas vezes não vemos
uma mesma informação? Ou um mesmo comercial? Além do mais, os psicólogos sociais
observam a questão do comportamento refletido, que se aproxima do homo
aeconomicus e o comportamento semi-refletido ou irrefletido, que deste se
distancia.
4.2.3. DOUTRINA ESPÍRITA
No âmbito da Doutrina Espírita, podemos nos reportar à
herança e ao automatismo adquiridos ao longo das várias encarnações. Diz o
Espírito André Luiz “Se, no círculo humano, a inteligência é seguida pela razão
e a razão pela responsabilidade, nas linhas da civilização, sob os signos da
cultura, observamos que, na retaguarda do transformismo, o reflexo precede o
instinto, tanto quanto o instinto precede a atividade refletida que é base da
inteligência nos depósitos do conhecimento” (Evolução em Dois Mundos, p. 39).
Este mesmo pensamento é retratado de forma romântica por Léon Denis ao dizer que
a alma “dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem”.
4.3. DIFERENÇA ENTRE ATITUDE E COMPORTAMENTO
A atitude é intenção; o comportamento é ação.
5. MUDANÇA DE ATITUDES E DE COMPORTAMENTOS
1) Como a atitude é uma intenção de se comportar de
uma certa maneira, a intenção pode ou não ser consumada, dependendo da situação
ou das circunstâncias. Mudanças nas atitudes de uma pessoa podem demorar muito
para causar mudanças de comportamento que, em alguns casos, podem nem chegar a
ocorrer. No meio espírita, diz-se que no umbral há uma multidão de espíritas de
boa intenção.
2) Embora as
tentativas de modificar ou substituir “atitudes” assentem nos mesmos princípios
de aprendizagem, é evidentemente muito mais difícil mudar ou esquecer “atitudes”
do que aprendê-las. (Kardec, 1978, p. 15)
3) Basicamente, as pessoas
buscam uma sensação de equilíbrio entre suas crenças, atitudes e comportamentos.
A isso damos o nome de dissonância cognitiva.
A teoria da dissonância
cognitiva procura explicar como as pessoas reduzem os conflitos internos quando
enfrentam um choque entre seus pensamentos e seus atos.
Exemplo:
alguém que ache importante apoiar a indústria automobilística nacional, mas
pensa que os carros importados são de melhor qualidade, poderá sentir alguma
dissonância depois de ter comprado um carro nacional. Ele acaba raciocinando da
seguinte forma: os carros nacionais são tão bons ou melhores que os importados.
(Bowditch, 1992, p. 62 a76)
4) Os investigadores sociais descobriram que, quando um
componente da “atitude” é experimentalmente modificado, os outros parecem sofrer
um realinhamento coerente. (Kardec, 1978, p. 15)
5) O Espiritismo, para auxiliar a mudança, prescreve
leituras evangélicas, preces, vibrações e diálogos em sessões espíritas. Contudo
não deixa de nos informar que a reforma íntima esquematizada não nos leva muito
longe. Importa desenvolver o Espírito, fazê-lo crescer em conhecimento e moral.
6. CONCLUSÕES
Empenhemo-nos na autoconsciência. Quem sabe se essa busca
de nós mesmos não seja o principal estímulo de nossa evolução espiritual, das
mudanças para o bem que o nosso Espírito imortal almeja?
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